terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Antes de Passos e depois de Passos. O antigo primeiro-ministro chegou, agitou e deixou Montenegro a servir de alvo

 



Há uma campanha antes e depois da entrada de Passos Coelho com estrondo, num comício da AD em Faro, esta segunda-feira. Chamemos-lhes PPC e Dr.PPC.

Os partidos debatiam governabilidade, reformas na justiça e até Segurança Social. Se não ouviu, ouça o debate organizado pelas quatro rádios de informação.

O antigo primeiro-ministro materializou-se na campanha da AD em Faro e diria que pouco ficará igual nesta campanha. O antigo primeiro-ministro fez duas coisas neste seu discurso: pôs Luís Montenegro em alta pressão para vencer eleições ("a coisa mais natural", relata o jornalista João Diogo Correia); traçou-lhe um guião sobre o que considera que se deve fazer, como não ignorar temas caros ao Chega, ligando imigração a insegurança no país(já agora recomendo-lhe este 2h59, um pequeno vídeo sobre os dados que mostram que os imigrantes não são um problema para a segurança do país). E foram estas declarações que serviram de rastilho, pondo todos os outros líderes a reagir e a usá-lo como arma de arremesso contra Montenegro.

Quem mais aproveitou a entrada de Passos Coelho foi mesmo André Ventura que, em mais um dia em comícios dentro de portas e com algumas justificações falaciosas pelo meio para faltar ao debate das rádios, não deixou escapar a oportunidade para usar as palavras do antigo primeiro-ministro e tentar queimar Montenegro junto do eleitorado de direita. (Aqui o artigo do jornalista Vítor Matos, que acompanha a caravana do Chega: “Ventura usa Passos contra Montenegro: ”Ele ainda se muda para o Chega")

À esquerda, o assunto foi a cereja no topo do bolo. Pedro Nuno Santos já tinha questionado Montenegro se Passos iria entrar em campanha e estava a desejar que tal acontecesse. A chegada do ex-primeiro-ministro serviu que nem uma luva ao socialista que andava a acenar com o fantasma da austeridade e assim pôde acenar com as palavras de Passos. Mais: para o PS, Passos tem um discurso “colado ao Chega”, uma ideia que o novo líder socialista já tinha escrito no prefácio do livro do líder da JS. Aqui, o artigo do repórter Diogo Cavaleiro, em que conta como Pedro Nuno usou Passos contra Montenegro.

Não foi o único a fazê-lo à esquerda. Mariana Mortágua, que teve um dia dedicado à precariedade laboral, viu nas declarações de Passos Coelho o mote perfeito para falar sobre os que “exploram”. A líder bloquista colou Passos à "extrema direita" que, diz, "aponta o dedo aos mais frágeis porque quer evitar que olhemos para cima”. Leia aqui a reportagem em Évora da jornalista Cláudia Monarca Almeida.

Paulo Raimundo foi o que o fez com menos intensidade. O comunista aproveitou para dizer que já tinha avisado que o que a direita queria era regressar aos tempos da troika e acabou a comparar os “regressos” em campanha. Para o comunista, mais vale Jerónimo de Sousa (que está bem de saúde, tranquilizou simpatizantes) do que Passos Coelho (pode ler aqui a reportagem em campanha da repórter Margarida Coutinho).

 Rui Rocha, que fechou o dia antes de Passos falar, preferiu distanciar-se do Chega por outros motivos. Diz que além das questões de dignidade humana, no Chega são “irresponsáveis” e “estatistas”. Mas a marca de água do liberal nesta segunda-feira foram as divergências para com Luís Montenegro, sacudindo a pressão do voto útil à direita. (Pode ler aqui o acompanhamento da jornalista Joana Ascensão).

Em Lisboa, também o Livre tinha acabado a sua agenda do dia antes de ouvir o antigo primeiro-ministroRui Tavares focou-se no fundo de emergência para a habitação proposto pelo partido no Orçamento do Estado para ajudar sem-abrigo, salientando que “o Livre não diz umas coisas, o Livre ajuda as pessoas”.

Em Faro, Inês Sousa Real passou ao lado da polémica do dia. A líder do PAN defendeu "mais oferta pública" e "incentivos aos senhorios", nomeadamente com benefícios fiscais para que haja mais alojamentos para estudantes.

Luís só quer Rui ; André não é querido por ninguém, mas no despeito de ficar de fora pode baralhar tudo. Pedro diz que se tiver de ser, e se receber tratamento igual, deixa passar Luís, mas só por seis meses, depois logo se vê. Luís não quer dizer se deixa passar Pedro e dali não sai, ou melhor, sai só às vezes.

A rábula deste início de campanha não podia ser mais confusa, mas isso não quer dizer que não seja necessária. Em 2022, muitos dos eleitores decidiram o voto em cima da hora e terão feito as suas escolhas, a avaliar pelo que nos dizem estudos pós-eleitorais, não só através de programas ou de traços das personalidades, mas também por questões de governabilidade, leia-se, no caso de 2022, anti-Chega.

O mundo mudou em dois anos, mas a vontade de estabilidade, para que daqui a seis meses não tenhamos de novo de ir às urnas, vai pesar na hora em que o eleitor põe a cruzinha. E por ainda haver dúvidas sobre o que pode acontecer aos votos de cada um e para que maiorias servirão, o assunto ainda não morreu esta segunda-feira (talvez hoje). No debate das rádios teve mais um episódio.

Numa síntese rápida, no debate (pode ler aqui o resumo dos cinco pontos-chave), Pedro Nuno Santos repetiu parte da rábula da última semana e Montenegro repetiu que não quer dizer nada porque só pensa na vitória. E Rui Tavares trouxe mais um dado à equação que é: o que faz a direita democrática se houver uma maioria relativa de esquerda e houver uma moção de rejeição do Chega? Rui Rocha respondeu rapidamente a dizer que ainda antes de Ventura piscar os olhos, já a IL apresenta a sua e Montenegro nada disse. Outra vez.

Contudo, mais tarde, deu mais um nó à já extensa corda de declarações sobre o assunto. “Os Protagonistas”, a dada altura, a meio da conversa com Sebastião Bugalho, deu uma resposta dúbia: “Havendo governo de maioria relativa, vale para quem lá estiver”. O contexto era o de o líder social-democrata explicar como admite governar se ganhar (se tiver maioria absoluta, se conseguir maioria de deputados com a IL e em maioria relativa), e dava como exemplos governos com estabilidade que cumpriram os mandatos, como o de António Guterres, com a aprovação de orçamentos por Marcelo Rebelo de Sousa. Sebastião Bugalho pergunta se é válido para ambos os partidos e a resposta é a de cima. Pode ouvir na SIC Notícias ou mais daqui a pouco na página do Expresso.

No campo das propostas, houve consenso numa reforma na justiça, mesmo que as propostas sejam díspares, e à esquerda vários consensos, desde logo pela necessidade de reforçar as fontes de financiamento da Segurança Social. Sobre esse assunto, Luís Montenegro fez um corte com o passismo: a reforma da Segurança Social já não faz parte do cardápio social-democrata.

O debate das rádios serviu ainda para cimentar alguns posicionamentos. A esquerda uniu-se, incluindo em alguns apartes, e até já falam abertamente sobre um entendimento; à direita (democrática, o Chega esteve ausente por opção), é tempo de divergir e foi isso que Rui Rocha fez neste debate, tentando sacudir a pressão do voto útil à direita. Quem atacou quem? No debate das rádios houve menos críticas, um recordista, um alvo maior e mais 'fogo amigo. Leia aqui a análise de David Dinis.

E como não há debates sem umas afirmações fora do eixo, há ainda tempo para uma análise a algumas declarações. Veja aqui o fact-check. “A pobreza derrotou-nos, o papão da Segurança Social, o cheque inútil e o não-residente: fact check ao debate todos contra todos (menos um)”.

Depois de um fim de tarde em que a campanha aqueceu, esta terça-feira será dia para perceber que influência terá Passos Coelho na campanha de Luís Montenegro. O dia será longo, vá passando por expresso para saber as últimas novidades sobre a campanha. 

Por onde andam hoje os partidos?

Antes de mais, começa esta terça-feira o voto antecipado, que já conta com mais de 90 mil inscritos.PS - Pedro Nuno Santos

10h00 (11h00 em Lisboa) - Visita ao Centro de Interpretação das Microalgas Algicel-Biotecnologia e Investigação, Lagoa (Açores)19h00 - Comício no Fórum Machico (Madeira)AD - Luís Montenegro

11h00 - Visita à Cersul em Elvas14h30 - Contacto com a população em Portalegre17h30 - Visita ao IPCB em Castelo Branco19h30 - Comício na Covilhã

Chega - André Ventura

15h30 - Arruada em Braga20h00 - Comício em Guimarães

Iniciativa Liberal - Rui Rocha

11h00 - Reunião com a Associação de Agricultores do Sul em Beja16h00 - Visita ao local onde deveria estar a funcionar o Hospital Central do Algarve, em Loulé17h30 - Contacto com a população em Faro

BE - Mariana Mortágua

10h30 - Visita à sede do Agrupamento Vertical de Escolas de São Teotónio, em Odemira18h00 - Arruada em Almada21h30 - Comício em AlmadaPCP - Paulo Raimundo

10h00 - Contacto com a população em Setúbal12h00 - Almoço com trabalhadores da Câmara Municipal de Palmela19h00 - Jantar Comício CDU em Almada

Livre - Rui Tavares

11h00 -Visita ao CEiiA - Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto e ao CIIMAR - Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, Matosinhos16h00 - Conversa sobre mobilidade com a Comissão de Utentes de Transportes do Alto Minho e com Mário Meireles da "Braga Ciclável", em Braga

PAN - Inês Sousa Real

À hora de envio desta newsletter, a agenda da Lusa não tinha indicações sobre agenda do PAN. A indicação é que Inês Sousa Real andará no distrito de Faro.