sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Acordo preliminar: "um grande acordo"?

 


"A minha pergunta [a Donald Trump] será bastante direta: os Estados Unidos vão parar o apoio ou não? Podemos comprar armas e obter mais ajuda?" Depois de vários dias de negociações tensas entre os EUA e a Ucrânia, pode estar para breve a oficialização do acordo de minerais que o Presidente dos EUA dá por certo, mas tudo parece depender da resposta a esta questão que Volodymyr Zelensky tem para lhe dirigir.


Zelensky alegou que os EUA o estavam a pressionar para assinar um acordo de exploração de minerais e terras raras no valor de mais de 500 mil milhões de dólares (€476 mil milhões), que obrigaria “10 gerações” de ucranianos a pagá-lo, mas confirmou posteriormente que há um acordo económico pronto, pendente das garantias de segurança que Kiev considera vitais e que estão ainda por decidir.

Do lado americano, é óbvio o interesse que despertam as terras raras ucranianas - um grupo de 17 elementos minerais utilizados para produzir armas, turbinas eólicas, eletrónica e outros produtos industriais modernos. Mas não são conhecidos detalhes do que abrange o entendimento a que chegaram os dois líderes. Segundo o jornal “The Financial Times”, o primeiro a noticiar o acordo, o mesmo deverá também cobrir a extração de petróleo e gás, mas insiste a Reuters que nada de específico existe quanto a garantias de segurança dos EUA ou envio contínuo de armasApenas a declaração de que os Estados Unidos querem que a Ucrânia seja “livre, soberana e segura”, dando-lhe “o direito de continuar a lutar”.

Zelensky explicou que as receitas do acordo de recursos serão depositadas num fundo conjunto EUA-Ucrânia e que a Ucrânia não será "devedora" da ajuda prestada durante a presidência de Biden (2021-2025), o que significa acesso a um apoio financeiro substancial para os esforços de reconstrução do país, mas foi claro quanto à necessidade de ser preciso mais. "Quero encontrar um caminho para a NATO ou algo similar", disse: "Se não tivermos garantias de segurança não vai haver um cessar-fogo e nada vai funcionar, nada", E não há nenhuma confirmação oficial de que vá estar em Washington nesta sexta-feira para assinar "um grande acordo", como afirmou Donald Trump.

Kiev precisa de manter a Ucrânia na agenda dos EUA, envolvendo Trump e estreitando relações entre os dois países, como apontam os especialistas, mas não se sabe até que ponto uma ausência de garantias de defesa pode fazer cair o acordo. Chegará o documento preliminar - tal como Zelensky o descreve - a ser assinado como o "grande acordo" que Trump já apregoa?

OUTRAS NOTÍCIAS

Falhas - O relatório preliminar da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde aponta o dedo à secretaria-geral do Ministério da Saúde, tutelado por Ana Paula Martins, que devia ter avisado o INEM da greve dos técnicos de emergência (a 31 de outubro e 4 de novembro do ano passado). Não o tendo feito, foi impossível acautelar os efeitos da greve, é explicado no documento, garantindo por exemplo o cumprimento de serviços mínimos, de forma a manter a resposta do socorro à população. O líder do PS já reagiu, dizendo que o relatvem reforçar a suspeita de responsabilidades políticas do ministério da Saúde na falha de informação ao INEM”, escreveu Pedro Nuno Santos na rede social X.

Tráfico de menores Começou em 2019 a operação policial que recentemente encontrou na Geórgia uma jovem que tinha desaparecido de Portugal há cinco anos, grávida. A investigação levou à descoberta de uma rede de tráfico de menores, trazidos sobretudo da Roménia (algumas crianças foram vendidas por 100 euros), e que depois eram distribuídos por cidades europeias, incluíndo Portugal. Ficavam nas ruas, obrigadas à mendicidade, com vários casos de raparigas adolescentes a terem sofrido abusos sexuais por parte dos angariadores. A rede funciona por toda a Europa. mas só há dois inquéritos abertos, um em Portugal e outro na Roménia. Nove pessoas foram constituídas arguidas, no entanto, estão todas fora de território nacional e em liberdade.

Lei dos Solos - O parlamento aprovou esta quarta-feira, na especialidade, alterações ao diploma em vigor que permite reclassificar solos rústicos em urbanos, para construção de habitação, com a maioria das modificações resultante de um entendimento entre PSD e PS. Chega e IL insistem que esta Lei dos Solos “não é boa” e será “inútil”. Já em defesa das alterações, a deputada socialista Marina Gonçalves sublinhou que, apesar de a lei não resolver a crise na Habitação, pelo menos destina-se à “classe média”, enquanto a coordenadora do Bloco, Mariana Mortágua, sustentou que as mudanças que resultam do pedido de apreciação parlamentar feito pelo partido possibilitaram torná-a "mais equilibrada". André Ventura justificou o voto contra do Chega: "Não ficou uma lei boa, ficou uma lei permeável à corrupção, aos conflitos de interesses e à promiscuidade entre negócios e a política"..

Violênica, perceções e atitudes sociais - Em Portugal, 20% das mulheres consideram aceitável que um homem controle o dinheiro da sua parceira e 35% dos homens pensam o mesmo. Cerca de 23% das mulheres e 28% dos homens “tendem a concordar ou concordam totalmente” que uma mulher que expressa opiniões nas redes sociais deve esperar respostas sexistas, ofensivas ou abusivas, e quase 20% das mulheres e cerca de 30% dos homens acreditam que as mulheres frequentemente exageram ou inventam acusações de abuso ou violação.Vale a pena conhecer os dados apresentados no relatório do European Institute for Gender Equality, que analisa a prevalência da violência física e/ou sexual na União Europeia e as perceções e atitudes sociais em relação ao fenómeno.

Terrorismo - Nigéria e Somália tornaram-se dois pontos críticos no mapa do terrorismo, por conta do novo grupo armado Lakurawa, que se aproveitou do espaço aberto pelo golpe no Níger e consequente interrupção das patrulhas conjuntas com a Nigéria para se expandir e semear o caos na fronteira entre os dois países; enquanto o autoproclamado Estado Islâmico se reagrupa na Somália com ambições de expansão global. O alerta é dado por vários peritos, defendendo que estas duas realidades exigem respostas coordenadas para conter a ameaça.

Médio Oriente - Com o Hamas enfraquecido e o Hezbollah fragilizado, a popularidade dos hutis do Iémen aumentou após o 7 de Outubro, no país e no mundo árabe, muito pela defesa acérrima que têm feito dos palestinianos. Nas fileiras do “eixo da resistência” — a aliança informal de grupos e Estados no Médio Oriente, liderada pelo Irão, que combatem a influência dos Estados Unidos e de Israel na região —, o seu papel saiu reforçado.

FRASES

“A comunicação social tem um papel a desempenhar. Quem escolhe um certo tipo de responsabilidades sabe que, juntamente com coisas que são agradáveis, há coisas desagradáveis, coisas que considera justas e coisas que considera injustas. Isso é o pluralismo próprio da vida democrática”.
Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República defendeu esta quarta-feira que o escrutínio da comunicação social é um preço a pagar por quem exerce cargos políticos.

“Ainda está a ponderar”, "não sei se é muito provável, mas possível é”.
Assunção Cristas, antiga líder do CDS, comentando na SIC Notícias a hipótese de Paulo Portas avançar como candidato à Presidência da República.

Podem esquecer a NATO (…) acho que essa é provavelmente a razão porque tudo começou”.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a pretensão da Ucrânia, a que atribuiu o atual conflito entre o país e a Rússia.


O QUE ANDO A LER

“O Silêncio da Guerra”, de Antonio Monegal. Qual o lugar da guerra na nossa cultura e memória coletiva? Numa altura em que tanto falamos e ouvimos falar de conflitos, este é um ensaio que nos faz pensar sobre a forma como a guerra é representada. “Cada um de nós tem uma visão da guerra que vem de algum sítio”, escreve o filósofo espanhol, que neste livro confere à questão do silêncio um papel central: “A noção convencional é que as guerras são ambientes ruidosos, o que obviamente são. Contudo, nesse contexto de explosões, disparos, motores a rugir e gritos, há um silêncio persistente e estrondoso. Em parte, pertence aos mortos, é o silêncio que se encontra no subsolo e sublinha a elegia”.


PARA OUVIR COM ATENÇÃO

Tempo ao Tempo - É apresentado “uma informação da histórias da História, de passado, presente e futuro, e da mudança da memória no tempo”, e todas as quintas-feiras há um novo episódio para ouvir, escrito e narrado por Rui Tavares. No de hoje, é evocado o filósofo Ibn Tufayl, que viveu no século XII entre a Península Ibérica e o Norte de África, e escreveu o livro ‘Vivo, O filho do Acordado’, sobre a vida de um sábio selvagem, que cresce numa ilha tropical misteriosa sem a presença de outros humanos. Poderá uma criança que cresce na natureza, em comunhão com os animais, ser um sábio? A pergunta dá título ao episódio, que é uma reflexão ”sobre a essência da humanidade, sobre o que nos torna humanos, o que, na natureza, nos distingue pela ascenção da consciência e do pensamento filosófico".

Money Money Money - O nome não engana e esta é uma informação sobre economia, sim senhor. Que esta quinta-feira fala sobre Sines e o que torna a região tão apetecível para atrair tantos investimentos. Um deles, anunciado esta semana, é a nova fábrica de baterias da CALB, um projeto que envolve um investimento superior a 2 mil milhões de euros, ou seja, um dos maiores investimentos industriais em Portugal desde a Autoeuropa. João Silvestre, editor executivo do Expresso, modera desta vez a conversa, onde participam Miguel Prado, editor de Economia do Expresso, e Miguel Matias, gestor e CEO da Keme Energy.