quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Financial Times: O Brasil após a Morte de Campos

 
Brasil-Em editorial publicado segunda-feira, o Financial Times analisa as conseqüências da morte de Eduardo Campos para a campanha política eleitoral deste ano. Ao falar sobre a morte do ex-governador de Pernambuco, o jornal britânico relembra outros políticos que morreram em agosto, como Getúlio Vargas, que cometeu suicídio em 1945, e Juscelino Kubitschek, que morreu em um acidente de carro em 1976.
 
O jornal aponta Eduardo Campos como um dos principais candidatos à presidência no Brasil nas eleições de outubro, morto em um acidente de avião na ultima quarta-feira. O Financial destaca que “a morte de Campos não é somente trágica: ela muda a dinâmica de uma, já muito, disputada eleição presidencial, assim como, o destino da segunda maior economia emergente do mundo”.
 
Segundo o jornal, “Campos era altamente conceituado na política brasileira. Ele tinha carisma e sólidas habilidades políticas de governo quando foi governador de Pernambuco”. O Financial destaca ainda que Campos uniu “com sucesso” os negócios, o desenvolvimento econômico, o meio ambiente e o bem-estar social.
 
Muitos teriam visto Campos como um possível futuro presidente, mas não este ano. “Campos estava em um distante terceiro lugar, na corrida eleitoral, mas cultivava de forma entusiástica um perfil nacional para as próximas eleições, em 2018”.
 
Até a morte do ex-governador de Pernambuco, as eleições deste ano foram uma “corrida de dois cavalos”, afirma o editorial do Financial Times. Liderando as pesquisas, a presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, segundo o jornal, “apesar da estagnação da economia, o aumento da inflação e um crescente mal-estar nacional”. Em segundo lugar nas pesquisas, mas, “ganhando terreno”, estaria Aécio Neves, do principal partido de oposição, o “PSDB”.
 
O Financial destaca que Aécio Neves tem sido o preferido dos acionistas: “o mercado de ações sempre salta quando as suas intenções de voto aumentam”. No entanto, a trágica morte de Campos, tornou as eleições em “uma corrida de três”, com a candidatura de sua vice, Marina Silva.
 
Isso porque, Marina Silva, de princípios ambientalistas, já tem um perfil nacional e um grande apelo. Segundo o Financial, “ela só teria se unido a Campos depois que foi incapaz de formar um novo partido a tempo para esta eleição”. Graças a sua candidatura nas eleições de 2010, quando ela ganhou 20% dos votos. “Marina Silva tem níveis de aprovação maiores do que Aécio, que está se candidatando para a presidência pela primeira vez”, agora Aécio tem que planejar sua campanha pensando em dois frontes.
 
Segundo o Financial, Dilma também pode estar ameaçada pela candidatura de Marina. “Embora Marina Silva acredite em medidas favoráveis ao mercado, como a criação de um  banco central independente, Dilma não pode acusá-la de ser uma ‘indiferente neoliberal’, como tem feito com Aécio, porque Marina Silva é um ex-membro do PT”. Além disso, segundo o jornal, a popularidade de Marina Silva acaba com as esperanças de Dilma ganhar as eleições no primeiro turno, com 50% dos votos. Marina poderia levar a melhor no segundo turno se houver a construção de um clima contra a atual presidente.
 
O PSB de Eduardo Campos ainda não endossou formalmente a campanha de Marina Silva, mas a falta de uma alternativa plausível leva o partido a decidir a favor na próxima quarta-feira, quando haverá uma reunião. Marina Silva tem se mantido respeitosamente em silêncio, esperando para declarar suas intenções após o funeral de Campos.  Mas segundo o Financial “é provável que ela esteja disposta a concorrer. Era para ele ter viajado no mesmo avião que Campos e, sendo ela uma evangélica, pode enxergar essa mudança de planos como uma intervenção divina para salvar sua vida de última hora”.
 
Enquanto isso o mercado financeiro ainda não tem pistas sobre como tudo isso influencia a economia brasileira. Segundo o jornal britânico, “desde a morte de Campos o mercado de ações do Brasil oscilou violentamente, mas tem se mantido estável a cada dia”.
 
O artigo do Financial Times conclui que uma coisa é certa: se Marina Silva for candidata, sua bandeira de “renovação política” e a possibilidade de uma terceira via, terão um imenso apelo em um país “insatisfeito com o status quo, como mostram os intensos protestos do ano passado” e que a campanha mais disputada que o Brasil já viu, vai esquentar.