Santa Sé, Estado da Cidade do Vaticano-O Papa Bento XVI, de 85 anos, anunciou que renuncia à liderança da Igreja Católica, por se sentir "sem forças" para desempenhar o cargo. A saída acontecerá a 28 de Fevereiro.
“Sinto o peso do cargo”, disse Bento XVI, para justificar a renúncia, algo que não acontecia há quase seis séculos. O último Papa a renunciar foi Gregório XII (pontificado de 1406-1415), para acabar com o grande cisma do Ocidente, que tinha chegado ao ponto em que havia três pretendentes.
“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência perante Deus, cheguei à conclusão de que as minhas forças, devido a uma idade avançada, não são capazes de um adequado exercício do ministério de Pedro", disse o Papa, no discurso em que anunciou a sua surpreendente decisão.
“Por esta razão”, continuou Bento XVI, “e bem consciente da seriedade deste acto, com toda a liberdade declaro que renuncio.” A “28 de Fevereiro, às 20h, a Sé de Roma ficará vazia e um conclave para eleger o novo sumo pontífice será convocado pelos que para tal têm competência.”
"No mundo actual, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevância para a vida da Fé, para governar a barca de S. Pedro e anunciar o Evangelho é necessário também vigor, tanto do corpo como do espírito. Vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de forma que tenho de reconhecer a minha incapacidade para exercer de boa forma o ministério que me foi encomendado", justificou o líder da Igreja Católica, que comunicou a sua decisão em latim, durante a canonização dos mártires de Otranto.
Igreja Católica em estado de "sede vacante"
A partir das 19h (hora de Lisboa) do próximo dia 28 de Fevereiro, a Igreja Católica fica em estado de "sede vacante", período que começa com a renúncia do Papa e durante o qual é feita a convocação do conclave e a eleição do seu sucessor. Até que seja conhecido o nome do futuro Papa, a direcção da Igreja Católica fica sob a responsabilidade do colégio cardinalício ou colégio dos cardeais.
As condições para a renúncia de um Papa estão previstas no Código de Direito Canónico, no cânone 332:"Se acontecer que o romano Pontífice renuncie ao cargo, para a validade requer-se que a renúncia seja feita livremente, e devidamente manifestada, mas não que seja aceite por alguém."
Colaboradores "incrédulos" com decisão tomada há quase um ano
Em conferência de imprensa, o porta-voz do Vaticano admitiu que a decisão de Bento XVI apanhou todos de “surpresa” e revelou que mesmo os colaboradores mais próximos não sabiam. Ficaram "incrédulos", disse Federico Lombardi.O irmão do Papa, Georg Ratzinger, foi o único a dizer que já sabia “há alguns meses” que Bento XVI ponderava deixar a liderança da Igreja Católica.E Giovanni Maria Vian, director do Osservatore Romano, o jornal semi-oficial do Vaticano, escreveu mesmo segunda-feira que a decisão de Bento XVI estava tomada há quase um ano, desde Março de 2012.“A decisão foi tomada há muitos meses, após a viagem ao México e a Cuba, num segredo que ninguém foi capaz de quebrar”, escreveu o historiador Giovanni Maria Via, em editorial, citado pela AFP.
O porta-voz do Vaticano afirmou, por outro lado, que Joseph Ratzinger não participará no conclave para eleger o seu sucessor, um encontro que só se deverá realizar em Março. “Devemos ter um novo Papa na Páscoa [31 de Março]”, acrescentou Lombardi.Existia já alguma especulação sobre uma possível renúncia do alemão Joseph Ratzinger, de 85 anos. No ano passado, Bento XVI tinha já dito que estava “na última etapa da vida”.
Sucessão em aberto
Para a sucessão de Ratzinger, há vários candidatos, mas nenhum favorito como quando o alemão sucedeu em 2005 a João Paulo II, destaca a agência Reuters.As casas de apostas, no entanto, já lançaram a corrida, sugerindo nomes como o cardeal ganês Peter Turkson, o italiano Angelo Scola ou o canadiano Marc Ouellet.A escolha de um Papa envolve sempre uma grande dose de imprevisibilidade, mas os analistas voltam a destacar a possibilidade de ser pela primeira vez escolhido um não europeu na era moderna da Igreja Católica. África e América Latina lideram as hipóteses.
Bento XVI, de 85 anos, foi o 265.º Papa e o sexto alemão a liderar a Igreja Católica.Ratzinger tornou-se Papa a 19 de Abril de 2005, quando tinha 78 anos. Os seus quase oito anos de pontificado ficaram marcados não apenas por um declínio na participação religiosa dos católicos, mas também por escândalos de abusos sexuais na Igreja Católica e ainda por casos polémicos no Vaticano, onde o Papa teria dificuldades para controlar a Cúria.
Federico Lombardi, porém, negou que a saída de Bento XVI esteja relacionada com outras razões que não a idade avançada. O porta-voz do Vaticano afirmou que nem as dificuldades do papado, nem uma doença em particular justificaram a decisão tomada por Ratzinger nos últimos meses."O Papa sentiu as suas forças a diminuírem nestes últimos meses e reconheceu-o com lucidez", disse Lombardi.Segundo porta-voz do Vaticano, o Papa vai retirar-se de imediato para a residência de Verão, em Castel Gandolfo, e mais tarde para um mosteiro no Vaticano.Nascido a 16 de Abril de 1927, Joseph Ratzinger nasceu numa família católica da Baviera (Alemanha).