sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Preparem-se: Vem aí Uma Campanha Violenta

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Cirilo João Vieira(na foto)
 
Notícia-Preparem-se: o que aí vem não é «Uma campanha alegre», como a que Eça de Queirós descreveu, utilizando um humor sarcástico e contundente para criticar a vida social e política do seu tempo. O que se perfila no horizonte não tem um pingo de humor, é sórdido e está cheio de golpes baixos. Como escreve José Pacheco Pereira na edição da Sábado desta semana, «estas eleições tocam em demasiadas coisas vitais para não serem travadas com todas as armas, e algumas são bem feias de se ver».

O campo escolhido não é o terreno aberto nem a arma é o confronto sério de posições. Esta campanha joga-se, em grande parte, nas redes sociais, onde «um pequeníssimo número de pessoas faz uma ‘opinião’ entre anónimos, nomes falsos e empregados de agências de comunicação». Por outras palavras, a tropa de choque que conduz o combate político sujo é constituída por cobardes que a coberto do anonimato insultam, deturpam, ameaçam todos os que de uma ou outra maneira contestam o poder instalado – ou conseguem mesmo clonar telemóveis e computadores, através da cloud, para tentar calar os que resistem.

Nada de novo: em 21 de novembro de 2013,
em entrevista à Visão, Fernando Moreira de Sá, consultor de comunicação, explicava como a utilização das redes sociais tinha sido fundamental para levar Passos Coelho até à liderança do PSD, condicionando Paulo Rangel e mantendo na corrida Aguiar-Branco, porque dava jeito, não sem antes terem desgastado a liderança de Manuela Ferreira Leite. Depois partiram para o ataque ao governo de José Sócrates, utilizando os mesmos métodos e influenciando, através da manipulação das redes sociais, os comentadores nas rádios, nas televisões e os jornais.

Ora Passos chegou há quatro anos ao poder. Se os que o apoiam já sabiam do poder das redes sociais nessa altura, não lhe devem ter perdido o jeito desde então e provavelmente estão mais sofisticados, dominam melhor as técnicas de manipulação e são mais certeiros e eficazes nos alvos a abater. A polémica em torno dos cartazes do PS, para lá do amadorismo e incompetência de quem os produziu, nasceu precisamente nas redes sociais, até chegar aos órgãos de comunicação «sérios». E esta é outra conclusão a retirar: o jornalismo, que cumpre as regras deontológicas da profissão, está cada vez mais refém das redes sociais, que não as cumprem de todo, porque não só não têm de as cumprir como de todo não têm regras. É o vale tudo para destruir os adversários e manter o poder.

É claro que os cartazes da maioria também foram alvo de escrutínio e chegou-se à conclusão que
já estavam na rua quando finalmente chegou a licença que permite a utilização para fins políticos dos figurantes nos cartazes, segundo a Shutterstock, empresa à qual as imagens foram compradas.

Hoje, contudo, a política vai ceder o passo ao desporto-rei. Começa a Liga Portuguesa de Futebol (com um Tondela-Sporting, SporTV, 20.45), que promete ser igualmente das mais disputadas (esperemos que não com a mesma violência que se antevê na luta política) dos últimos anos. Para já, os três grandes têm-se reforçado consideravelmente, o que exige avultados investimentos. Ricardo Costa manifesta a sua perplexidade e
considera que não vai acabar bem. Mas na próxima semana estará em Alvalade para ver o Sporting contra o CSKA.

O facto é que a S&P Capital IQ diz que
os clubes portugueses estão na liga dos últimos quanto à sua saúde financeira. E se a S&P o diz e o Ricardo Costa desconfia, é porque deve ser mesmo verdade. Em qualquer caso, a que se encontra em melhor situação é a SAD do Sporting. Não há dúvidas: Jesus faz milagres!

Mais longe vem as presidenciais. Marcelo Rebelo de Sousa que, como de costume, deve andar divertidíssimo com todo o processo, diz agora ao DN que
já perguntou aos filhos e aos netos o que pensam sobre as presidenciais. Provavelmente, a seguir vai perguntar aos vizinhos, à senhora da praça e ao sapateiro. E continuará sem dizer se se candidata ou não.

Quem anda com o credo na boca é Sampaio da Nóvoa, muito por causa da cada vez mais forte possibilidade de Maria de Belém também se candidatar à Presidência da República. Por isso, a entrevista de António Costa à Visão foi vista como encorajadora. João Serra, antigo chefe da Casa Civil de Jorge Sampaio e apoiante de Nóvoa, afirma que «as declarações do secretário-geral do PS confirmam
as intenções e objetivos da candidatura presidencial de António Sampaio da Nóvoa», «uma candidatura que une em vez de dividir» e que «potencia a dinâmica do campo democrático e não a diminui».

A dois meses das eleições, Governo compromete 404 milhões de despesa até 2019, titula o
Público. Mas desta vez não parece haver razões para críticas. Os destinatários são os estabelecimentos de ensino artístico especializado, a produção do cartão do cidadão e as refeições dos reclusos dos estabelecimentos prisionais, além de outras áreas. É difícil considerar que os bailarinos e os presos votem em massa no Executivo por causa destas medidas.

Os contribuintes, contudo, não podem ficar descansados. A venda do Novo Banco está à porta e as ofertas superam os 3500 milhões de euros mas, com os ajustes, o encaixe para o Fundo de Resolução rondará os 2000 milhões. Como o Estado meteu lá 3900 milhões, os 1900 milhões de diferença ou são pagos pelo sistema bancário ou vão sobrar para os do costume…
O Jornal de Negócios, contudo, diz que já há solução para proteger a banca dos prejuízos do Novo Banco. Estamos todos mais descansados.

Metido em trabalhos e confusões continua José Sócrates, mesmo continuando detido preventivamente há nove meses na cadeia de Évora. Desta vez é a casa que vendeu a um antigo procurador-geral paquistanês por 675 mil euros. Vá lá que o comprador,Makhdoom Ali Khano, 61 anos, veio esclarecer desde logo que «
todas as transações foram feitas entre bancos. Não houve pagamentos em dinheiro vivo».

OUTRAS NOTÍCIAS

Em Cuba, hoje é um dia histórico. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, vai erguer a bandeira do seu país na embaixada dos EUA, que abre ao fim de 50 anos de corte diplomático e de embargo económico à ilha por parte do seu poderoso vizinho. Ontem Fidel Castro fez 89 anos, mas não vai à festa, embora para a dita cuja não tenham sido convidados os dissidentes cubanos para não melindrar o regime castrista.

Em Espanha,
foi capturado o presumível assassino de duas jovens que tinham desaparecido na quinta-feira da semana passada, em Cuenca e cujos cadáveres foram localizados esta quarta-feira. Sergio Morate, o suposto assassino, foi detido em Lugoj, na província de Timis (na Roménia). Foi o sinal do telemóvel que levava que o tramou.

Em Tianjin, na China, o fogo continua na sequência de
duas gigantescas explosões na zona portuária, que causaram pelo menos 50 mortos e 700 feridos, dos quais 60 em estado grave. A explosão foi equivalente à potência de 21 toneladas de TNT.

Entretanto,
a dívida grega subiu para 201% mas pode ser sustentável sem perdão. Bruxelas sugere que os europeus devem conceder mais crédito, mas só se os prazos forem amplamente alargados.

E à hora a que estou a escrever este artigo,
o parlamento grego aprovou ao fim de uma longa maratona o terceiro resgatenas condições acordadas com as instituições internacionais e que permitirão a Atenas receber 86 mil milhões de euros.

Na China, as coisas parecem estar a acalmar. As autoridades chinesas garantiram que
terminou o ajustamento do yuan, após uma desvalorização de quase 5%. As bolsas regressaram aos ganhos.

Mas claro, há consequências. A procura de ouro caiu para um mínimo de seis anos, devido à redução do consumo na China e na Índia, diz o
World Gold Council.

FRASES
«O partido avança de olhos vendados e mãos amarradas, à beira do abismo em direção às rochas afiadas lá em baixo». Tony Blair num dramático apelo aos militantes do Labour, no momento em que o autodenominado socialista Jeremy Cobyrn lidera destacado as sondagens na corrida à direção dos trabalhistas ingleses, no Diário de Notícias

«É preciso unir o país contra o sal e o açúcar», Francisco George, diretor-geral de Saúde, noutro dramático apelo, desta vez dirigido aos portugueses, no Sol

«Se Hillary Clinton não consegue satisfazer o marido, o que pode levá-la a pensar que irá satisfazer a América?», Donald Trump, numa das suas frases de indiscutível bom gosto, com as quais pensa ganhar a corrida republicana à Casa Branca e depois a dita cuja propriamente dita, no Diário Económico.

O QUE ANDO A LER E A OUVIR
 
Foi o grande fotógrafo, meu camarada de profissão e apaixonado pelo xadrez António Pedro Ferreira que me emprestou o livro. E fez muito bem. «Novela de xadrez», de Stephan Zweig, o último livro que escreveu antes de se suicidar em Petrópolis, no Brasil, com 61 anos, é como uma partida de xadrez: apaixonante, intenso, que não se larga até acabar, como o jogo propriamente dito, esse «jogo único de entre todos os jogos inventados pelo homem», «limitado num espaço geométrico fixo contudo ilimitado nas suas combinações». Como medita a personagem central da história de Zweig, «o que atrai no xadrez é unicamente o facto de a sua estratégia se desenvolver de forma diferente em cérebros diferentes, de, nessa guerra mental, as pretas não conhecerem as respetivas manobras das brancas e procurar constantemente adivinhá-las e contrariá-las enquanto, por sua vez, as brancas almejam ultrapassar e estancar as secretas intenções das pretas».

Para quem, como eu, se pode considerar um «xadrólatra», ou seja, alguém que, se não acionasse os travões da sua vontade, passaria horas e dias seguidos a jogar xadrez de forma compulsiva, «Novela de xadrez» é um livro incontornável e altamente recomendável para todos os que amam este que é seguramente o jogo dos jogos.

Outra pessoa que morreu demasiado nova, neste caso aos 27 anos, e que tinha igualmente um enorme, um incomensurável talento, pode ser revista num documentário sobre a sua vida, que ainda anda por aí em circulação. Depois de o ver resolvi ouvir o CD. «Back to Black», de Amy Winehouse, confirma o que o documentário mostra: a cantora era provavelmente a voz mais negra de uma branca desde Janis Joplin, que morreu de oversdose – e a faixa que dá o título ao álbum é uma inesquecível canção, que a fez aliás ganhar vários Grammy (apesar dos Estados Unidos terem proibido a sua entrada naquele país para estar presente na cerimónia e receber as estatuetas ao vivo). Não sabem o que perderam por uma razão que não existe nos Estados Unidos – por lá ninguém consome drogas, claro.
 
Bom fim-de-semana!