"Cardeais terão agora a opção e o tempo de fazer o que não fizeram em 2005,
que é debater o futuro da Igreja", disse Raymond Perrier, diretor do Instituto
Jesuíta da África do Sul.
Cardeais conversam após renúncia do papa
Vaticano e a Igreja Católica-Imediatamente após o anúncio da renúncia de Bento XVI, começaram a circular
nomes de cardeais que poderão ocupar o cargo máximo da Igreja - com destaque
para a hipótese de o próximo pontífice poder vir de um país em desenvolvimento,
como o Brasil, ou da África. Seja quem for, o sucessor de Joseph Ratzinger terá
pela frente questões que já são um desafio para o episcopado, como os escândalos
de abusos sexuais envolvendo religiosos, a homossexualidade, o aborto e o papel
da mulher na Igreja.
renúncia de Bento XVI abre finalmente um debate sobre o futuro da Igreja, algo
que muitos acreditam que não ocorreu diante da decisão apressada para escolher
um substituto para João Paulo II, morto em 2005. Quase oito anos depois, há quem
acredite que a instituição aproveitará os dias do actual pontificado, que se
encerrará em 28 de Fevereiro, para fazer com que a escolha do sucessor de
Ratzinger tenha relação mais directa com os caminhos que a Igreja decidir adoptar
para seu futuro. "Desta vez, a real transição para o século 21 talvez finalmente
ocorra na Santa Sé", declarou ao Estado um importante religioso latino-americano
que pediu anonimato.
Um dos nomes citados é do africano Peter Turkson, de Gana. Um de seus cabos
eleitorais já fez questão de defender ontem mesmo seu nome. "Por que não um
africano? Já tivemos um alemão e um polonês. Então, o próximo pode ser, sim,
africano", declarou o arcebispo Gabriel Charles Palmer-Buckle.
Bento XVI nomeou o ganense para um dos cargos mais importantes do Vaticano, e
ele passou a ser enviado a diversos países como mediador de conflitos. Em 2010,
chegou a acompanhar o papa em viagens, o que aumentou as especulações sobre seu
nome. Mas ele não é o único cotado. O cardeal sul-africano Wilfrid Napier, de
Durban, é outro candidato, ainda que oficialmente ninguém se apresente.
Nas casas de apostas de Londres, a corrida já começou. Em pelo menos duas
delas, Turkson é o favorito, seguido pelo arcebispo de Milão, Angelo Scola.
Outro nome é o de Oscar Rodríguez Maradiaga, de Honduras. Amante de jazz, amigo
de Bono Vox e frequentemente acompanhado de seguranças em seu país de origem, o
cardeal centro-americano tem a simpatia das alas do Vaticano que defendem uma
agenda social mais explícita. "Um papa do sul sem dúvida ajudaria a resolver
muitas das ameaças que o planeta enfrenta", disse há dois meses.
O canadense Marc Oullet e o nigeriano Francis Arinze também aparecem com
chances.
Na casa Ladbrokes, d. Claudio Hummes está na décima posição. Mas, no
Vaticano, são outros os brasileiros que aparecem com mais força, pois D. Claudio
já tem 78 anos. Um dos nomes mais citados é o de D. João Braz de Aviz, de 65
anos. D. Odilo Scherer também é considerado "papável" e ontem fugiu da imprensa
em Roma.
As especulações sobre a possibilidade de o novo papa vir da América Latina
não são à toa. A região tem hoje metade dos católicos do mundo e os cardeais são
vistos como alguns dos maiores defensores da Igreja. "Conheço muitos bispos e
cardeais latino-americanos que poderiam assumir essa responsabilidade", disse
Gerhard Muller, chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.
Mesmo rumo, Para Hans Kung, teólogo suíço e considerado um dos principais
adversários de Bento XVI, dificilmente a Igreja vai sofrer uma revolução. "Ele
ordenou muitos cardeais conservadores", apontou Kung. Segundo ele, isso
determinaria a próxima votação. Ele disse esperar que Bento XVI não influencie
na escolha.
Outros ainda apontam que a forma como Bento XVI anunciou sua saída estaria
relacionada a um cálculo claro de dar tempo aos cardeais e à cúpula da Igreja de
debater de facto seu destino.