Europa do Euro-As divergências entre os governos europeus sobre a política de rigor fiscal
voltaram a causar polêmica entre Paris e Berlim.
O Partido Socialista (PS) francês, o maior da base de sustentação do presidente François Hollande, apresentou um texto no qual criticava a "intransigência egoísta" de Angela Merkel, a "chanceler da austeridade", mesmo que a Alemanha seja o maior contribuinte dos planos de socorro acertados até aqui, com € 190 bilhões (ou 27,2%), ante € 142,7 bilhões da França (ou 20,4% do total).
O vice-presidente da coalizão de Merkel no Parlamento, Andreas Schockenhoff, respondeu ao PS francês. "As críticas mostram antes de mais nada o desespero dos socialistas franceses em razão de, mesmo um ano após sua chegada ao poder, não terem encontrado nenhuma resposta convincente aos problemas financeiros e econômicos de seu país", disse o deputado, em nota.
Panos quentes. Enquanto os parlamentares dos dois países se digladiam, membros dos governos de Hollande e Merkel tentaram contornar a polêmica. "A ideia de que haverá um confronto entre França e Alemanha é completamente falsa e improdutiva", afirmou ao jornal Le Monde o ministro francês da Economia, Pierre Moscovici. "Um diálogo exigente, sim; um confronto, não." Do lado alemão, o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert, minimizou as críticas mútuas. "Não é novo que a Alemanha e a França expressem divergências políticas ou econômicas. O importante é a colaboração entre os dois países", reiterou.
Nas últimas semanas, quatro das cinco maiores potências da União Europeia - França, Itália, Espanha e Holanda - adiaram metas dos planos de rigor fiscal acertadas com Bruxelas e vêm pedindo uma virada na política do bloco em favor do crescimento.
Ainda, na Câmara dos Deputados, o novo primeiro-ministro da Itália, Enrico Letta, discursou contra as políticas de rigor fiscal defendidas pela Alemanha. "A Itália está morrendo por causa da austeridade."
Mercados. As declarações de Letta foram interpretadas por investidores como um recado do novo premiê italiano aos defensores da austeridade fiscal na Europa, mas também como um compromisso com a zona do euro. Nos mercados financeiros, a recepção foi a melhor possível. Na Bolsa de Valores de Milão, o índice MIB subiu 2,2%, uma tendência também verificada em Paris, onde o CAC 40 ganhou 1,54%, e em Madri, com o Ibex 35 se valorizando 1,85%. Já em Londres e em Frankfurt as altas foram mais modestas: 0,49% no caso do FTSE 100 britânico e 0,75% no DAX alemão.