Nova Iorque - Portugal defendeu terça-feira na Assembleia Geral da ONU que a solução da crise na Guiné-Bissau passa pela nomeação de um governo que inclua o PAIGC, partido maioritário, e o regresso do Primeiro-ministro deposto, Gomes Júnior.
Falando na conclusão do debate da Assembleia Geral da ONU, o embaixador português, Moraes Cabral, identificou a Guiné-Bissau como um dos pontos preocupantes no panorama global, depois de em Abril ter sido "interrompido um processo eleitoral democrático, violando os princípios defendidos pela ONU", como foi reconhecido pelo Conselho de Segurança.
O restauro da ordem constitucional no país, afirmou, "requer a nomeação de um governo inclusivo, com o PAIGC, partido que tem a maioria dos lugares na Assembleia Nacional", disse o diplomata.
Outras condições são "o regresso dos líderes legítimos", o Primeiro-ministro Gomes Júnior e o presidente interino deposto Raimundo Pereira, "sem restrições aos seus direitos civis e políticos e organização de eleições livres e credíveis", adiantou.
"É inconcebível que, no século XXI, líderes africanos democraticamente
eleitos sejam depostos pela força e obrigados a viver fora do seu país", disse o
diplomata português.
O presidente deposto da Guiné-Bissau encontrou-se sábado nas Nações Unidas com o seu sucessor, nomeado após o golpe militar de Abril, iniciando um processo de diálogo entre ambas as partes.
Segundo afirmou à Lusa o embaixador guineense junto da ONU, João Soares da Gama, foi um "primeiro encontro de criação de confiança, um mero encontro simbólico", para "demonstrar que de facto há boa vontade de todas as partes no sentido de se enveredar por via negocial para solução da crise na Guiné".
Foi o culminar de uma semana diplomática intensa na ONU, em que na sexta-feira, após queixa da CEDEAO, o presidente deposto Raimundo Pereira viu suspensa a sua intervenção no debate da Assembleia Geral, quando já estava inscrito e dentro do plenário.
Num cenário de contínua dificuldade de entendimento entre CPLP e CEDEAO, com uma organização a reconhecer o governo deposto e a outra o governo "de facto" nomeado após o golpe, Portugal está empenhado em trabalhar "com todas as partes interessadas", disse Moraes Cabral.
Perante a necessidade de "tolerância zero" em situações como a da Guiné-Bissau, a União Africana, tem um papel "cada vez mais relevante", em coordenação com a ONU, para promover a paz e segurança no continente africano, adiantou.
Também no último dia do debate, Angola apelou na Assembleia Geral da ONU à "real inclusão de todos os actores" da Guiné-Bissau na procura de uma solução "inclusiva e duradoura" para a crise no país, palco de um golpe militar em Abril.
Portugal salientou ainda outras crises em África, como a do Sahel, particularmente no Mali, que demonstra o "crescimento exponencial do terrorismo, com laços crescentes ao crime organizado, drogas e outros tráficos ilícitos".