Em plena pré-campanha eleitoral, a onda de contestação nas forças de segurança, que continua a ganhar força, já rendeu às polícias manifestações de apoio e promessas de todos os partidos. Depois de 12 dias em silêncio, foi o próprio Presidente da República a comprometer o próximo Governo, qualquer que ele seja, com a garantia de uma “compensação” à PSP e à GNR, que equipare o seu estatuto remuneratório ao da PJ.
"É escusado. Não posso ter outro partido senão da liberdade" Miguel Torga "Há uma disciplina que faz hoje maior falta: é a cultura geral" Diogo Freitas do Amaral " Se a politica é a arte do possível, então cabe os lideres políticos, a tarefa de tornar o possível a realidade" Kofi Annan " O importante não é nunca cairmos, é sermos sempre capazes de nos levantar por muitas vezes que nos derrubem" Nélson Mandela
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024
Protestos Contagiosos e Legislativas 2024
A vaga de protestos, que escalou ao ponto de incluir uma ameaça de boicote às eleições, nasceu da disparidade criada no valor do suplemento de risco atribuído às diferentes polícias, depois de o Conselho de Ministros ter aprovado, no final de novembro, um aumento do subsídio exclusivamente para os elementos da Judiciária e das secretas. Ontem, António Costa justificou a razão do tratamento desigual, explicando que as negociações que estavam em curso com a PSP e a GNR foram interrompidas com a queda do Governo. Mas o caso tem sido explorado diariamente pelo Chega, com declarações incendiárias de André Ventura.
A verdade é que há fortes indícios de infiltração da extrema-direita nas polícias e os protestos podem tornar-se mais radicais. Por enquanto está a espalhar-se uma estranha “doença súbita” entre muitos agentes, originando uma inédita onda de baixas que obrigou ao cancelamento de jogos de futebol, entre os quais o Famalicão-Sporting, e está a afetar o controlo de fronteiras.
A Unidade Especial de Polícia já anunciou que vai abrir um inquérito para apurar a legalidade das baixas médicas apresentadas em simultâneo, no passado domingo, por 44 agentes do Corpo de Intervenção e decidiu mesmo extinguir o grupo operacional a que pertenciam aqueles polícias, que vão agora ser transferidos para outras unidades.
O Sindicato dos Profissionais da Polícia considera que são represálias inaceitáveis, “motivadas por pressão política”, e não assume que está em causa uma jogada de protesto. Certo é que a escalada da contestação, alimentada por um movimento inorgânico que cresce nas redes sociais, escapa ao controlo dos próprios sindicatos. Já está a contagiar outros setores, como os bombeiros, e ninguém sabe até onde pode ir.
OUTRAS NOTÍCIAS
Polémica nos debates. A AD queria substituir Luís Montenegro por Nuno Melo nos frente a frente televisivos com Paulo Raimundo e Rui Tavares, mas a troca não foi aceite pelas televisões, nem pelo PCP e pelo Livre, que consideraram a proposta “inaceitável” e reveladora de “grande cobardia”.
Ontem houve apenas um debate, que opôs os líderes da IL e do Livre, dois partidos de costas voltadas em tudo. No “duelo dos dois Ruis”, o Tavares, de esquerda, ganhou a Rocha, o liberal, na avaliação feita pelos comentadores. Hoje será a vez dos debates entre Rui Rocha (IL) e Inês Sousa Real (PAN), na Sic Notícias, Pedro Nuno Santos (PS) e Rui Tavares (Livre), na RTP, e André Ventura (Chega) e Paulo Raimundo (PCP), na CNN.
Operação Pretoriano. O líder dos Super Dragões, Fernando Madureira, vai ficar em prisão preventiva, assim como Hugo “Polaco”, outro membro da claque, ambos suspeitos de agressões físicas a sócios na Assembleia Geral do clube, a 13 de novembro, e de atos de vandalismo na casa do candidato portista André Villas-Boas. A decisão foi tomada ontem pelo juiz de instrução do caso, que justificou a medida com o risco de continuação da atividade criminosa e de perturbação do inquérito, com destruição de provas essenciais para a descoberta da verdade. Outros seis arguidos ficaram proibidos de frequentar recintos desportivos e a sede dos Super Dragões, e estão obrigados a apresentações periódicas, nomeadamente à hora dos jogos do Porto.
Pena reduzida. O Tribunal da Relação de Coimbra reduziu de sete para cinco anos de prisão, com pena suspensa, a sentença do antigo presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, condenado por prevaricação e burla qualificada no âmbito do processo de reconstrução de casas após os incêndios de junho de 2017.
Taça de Portugal. O Sporting está nas meias-finais depois de vencer a União de Leiria por 3-0, com dois golos e uma assistência (para Pote) do avançado sueco Viktor Gyokeres, o “suspeito do costume”. Já o jogo entre o Santa Clara e o FC Porto durou apenas 27 minutos. A chuva intensa que caiu ontem em Ponta Delgada obrigou ao adiamento da partida, que só será retomada no final do mês.
Lá fora
Sem acordo. Israel considera “inaceitáveis” os termos do acordo de tréguas apresentado pelo Hamas, que incluía a libertação de todos os reféns raptados a 7 de outubro em troca de um número não especificado de prisioneiros palestinianos e da retirada total das tropas israelitas da Faixa de Gaza. A proposta do grupo islamita, assente num plano em três fases, com a duração de 135 dias, foi entregue na terça-feira à noite aos mediadores do Catar e do Egito e continua a ser analisada pelo Governo de Benjamin Netanyahu, que ainda pondera a possibilidade de negociar as condições apresentadas. O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken chegou ontem a Israel para discutir uma contraproposta. Esta quinta-feira é esperada uma nova ronda de negociações. Siga aqui todos os desenvolvimentos do conflito.
Sob ataque. A Rússia atacou ontem com mísseis a capital da Ucrânia, durante a visita a Kiev do chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, que teve de se refugiar no abrigo subterrâneo do hotel. O ataque estendeu-se depois a várias regiões do país, provocando pelo menos três mortos.
A luta dos “timorenses do Magrebe”. Após sete anos de negociações, Marrocos e a União Europeia chegaram a acordo, em dezembro, para um pacto das migrações. Para assumir cada vez mais o estatuto de ‘guardião’ das fronteiras da UE, o Governo de Rabat exige um preço que vai muito além das contrapartidas financeiras. Marrocos quer que os 27 Estados-membros reconheçam a sua soberania sobre o Sara Ocidental, que anexou há quase meio século e continua a ocupar ilegalmente. O representante da Frente Polisário em Portugal equipara o território a Timor-Leste e apela à realização de um referendo de autodeterminação.
FRASES
"Não pode haver nenhum processo reivindicativo, mesmo que muito justo, que possa levantar dúvidas sobre a realização de eleições",
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, sobre o potencial boicote dos polícias às legislativas
“Os terapeutas de saúde mental podem vir a ser substituídos por aplicações de realidade virtual no tratamento de alguns casos”,
Pedro Gamito, diretor do Laboratório de Psicologia Computacional da Universidade Lusófona, sobre o desenvolvimento, nos últimos anos, de aplicações usadas no tratamento de fobias e na estimulação cognitiva de pacientes com AVC, traumatismo cranioencefálico e perturbações causadas pelo uso de substâncias
O QUE ANDO A LER
“Tomás Nevinson”, de Javier Marias (Ed. Alfaguara)
Há alguns anos encantei-me com a leitura de “Berta Isla”, a história de uma mulher que pensava conhecer o marido quando, afinal, quase nada sabia sobre ele e que nem sequer tinha a certeza se o homem que lhe reapareceu em casa, depois de uma longa ausência, era mesmo aquele com quem se casara. Nessa obra, os encontros e desencontros que marcam a vida do casal são contados sempre na perspetiva da mulher e, tal como para ela, o enigmático Tomás Nevinson permanece, para os leitores, como uma figura nebulosa e impenetrável. Mas em 2021, um ano antes de morrer, Javier Marías publicou o outro lado da história. No seu derradeiro romance, o escritor espanhol desvenda-nos a vida e os segredos do marido, um ex-espião que cede à tentação de regressar aos serviços secretos britânicos para uma missão inquietante que desafia os seus próprios valores.