No dia 1 de dezembro de 1955, ao anoitecer, Rosa Parks entrou num autocarro em Montgomery, no Alabama, e sentou-se num lugar reservado a negros. O autocarro encheu, entraram vários brancos e o lugar onde Parks seguia foi ‘reclassificado’. Rosa recusou sair, foi presa e tornou-se num símbolo da luta pelos direitos civis nos EUA. No dia 16 de fevereiro, à noite, Moussa Marega marcou um golo, meteu o FC Porto na frente do marcador e, poucos minutos depois, abandonou o estádio D. Afonso Henriques por causa de insultos racistas.O caso de racismo no Vitória Guimarães-FC Porto transformou Marega numa espécie de Rosa Parks do futebol português. Não foi a primeira vez e, provavelmente, não será a última que se ouviram estes insultos nos estádios nacionais. Mas a tomada de posição do maliano merece ser elogiada. Porque vários outros passaram pelo mesmo, como contam, por exemplo, Quaresma ou Nelson Semedo. Também Éder, o herói de Paris em 2016, estas “atitudes valem mais do que mil palavras”. Moussa Marega já falou sobre o que se passou e diz que “foi uma grande humilhação”.A onda de condenações já vai alta. O Ministério Público está a investigar, na política há um amplo consenso de condenação (com exceção de André Ventura que esteve ontem na TVI a defender que Portugal não é racista e que são hipócritas os que viram insultos racistas em Guimarães), e o caso tem tido enorme eco na imprensa internacional. Ainda que, como bem se sabe, há várias situações semelhantes noutros países.O Vitória Guimarães está a colaborar com as autoridades para identificar os adeptos. E fez um vídeo a garantir que o clube condena o racismo. A verdade é que, nos últimos anos, tem sido detetadas algumas situações mas as sanções são bastante leves.Blessing Lumueno, treinador de futebol, conta a sua própria experiência num texto que vale a pena ler com atenção: “Houve um tempo em que fomos todos macacos.”
OUTRAS NOTÍCIAS
Cá dentro
A maioria das multas aplicadas a banqueiros nos últimos anos ficou por pagar, escreve o Jornal de Notícias na sua edição de hoje. São quase 17 milhões de euros em década e meia com Ricardo Salgado (BES), João Rendeiro (BPP) e Jardim Gonçalves (BCP) no topo da lista.
Portugal continua sem ter qualquer caso de coronavírus. Os últimos casos suspeitos foram negativos. (Um pequeno aparte: para que serve a contagem dos casos suspeitos negativos? Parece tudo, menos uma informação relevante pois nada diz sobre risco de incidência, taxa de contágio ou qualquer outra coisa sobre o coronavírus já que estas pessoas não o tinham.)
Lá fora
Os EUA apoiam Angola no combate à corrupção. A mensagem é de o secretário de Estado, Mike Pompeo, depois de um encontro com o presidente angolano, João Lourenço, em Luanda. Isabel dos Santos escreveu a Lourenço, logo depois do arresto dos bens no inicio de janeiro, para tentar negociar mas não teve grande sucesso.
Jorge Jesus esteve com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e com o seu ministro da Economia, Paulo Guedes, no Palácio da Alvorada em Brasília. O encontro está a gerar enorme polémica.
Numa altura em que os políticos – democratas americanos, entenda-se – tem apelado a um controlo mais aperto dos gigantes tecnológicos, Mark Zuckerberg, o patrão do Facebook, escreveu um artigo no Financial Times (a propósito do white paper que a empresa divulgou ontem) em que pede maior regulação para o setor. Diz Zuckerberg que regras mais apertadas no curto prazo podem ser negativas para o Facebook mas, no longo prazo, são positivas.
FRASES
“As empresas tecnológicas devem servir a sociedade. Isso inclui também o nível empresarial, por isso apoiamos os esforços da OCDE para criar regras fiscais globais mais justas para a internet”, Mark Zuckerberg, presidente e fundador do Facebook em artigo de opinião no Financial Times
“Honestamente, não tenho comentários a fazer sobre isto. É algo que politicamente lamentamos”, Mário Centeno, Ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo sobre a divulgação da gravações das reuniões do Eurogrupo por Yannis Varoufakis
O QUE ANDO A LER
“A Loja dos Suicídios” é um pequeno livro de Jean Teulé publicado em 2007 a que regressei esta semana. Tropecei nele, por acaso, na estante e pareceu-me interessante recordar algumas passagens no atual contexto político.
O título não engana: a história anda à volta da família Tuvache (pai, mãe e três filhos) e da sua loja onde vendem meios para os clientes se suicidarem. Venenos, cordas para enforcamento ou armas de fogo são algumas das alternativas disponíveis.
O lema desta loja suis generis é “A sua vida foi um fracasso? Connosco, a sua morte será um sucesso!” Como bem se percebe, é humor negro e do bom. Não tem a seriedade que o debate da eutanásia merece – e que está a animar a semana política – mas é uma forma alternativa e bem divertida de olhar para a morte.
Tenha um excelente dia.
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