Hoje é o segundo e último dia do debate na generalidade do Orçamento do Estado para 2022. E, tudo o indica, será mesmo o último dia da proposta de orçamento, que se prepara para ser chumbada pela conjugação dos votos dos deputados do PSD, CDS, IL, Chega, Bloco de Esquerda e PCP. Eis a crise política oficialmente aberta.
(Se por um passe de mágica o que acabei de dizer não se verificar hoje, pode o caro leitor ou leitora exigir que eu coma a gravata. Fica dito)
Por coincidência de calendário, faz hoje, dia 27, precisamente um mês desde a última vez que aqui estive a tirar um Expresso Curto matinal para si. Na altura, fazia o rescaldo das eleições autárquicas, realçando a vitória de Moedas em Lisboa, a forma como o PSD aguentara e como o PS, embora tendo vencido, tinha um travo amargo na noite eleitoral. Ora, um mês depois, é precisamente este dia que marca o fim de um ciclo político, com o anunciado chumbo do Orçamento do Estado para 2022.
A geringonça morreu.
Esta quarta-feira, dia em que o OE é votado no Parlamento, António Costa perfaz 2162 dias como primeiro-ministro. E é neste dia que o seu consulado enfrenta a mais grave, aguda e difícil crise política desde que é primeiro-ministro. O socialista está a pouco tempo de se conseguir tornar o líder do PS com mais tempo de permanência na liderança de executivos em Portugal. Está a apenas 130 dias do tempo que José Sócrates ficou como primeiro-ministro. E a 190 dias do tempo que Guterres ocupou o cargo. Respetivamente, quatro meses e dez dias e seis meses e dez dias a menos, grosso modo.
Costa, que até há bem pouco parecia caminhar tranquilamente como primeiro-ministro até 2023, e tornar-se o socialista mais tempo a liderar um governo em Portugal, pode agora estar à beira de ver o seu consulado terminar dentro de cerca de dois meses, em caso de eleições (às quais já disse que vai concorrer, e que até pode naturalmente ganhar). Caso doravante não se mantenha na liderança do país, confirma-se a 'maldição socialista', de nunca um líder do partido conseguir chegar aos sete anos seguidos de governação em Portugal. 7, o número maldito para o PS.
Nas agitadas últimas horas, vimos movimentos do Presidente mais ou menos discretos ainda a tentar procurar uma solução para que o OE pudesse ser viabilizado. Falou-se de orçamento da Poncha. Vimos Rui Rio irritado com o Presidente. Vimos a esquerda à esquerda do PS a dizer que sem OE não há por que ir logo para eleições legislativas. E vimos António Costa confirmar que será novamente candidato a primeiro-ministro. O que não vimos, de facto, foi qualquer sinal que pudesse indicar que o desfecho desta novela não será mesmo o chumbo do OE. Um chumbo inédito na nossa democracia.
A equipa de política do Cirilo João Vieira está, literalmente, a trabalhar dia e noite para levar-lhe a melhor informação sobre o que se passa:
A última dança da ‘geringonça’: Costa deixou apelos em repeat, esquerda acha que é só música - Costa e esquerda já ensaiam os argumentos de campanha. O primeiro-ministro não de demite, assume uma "desilusão" com o fim da geringonça e anuncia será recandidato.
Ferro ouviu os partidos e leva um "berbicacho" a Marcelo: a esquerda prefere um novo Orçamento à dissolução imediata da AR: BE, PCP, PEV e PAN entendem que o PR não deve dissolver logo o Parlamento e, antes, dar oportunidade a Costa para que negoceie um novo Orçamento. Marcelo levará a sua adiante, ou seguirá a maioria dissolvente?
Rui Rio ganha apoio dos presidentes das distritais de Viana do Castelo, Bragança e Vila Real. Três presidentes de distritais do Centro e cinco autarcas do Norte apoiam Paulo Rangel
Rio nega [http://?utm_content=2162 dias depois, o funeral da geringonça (e a maldição socialista do número 7)&utm_medium=newsletter&utm_campaign=ada5ecac9b&utm_source=expresso-expressomatinal]tentativa de adiamento das eleições internas e passa culpa a Rangel pela “confusão”
CDS-PP: Candidatura de Melo diz que regras "não estão a ser cumpridas": "Não quero crer que haja receio de ouvir a voz dos militantes"
Um dos temas que têm marcado este debate é o fim da caducidade dos contratos coletivos de trabalho. Aqui, no Expresso da Manhã, pode perceber melhor o tema.
Se está a achar o que se passa trepidante, o melhor mesmo é agarrar-se à cadeira. Os próximos meses devem ser sempre assim (e se verá se em caso de eleições delas sai uma solução política estável...)
FRASES (especial crise política)
"Se não há estabilidade, é evidente que vamos de miniciclo para miniciclo para miniciclo", Marcelo Rebelo de Sousa
“Nada justifica pôr termo à caminhada que iniciámos em 2016. Ainda há estrada para andar e devemos continuar”, António Costa, na AR
“O Governo fez a sua escolha. Mas ir para eleições, senhor primeiro-ministro, é a escolha errada”, Catarina Martins, líder do BE
"É claro o que parece confuso: por razões diferentes, o PS e o PCP preferem eleições antecipadas", José Miguel Júdice
Boa leitura. | |
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