Joanesburgo- A crise social na África do Sul, especialmente
agitada por uma onda de greves nas minas, já começou a pôr em perigo a economia
do país, advertiu a governadora do Banco Central, que está particularmente
preocupada com a fuga de capitais.
Enquanto grandes somas foram investidas no país até nos últimos
meses, os investidores perderam a confiança com as greves, que muitas vezes
foram violentas.
Mais de 10 biliões de rands (900 milhões de euros) deixaram
recentemente o país, dos quais 5,6 biliões em apenas um dia, na segunda-feira,
observou a governadora Gill Marcus perante estudantes da universidade de Rhodes,
em Grahamstown (Sul), segundo a edição de quinta-feira do jornal local
Daily Dispatch.
"As perspectivas (da economia) deterioram-se rapidamente neste
momento", lamentou Marcus, quando se exprimia na quarta-feira.
O rand, a moeda local, atingiu segunda-feira o seu nível mais
baixo em mais de três anos face ao dólar.
"Se quizermos criar uma democracia estável, devemos adoptar
comportamentos que constroem a confiança nas nossas instituições políticas,
sociais e económicas e entre os grupos sociais", disse Marcus.
"Essa confiança (...) deve ser conquistada por meio de acções e
comportamentos adequados", acrescentou.
A África do Sul está afectada, há dois meses, por uma onda de
greves que começou de maneira sangrenta na mina de platina de Marikana perto de
Rustenburg (norte), antes de se espalhar por toda a área mineira, posteriormente
para as minas de ouro e em menor medida às minas de crómio e de carbono.
A agitação social nas minas multiplica-se de um conflito
tradicional, mas igualmente violento, que afecta os transportes rodoviários
sul-africanos há mais de duas semanas.
A "situação volátil" criada pelas greves violentas alimenta um
"círculo vicioso" de desvalorização da moeda, desaceleração do crescimento e,
provavelmente, de aumento do desemprego, notou ainda Gill Marcus, lembrando que
a África do Sul, onde o desemprego afecta oficialmente um quarto da população,
tinha perdido um milhão de empregos durante a recessão económica de 2009.
O Fundo Monetário Internacional prevê um crescimento de 2,6% na
África do Sul este ano e 3,0% no próximo ano, níveis considerados insuficientes
para criar os milhões de empregos que o país precisa.