quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Geringuenza! Geringoncia?...



Demorou tempo – foram precisos 46 meses - para que Espanha alcançasse um acordo político com perspetivas de estabilidade para governar o país. O secretário-geral do Partido Socialista e Operário Espanhol (PSOE), Pedro Sánchez, acabou por ceder e vai repartir o poder com a extrema-esquerda do Unidas Podemos. A junção destas duas forças políticas não é suficiente, faltam ainda 21 deputados para uma maioria absoluta, que terão de vir de outros partidos de esquerda ou dos partidos regionais. Mas estamos cada vez mais perto de ter finalmente um governo com perspetivas de estabilidade no país vizinho. Pode conferir aqui os 10 pontos do pré-acordo assinado pelos dois partidos.

Uma Espanha estável e tranquila é algo que interessa muito a Portugal por todos os motivos – económicos, políticos, sociais. E interessa também, muito, à Europa. As tensões independentistas na Catalunha são uma ferida aberta que parece difícil de fechar. E Espanha vê emergir forças extremistas de direita que conquistam um espaço eleitoral significativo: o VOX tornou-se o terceiro partido mais votado com 52 deputados e a governação PSOE Unidas Podemos propõe-se não só tentar pacificar a Catalunha como também travar o avanço do VOX.

As primeiras reações da Bolsa de Madrid não foram positivas  o índice Ibex 35 perdeu 0,87% no final da sessão. Mas ainda assim a perspetiva de alguma estabilidade não deixa de ser uma boa notícia.

Esta espécie de geringonça à espanhola – uma geringuenza, uma geringoncia? – acontece quando em Portugal ainda se caminha sobre os escombros da geringonça original, a portuguesa. E por estes dias temos uma intensa atividade política – parte da qual permitirá perceber o que sobra dos entendimentos do passado.

Ontem foi dia de encontro entre os partidos de esquerda para uma aproximação de posições que permita a aprovação do Orçamento do próximo ano, numa ronda que se estende pelo dia de hoje e amanhã. O Governo esteve reunido com o PAN, os Verdes e o Bloco de Esquerda. Hoje será a vez de se reunir com o PCP e na quinta-feira com o Livre. O líder do PCP tratou de retirar a importância ao encontro. Jerónimo de Sousa disse que o PCP não vai para “negociar”.

Num Parlamento mais diversificado, onde acabam de entrar três novos partidos, um dos temas que dominaram ontem a atualidade foi o impedimento de os deputados únicos do Chega, Iniciativa Liberal e Livre intervirem no debate de hoje com o primeiro-ministro. Houve um recuo conjugado de PS, Bloco de Esquerda e PCP que viabilizaram a aplicação da mesma regra que foi aplicada na anterior legislatura ao PAN: e por isso aqueles três partidos terão um minuto e meio para falar. Haverá depois alterações formais ao regimento que consagrarão definitivamente as novas regras para estes partidos.

Neste que será o primeiro debate quinzenal desta legislatura, o primeiro-ministro trará para cima da mesa o tema das “políticas de rendimento”. Mas antes decorre a reunião da concertação social, em que o Governo pretende fechar o valor do salário mínimo de 2020. Um aumento dos 600 para os 635 euros será a aposta do Governo, mas não é provável que patrões e sindicatos deem o seu aval: os sindicatos não veem com bons olhos a concessão de benesses aos patrões e o Governo deverá deixar para depois a negociação para a valorização dos salários em geral.

Eutanásia O PAN já entregou o seu projeto de lei para legalizar a morte assistida. O documento não é muito diferente do que foi entregue pelo Bloco de Esquerda logo no primeiro dia da legislatura. Fica a faltar a a posição do PS.