quinta-feira, 6 de setembro de 2012

China Recebe Hillary Clinton com Desconfiança


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Pequim-A Secretária de Estado do governo americano, Hillary Clinton, terá de enfrentar a desconfiança cada vez maior do governo e do público chineses sobre a estratégia de envolvimento dos Estados Unidos na Ásia e Oceania quando se reunir com líderes chineses aqui.


Clinton foi recebida pelo ministro das Relações Exteriores, Yang Jiechi, quando chegou a Pequim vinda da Indonésia ontem à noite, na última parte de uma visita à região. A viagem mais uma vez destacou o desejo do governo americano de voltar a concentrar sua política externa na Ásia, uma região crítica para o crescimento econômico mundial, mas repleta de disputas territoriais, corridas armamentistas e nacionalismo exacerbado.

"Estamos compromissados a construir uma parceria cooperativa com a China; é um aspecto fundamental de nosso reequilíbrio na Ásia e Oceania", disse Clinton a Yang, segundo um comunicado do Departamento de Estado dos EUA.

Clinton também deve se reunir com o presidente chinês Hu Jintao e o vice-presidente Xi Jinping durante a visita. Espera-se que Xi vá suceder a Hu como líder do Partido Comunista durante uma transição que só acontece uma vez a cada dez anos e começa ainda este ano.

Entre suas tarefas mais difíceis, Clinton provavelmente vai pressionar os líderes chineses quanto às disputas territoriais do país com seus vizinhos por partes dos Mares da China Meridional e Oriental. O governo americano já afirmou várias vezes que não toma partido em disputas territoriais, mas mantém um interesse na proteção da liberdade de navegação na região.

Não é esperado que a visita leve a grandes avanços diplomáticos. Ao contrário, ela é vista por diplomatas e analistas como algo para abrir o caminho para um encontro regional em novembro, quando os EUA e alguns países da região devem pressionar para discutir disputas territoriais num ambiente multilateral. Pequim tem resistido a esforços similares, e prefere lidar com as disputas numa base bilateral.

Uma enxurrada de comentários na mídia estatal nos últimos dias revela desconfiança da estratégia de Clinton. Muitos na China temem que os EUA estejam tentando conter a rápida ascensão econômica e política do país asiático.

A viagem pode ser a última de Clinton a Pequim como secretária de Estado. Prevê-se que ela vai se demitir do posto depois das eleições presidenciais de novembro.

"Esperamos que, antes de sair do cargo, Clinton possa refletir sobre o profundo estrago que vem fazendo nas relações sino-americanas nos últimos meses e tente remediar isso", disse um editorial no "Tempos Globais", um tabloide muito lido afiliado ao veículo do Partido Comunista "Diário do Povo". O título do editorial foi: "Hillary, uma figura que exacerba profundamente a desconfiança mútua EUA—China".

O Ministério das Relações Exteriores da China questionou as intenções dos EUA na região num comunicado ríspido no mês passado. Um porta-voz do ministério fez uma observação cautelosa numa entrevista coletiva na terça-feira, em preparação à visita de Clinton.

"Esperamos que o lado americano possa cumprir promessas relevantes e fazer mais para promover a paz e a estabilidade regionais e não o contrário", disse Hong Lei, o porta-voz do ministério.

Durante sua visita, dizem analistas, Clinton vai procurar equilibrar a pressão por colaboração da China em questões regionais quentes com a necessidade de uma colaboração chinesa mais ampla em problemas diplomáticos mais abrangentes relacionados à Síria e ao Irã.

Mas analistas chineses dizem que o público e os líderes do país receiam que os EUA estejam sendo insinceros ao afirmar que seu novo foco na Ásia não é destinado a conter a influência da China, mesmo quando sua estratégia parece cada vez mais distanciar a China de alguns de seus vizinhos, como o Vietnã e as Filipinas.

"Às vezes, não é uma questão de ser duro ou mole", disse Wu Xinbo, que estuda os laços EUA—China na Universidade Fudan, em Xangai. "É uma questão de confiança e credibilidade."