quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

África Ocidental Tem 2,3 milhões de Toxicodependentes

Bandeira de Cabo Verde
Bandeira de Cabo Verde

Cidade da Praia - O ex-presidente de Cabo Verde Pedro Pires alertou quarta-feira que a questão do narcotráfico na África Ocidental, onde existe cerca de 2,3 milhões de toxicodependentes, não deve ser esquecida ou secundarizada, lembrando a impunidade dos traficantes.


Pedro Pires falava aos jornalistas no final de um encontro de trabalho com o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, para "concertar" posições na política externa cabo-verdiana, uma vez que foi eleito, no início deste mês, em Accra Ghana, vice-presidente de uma comissão independente para estudar o narcotráfico na sub-região oeste-africana.

A Comissão Sobre o Impacto do Tráfico de Droga sobre a Governação, Segurança e Desenvolvimento na África Ocidental, "independente de qualquer instituição regional", é liderada pelo ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo e visa "incentivar e alertar para os riscos que representa o narcotráfico" na sub-região.

"Há muitos riscos e, além do comércio, do tráfico, há também o problema do consumo. Hoje em dia, na África Ocidental, há cerca de 2,3 milhões de consumidores, de toxicodependentes, o que é razão de preocupação", explicou Pedro Pires.

"Há também o risco da secundarização ou do esquecimento do combate ao narcotráfico. Se ele existe na nossa região, não se pode secundarizar isso. A coisa torna-se mais complicada quando os traficantes estão mais ou menos à vontade e há, por isso, riscos de expansão e de contágio", acrescentou.

Entre as razões de um eventual "esquecimento" ou "secundarização" está, disse Pedro Pires, o envolvimento da sub-região no conflito no Mali.

"Deu-se e está a dar-se prioridade à solução do conflito no Mali e o risco é esquecer o resto", frisou o ex-chefe de Estado (2001/11) e antigo Primeiro-ministro de Cabo Verde (1975/91), lembrando que também o conflito político-militar na Guiné-Bissau está a ficar para trás.

Questionado sobre se a situação do narcotráfico em Cabo Verde pode ser considerada preocupante, Pedro Pires não respondeu directamente, optando por lembrar que as prisões cabo-verdianas têm detidos muitos implicados no narcotráfico.


Sabem a posição das autoridades cabo-verdianas? Se quiserem ir visitar as prisões é só ver o número de pessoas que estão implicadas no tráfico de droga. Aí pode constatar-se o que as autoridades têm feito", concluiu.

O encontro entre os dois (ex-estadistas e estadista) foi o primeiro de carácter oficial desde que Jorge Carlos Fonseca chegou à presidência cabo-verdiana, na sequência das presidenciais de Julho e Agosto de 2011.

Pedro Pires esteve em Acra no início deste mês a convite da Fundação Kofi Annan, para participar na criação da comissão, que integra também o antigo secretário-geral das Nações Unidas.