terça-feira, 23 de junho de 2015

A Grécia, Um Caracol e Um Bilhete de Amor

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Grécia-“Ó caracol, / Escala o Monte Fuji, / Mas devagar, devagar!”. Abrimos com este famoso poema japonês (haiku), de Issa, pela esperança de cumprir um devir. Estamos a falar da Grécia, claro, porque hoje há notícias diferentes: Atenas e Bruxelas deixaram de estar de costas voltadas.

É difícil chamar boas notícias a (mais) medidas de austeridade mas ao pé do degredo temido com a saída do euro esta é uma resposta. Passos já não acha que isto é “uma brincadeira de crianças” e Lagarde já não pede “adultos na sala”. Agora, há “bases sólidas”.
Quatro dias fizeram assim tanta diferença? Parece que sim.

Jorge Nascimento Rodrigues explica, as famosas “linhas vermelhas” foram ultrapassadas de “uma forma indireta”: Tsipras aumenta contribuições na saúde e na segurança social, corta na defesa e nas reformas antecipadas; a idade de reforma subirá gradualmente até 67 anos em 2025, mantêm-se três escalões no IVA. E assim geram-se receitas adicionais de 2,3 mil milhões de euros face ao plano anterior. O acordo pode abrir a porta à transferência de 1,9 mil milhões mas a Grécia quer que o programa "sustentável" seja acompanhado por um pacote de crescimento, sendo que os problemas futuros do primeiro-ministro podem estar em casa. Até porque os gregos saíram ( outra vez) à rua, depois de retirar mais 1,8 mil milhões de euros dos bancos.

“É uma realidade penosa”,
conclui o Financial Times: “os credores vão apoiar a Grécia aconteça o que acontecer”. E a Europa respira de alívio, nota o El Pais. É que "a paz pode estar ameaçada" se Grécia sair do euro, afirmava ainda esta noite Braga da Cruz na Renascença. Conclusão: “O relógio deixou de dar horas em Atenas”, diz o editorial do Público. “Ainda não há fumo branco – mas há uma cuidadosa gestão de expectativas para evitar o pânico”.

A montanha já não é a de Sísifo, pela qual rolava sempre a pedra antes de atingir o cume. Agora escala-se. Mesmo que seja assim: devagar, devagar.

OUTRAS NOTÍCIAS 
Não é o número de desempregados que é baixo, é o número de inscritos no IEFP – e é o valor do subsídio. Manchete do DN, do JN e do Público: o número de pessoas com subsídio de desemprego é o mais baixo desde 2009. O subsídio chega agora a menos 140 mil desempregados e o valor do subsídio também está a cair: em maio, cada desempregado recebeu, em média, 448 euros, devido à quebra nos salários e aos limites introduzidos à prestação.

Portugal pagou mais 1.830 milhões ao FMI. Em cada dez euros emprestados pelo Fundo no âmbito do programa externo, 
pagámos três.

O escândalo de corrupção no Brasil continua a encher páginas de jornais. A popularidade de Dilma nas sondagens está em queda,
nota o El Pais, citando uma sondagem da Folha de São Paulo, segundo a qual a Presidente tem níveis de rejeição de 65%.

As ações na Bolsa de Xangai tiveram ontem a maior queda num só dia desde 2008. Crescem os receios de que o período de forte crescimento na bolsa chinesa, que dura há um ano, tenha terminado,
noticia o Financial Times.

Desporto: o angolano Álvaro Sobrinho quer ser acionista maioritário da SAD do Leixões,
revela o Jornal de Notícias.

Os ex-dirigentes do Sporting Godinho Lopes, Luís Duque, Nobre Guedes e Carlos Freitas foram absolvidos nos processos de renovação de Izmailov e de contratações de Jéffren e Alberto Rodríguez. O Tribunal da Comarca de Lisboa
declara-se "incompetente" para analisar processo.

(Na minha opinião, é melhor nem falar do novo equipamento do FC Porto.
E na sua?)

Vendas:
a da TAP. A providência cautelar que pretendia travar a privatização foi indeferida pelo tribunal. A privatização da empresa avança.

Vendas: a da Fidelidade e da Luz Saúde (e talvez Novo Banco e outras). O “show” do presidente da Fosun ontem em  vários jornais foi notado e comentado. Em “o governo mais chinês da Europa”, o
Nicolau Santos salientou que, numa viagem de jornalistas portugueses a Xangai, Guo Guangchang elogiou a disponibilidade portuguesa para o investimento chinês. Aqui têm sido recebidos “muito, muito bem, sem qualquer reserva política ou estratégica”, escreve o Nicolau, que com a sua ironia fina e cortante como uma folha de papel recomenda aos leitores que coloquem os filhos nas escolas de mandarim. Já no Jornal de Notícias, Mariana Mortágua escreve: “Que toquem as trompetas e se alegrem as cortes, a estratégia resultou. Portugal entrou no mapa! É a loja dos 300 da Europa”.

A consultora Saer diz que a pressão de Banco de Portugal e do Governo sobre o GES levou à queda do BES. O livro, que resulta de uma encomenda de Ricardo Salgado na preparação da sua defesa, foi
apresentado ontem ao fim do dia em Lisboa. A notícia está no DN.

Outro livro, o de Miguel Relvas,
contém revelações que continuam a fazer notícia. No Negócios: o FMI queria colocar portagens à entrada das cidades.

Os agentes de execução vão poder cobrar dívidas ao Estado, diz
o Negócios em manchete.

Jorge Sampaio é a personalidade masculina escolhida para receber o Prémio Nelson Mandela, atribuído este ano pela primeira vez
pelas Nações Unidas. Helena Ndume, uma oftalmologista da Namíbia, é a laureada feminina.

Quase metade da população do Sudão do Sul, o país mais recente do mundo, está em risco de fome, noticia o New York Times,
num artigo com um título tão sugestivo quanto sinistro:  “Já não há mais país”.

É uma certeza científica: as crianças em condições de pobreza têm o cérebro 6% mais pequeno do que as restantes.
A jornalista Luciana Leiderfarb explica no Expresso . Já viu um padre a dar toques de futebol e a levantar uma bola num “cabrito”, com os calcanhares? O padre António Pereira, primeiro sacerdote a jogar futebol federado em Portugal, faz mais do que isso: é o novo presidente do Fátima e tem um plano para salvar o clube da ruína. 
“Houve acontecimentos inesperados, batalhas sobrenaturais, sacrifícios impiedosos, houve gente a sofrer e a sobreviver, personagens a matar e outras que ninguém queria mortas a morrer”, escreve a jornalista Helena Bento em “ Vergonha! Vergonha! Vergonha!”, sobre a quinta séria da “Guerra dos Tronos”, que acabou há uma semana. A análise a uma cena “que ficou para a história da série”. E das séries.

Taylor Swift pôs a Apple na ordem, explica-nos Pedro Miguel Oliveira,
diretor da Exame Informática. Ou como uma estrela pop pode forçar uma multinacional a mudar de política nos pagamentos a autores de música.

“Quando um colega morre há algo que nos arrepia”. Quem morreu foi David Clifford, repórter fotográfico, ex-editor de fotografia do "Público", amante da imagem. Fotografias publicadas no Expresso
aqui. E no Público aqui. Imagens e um silêncio que em muitos deixa.

FRASES 
Há um equívoco na crise grega: a ideia de que o Syriza só quer acabar com a austeridade. Antes fosse assim. O seu radicalismo e "linhas vermelhas" têm muito mais a ver com o mito da ‘luta de classes’.José Manuel Fernandes, no Observador.

Isabel dos Santos nunca foi empresária. É apenas fiel depositária do pecúlio que resulta do assalto da elite político-militar aos recursos do seu próprio país”. Daniel Oliveira,
no Expresso. 

Não levei em conta que as elites europeias estariam dispostas a impor um sofrimento generalizado, em nome da permanência na união monetária”, escreveu Paul Krugman, aqui
citado no Negócios, revisitando as suas próprias previsões. O Nobel admite que “ sobrestimou o risco de rutura na zona euro”.

O QUE EU ANDO A LER 
Há 13 anos, uma aldeia mudou de geografia. Foi deslocada, para que o local antigo fosse submerso pelas águas do Guadiana e se enchesse a barragem do Alqueva. E agora? Agora “os coelhos morreram e os próprios habitantes da Luz sentem-se uma espécie em vias de extinção”. “ A Aldeia da Luz não mora aqui” é uma excelente reportagem multimédia da Rádio Renascença, de Dina Soares e Joana Bougard. Para ver, ler e ouvir. Na CNN, pode ver um conjunto raro de fotografias a cores da China de Mao.

Foi em “Franny e Zooey” que conheci o poema haiku que dá o título ao Expresso Curto de hoje. A obra (que, na verdade, são duas obras) é de J.D. Salinger, autor do seminal “Catcher in the Rye”, editado em Portugal pela Quetzal sob o título “À Espera no Centeio”. “Franny e Zooey” não é tão genial, lê-se em duas golfadas, é sobre a natureza humana e a pulsão de inexistência de quem se sente vazio. Salinger não é propriamente o autor mais feliz do mundo.

Felizes são as festas e
hoje é noite rija no Porto. Manjerico, alho porro, sardinhas assadas e bailaricos no São João.

Felizes são muitas cartas de amor e hoje o Cirilo João Vieira publicará um bilhete de amor – cheio de erros ortográficos. Erros como este: até amanhã, terá o caro leitor saudades nossas ou saudades de nós? Perceba às 18 horas do que estamos a falar.

Tenha um excelente dia! 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Grécia Escapa. Por Hoje

Grécia-Não é hoje. Quero dizer, não é hoje o Dia D para a Grécia. D, obviamente, de despedida ou de despejo. Ou de desilusão.

A reunião do Eurogrupo com todos os ministros das Finanças que
 tem lugar hoje no Luxemburgo não é o último dia disponível para ser encontrado um acordo que resolva o impasse que durante os últimos meses se tem verificado em torno da brutal dívida grega. Essa linha imaginária, como muitas outras que foram sendo traçada ao longo das últimas semanas é apenas uma linha imaginária, como já havia sido notado na edição de ontem do Expresso. Até porque as verdadeiras decisões serão tomadas ao mais alto nível. E Merkel, ou Tsipras, Juncker ou Draghi, não estarão lá.

O verdadeiro deadline acontecerá quando
a Grécia ficar sem dinheiro. O fim do programa de resgate está marcado para 30 de junho. É essa a data limite para que um acordo possa ser alcançado e, já agora, ratificado pelos parlamentos de vários países. Se nenhuma solução for encontrada até aí, então a Grécia não pagará as tranches de 1,6 mil milhões de dólares que deve ao FMI e que adiou para o final deste mês. O negociador do lado da Grécia, Tsakalotos, já anunciou que o seu país não conseguirá pagar esse montante. E assim sendo não pagará certamente os 3,6 mil milhões de euros que deve ao Banco Central Europeu no dia 20 de Julho.

Só então, a ajuda do BCE aos bancos gregos, através do programa ELA, terá de cessar devido a incumprimento, sendo declarada bancarrota. Por isso vale a pena ler o Financial Times que descreve em pormenor este calvário com o desenho do
calendário da Grécia desde hoje até à hora da verdade. Mas até lá ainda será possível sonhar com o miraculoso acordo que entregará à Grécia mais 7,6 mil milhões de euros. Deve o caro leitor ficar descansado? Nem por isso.

Nem mesmo sabendo que as sondagens mostram que
84% dos gregos pretendem ficar no zona euro, a corrida aos bancos já começou e há quem diga, como o analista Yannis Koutsoumitis, que só no dia de ontem voaram mil milhões. Ou seja, há pressão em todos os lados, e o primeiro-ministro Alexis Tsipras, que hoje estará reunido com Vladimir Putin, continua a incendiar os ânimos. Fala em “pilhagem” e assume a responsabilidade de ser ele a dar “o grande não”.

Varoufakis também
não acredita que alguma coisa se resolva neste Eurogrupo. E Schaüble voltou a garantir que “a bola está do lado da Grécia”. Mais interessante, e inesperado, é o artigo publicado na segunda-feira, em que Olivier Blanchard, do FMI, se mostrou bastante mais pragmático: a solução exige decisões difíceis quer do lado dos credores quer do governo grego. Uns têm que prescindir da dívida e os outros vão ter que aceitar mais medidas de austeridade. Afinal de contas, alguém pediu o dinheiro emprestado e houve outro alguém que o emprestou.

O primeiro-ministro Passos Coelho também se pronunciou e tentou sossegar os portugueses:
“não vamos ser apanhados desprevenidos”.

O dia de ontem começou com a notícia de vários bens arrestados no universo dos administradores do Banco Espírito Santo. Hoje já se sabe que Ricardo Salgado, Morais Pires, José Manuel Espírito Santo e Isabel Almeida viram o seu património ser arrolado de forma preventiva. O mesmo havia sucedido em Maio. Mas desta vez, além de bens imobiliários, como a Quinta em Sobral de Monte Agraço de Morais Pires, foram colocados no rol joias, obras de arte, carros, barcos e outros bens móveis. O Expresso explica tudo e acrescenta que a acção pretende
ressarcir os eventuais lesados na aquisição de obrigações do BES e em papel comercial do Grupo Espírito Santo. Recorde-se que no passado mês de Abril, a família Espírito Santo levou a leilão, na Christie’s de Londres, várias peças de arte que renderam cerca de 1,5 milhões de euros.

O Europeu de Sub-21 começou ontem mas Portugal estreia-se hoje perante a Inglaterra (19h45, RTP1). A equipa treinada por Rui Jorge já não perde há muitos jogos mas tem pela frente outro onze fortíssimo, do qual fazem parte vários jogadores que atuam na Premier League. Depois dos bons sinais deixados no Mundial de Sub-20, esta é a prova dos nove para sabermos se há realmente uma nova geração de ouro
. Ou uma geração de milhões, como diz Mariana Cabral no Expresso. William Carvalho (o jogador mais valioso do torneio), Bernardo Silva, João Cancelo, Rafa, João Mário, Ruben Neves, Carlos Mané e Iuri Medeiros são algumas das estrelas que brilham na nossa seleção.
OUTRAS NOTÍCIAS
Base das Lajes pode acolher espiões norte-americanos. O “Público” noticia em manchete, logo depois do passo atrás dado pela administração Obama quanto à saída da base açoriana, que afinal os americanos podem ficar. O Senado aprovou a possibilidade de ser instalado nas Lajes um Centro Conjunto de Análise de Informações. O projecto ainda carece de aprovação de Obama mas o governo português “manifestou abertura”.

Tiroteio em igreja na Carolina do Sul. Anda fugido o autor dos disparos que esta madrugada  (cerca das 9 da noite, hora local) assassinou nove pessoas  em 
Charleston, na Carolina do Sul numa histórica igreja daquela cidade. O autor, foi dito pela polícia, é um homem, branco. Os mortos eram negros que aquela hora frequentavam o culto de uma congregação baptista.

Relação confirma prisão de Sócrates. Mas só depois de três reuniões e da intervenção do próprio presidente da 3ª secção do Tribunal da Relação de Lisboa. O “Diário de Notícias” adianta ainda, também em manchete, que a decisão foi tomada por maioria mas que já há um juiz, ao contrário do que sucedeu até agora, contra a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro. Duas outras juízas terão feito a diferença na votação final.

As ambições da Uber sofreram ontem um rude golpe quando um tribunal da Califórnia considerou que os motoristas que trabalham com a novel empresa são seus empregados e não meros prestadores de serviços. Outras empresas que assentam a sua oferta nas comunicações por telemóvel como a Lyft (concorrente da Uber) ou a Homejoy (serviços de limpeza) podem também vir a ser prejudicadas por esta
deliberação da Comissão Laboral da Califórnia. A Uber diz que a decisão se reporta a um colaborador específico e não a todos os motoristas. Se assim não for, o contexto fiscal destas novas empresas vê-se profundamente alterado colocando em risco o seu modelo de negócio.

Dinamarca vai às urnas. A primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt, a primeira da história, vai tentar manter o Partido Social Democrata no governo. 
O Guardian explica o que é preciso fazer para conquistar a maioria no Borgen ("o castelo"), nome por que é conhecido o Parlamento dinamarquês.
FRASES
“Se algum candidato me tivesse pedido autorização para usar alguma das minhas canções eu teria dito não”. Neil Young, depois do anúncio da candidatura de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América, durante o qual foi tocado o hino de Neil Young “Rockin’ in the Free World”

“Podes algemar-me mas vais f**** o Chile”. Arturo Vidal, centro-campista da Juventus e da selecção chilena, dirigindo-se a um polícia depois de ter destruído o seu Ferrari num acidente de viação,  terça-feira, em Santiago. Vidal é até agora o melhor goleador do torneio que está a decorrer, precisamente, no Chile

“A ausência de razão e fundamento nas acusações dirigidas a esta instituição e ao grupo mutualista a que pertence exigem a mensagem que lhes dirigimos”. Tomás Correia, presidente do Montepio, numa carta enviada a todos os clientes do banco em que nega qualquer semelhança entre a instituição que lidera e o caso Espírito Santo

“Sampaio da Nóvoa será o pior Presidente da República que um governo pode ter”. Mira Amaral, ao anunciar o seu apoio a Henrique Neto, outro dos candidatos a PR, que segundo ele se “doutorou na escola da vida”
O QUE EU ANDO A VER
A mais recente edição da Taschen, agora distribuída em Portugal pela Livraria Arquivo, que é dedicada com esmero e requinte aos Rolling Stones. E digo que é esmerada pois trata-se, provavelmente, da maior obra alguma vez dedicada ao grupo de Mick Jagger e Keith Rihards, na qual se envolveu o próprio Benedikt Taschen, o número um da editora alemã, e a própria banda. E é requintada porque como é costume nos livros da Taschen, trata-se de uma edição que é sobretudo para ver.

E se este livro tem que se veja! São mais de 500 páginas em grande formato, próximo de um disco de 12 polegadas, pejadas de fotografias que percorrem toda a carreira dos Stones produzidas por alguns dos mais consagrados fotógrafos: David La Chapelle, Mark Seliger, Anton Corbijn, Gered Mankowitz, Annie Leibovitz, Helmut Newton ou David Bailey são apenas alguns dos nomes convocados a “escrever” a mais completa história visual dos Rolling Stones alguma vez publicada.

Também há muito para ler: todas as imagens são acompanhadas por legendas que são muito mais que legendas. Além de fornecerem os devidos créditos, contextualizam aqueles instantes em que, quer se queira quer não, foi sendo desenhada a história do rock’n’roll. O mega-livro ainda inclui, além de uma útil discografia, um prefácio escrito por Bill Clinton.

Já sabíamos que o ex-Presidente dos EUA era fã como foi possível comprovar no verão passado quando, em Lisboa, assistiu ao concerto dos Rolling Stones no Rock in Rio. O que não se suspeitava era que os Rolling Stones, que nos últimos anos têm sido mais do que discretos no que à política respeita, assumissem esta conotação e logo quando se preparam novas eleições. Não vale a pena voltar a dizer-se que eles hoje são uma instituição, e logo daquelas que fazem da antiguidade um posto. Mas é precisamente pelo facto de serem uma instituição (aquela que transporta a bandeira do rock’n’roll), que têm evitado qualquer ligação política. Ao contrário, por exemplo, dos eternamente engajados U2.

Como diria um político português quase tão famoso, “a política deles é o rock” e até poderiam existir razões para pensar o contrário caso as palavras de Clinton não fossem de mera circunstância. A bem ver, o resto, ou o que realmente importa, está nas outras 500 páginas.

Europa Alcançou Nível Histórico de Paz e Islândia é o Melhor País, Mostra Estudo

Europa-A Europa alcançou níveis históricos de paz e as regiões do Oriente Médio e Norte da África são as mais violenta do mundo, segundo o Índice Global de Paz 2015 divulgado hoje (17). Portugal está em 11º lugar.
 
De acordo com o Índice Global de Paz (IGP), elaborado pelo Instituto para Economia e Paz sediado em Sydney (Austrália), a Islândia é o país mais pacífico do mundo, ficando a Síria em último lugar na lista de 162 Estados, que têm 99,6% da população mundial.
 
“Quatro das nove regiões geográficas registraram no ano passado melhoria em termos de paz e as  cinco regiões restantes tornaram-se menos pacíficas.  As  “mudanças mais substanciais” foram observadas no Oriente Médio e Norte de África, diz o relatório.
 
Os indicadores utilizados para elaborar a lista dos países incluem segurança pública, violência policial, taxa de homicídios, justiça social, terrorismo, participação em conflitos, grau de militarização e gastos com armas.
 
Os dez países mais pacíficos do mundo são, depois da Islândia, a Dinamarca, Áustria, Nova Zelândia, Suíça, Finlândia, o Canadá, Japão, a Austrália e a República Tcheca.
 
Portugal aparece a seguir, na 11ª posição, seguido da Irlanda, enquanto a Alemanha surge em 16º e a Espanha em 21º. Os últimos da lista são a Coreia do Sul (153), o Paquistão, a República Democrática do Congo, o Sudão, a Somália, República Centro-Africana, o Sudão do Sul, Afeganistão e Iraque (161), logo atrás da Síria.
 
O IGP indica ainda que a Líbia foi o país que mais desceu na classificação, caiu 13 lugares para a posição 149, enquanto a Guiné-Bissau foi o que mais subiu, 24 posições, aparecendo agora em 120º lugar.
 
Segundo o estudo, no ano passado aumentou significativamente a intensidade dos conflitos armados, tendo-se registrado mais de 180 mil mortos, diante de 49 mil em 2010. Houve ainda mais 9% de mortes (cerca de 20 mil) devido ao terrorismo.
 
A atividade terrorista tem-se propagado desde o Oriente Médio e o  Norte de África para a África Subsaariana, com maior aumento na Nigéria, em Camarões e no Níger, área de atuação do grupo radical islâmico Boko Haram.
 
O relatório assinala ainda que quase 1% da população mundial, cerca de 50 milhões de pessoas, está refugiada ou integra o grupo de deslocados internos, o nível mais alto desde 1945, no final da Segunda Guerra Mundial.
 
O impacto da violência na economia global foi US$ 14,3 bilhões, (12,6 bilhões de euros), o equivalente a 13,4 % do Produto Interno Bruto (PIB) mundial o ano passado, o mesmo das economias combinadas do Brasil, Canadá, da França, Alemanha, Espanha e do Reino Unido, indica o estudo.
 
O valor inclui gastos militares de US$ 3 bilhões (2,6 bilhões de euros); de segurança interna de US$ 1,3 bilhão  (1,1 bilhão de euros), as perdas por crime e violência interpessoal de US$ 2 bilhões (1,7 bilhão de euros); e perdas devido a conflitos de US$ 817 bilhões (724 bilhões de euros).

terça-feira, 16 de junho de 2015

Grécia: RED ALERT. RED ALERT. RED ALERT. RED ALERT. RED ALERT. RED ALERT

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Grécia-As sirenes de alarme voltaram a soar. E bem alto. O fogo de Atenas está a alastrar. A zona euro está em perigo?

Já perdi a conta ao número de vezes do impasse grego. Mas não há volta a dar. As últimas 24 horas foram dramaticamente noticiosas. Depois do falhanço nas negociações de domingo, as posições estão extremadas. Credores de um lado. Gregos do outro. A questão das pensões (mas também o IVA, o excedente primário e as reformas no mercado de trabalho) continua a ser a pedra no sapato. Mas a Grécia responde que não apresentará novas propostas e insiste na restruturação da dívida. Uma opção que não agrada à Comissão Europeia (sobretudo a pensar na Alemanha). É um verdadeiro jogo do empurra como explica o Expresso. Alexis Tsipras veio entretanto atirar mais umas achas para a fogueira. Diz que andam há cinco anos a “pilhar a Grécia” e que a insistência em mais austeridade só pode ter “motivações políticas”. Mas antes foi a própria Comissão que quis falar “on-the-record” pela primeira vez sobre as negociações. E porquê? Para contrariar as “versões deturpadas” que a Grécia vai fazendo chegar aos media. A coisa está a ficar feia. Grexit? Os líderes já falam abertamente na hipótese: François Hollande avisou que o tempo está a acabar. E os países da zona Euro (de acordo com o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung, citado pelo Observador) estão a preparar medidas de controlo do movimento de capitais na Grécia. O receio é tal que, como escreve a Bloomberg, a expressão “Grexit” está a atingir recordes de busca no Google. Mario Draghi, o homem forte do Banco Central Europeu, admitiu entretanto que é impossível prever as consequências de um eventual incumprimento. E acrescentou que não pode especular sobre os riscos de contágio porque “estaríamos a entrar em águas desconhecidas”. Na frente interna, o jornal grego Kathemirini conta que Tsipras estará esta manhã num encontro com o grupo parlamentar do Syriza e que antes reúne com os líderes do PASOK, do Potami e da Nova Democracia. Nos mercados, o impasse grego também fez soar as campainhas. Os juros dispararam, as bolsas afundaram. E o petróleo e o euro foram pelo mesmo caminho. O Negócios faz o resumo. Quinta-feira há nova reunião do Eurogrupo, mas com as posições tão afastadas as expectativas para o encontro são poucas ou nenhumas. Faltam duas semanas para o fim do resgate. O relógio não para: tic, tac, tic, tac…

No capítulo da análise, e depois do artigo de ontem do editor do Financial Times: “A Grécia não tem nada a perder ao dizer não aos credores”; deixem-me recomendar-vos o exercício de Gideon Rachaman: “Quatro jogos que os gregos podem estar a jogar”. E ainda, no The Guardian, o texto de Anatole Kaletsky: “A Europa não deve recear a Grécia beligerante”.

O assunto é demasiado sério, mas para descontrair deixo um vídeo de Mário Draghi. Na mesma conferência onde ontem respondeu à eurodeputada Elisa Ferreira sobre a Grécia e os perigos de contágio, Draghi (por incrível que pareça) conseguiu pôr a sala a rir. Depois de ter sido metralhado com várias e longas perguntas do eurodeputado do espanhol Podemos, o líder do BCE respondeu (com ironia): “Portanto, qual é a pergunta?” Risada geral. E o representante do Podemos irritado: “Se quiser posso repetir!”. Draghi preferiu não ouvir a mesma lengalenga outra vez. Veja o vídeo
aqui.

E claro não podia esquecer a má geografia da Easy Jet. Ao promover um dos seus novos trajetos, a companhia aérea achou que a ilha de Cefalónia fica algures no norte de Portugal. Não acredita? Então veja
aqui. Passos e Portas bem podem insistir que “Portugal não é a Grécia”…


OUTRAS NOTÍCIAS

Boa notícia: O gás natural volta a baixar. 3,5% em julho para os consumidores domésticos. Esta descida soma-se à queda nas tarifas de 3,9% que o regulador já tinha aplicado em maio, em resultado da queda do preço do petróleo.

Má notícia: A Saúde garantida pelo Estado é um “direito ameaçado”. É o título do
artigo do Expresso sobre a avaliação do Observatório Português dos Sistemas de Saúde ao funcionamento do setor, em particular do Serviço Nacional de Saúde. O diagnóstico não podia ser pior. Após a saída da troika, o OPSS encontrou "muitas debilidades": Faltam enfermeiros, camas e medicamentos.Na corrida para a subconcessão das empresas de transporte público de Lisboa há quatro grupos estrangeiros e um português (a Barraqueiro que também está na TAP). Os contratos devem ser assinados dentro de um mês. E segundo o Negócios é o preço que vai decidir quem fica com a Carris e o Metro. O Expresso explica-lhe o que está em jogo.

Os bancos vão vigiar as contas e o património de políticos e juízes. A história vem contada no
Diário de Notícias que explica que a Comissão Europeia quer que os bancos de todos os Estados membros apertem a vigilância às operações financeiras que envolvam “pessoas politicamente expostas” e que determinem ainda a origem do património dessas mesmas pessoas.

Na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi decidiu abrir guerra às barrigas indianas e aos maus hábitos do “western lifestyle”. Não é novidade que o seu governo tem um
ministro do Ioga. Mas agora o chefe de Governo vai participar no dia do Ioga, a 21 de junho, com mais de 35 mil indianos, funcionários públicos e estudantes à mistura. A ideia é conseguir entrar no livro dos recordes do Guinness. E certamente não será difícil… O New York Times conta-lhe toda a história.

A
BBC avança que o líder da Al-Qaeda no Iémen, Nasser al-Wuhayshi, foi morto pelas forças norte americanas. A morte já foi confirmada pela organização terrorista.

Os jornais ingleses, como o
The Guardian, estão a contar que há três mulheres, irmãs, e nove crianças, os filhos, que saíram do Reino Unido numa viagem de peregrinação à Arábia Saudita mas que entretanto desapareceram. Há suspeitas de que tenham viajado para a Síria através da Turquia.

Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Geraldo, os três mesa-tenistas portugueses, venceram ontem o ouro na primeira edição dos Jogos Europeus, que estão a decorrer em Baku, no Azerbaijão.

Nuno Delgado é o novo treinador nacional de judo. O ex-atleta olímpico e bronze em Sydney2000 na categoria -81 kg, é apresentado hoje às cinco da tarde no Centro Nacional Desportivo do Jamor, Edifício das Piscina, em Oeiras.

Ele está mesmo morto? Ele é Jon Snow, a personagem central de “Game of Thrones” que ontem, no último episódio da quinta temporada, foi esfaqueado. Será? E acaba aqui?
O New York Times fez um apanhado das várias questões desta série (maravilhosa, digo eu) que ficaram em aberto. Quem sabe pode vir ai uma 6ª temporada.


FRASES

“O Presidente da República vai sair sem honra nem glória. E, porque sabe que vai ser assim, faz autoelogios e distorce factos históricos, sem cuidar de ver que a realidade é o que é e não o que ele deseja”, Mário Soares no Diário de Notícias sobre o discurso de 10 junho de Cavaco Silva.

“A reputação da Banca está num dos piores momentos de sempre”, Fernando Faria de Oliveira, Presidente da Associação Portuguesa de Bancos em
entrevista ao Económico.

“Não prometo títulos, prometo entrega, trabalho, dedicação, dar a vida pelo Benfica. Quero muito ganhar. Quero mais do que nunca ganhar”, Rui Vitória que ontem assumiu o comando técnico dos encarnados. (leia
aqui o artigo da Mariana Cabral)

“Respeito a vocês, o vosso trabalho. Estou aqui mas não tenho nada para dizer. Dia 1 de junho começo a trabalhar na academia do Sporting. Ponto final ok?”, Jorge Jesus, treinador do Sporting à chegada ao aeroporto de Lisboa.


O QUE ANDO A LER

No fim de semana, mais precisamente no sábado, 13 de junho, assinalaram-se os dez anos da morte de Álvaro Cunhal, o histórico secretário-geral do PCP. Cunhal tinha 91 anos. No Expresso, assinalámos a data com este interessante artigo do Luís M. Faria que lembrou que no dia da morte de Cunhal também partiu o poeta Eugénio de Andrade e que dois dias antes morrera o primeiro-ministro do Verão Quente, Vasco Gonçalves. Dez anos depois, a data levou-me a reler partes das “Conversas com Álvaro Cunhal e outras lembranças.” O livro de Maria João Avillez, publicado em 2004, reúne uma série de entrevistas feitas pela jornalista entre 1976 e 2000 (Cunhal deixou o cargo de secretário-geral do PCP em 1992 e foi sucedido por Carlos Carvalhas) publicadas no semanário Expresso. São conversas fundamentais para se perceber melhor quem era o homem que liderou os comunistas durante 30 anos. Como não podia deixar de ser há muita política. Mas pouco do lado mais pessoal. A jornalista bem insistiu mas Cunhal não era um entrevistado fácil: A ler, ou reler, sem dúvida.

Por hoje é tudo.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Sporting: Eu marco, tu marcas e ele é o Marco

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Sporting-Dois tipos que têm o mesmo objectivo de vida mas que objectivamente não gostam um do outro são capazes de conviver? Sim, pelo menos enquanto tiverem um interesse em comum. Entre Bruno de Carvalho e Marco Silva havia (e há) uma guerrinha surda mas os dois lá acordaram que, para bem de ambos, o melhor era levarem a coisa até final - até à final. Ganhando um, ganhariam os dois - e  ganhava o Sporting. Funcionou, porque às vezes, muito de vez em quando, o futebol ainda tem lógica. É que quem marca dois golos depois de sofrer dois, joga com menos um jogador em campo desde os 15 minutos, e acaba com um guarda-redes coxo a defender penaltis tem de vencer. E isso está escrito algures, nem que seja nas estrelas. 

Mas agora que a festa do Jamor acabou e que já vimos Bruno de Carvalho a festejar assimassim e, sobretudo,  assim, há uma perguntinha que terá de ser respondida: então e o Marco, fica? Ele  diz que não sabe e que quem sabe é o presidente; e o presidente nada diz.  Curioso: os dois clubes de Lisboa ganharam as três competições (Liga, Taça da Liga e Taça de Portugal) com dois treinadores portugueses - e nenhum deles parece ficar onde está para o ano.

Obviamente, está à vontade para esquecer o que escrevi sobre o futebol e a lógica.

OUTRAS NOTÍCIAS
  
Na Rússia chega a história de uma  lista negra de 89 cidadãos europeus que estão proibidos de entrar no país porque Vladimir Putin não terá gostado de ouvir da boca deles que andava a pagar aos separatistas na Ucrânia. Entre esses  nomes está o do antigo ministro britânico  Nick Clegg e, à boleia disto, a BBC lembra-nos os mandamentos  mais inacreditáveis de Putin. Aqui estão dois ou três: tu não praguejarás na TV, tu não farás propaganda gay, tu não te vestirás como um gótico. Um pouco para o metediço. 

Por falar em estados que se metem na nossa vida, nos Estados que são Unidos e são da América andaram a votos e às voltas com o  Patrioct Act, que permitia à NSA escutar chamadas telefónicas só porque sim. A Wired escreve que a lei prescreveu e que há uma nova receita a caminho - chama-se Freedom Act.

Na Grécia, a liberdade é um conceito estranho, porque é pago. E como hoje é segunda-feira, é tempo de lançar esta semana grega, que não há de ser muito diferente das anteriores. Basta um copy e um paste do que já foi dito (só mudam os números): a Grécia tem até sexta-feira para entregar € 300 milhões ao FMI e tudo 
depende da boa vontade da senhora Merkel, como se lê na Bloomberg. O Syriza já viu dias melhores e dentro dele a contestação cresce - a escolha de Elena Panaritis para representar a Grécia à mesa com o FMI não foi bem digerida por 40 deputados. Convém recordar:  Panaritis vem do PASOK e o PASOK negociou com a troika.  Ou triunvirato. 

Para rematar, três notícias de três jornais portugueses: os 
7500 professores do privado cujos contratos acabaram em maio, no  DNos autocarros da STCP que perderam 34 milhões de passageiros e a culpa que a empresa põe nos motoristas, no JN; e a ideia de que a política depende mais das relações pessoais do que julgávamos, porque  Passos Coelho e o PSD estão de bem com a Madeira de Miguel Albuquerque quando estavam de mal com a de Alberto João, no Público.
FRASES  
"Sucesso é quando os teus filhos se tornam melhores do que tu".  Joe Biden, vice-presidente dos EUA sobre o filho Beau, que morreu de tumor cerebral.

"A oeste, nada de novo." Marcelo Rebelo de Sousa, de bússola na mão, sobre as notícias de que Rui Rio estará para entrar na corrida à presidência da República. Disse-o na TVI.

"Dias Loureiro não é exemplo para ninguém." Duarte Marques, deputado do PSD, sobre o "velho amigo" de Pedro Passos Coelho em 
entrevista ao jornal i. 

"Sim, tive medo, mas senti que era mais forte na última curva." Miguel Oliveira, o primeiro português a ganhar uma prova do Mundial de motociclismo. Aconteceu em Mugello, Itália.
O QUE ANDO A LER
Não sei bem o que lhe hei-de chamar: romance, ensaio, reportagem, porque nele há um bocadinho de tudo. O "História Natural da Destruição" de W.G. Sebald é a versão pouco contada do pouco que ficou para contar do lado alemão quando a II Guerra Mundial acabou. É a   história de como milhões de inocentes aceitaram a destruição daquilo que era deles por causa de um louco que um dia achou ser melhor do que todos os outros. Neste texto, Sebald recorre a livros esquecidos e a entrevistas que fez para recuperar aqueles últimos dias de bombardeamentos consecutivos dos Aliados em cidades que se refizeram pelas mãos de um povo vestido de vergonha com a roupa dos mortos

Fico-me por aqui e amanhã, mais ou menos por esta hora, prepare-se para receber as últimas da noite anterior e as primeiras do dia com o Bernardo Ferrão, que é expedito e rápido a correr atrás das notícias. Ora  veja.