Guiné-Bissau-O ex-Presidente da Guiné-Bissau Kumba Yalá morreu devido a doença cardíaca. Kumba Yalá, que fez 61 anos a 15 de Março de 2014, renunciou à vida ativa política a 01 de Janeiro deste ano, alegando "haver um tempo para tudo", e decidiu apoiar o candidato independente às presidenciais, Nuno Nabian.
O ex- primeiro-ministro da Guiné-Bissau derrubado por um golpe de Estado em 2003 desistiu assim da corrida às eleições gerais (presidenciais e legislativas), adiadas por diversas vezes e agora marcadas para 13 de Abril, com 13 candidatos presidenciais e 15 partidos a concorrer à Assembleia Nacional Popular.
O fundador do Partido da Renovação Social (PRS) recorreu a várias citações da Bíblia para argumentar que chegara a hora de deixar o seu lugar a outros, não deixando de parte a ideia de que poderia vir a ser "senador da república".
Durante o anúncio da sua saída da vida política activa, de acordo com a Rádio França Internacional (RFI), Kumba Yala afirmou que partia "com a consciência tranquila" de quem "sempre lutou para uma vida melhor para os seus concidadãos".
Kumba Yalá citou o Rei Salomão, que alegara haver tempo para tudo na vida terrena. A sua decisão de deixar a vida política seria irrevogável. Filho de agricultores, é natural de Bula, poucos quilómetros a norte de Bissau. A sua imagem de marca era o barrete vermelho, que trazia sempre nas aparições públicas.
Foi candidato a todas as eleições à Presidência da República desde 1994, ou seja, desde que há pluralismo democrático no país.
Nas eleições de 1994, como líder do Partido da Renovação Social, desafiou o então chefe de Estado, general João Bernardo "Nino" Vieira, mas saiu derrotado numa segunda volta renhida.
Chegaria ao poder em 2000, com os analistas da política guineense a afirmar que os eleitores "estavam cansados do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde)", o partido histórico que tinha mergulhado o país numa guerra civil de 11 meses.
Kumba Yalá só ficaria na cadeira presidencial durante três anos, sendo destituído num golpe de Estado militar.
Candidatou-se novamente à Presidência da República nas eleições de 2005, em que foi o terceiro candidato mais votado. Não teve votos suficientes para disputar a segunda volta, mas foi decisivo com o seu [partido] PRS para fazer eleger "Nino" Vieira, que disputou a segunda volta com Malam Bacai Sanhá.
"Nino" não terminou o mandato porque foi assassinado em casa, em Bissau, em Março de 2009, obrigando o país a organizar eleições presidenciais antecipadas.
Desta vez, na segunda volta contra Malam Bacai Sanhá, Kumba Yalá foi derrotado nas urnas e exilou-se em Dacar (Senegal) e depois em Rabat (Marrocos).
Em Janeiro de 2012, quando foi anunciada a morte de Malam Bacai Sanhá, vítima de doença, Kumba Yalá, de etnia balanta, filho de agricultores de Bula, reaparece em cena e volta a candidatar-se à presidência.
Juntamente com outros candidatos, queixou-se de fraude eleitoral e a 12 de Abril promoveu uma conferência de imprensa para anunciar que não aceitava participar na segunda volta contra Carlos Gomes Júnior.
Poucas horas depois deu-se o golpe de Estado militar que conduziria ao actual período de transição.
Para trás ficava a sua filiação no PAIGC quando adolescente, a criação do PRS e os comícios que mobilizaram multidões.
Desportista, refugiou-se em Portugal para fugir ao serviço militar (ainda no tempo colonial). Fez o liceu em Loulé e em Lisboa e, segundo a sua biografia oficial, licenciou-se em Filosofia e Teologia em 1981. Formou-se ainda em ciência política em Berlim e, em 1987, chefiou uma delegação do PAIGC a Moscovo (ao 70.º aniversário da revolução de Outubro).
Ainda segundo a mesma biografia, em 1990 saiu do PAIGC e quatro anos depois foi eleito deputado já pelo PRS. Em 1995 concluiu a licenciatura em Direito, em Bissau. Era casado e tem vários filhos.
No meio do seu percurso político, entre as corridas eleitorais, converteu-se ao islamismo, mas raras foram as vezes em que foi chamado pelo nome que adotou quando se converteu: Mohamed Yalá.
Simplesmente continuou a ser Kumba Yalá, ou Koumba Yalá Kobde Nhanca, mesmo nas camisolas usadas na campanha.