Guiné-Bissau-A ativista de luta contra a mutilação genital feminina (MGF) na Guiné-Bissau Domingas Gomes rejeitou quarta-feira passada, os dados do último relatório da Unicef que diz que a excisão tem aumentado no país.
Estudo da Unicef mostra que maioria da população onde ablação genital feminina é praticada, são contra ela
"Se calhar até podem ser dados dos anos anteriores, mas hoje a situação que temos no terreno é muito melhor. Não é verdade que a excisão esteja aumentar ou que há resistência em certas comunidades para o abandono da prática", defendeu Domingas Gomes em declarações à agência Lusa.De acordo com o último relatório da Unicef sobre a prevalência da mutilação genital feminina, contrariamente a vários países do mundo onde o fenômeno está a diminuir, na Guiné-Bissau a excisão tem aumentado.
No relatório, publicado em Nova York, lê-se que a percentagem de mulheres que apoiam a mutilação genital feminina tem diminuído na maioria dos países com taxas moderadas desta prática, exceto a Guiné-Bissau, onde também aumentou o número de meninas mutiladas antes dos cinco anos.
"Não só a excisão tem diminuído como temos tido boa reação das comunidades onde a prática é mais acentuada. As comunidades têm estado a apropriar-se da ideia do abandono da prática", disse Domingas Gomes, coordenadora da Djinopi (ONG que quer dizer vamos para frente) e Sinin Mira Na Siqué (ONG que significa "Olhemos para o Futuro"), duas organizações que estão na vanguarda da luta pela mudança de mentalidades no país.
Domingas Gomes frisa o papel dos imãs (líderes religiosos muçulmanos) e da juventude na mudança de mentalidades rumo ao abandono da prática da excisão na Guiné-Bissau. Citou o caso do chamado Livro de Ouro, escrito por mais de 80 imãs guineenses no qual afirmam que a excisão não é uma prática prescrita no Alcorão (livro sagrado do islã).
A activista desconhece o teor e as bases do relatório da Unicef, mas ainda assim afirma que a organização internacional - que diz ser parceira das ONG guineenses - devia consultá-las antes de publicar o documento.
"Ficamos surpreendidas com o teor deste relatório que não conhecemos, porque não fomos consultados sobre a matéria", declarou ainda Domingas Gomes, frisando os apoios dos imãs no trabalho da sensibilização para o abandono da prática.