segunda-feira, 10 de agosto de 2020

As voltas – em papel higiénico e não só – que o mundo dá

 

Boa tarde!

Ainda é cedo para podermos identificar com segurança tudo o que esta pandemia de covid-19 vai deixar para a História, além dos tristes números de mortos que já conheci e dos prejuízos brutais causados nas economias de todo o mundo. E é cedo porque ainda não sei quando é que o mundo vai ficar livre do novo coronavírus. Mas será que daqui a 10, 20 ou 30 anos ainda vamos-nos lembrar da loucura que foi a corrida ao papel higiénico, e das piadas que daí resultaram?

Vem isto a propósito de uma das entrevistas que foi publicada esta semana e que está na imagem de capa do caderno de Economia do Expresso: fui falar com Paulo Pereira da Silva, presidente da Renova, que, além de contar como foi viver o arranque da pandemia no meio de uma corrida ao papel higiénico, graceja dizendo que se calhar o papel higiénico se vai tornar um dos símbolos destes tempos e nos fala também dos planos da Renova para ser cada vez mais global, com a estratégia que tem montada para atacar os mercados chinês e mexicano.

Nesta edição entrevistei também Paul Collier, que acaba de lançar o livro “Greed is dead” (“A ganância está morta” na tradução literal), concluído já durante a pandemia. O economista britânico, professor da Universidade de Oxford, defende que é preciso “enfrentar a ascensão do individualismo e a destruição do sentido de comunidade, bem como o desvio das empresas de cumprirem objetivos sociais para apenas buscarem o lucro”. “O capitalismo está eticamente nu e será destruído se não mudar” é o título da entrevista.

Collier considera que as respostas iniciais da Europa à crise económica provocada pela covid-19 foram “horríveis”, mas depois “acertou-se o passo”, com o anúncio de um pacote robusto de fundos para resgatar as economias dos 27 países da União Europeia. Como serão distribuídas essas verbas é matéria que os governos terão agora de definir. E em Portugal essa tarefa está nas mãos do ministro do Planeamento, Nelson de Souza, com uma novidade: os novos fundos europeus vão pagar até 100% do investimento em Portugal – é a manchete desta semana do caderno de Economia.

Apesar da descida da taxa de desemprego, os sinais de stresse no mercado de trabalho são muitos. Enumero esta semana cinco sinais de alarme, nomeadamente os milhares de trabalhadores em lay-off, a redução das horas trabalhadas e do emprego e o aumento da inatividade e da subutilização do trabalho. Os dados divulgados esta semana mostram, por outro lado, que os precários são os primeiros sacrificados da crise.

As medidas do Governo para apoiar as empresas e as famílias por causa da pandemia têm visto a luz do dia com condições inesperadas, que limitam os benefícios. Por isso, fomos descodificar o que está em causa nos apoios do governo.

A pandemia está a provocar stresse em todo o lado e naturalmente também na banca, mas há bancos mais pressionados do que outros. Analisamos esse impacto no artigo “A pandemia castiga os rácios do Novo Banco e do Montepio”.

Isabel dos Santos quer afastar António Domingues da administração da NOS. A investidora angolana e o seu sócio Mário Silva dizem que o gestor, que saiu em julho da administração do banco angolano BFA, já conhecia há três anos as operações que consubstanciam falhas no sistema de prevenção do branqueamento de capitais. E com esse argumento querem que saia da operadora de telecomunicações.

Há aí uma revolução em curso que tem sido abafada pela pandemia: a do 5G. O governo e o regulador não se entendem quanto ao leilão da quinta geração das comunicações. A Anacom quer impor condições para a entrada de um novo operador e para a partilha de redes, mas a resolução do Conselho de Ministros é omissa quanto a esta matéria.

Entretanto, há uma empresa que está a querer combater a pandemia com secreções de rã. Pode ler a história aqui.

Lisboa tem quase três mil edifícios devolutos. E a câmara municipal tem duas mil intimações para obrigar os proprietários a fazerem obras.

Na opinião tem para ler:

Francisco Louçã  A nova Guerra Fria não será fria


João Duque  Quer dançar o tango?


Manuel Ennes Ferreira  Crise da universidade em Angola

Pedro Siza Veira  Um Banco de Fomento para Portugal

Pedro Miranda – Prudente controlo


Boas leituras! E boas férias, se for caso disso.