terça-feira, 23 de outubro de 2012

Liga Guineense dos Direitos Humanos Descreve "Perseguição Total" no País


Guiné-Bissau-O clima na Guiné-Bissau é de "perseguição total" e "medo generalizado", descreve o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, defendendo uma "peritagem isenta" aos incidentes da madrugada de domingo, em Bissau, que resultaram em seis mortos.

"Temos seguido com atenção as perseguições que estão sendo levadas a cabo internamente, no país", disse Luís Vaz Martins, à agência Lusa, em Lisboa, onde se encontra.

"Temos estado a receber, a cada minuto, chamadas de pessoas apavoradas, que estão a buscar refúgio para se resguardarem e não serem atacadas por indivíduos armados", indicou, questionado sobre uma eventual "caça ao homem" em curso. "Há uma perseguição total, vive-se num clima de medo generalizado", confirmou.

"Segundo as nossas fontes no terreno, indivíduos ligados à Frenagolpe [frente nacional antigolpe de Estado desencadeado a 12 de Abril] e ao PAIGC [Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, no poder até ao golpe de 12 de Abril] estão sendo perseguidos", adiantou o presidente da Liga.

Já "terão sido efetuadas algumas detenções", o que "não abona ao bom nome da Guiné-Bissau, nem ajuda este processo de transição em curso", considera Luís Vaz Martins, recordando que cabe aos tribunais deterem e julgarem pessoas.

Na madrugada de domingo, um grupo de homens armados tentou tomar pela força o quartel dos paracomandos, uma unidade de elite das forças armadas da Guiné-Bissau, do que resultaram seis mortos, todos do grupo assaltante.

Sem se pronunciar sobre se os seis mortos terão resultado de confrontos ou de execuções premeditadas, o presidente da Liga realçou que "era bom que houvesse uma investigação independente para se apurar aquilo que aconteceu".

Apelando "à ponderação, ao diálogo", a Liga "condena qualquer tipo de ato violento e que atente contra a integridade física dos cidadãos", frisou, destacando que "não será por esta via que a Guiné-Bissau irá encontrar o melhor caminho para a resolução do problema".

Defendendo uma "concertação" de posições entre diferentes entidades internas e diferentes instituições internacionais, a Liga Guineense dos Direitos Humanos voltou a reivindicar que as Nações Unidas tomem "a liderança" do processo de transição em curso, integrando "outras forças", como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a União Africana.

"A monopolização deste processo pela CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] vai levar-nos a uma crise mais profunda", sustenta.

Na opinião de Luís Vaz Martins, a CEDEAO, única entidade internacional que reconheceu o golpe de Estado de 12 de Abril, que depôs o Presidente interino e o Governo guineenses eleitos, tem "absolutamente" sido mais um problema do que uma solução.

"A outra parte [que se opõe às autoridades de transição impostas pelos golpistas] nem sequer reconhece a CEDEAO como uma parte isenta para buscar uma solução duradoura para a nossa crise", recorda.

Segundo a informação prestada pelo Governo de transição, os incidentes da madrugada de domingo são da responsabilidade de um grupo comandado pelo capitão Pansau N´Tchama. Os golpistas acusam Portugal, a CPLP e o primeiro-ministro guineense deposto, Carlos Gomes Júnior, de envolvimento no ataque.

"Em tempo de crise, o mais importante é ter a serenidade para, conjuntamente, encontrar uma solução de saída", frisou o presidente da Liga, rejeitando que "qualquer uma das partes tente culpabilizar ou responsabilizar a contraparte".