terça-feira, 11 de agosto de 2015

Acordos, Discórdias e Algumas Aldrabices

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Cirilo João Vieira (na FOTO)
 
Notícia-Últimas da madrugada: há acordo com a Grécia; há discórdia em Ferguson; há incêndios em Portugal. Já lá vamos. Antes, roubos.

Quando alguém diz “eles roubaram de mais” está a supor que há um nível aceitável de roubo. A ideia é de Fernando Gabeira, colunista do jornal brasileiro Globo, que escreveu
um magnífico texto a propósito do escândalo Lava Jato. “Gritaram «ladrão» e sacaram os celulares”, ironiza.

Foi através de telemóveis e computadores que muitos dos 1,8 milhões de pessoas de mais de 26 países se ligaram à LibertaGia, o “negócio” liderado pelo português Rui Salvador que é agora acusado de fraude. Segundo a investigação espanhola, e como
contamos, trata-se de um típico esquema piramidal, em que são prometidas elevadas taxas de retorno a quem entre (com dinheiro) no negócio, retorno esse que é pago com novas entradas na pirâmide, que acaba por rebentar. O que é impressionante neste caso é a dimensão e a facilidade com que tanta gente entrou num esquema que tinha para cheirar mal.

Cheirar bem cheirava o BES, pelo menos naquele tempo. Ao contrário do esquema piramidal anterior, no BES havia conhecimento, tradição, reputação, supervisão, regulação. O que não havia era dinheiro do GES para pagar o papel comercial que deixou
um lastro de lesados que neste verão engrossa as suas manifestações com os emigrantes que visitam Portugal e que perderam as suas poupanças.

“Não indemnizar os lesados do GES/BES convém ao governo e ao Banco de Portugal, mas é um erro dramático”, escreve o Nicolau Santos
no Expresso. “Há milhares ou mesmo milhões de emigrantes que vão hesitar cada vez mais em colocar as suas poupanças em bancos portugueses ou mesmo em enviá-las para o país”.

Fraude é fraude, burla é burla, investigação é investigação mas vale a pena pensar nas diferenças entre estes dois casos, o esquema piramidal e a dívida do GES. As diferenças eram à partida enormes. As consequências, talvez não: prejuízos.

Incluindo na venda do Novo Banco, que,
segundo o Diário de Notícias de hoje, está entre ser comprado pelo americanos da Apollo e os chineses da Anbang, uma vez que os também chineses da Fosun têm a proposta mais baixa.

Ah:
o texto de Fernando Gabeira que abre este Curto é sobre a mega manifestação marcada para 16 de agosto contra a corrupção no Brasil, que tem o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula e Dilma, no epicentro: “O PT aprendeu a derrubar, em 1989, precisa agora aprender a cair. A melhor saída é a renúncia de Dilma, a menos traumática. É inacreditável que, num momento agónico, ela ainda pense em governar por três anos”.

OUTRAS NOTÍCIAS
 
Sim, houve acordo para a Grécia durante a madrugada entre Atenas e os credores. O acordo fixa metas orçamentais para os próximos três anos, o que se enquadra nas negociações para o terceiro resgate e melhora as expectativas de desbloquear o pagamento da tranche de 3,2 mil milhões de euros ao BCE, que vence a 20 de agosto. Segundo o “El Pais”, citando o ministro das Finanças grego, falta acertar “dois ou três detalhes”. Foram 23 horas de negociações, explica o The Guardian. O terceiro resgate deverá ascender a 86 mil milhões de euros.

A Grécia é, também, um dos beneficiários do pacote de ajuda de 2,4 mil milhões de euros aprovado por Bruxelas para financiar o impacto da crise migratória, conta o “
El Pais”. Itália e Espanha são os dois países que mais dinheiro receberão.

Por falar em dinheiro: num movimento surpreendente, o banco central da China promoveu a desvalorização de quase 2% da moeda nacional, o yuan, face ao dólar. É a maior desvalorização em duas décadas e,
explica a CNN, visa atacar o arrefecimento da economia chinesa.

Os incêndios continuaram a lavrar durante a noite, em particular
em Mangualde, mas também em São Mamede de Infesta (num armazém). O tema faz manchete de vários jornais. Segundo o Público, os incêndios destruíram nove mil hectares nos últimos dez dias. Mais de um terço deles, explica o DN, começou de noite, o que aponta para suspeitas de fogo posto. Mais de 80% dos fogos são no Norte, escreve o Jornal de Notícias.

Ferguson, nos Estados Unidos, está de novo em alerta máximo, depois das manifestações em memória de Michael Brown terem levado
à detenção de 50 pessoas. A violência levou o presidente da câmara a decretar o estado de emergência, explica o New York Times. O The Guardian conta o sucedido, minuto a minuto.

O que também continua a marcar os jornais são os cartazes do PS, assunto de diversas colunas de opinião do dia. A melhor que li é de Fernando Sobral, no Negócios, no texto “
Don Drapper não vem”: “António Costa tem tempo, mas desgasta-se em batalhas inúteis com a inutilidade das ideias que circulam no seu círculo criativo. O mais grave em toda esta polémica servida num copo de água é que ela parece desvalorizar a ferida maior que não cicatriza neste país: o desemprego.”

O
Público e o Observador foram investigar as relações entre a Câmara de Lisboa, antes presidida por Costa, e Vítor Tito, o criativo dos cartazes polémicos. Foram mais de 800 mil euros em sete anos. Já o Correio da Manhã mostra que o PS contra-ataca e mostra que os cartazes do PSD são feitos com modelos estrangeiros. Como escreve Paulo Ferreira no Facebook, “O país vai de choque em choque. Há cinco anos descobrimos que não se pode viver eternamente a crédito. Agora sabemos que a malta que aparece nos cartazes políticos são figurantes de bancos de imagem ou agências de modelos. Só falta virem dizer que o Pai Natal não existe...”

O i continua a cavalgar a “vaga de fundo” pela
candidatura da Maria de Belém à Presidência da República, escrevendo hoje que o PS está fraturado entre apoiar a ex-presidente do partido e Sampaio da Nóvoa.

Os
três diários desportivos tiveram a mesma ideia e escreveram, todos, a mesma frase como manchete: “Aí está Jimenez”. O avançado mexicano Raúl Jiménez contratado pelo Benfica depois da derrota com o Sporting na Supertaça já chegou a Lisboa. Segundo o Correio da Manhã, Luís Filipe Vieira já falou com a equipa, a quem pediu vitória sobre o Estoril no fim de semana de arranque da Liga.

Cerca de 48 mil pessoas comem todos os dias nas cantinas sociais, escreve o
Jornal de Notícias.

A
dona da Google vai passar a chamar-se Alphabet.

E
a partir de hoje, nos Espaços Cidadão dos CTT, será possível tratar de burocracias relacionadas com o Estado em todo o país.

FRASES
Ao contrário da esmagadora maioria da opinião que se ouve e lê, os cartazes da polémica do PS são as melhores peças de comunicação de António Costa desde que assumiu a liderança do partido. Se não fossem atos falhados. (…) A precariedade dos recibos verdes, o flagelo do desemprego e a farsa travestida de escolha da emigração são uma tentativa (finalmente) clara do PS e limpa de ruído de dizer a verdade sobre o legado de governação”. Miguel Guedes, no JN.

Neste momento, o Benfica não é de Jesus, nem de Vitória: não é de ninguém”. Mariana Cabral, no
Expresso Diário.

Berlim tem de levar a Europa a uma União mais próxima”, Constanze Stelzenmüller, no
Financial Times.

"Perdi muito cedo a ingenuidade porque comecei a ler", J. Rentes de Carvalho, no
DN.

Não se trata de substituir o discutível pelo indiscutível. Pelo contrário. O discutível, sempre o discutível, é que nos há-de guiar”. Rui Tavares, no seu novo livro “Esquerda e Direita”, citado e (amplamente) elogiado hoje por João Miguel Tavares, no
Público.

O QUE EU ANDO A LER
 
A Quetzal acaba de lançar “O Livro dos Seres Imaginários”, de Jorge Luis Borges, uma lista quase enciclopédica de bestas criadas por escritores, filósofos, teólogos – pelos homens. Entre dragões, centauros, fadas, feiticeiras, valquírias ou anjos de Swedenborg (“Duas pessoas que se amaram na Terra formam um único Anjo”) está Bahamut, que foi dado a ver na 496ª d' As Mil e Uma Noites a quem, por tê-lo visto, levou três dias a recuperar o conhecimento: “De hipopótamo ou elefante fizeram-no peixe que se mantém sobre a água sem fundo e sobre o peixe imaginaram um touro e sobre o touro uma montanha feita de rubis e sobre a montanha um anjo e sobre o anjo seis infernos e sobre os infernos a terra e sobre a terra sete céus.”

O
Nicolau Santos já a citou num Curto da semana passada e eu citei-a num prefácio de um livro do Nicolau Santos e do António Costa e Silva, “Fotografias Lentas do Diabo na Cama”. Falo de Ana Hatherly, que na semana passada nos deixou, mas deixando-nos muito. Deixou-nos por exemplo o livro “O Pavão Negro”, onde nos diz: “Amando muito muito ficamos sem palavras”.



Tenha um excelente dia.