Celac-Reunião em Havana enfatiza status conquistado pela comunidade em apenas três anos de existência. Apoio a Cuba foi sinal inequívoco para os EUA, mas Raúl Castro precisa arrumar a própria casa, opina Marc Koch.
Isso, embora ninguém possa afirmar que Castro tenha realizado qualquer feito notável durante seu um ano na presidência da Celac. Ele se concentrou mais em assuntos internos, trabalhando pela cautelosa abertura econômica do país. Agora, os cubanos podem alugar apartamentos, comprar imóveis e carros, e até mesmo trabalhar como autônomos.
Essas eram medidas para as quais não havia alternativa, em se tratando de pelo menos manter a desolada economia nacional em movimento – especialmente quando a expectativa é que os milhões de petrodólares da Venezuela, nação socialista irmã, vão deixar de fluir com tanta generosidade.
Do ponto de vista político, por outro lado, a mensagem é: nada de novo na ilha. O regime segue reprimindo qualquer esboço de oposição, qualquer sopro de democracia, toda expressão livre de opinião. Para poder celebrar sua cúpula sem ser perturbado, Castro mandou prender dezenas de dissidentes, sem mais delongas. Nem mesmo as Damas de Blanco – movimento das esposas e familiares de presos políticos – foram poupadas das medidas de repressão.
É escandaloso que ninguém, entre os políticos de ponta latino-americanos presentes, tenha sequer tentado chegar perto de uma organização oposicionista: nem os chefes de Estado mais conservadores, como o chileno e o mexicano, nem as presidentes esquerdistas do Brasil e da Argentina, procuraram esse diálogo – e muito menos interpelaram Castro quanto às violações dos direitos humanos de sua ditadura.
O facto é especialmente embaraçoso para a presidente argentina, Cristina Kirchner, que não se cansa de enfatizar como os direitos humanos são o fundamento da política externa de seu país. A ironia dessas afirmativas deve ter sido especialmente dolorosa para os oposicionistas cubanos. Pelo menos Costa Rica – próximo país a assumir a presidência rotativa da Celac – teve a piedade de conversar com alguns dissidentes, em nível diplomático baixo e na sala dos fundos de uma embaixada.
Entretanto, a forma de tratar com o regime cubano mostra quão importante a comunidade se tornou para a região, apenas três anos após sua fundação: aquilo que começou como uma das usuais ideias antiamericanas do irado Hugo Chávez é hoje talvez a maior força coesiva da América Latina.
O continente – cujas maiores potências se reuniram em duas coalizões econômicas opostas: o protecionista Mercosul e a Aliança do Pacífico, voltada para a economia de mercado – encontrou na Celac um fórum para a aproximação recíproca, para resolver problemas em conjunto e demonstrar sua autoconfiança perante a Europa e a América do Norte. Não é comum o presidente do México, Enrique Peña Nieto, e a da Argentina partilharem uma opinião, mas ambos descrevem a Celac como um sonho tornado realidade.
Dessa postura faz parte, para os Estados latino-americanos, sinalizar que a política dos Estados Unidos fracassou fragorosamente, e que a comunidade não está disposta a continuar aceitando esse tratamento a um de seus parceiros. Para eles, o embargo que já dura mais de 50 anos é um anacronismo humilhante para toda uma região. Também por isso, todos foram a Cuba, como manifestação de apoio a Castro.
O sinal foi recebido. Ao declarar, agora, a comunidade como "zona de paz", onde conflitos se resolvem com diálogo e negociações, Raúl Castro, enquanto presidente da Celac em fim de mandato, deve cuidar para que actos acompanhem suas belas palavras. De preferência, a começar por sua própria casa.