quarta-feira, 8 de agosto de 2012

«População Está Cansada de Ser Enganada

 
O golpe de Estado surgiu no pior momento para a Guiné-Bissau, quando o país «respirava» já uma certa estabilidade política. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, o bispo de Bafatá, Pedro Zilli, considera que o trabalho de recuperação vai ser muito difícil.

Guiné-Bissau-As expectativas do bispo de Bafatá em relação ao futuro da Guiné-Bissau são pouco animadoras. Pedro Zilli considera que o processo de democratização do país sofreu um revés com o assalto dos militares ao poder e teme que a população mergulhe numa fase de desconfiança crónica em relação aos órgãos de soberania. Os mais prejudicados continuam a ser «os pobres, as crianças e as mães desnutridas».

«A nossa esperança é que eles [quem assumiu o governo e a presidência do país] façam aquilo que se propuseram fazer, que é preparar as próximas eleições. Mas não vai ser fácil. A população já está cansada de ser enganada. Além de ser preciso encontrar dinheiro para as eleições, é necessário descobrir pessoas que se candidatem e é urgente reconquistar a população, para que vá votar», disse o bispo à FÁTIMA MISSIONÁRIA, durante uma curta passagem por Portugal.

Depois da destituição do governo guineense, a Igreja Católica juntou a voz aos muçulmanos, evangélicos e representantes da religião tradicional, num comunicado conjunto, onde se apelou «ao bom senso, ao diálogo e à paz». No entanto, há males que dificilmente serão reparados, em consequência da instabilidade política. O setor da educação, por exemplo, foi dos mais afetados. «Este ano letivo ficou muito prejudicado. Foi um ano muito sofrido, porque houve greves, eleições, e depois o golpe de Estado», sublinha Pedro Zilli.


Sem informações concretas sobre as verdadeiras razões do derrube do governo da Guiné-Bissau, o prelado, admite, no entanto, que na origem do golpe possam estar «interesses ocultos». E, dentro desse tipo de interesses, as questões do narcotráfico são sempre uma hipótese em aberto. «É uma pena porque o país já era pobre, já vivia com muitas dificuldades, e isso veio criar ainda mais dificuldades», lamenta.

Admirador confesso da fé do povo guineense e da liberdade religiosa que se cultiva no país, Pedro Zilli deseja agora que os políticos assumam as suas responsabilidades e levem a nação para a frente em modo democrático e que os militares fiquem onde dizem que querem estar: no lugar dos militares. «Como numa boa equipa de futebol, gostava que cada um estivesse na posição em que deve estar, para podermos ganhar o jogo», conclui o prelado.

Pedro Zilli nasceu em São Paulo, no Brasil, há 57 anos. Foi enviado como missionário para a Guiné-Bissau pelo Pontifício Instituto das Missões, em 1985. Em 2001, foi nomeado bispo da diocese de Bafatá, criada no mesmo ano. Desde que chegou à Guiné tem partilhado a sua vida e missão naquele país pobre e instável, onde a Igreja Católica investe nas áreas da Pastoral, Educação, Saúde, Comunicação e Diálogo Inter-Religioso.