O SISTEMA BANCÁRIO CONTINENTAL-Um dos grandes problemas com que se vêm deparando os países mais pobres do continente africano prende-se com a falta de planificação, ou de adequação, do sistema bancário formal em relação às reais necessidades das populações.
Numa altura em que por diversos países africanos passam cativantes campanhas publicitárias a salientar e elogiar os benefícios que resultam da entrada no sistema bancário formal, a desconfiança das populações ainda é muita e, em grande parte, resulta precisamente de uma inadaptação em relação às necessidades das pessoas mais pobres, sobretudo as que vivem nas regiões do interior.
Em países como o Quénia, o sistema bancário já entendeu o problema e está a criar alternativas ao alcance do maior número de pessoas sem que estas tenham necessidade de recorrer a esquemas alternativos.
No Zimbabwe e na Somália, onde as economias e as poupanças estão fortemente ligadas ao dólar por inexistência formal de moeda nacional, é o próprio sistema bancário que sente grandes dificuldades em movimentar-se por não ter uma referência cambial que a possa ajudar a manter o equilíbrio na gestão financeira.Nestes dois países, onde há pessoas que vivem com menos de um dólar por dia,o acesso ao sistema bancário é limitado, o que facilita a entrada em cena de alternativas que facilitem algumas transacções.
Essas alternativas baseiam-se nas operadoras de telefone móvel onde as pessoas, com uma simples mensagem de texto (escrito), enviam e recebem dinheiro sem necessidade de terem conta bancária.Este sistema está fortemente implantado em países como o Quénia e o Zimbabwe, onde algumas operadoras já chegam a oferecer um cartão de débito com o qual é possível fazer compras pela Internet.
A falta de adaptação dos bancos às necessidades das pessoas mais pobres faz com que prospere o sistema mais informal, como o que integra as operadoras de telefonia móvel, aumentemos adesões e, a médio prazo, se transforme em sério concorrente directo dos principais bancos internacionais.
Um estudo do Banco Mundial divulgado no Quénia, refere que 25 por cento dos clientes das operadoras de telefonia móvel depositam nas suas contas uma média de dois dólares por dia, enquanto 60 por cento depositam dez dólares diários.
Através das suas contas e consoante os seus interesses, esses clientes recebem informações diárias sobre os preços que mais lhes interessam para negócios como os preços de adubos e sementes. Com essas referências os clientes podem fazer, igualmente por SMS, a sua reserva de necessidades ir descontando periodicamente as quantias até ao total a pagar.
São sistemas alternativos de funcionamento que se adaptam perfeitamente às necessidades específicas das populações e que, por força disso, ganham um número crescente de adesões. Para que o sistema alternativo possa funcionar com rapidez e eficiência, muito têm contribuído as operadoras de telefone móvel espalhadas pelo continente africano, preciosas aliadas dos mais desfavorecidos.
Essas operadoras, que já actuam de forma globalizada por atingirem um número crescente de diferentes países a preços cada vez mais reduzidos, viram no seu apoio a este sistema bancário alternativo uma boa forma de aumentarem os seus assinantes com consequente reflexo nos lucros finais.
As operadoras apostaram na criação de serviços como transferências e depósitos de dinheiro.O êxito deste sistema bancário alternativo no continente africano levou a que os EUA estejam a pensar em adoptar um esquema semelhante destinado a apoiaro seu sector agrícola.
Metade dos operadores agrícolas norte-americanos funciona à margem do sector bancário formal pelo facto deste também não conseguir responder às suas necessidades pelo que a experiência africana pode ser um caminho a seguir.
Para isso foi criada Fundo de Ajuda à União de Crédito que vai estudar e regulamentar nos EUA a eventual criação de um sistema que, no continente africano, se tem revelado de uma enorme utilidade para as populações do interior. Actualmente, mais de metade da população da América Latina, Médio Oriente, África e em grande parte da Ásia não tem acesso ao sistema bancário formal, um problema para o qual o Banco Mundial tem repetidamente alertado sem apresentar grandes alternativas.