sexta-feira, 22 de junho de 2012

Parlamento Britânico Recebe Suu Kyi com Honras de Chefe de Estado

Aung San Suu Kyi se encontrou com o chefe diplomacia britânica William Hague.
Londres, 21 Junho .- A líder opositora birmanesa Aung San Suu Kyi protagonizou nesta quinta-feira no Parlamento britânico um momento histórico, ao discursar para as duas câmaras de Westminster, uma honra reservada somente a cerca de 40 chefes de Estado no século XX.

Na sessão do Parlamento, a líder que passou 15 anos mantida em prisão domiciliar pela Junta Militar do seu país, adquiriu o mais alto perfil político e aproveitou o momento para reivindicar "ajuda prática" para o fortalecimento da democracia em Mianmar.

As duas Câmaras do Parlamento britânico receberam Suu Kyi de pé em uma tribuna pela qual passaram líderes como o sul-africano Nelson Mandela, o francês Charles de Gaulle e o americano Barack Obama. Até agora, a única mulher a discursar no local foi a Rainha da Inglaterra.

Antes da sessão, a vencedora do prêmio Nobel da Paz tinha se reunido com o Primeiro-Ministro do Reino Unido, David Cameron, o príncipe Charles, e o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague. Nos encontros, a ativista pediu apoio ao Mianmar.

Em entrevista coletiva conjunta, Cameron disse que o Reino Unido investirá no país, mas manterá uma supervisão "rigorosa" sobre o Governo até que as reformas "sejam irreversíveis".
A visita de Suu Kyi ao Reino Unido, que tinha sido anunciada durante esta semana, representa um retorno sentimental ao país, pois a opositora não ia lá desde 1988.

No país, a líder opositora se reencontrou com seus filhos e netos, que vivem em Oxford. Suu Kyi deixou no Reino Unido seus filhos e marido, o britânico Michael Aris, que faleceu de câncer em 1999 sem poder se reencontrar com ela.

No entanto, a ativista destacou que o objetivo primordial da visita é "cumprir as esperanças dos birmaneses". Para isso, Suu Kyi lembrou em seu discurso em Westminster o "espírito prático" de seu pai, o herói da independência birmanesa Aung San, que visitou Downing Street em 1947 para negociar o fim da colônia.

Apresentada pelo presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, como uma "heroína para a humanidade", a ativista política ressaltou a necessidade de receber investimentos para melhorar o sistema educacional em Mianmar e reduzir o desemprego crônico do país.

"Temos uma oportunidade única de restabelecer a verdadeira democracia em Mianmar. Esperamos muitas décadas e, se não fizermos as coisas certas desta vez, corremos o risco de ter de esperar muitas outras", afirmou Suu Kyi.

Na opinião da opositora, o país deve fortalecer suas instituições democráticas sem cair em "personalismos". Para alcançar o objetivo, a ativista considerou imprescindível a colaboração do Reino Unido e de outros Estados ocidentais.

A política birmanesa, que reivindicou em diversas ocasiões o fim das sanções internacionais ao seu país, deu uma entrevista coletiva junto com Cameron. Na ocasião, o britânico se comprometeu em respaldar as reformas iniciadas em Mianmar, que considerou um caminho "longo e difícil".

Suu Kyi foi mantida em prisão domiciliar pela Junta Militar do Mianmar durante mais de 15 anos nas últimas duas décadas. No entanto, em 1º de Abril, a líder alcançou uma cadeira no Parlamento do país e cruzou pela primeira vez em 24 anos a fronteira de Mianmar em 29 de Maio.

A ativista recuperou a liberdade em Novembro de 2010, seis dias depois que o principal partido governista obtivesse a maioria absoluta em eleições legislativas encaminhadas para instaurar um sistema batizado de "democracia disciplinada".
A Junta militar foi dissolvida em 30 de Março de 2011 e subiu ao poder um Governo presidido pelo ex-general Thein Sein, Primeiro-Ministro do regime anterior, que iniciou uma série de reformas com base democráticas que despertaram esperanças entre a comunidade internacional.