No domingo há eleições. A manchete dá conta do que, por ora, se sabe quanto ao Orçamento do Estado. Bruxelas impõe-se. Depois de ter defendido um défice de 2,8%, o ministro das Finanças Mário Centeno revelou ontem que a meta aprovada em Conselho de Ministro era afinal de 2,6%.
Uma diferença de 360 milhões de euros que pode ser o resultado da primeira cedência a Bruxelas. De onde vem esse dinheiro, ainda não se sabe. O que se sabe é que a taxa de crescimento do PIB, também ontem revelada, caiu dos anteriores 2,4% para 2,1%. Além de Bruxelas, também a crítica feroz do Conselho de Finanças Públicas terá conduzido a esta revisão em baixa que, de alguma forma, vai aligeirando as propostas que faziam parte do Programa de Governo. As exigências de Bruxelas podem levar a uma redução ainda maior do défice estrutural – faltam mais três décimas – o que certamente irá dificultar a vida do Executivo liderado por António Costa no que respeita à coabitação com os partidos de esquerda que lhe garantem a maioria no Parlamento. João Silvestre explica: são mais 540 milhões de euros que Mário Centeno terá provavelmente de rapar. Nesse sentido, já se sabe que a baixa do IVA da restauração para 13% só acontecerá a partir de julho, o que permite uma poupança de cerca de 175 milhões. Em sentido contrário, foi ontem adiantado, tanto por Francisco Louçã como por Jorge Coelho, em programas da SIC Notícias, a intenção de serem repostos os complementos de pensão dos reformados do Metro e da Carris. Do lado do Bloco de Esquerda, PCP e Verdes, tudo tranquilo. Até ver. As negociações entre Governo e parceiros, mediadas por Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, têm decorrido sem sobressaltos. António Costa garante que é possível conciliar Bruxelas com os partidos deste barco de governação. O Orçamento de Estado de 2016 também está nas primeiras páginas do “Diário Económico” (“Mário Centeno surpreende ministros com corte no défice”), “Diário de Notícias” (“Costa tenta convencer Bruxelas com défice mais baixo”), “Público” (“Governo corta défice e sobe imposto sobre os combustíveis”), “Jornal de Notícias” (Crédito ao consumo e petróleo vão ser mais taxados”) e “Jornal de Negócios” (“Governo corta défice mas fica aquém das exigências de Bruxelas”). Mas o que é que o défice tem a ver com as eleições presidenciais de domingo? É a questão que Ricardo Costa tenta responder, alertando para a instabilidade da economia mundial (China, petróleo) e para as suas consequências por cá. Mas também se sabe que as crises que hoje atormentam a Europa (refugiados, saída do Reino Unido, luta contra o terrorismo) podem aliviar a pressão do lado europeu. O Presidente de Portugal terá que gerir nesse contexto. Falou-se disso nesta campanha? Nem por isso. Mas é o que estará em cima da mesa a partir de segunda-feira, caso a eleição do PR se resolva logo à primeira volta. Um resultado que não é dado por garantido pelas sondagens que, nos últimos dias, têm sido publicadas. É certo que Marcelo vai ganhar no domingo, mas não se sabe se com mais de 50%, pelo menos de acordo com os resultados publicados pelo “Público”, “Correio da Manhã” e “Diário de Notícias”, em que alcança entre 51,5% e 52%. Margem reduzida (e abaixo dos 55% que lhe são dados pela sondagem do Expresso/SIC) e que não acautela uma abstenção em crescendo capaz de virar tudo do avesso. O que é cada vez mais certo é que, domingo, Sampaio da Nóvoa fica em segundo lugar. O candidato do “tempo novo” descolou finalmente de Maria de Belém. Enquanto um sobe, o outro vai descendo. Espera-se aliás, dado que o impacto negativo do tema das subvenções vitalícias ainda não estará todo contabilizado, que a diferença entre um e outro seja ainda maior. A sondagem do “DN” já aponta para um empate entre Belém e Marisa Matias. Atrás ficam Edgar Silva, Henrique Neto e os candidatos ditos populistas, ainda que possam sair coelhos da cartola entre os concorrentes menos votados face ao ordenamento ditado pelas sondagens. A abstenção que se verificar depois de amanhã será por isso muito relevante. Aquela que era a eleição mais prestigiada pelo povo português, pois nela se verificavam tradicionalmente os menores índices abstencionistas, tem sido fustigada sem dó nos últimos atos eleitorais. Em resumo, é o papel do Chefe de Estado que, cada vez mais, está em causa. |
OUTRAS NOTÍCIAS
Em Espanha, Rajoy diz que aceita formar Governo. Mas não tem apoio parlamentar que chegue para o sustentar. Muitas semanas depois das eleições espanholas ainda não há uma solução à vista. Rivera, do partido Ciudadanos, garantiu que se abstinha mas isso não chega para segurar um Executivo do PP.
Um governo do PSOE liderado por Sánchez, diz hoje o “El País”, dependeria de forças nacionalistas como o PNV que “condiciona qualquer apoio à defesa do ‘direito a decidir’”. O editorial do diário de Madrid remata “Rajoy não pode, Sánchez não deve”. O “El Mundo”, porém, adianta que há dirigentes históricos do PSOE, como Alfonso Guerra, que não descartam a possibilidade dos deputados socialistas se absterem perante um governo do PP permitindo assim a sua aprovação. Governo apresenta em fevereiro candidatura de Guterres à ONU, lê-se na manchete do “Público”. A muito propalada candidatura do ex-primeiro-ministro ao mais alto cargo das Nações Unidas terá sido a principal razão do encontro entre António Costa e Passos Coelho no passado dia 15 de janeiro. A diplomacia portuguesa já estará a recolher apoios. No “Jornal de Negócios”, pode ler-se “Elétricas ajudam o Fisco a apanhar rendas ilegais”. O diário adianta que essas empresas estão a pedir dados aos clientes em nome das Finanças. Porém não estão previstas quaisquer sanções a quem não prestar essas informações. Pinto da Costa anuncia recandidatura. Quando a guerra pela sucessão começa a aquecer, o eterno líder do FC Porto diz que vai mesmo a jogo nas eleições do próximo mês de abril. Em entrevista ao Porto Canal, Pinto da Costa mostrou disponibilidade para aceitar o 14º mandato na presidência do clube, garantindo que está bem de saúde. Vítor Baía, que recentemente criticou a estrutura portista, ainda foi subtilmente visado. Estado de emergência em Washington, Estados Unidos. Estima-se que a tempestade de neve que hoje irá acontecer será capaz de acumular uma camada com mais de 60 centímetros de altura naquela cidade. O nevão segue depois para norte. Em Nova Iorque, a neve acumulada terá uma altura de mais de trinta centímetros, de acordo com o “New York Times”. Mozart e Salieri, afinal, eram amigos. Esqueça o filme “Amadeus” de Milos Forman. Mozart e Salieri chegaram a compor juntos, em 1785, como agora foi recentemente provado. No dia 10 de janeiro, o “Schwäbische Zeitung”, de Praga, deu a conhecer um exemplar do livreto e da partitura de uma cantata para voz e acompanhamento composta por Mozart e Salieri com versos de Lorenzo da Ponte. A Fundação Mozarteum, em Salzburgo, já certificou a descoberta. FRASES
“Pode silenciar-se uma pessoa mas não o mundo inteiro”. Martina Litvinenko
“Só não gostava de ter no FC Porto um candidato apoiado pelo Correio da Manhã, isso não gostava”. Pinto da Costa no “Porto Canal” “Devia ter havido consenso na recondução do governador do Banco de Portugal”. Marcelo Rebelo de Sousa, ao “Diário Económico” “A dissolução do Parlamento deixaria António Costa de sorriso rasgado”. Diogo Feio, ao jornal “i” “Os deputados do Ciudadanos estão à disposição para resolver a atual situação do país, para que tenha uma legislatura e um governo que execute as reformas de que Espanha precisa”. Albert Rivera “Não podemos continuar a permitir que a ganância empresarial das indústrias do carvão, do petróleo e do gás determinem o futuro da humanidade”. Leonardo diCaprio em Davos O QUE EU ANDO A LER
A história de arte portuguesa, como aliás muitas outras questões ligadas ao património, foi durante muitos anos alvo de investigação quase exclusiva por parte de estrangeiros.
Com melhores ou piores intenções foi o que sucedeu com, entre muitos outros, o Conde de Raczynski que por cá esteve desde 1842 em representação diplomática da Prússia. A ele se devem as primeiras recensões de obras de arte, fixadas em livros pioneiros como “Les Arts en Portugal” e “Dictionnaire Historico-Artistique du Portugal”, carregados de imprecisões mas com o mérito de encetarem o que ainda não havia sido feito. Depois dos estrangeiros, a pintura portuguesa também seria abordada por grandes eruditos que tinham a particularidade de serem oriundos de outros mesteres, como era o caso do enorme Sousa Viterbo ou mesmo de José de Figueiredo, o republicano nacionalista fundador do Museu de Arte Antiga e autor da primeira monografia sobre os Painéis de São Vicente. A nenhum se pode disputar a categoria de académicos e investigadores de primeira água; mas o selo de verdadeiro pioneiro do estudo do património artístico português só pode ser atribuído a Joaquim de Vasconcelos. Foi por isso que me atirei à sua biografia não tão recentemente editada (março de 2014), assinada por Sandra Leandro e publicada pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. O livro, não tão pequeno pois tem mais de 560 páginas, leva por título “Joaquim de Vasconcelos; historiador, crítico de arte e museólogo” e é, além de um muito exaustivo retrato do investigador, um excelente retrato da época. Sobretudo pelas suas virtudes de polemista: ele que era de educação germanófila e que a posteridade havia de menosprezar em favor da sua mulher, Carolina Michaelis. O gosto pela ópera, a erudição furiosa nas mais variadas áreas e o escárnio a que era remetido pois arrastava o érres e dedicou-se a estudar os músicos portugueses (o que na época, no final do século XIX não era assim tão bem visto) compunham alguns dos traços de uma figura ímpar, hoje considerada fundadora da História de Arte em Portugal.
O livro de Sandra Leandro, que só comecei a ler, é exímio logo nas primeiras páginas na descrição desses ambientes e no terror que o casal Vasconcelos instigava em quem, ao seu redor, proferisse alguma banalidade ou pequeno erro de erudição.
São muitos os estudos que iniciou, tendo aliás escrito o primeiro texto, no "Comércio do Porto", sobre o famoso políptico atribuído a Nuno Gonçalves, mas o que é notável é a sua capacidade para tratar de muitas outras áreas para lá da pintura. Foi também diretor do Museu Industrial e Comercial do Porto mas a política não era o seu forte. Ficou sem ele. Bom fim de semana! |