Continuado interesse dos investidores em África e o fluxo de investimento directo estrangeiro é indicador dos avanços no continente
África-As economias africanas registam um crescimento sólido, não obstante a desaceleração mundial, afirma o Banco Mundial (BM) no seu relatório, divulgado no início deste mês.
Os dados do BM apontam para a necessidade de os países utilizarem a riqueza proveniente do petróleo, gás e minérios de forma sensata. A par disso, prevê um crescimento da África subsariana, em 2012, de 4,8 por cento, mantendo-se, em termos gerais, inalterado em relação à taxa de crescimento de 4,9 por cento registada em 2011 e, em larga medida, a par dos objectivos, apesar da instabilidade na economia mundial.
Excluindo a África do Sul, a maior economia do continente, o relatório refere que a previsão de crescimento na África subsariana deve ascender aos seis por cento. As exportações africanas recuperaram de maneira notável no primeiro trimestre de 2012, registando um crescimento a um ritmo de 32 por cento, um aumento de referência, comparativamente aos 11 por cento registados no primeiro trimestre de 2011.
Os países africanos não têm sido imunes às recentes condições de volatilidade do mercado, resultante da crise da Europa, tal como ao abrandamento do crescimento de algumas das maiores economias em desenvolvimento, em particular a chinesa, país que continua a ser um mercado importante para os exportadores de recursos minerais africanos.
Os preços, sistematicamente elevados, das matérias-primas e o forte crescimento das exportações nos países que fizeram descobertas minerais nos últimos anos, fomentaram a actividade económica e prevê-se que suportem o crescimento económico em África até ao fim de 2012.
O vice-presidente do Banco Mundial para a África, Makhtar Diop, afirmou que um terço dos países africanos vai ter um crescimento igual ou superior a seis por cento, sendo que alguns registam um crescimento mais rápido e outros estimulados por novas exportações de recursos minerais, como o minério de ferro na Serra Leoa e urânio e petróleo no Níger, e por outros factores, como a consolidação da paz na Costa do Marfim, tal como por países com um forte crescimento, como a Etiópia.
“O forte e continuado interesse dos investidores em África é um indicador importante dos avanços neste continente, com 31 mil milhões de dólares em fluxos de investimento directo estrangeiro previstos para o ano corrente, não obstante as difíceis condições mundiais ”, sublinhou Makhatar Diop.
Com a economia mundial ainda numa situação de fragilidade, o “Africa’s Pulse” adverte que as elevadas taxas de crescimento em África podem ainda ser vulneráveis à deterioração das condições do mercado na Zona Euro, além de as recentes subidas nos preços de alimentos e grãos serem motivo de preocupação.
O Verão inaudito, quente e seco nos Estados Unidos, Rússia e Europa de Leste teve como consequência produções reduzidas de milho e trigo em todo o mundo. A região africana do Sahel está já a sofrer com os preços mais elevados dos alimentos, com elevadas taxas de subnutrição e com a recorrência da crise e insegurança.
De igual modo, os enxames de gafanhotos do deserto e o actual conflito no Sahel também contribuem para a insegurança alimentar na região. Países como o Mali e o Níger estão já a sofrer as consequências das infestações de gafanhotos, sendo possível que o enxame se desloque para os países vizinhos como a Mauritânia e o Chade. Isto reduz a capacidade das famílias de encontrar alimentos suficientes numa região que já é assolada pelos efeitos de secas e conflitos.
Recursos minerais aumentam
Recursos minerais aumentam
O último número do “Africa’s Pulse”, citado pelo Banco Mundial, diz que as novas descobertas de petróleo e gás e de outros recursos minerais em países africanos, vão gerar uma vaga de riqueza significativa em recursos minerais na região e a relevância económica de recursos naturais deve continuar a médio prazo em diversos produtores estabelecidos de petróleo e minerais, graças ao stock substancial de riqueza de recursos naturais e às perspectivas da continuação da alta do preço das matérias-primas.
Os produtores de petróleo estabelecidos na região representam menos de dez por cento das reservas mundiais e da produção anual. A Nigéria, o maior produtor regional, pode continuar a fornecer a níveis equivalentes aos de 2011 por mais 41 anos, enquanto a Angola, o segundo maior produtor na região, lhe resta cerca de 21 anos aos níveis actuais de produção, até esgotarem as suas reservas conhecidas.
Dado o volume destas reservas, é provável que a dependência de recursos petrolíferos nestes países deva prosseguir a curto e médio prazo. A produção em países com novos recursos minerais, como o Gana, Moçambique, Serra Leoa e Uganda, tem também capacidade para durar por um número significativo de anos.
A quota-parte das reservas de países africanos nas reservas mundiais e na produção anual de alguns recursos minerais é significativa. Em 2010, a Guiné, por si só, foi responsável por mais de oito por cento da produção mundial total de bauxite, a Zâmbia e a República Democrática do Congo contam com uma parcela conjunta de 6,7 por cento da produção total mundial de cobre e o Gana e o Mali, em conjunto, constituem 5,8 por cento da produção total mundial de ouro.
O economista do BM para África Shantayanan Devarajan considera que os países africanos ricos em recursos têm de tomar uma decisão consciente de investir melhor na saúde, educação, na criação de empregos e na redução da pobreza, já que isso não acontece automaticamente quando os países enriquecem. “O Gabão com um rendimento médio per capita de 10 mil dólares tem uma das taxas mais baixas de imunização infantil”, exemplificou.