terça-feira, 27 de outubro de 2015

Governo de Passos Coelho Ganha Forma

Governo de Passos Coelho-A notícia do momento é a composição do XX Governo Constitucional que Passos Coelho apresentou hoje ao Presidente da República. Cavaco Silva deu o seu acordo à proposta do primeiro-ministro indigitado e publicou a lista no site oficial da Presidência. Trata-se de um governo de continuidade em relação ao anterior já que uma grande dos ministros transita da anterior equipa governativa.
 
São os casos do vice-primeiro ministro, Paulo Portas, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, o ministro da Presidência, que passa a acumular o Desenvolvimento Regional (até agora a cargo de Miguel Poiares Maduro), Luís Marques Guedes, o ministro do Ambiente, ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva, a ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares.
 
Transitam do anterior Governo para as pastas das Economia, Saúde e Cultura, os até agora secretários de Estado dos Assuntos Europeus, adjunto do ministro da Saúde e dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, respectivamente Miguel Morais Leitão, Fernando Leal da Costa e Teresa Morais.
 
Entre as novidades do novo governo está João Calvão da Silva, professor catedrático de Direito na Universidade de Coimbra e que foi secretário de Estado adjunto do vice-primeiro ministro do Governo de Bloco Central, Carlos Mota Pinto. Outra novidade é o nome de Fernando Negrão, que já foi director-geral da Polícia Judiciária e ministro da Segurança Social do Governo de Pedro Santana Lopes. O Ministério da Educação é entregue a Margarida Mano, uma independente, professora da Faculdade de Economia na Universidade de Coimbra, onde já foi pró-reitora. A Modernização Administrativa ficará a cargo de Rui Medeiros, professor da Faculdade de Direito de Lisboa e da Universidade Católica, já foi adjunto do ministro da República para os Açores e colaborador do ministro da República para a Madeira. O novo ministro dos Assuntos Parlamentares é um político de carreira, Carlos Costa Neves que já foi ministro da Agricultura, Pescas e Florestas no Governo de Pedro Santana Lopes.
 
A nova equipa governativa de Pedro Passos Coelho é conhecida no dia em que a bolsa de Lisboa está cair, penalizada pelas descidas do BCP, Banif e Pharol. A praça da capital não é caso único já que os mercados europeus também estão a cair, marcados pelos resultados aquém do esperado de grandes empresas como a Novartis ou a BP. Nos EUA a abertura dos mercados é aguardada com os investidores de olhos postos na divulgação dos resultados da Apple e nas conclusões da reunião, amanhã, da Reserva Federal norte-americana que, segundo tudo indica, não deverá mexer nas taxas de juro.
 
O aumento da pobreza no nosso país tem estado em destaque com a divulgação do índice de Justiça Social elaborado pela Fundação Bertelsman que coloca Portugal na 20ª posição entre os 28 países da União Europeia, liderados pela Suécia. O índice realça a situação dos jovens portugueses que, apesar de uma ligeira melhoria na taxa de desemprego, continuam a ter uma situação “desfavorável”. Também a DECO revela as conclusões de um inquérito sobre o orçamento familiar e revela metade das famílias portuguesas com filhos menores vive com menos de mil euros por mês. Além disso, 18% não consegue pagar a prestação da casa e as contas da água, electricidade e gás, revela o mesmo estudo.
 
Entretanto, os exercícios da NATO que decorrem em Portugal e Espanha vão ser seguidas por inspectores militares russos. O exercício “Tridente Juncture” é o maior da organização desde 2002. Os peritos russos que vão fazer a supervisão das manobras militares deslocar-se-ão de automóvel mas também de helicóptero. O objectivo dos especialistas russos é perceber a escala do exercício, devendo fazer ‘updates’ diários da situação, conforme revelou o líder do centro nacional russo para a redução da ameaça nuclear.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Marcolino Moco considera "errada" a ideia de puxar comunidade lusófona para os "negócios"

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CPLP-O primeiro secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Marcolino Moco, considerou que a ideia de puxar a organização para os negócios “é errada”, sobretudo para os “negócios sujos”, que permitiram a entrada da Guiné Equatorial.
“Há uma ideia que eu considero errada, puxar a ideia da CPLP para os negócios, sobretudo negócios sujos, como estes que permitiram que a Guiné Equatorial entrasse, o tal problema da doença endémica que é o petróleo”, disse Marcolino Moco.
Questionado sobre como vê hoje a organização da qual foi o primeiro secretário-executivo (entre 1996 e 2000), Marcolino Moco considerou que “a CPLP fez, faz e fará sentido”, mas criticou o rumo que está a tomar.
“O mundo ocidental só vê negócios e não resistiram à entrada de outro país ditatorial”, afirmou o também ex-primeiro-ministro angolano (1992-1996), referindo-se à entrada como membro de pleno direito na CPLP da Guiné Equatorial, em julho de 2014.
Marcolino Moco considerou que a CPLP “faz sobretudo sentido no domínio cultural”, defendendo que a organização devia “promover debates sobre a democracia ou promover a educação”.
Neste sentido, o ex-secretário-executivo sugeriu a criação de uma universidade da CPLP para “defender a língua portuguesa em colaboração com as línguas locais em África e em Timor-Leste”.
Integram a CPLP: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, são Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

10 dias que vão abalar o nosso mundo

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Portugal-Então é assim: para começar é melhor não levar muito a sério, ou pelo menos de forma definitiva, aquilo que políticos, comentadores e afins lhe dizem nestes dias, sobretudo quando falam de forma muito segura. Em bom rigor estão todos a apalpar terreno e a perceber o que se passou, o que se passa e o que se vai passar. E é muito natural que estejam a fazer figas quando falam consigo.

Eu, por exemplo, só não estou a fazer figas enquanto escrevo este artigo, porque tenho dificuldade em teclar só com uma mão. Não é sinal de incompetência ou de súbita fraqueza de espírito, espero. É mesmo assim, as coisas estão de pernas para o ar e quem disser que percebe rigorosamente tudo o que se está a passar ou sabe com exatidão o que aí vem, está a brincar ou a armar-se em Nostradamus ou Marcelo.

Nestes dias que já correram desde umas eleições que pareciam relativamente claras às 20 h de dia 4 de outubro e que começaram a ficar turvas com a chegada da madrugada, já fomos percebendo um pouco mais do nosso sistema político e alguma da histeria inicial (de parte a parte) está felizmente a desaparecer, o que facilita a conversa.

Vamos então ao ponto da situação ou, como dizem nas tardes desportivas na Antena 1, ao “tempo e resultado”:
  • Passos Coelho vai ser indigitado por Cavaco Silva, o que é absolutamente normal porque venceu as eleições. Vai formar governo nestes dias, convidar ministros e secretários de Estado e manter mais ou menos inalterada a orgânica do governo para não atrasar o Orçamento do Estado, conforme conta a Ângela Silva.
  • Esse novo governo pretende tomar posse até domingo. Mas vão tomar posse sem saber o que lhes acontece a seguir? Isso mesmo. Não é nada que o Palácio da Ajuda não tenha já visto (Nobre da Costa é o exemplo mais óbvio), mas nós é que não estávamos a contar com isso e os ministros muito menos. A sua missão patriótica pode acabar em menos de um fósforo, o que não é especialmente agradável.
  • E depois das assinaturas e dos cumprimentos o que acontece? O novo governo começa a trabalhar na segunda-feira e tem até dez dias para ir ao Parlamento discutir o seu programa. São estes dez dias que vão abalar o nosso mundo porque é aí que tudo se perceberá de forma definitiva (embora o uso desta palavra seja pouco aconselhado).
  • No meio disto tudo só falta mesmo perceber uma coisa, ou melhor, duas: há, de facto, um acordo para Bloco e PCP viabilizarem de forma clara um governo minoritário do PS? E esse acordo abrange que horizonte temporal e que tipo de votações fundamentais?
  • A resposta para os nossos próximos dias está aí. Porque o que o PS está a fazer, apesar de incrivelmente arriscado e surpreendente, é pressionar Bloco e PCP a assinarem um documento claro de espetro suficientemente largo. Que é como quem diz: se assinam isso nós vamos para o governo, se não assinam deixamos passar o governo PSD-CDS que vai toma posse este domingo.
  • No fundo é mais ou menos isto que se está a passar. Há um governo que se prepara para tomar posse mas o tempo de vida desse governo depende em absoluto da existência ou não de um acordo para uma maioria alternativa gerada no Parlamento. São coisas que se aprendem nos livros mas que nunca tínhamos visto à nossa frente, mas que estão aí ao virar da esquina.
  • Ah e o PR?, perguntam alguns leitores. Isso só mesmo Cavaco Silva é que sabe, mas é duvidoso que um institucionalista, ainda por cima num momento em que o Parlamento não pode ser dissolvido (até abril), não siga as regras do jogo constitucional. E tal como indigita agora Passos pode mesmo ter que dar posse a um governo minoritário do PS que tenha apoio parlamentar. Nos tais dez dias saberemos isso tudo.
  •  
  • OUTRAS NOTÍCIAS 
  • Antes de qualquer outra coisa, convém não esquecer que hoje é 21 de outubro de 2015. E então? Então, é o dia em que se passa o célebre filme Regresso ao Futuro, que muitos vimos em 1989 com Michael J. Fox a viajar no tempo. Pois é, esse futuro é hoje e vale a pena ver aqui o que o filme previa ou não. Felizmente não se puseram a tentar acertar que governo teríamos em Portugal nesta altura.

    Mais fácil de adivinhar era a ascensão da China è primeira linha mundial. Um dos grandes acontecimentos internacionais de hoje é a visita de Xi Jinping, presidente chinês ao Reino Unido.
    Entre protestos e provas de força, a visita está a provocar grande polémica nos meios políticos, com alguns embaraços no Parlamento britânico e Pequim a montar uma manifestação pró-Xi para abafar os defensores dos direitos humanos que se manifestavam em menor número.

    Se alguém tiver dúvidas sobre as vantagens da liberdade, atente a este pormenor: a mesma Londres que recebe Xi Jinping para tratar de diplomacia e negócios, alberga na
    Royal Academy of Arts a grande exposição de Ai Weiwei, o famoso artista chinês perseguido pelo regime, que tem atraído multidões pela qualidade das obras e pela força política da exposição.

    Lisboa devia aprender com Londres a jogar nas duas faces da diplomacia para perceber como se atrasou de forma grave na defesa de Luaty Beirão, um artista angolano que está em greve de fome em Angola e que tem passaporte português. Os dias passam e as notícias pioram, numa grave situação humanitária e diplomática.

    A crise dos refugiados continua, agora com dois epicentros: a Eslovénia anunciou que
    vai mobilizar o exército para enfrentar uma vaga com que não consegue lidar e a Alemanha onde a contestação à política de braços abertos de Angela Merkel cresce.

    Ontem foi dia de Champions e o F.C. Porto recebeu o Macabi de Tel Alviv no Dragão num jogo que acabou 2- 0. Para os fanáticos das estatísticas, fica a nota: Ruben Neves foi o mais jovem capitão de uma equipa na Champions, com apenas 18 anos sete meses e sete dias. Leia este texto do Pedro Candeias,
    O admirável homem das Neves e confira.

    De resto, as coisas continuam a correr mal a José Mourinho, que não conseguiu mais que um empate em Kiev. O Bayern também tropeçou no estádio do Arsenal, com um monumental frango de Manuel Neuer. Para quem gosta de resumos de bola, espreitem o Leverkusen-Roma que acabou 4-4.

    Hoje à noite joga o Benfica em mais uma noite de Champions, já em contagem decrescente para o embate com o Sporting ne Domingo, num clima bizarro entre as duas equipas, entre processos judiciais, acusações de prendas aos árbitros, aparições diárias de Pedro Guerra e outras coisas tão ruidosas quanto improdutivas. Adiante.

    Hoje é o primeiro dia de Netfilx em Portugal. O sistema que revolucionou a forma de se ver séries e filmes em muitos países quer fazer o mesmo por cá.

    Já está a contar os dias para a estreia do novo episódio da Guerra das Estrelas? Já comprou bilhetes para um filme que só estreia daqui a dois meses? Viu o trailer, partilhou-o e dissecou-o com amigos? Então este artigo do Guardian (
    Star Wars: The Force Awakens – six things we learned from the new trailer) é para si.

    Voltando às coisas terrestres, mas ainda assim futuristas, fique a saber que o big boss da Apple deu claramente a entender que a sua empresa vai mesmo entrar no negócio dos automóveis. Numa entrevista ao Wall Sreet Journal, Tim Cook disse que a indústria automóvel está à beira de uma profunda alteração tecnológica. Sem nunca explicar se Apple vai fabricar carros, reafirmou a importância da tecnologia na alteração estrutural que o setor enfrenta.

    Vamos às frases de gente que nos é mais próxima.

    FRASES
     
  • "Se o próximo Governo não tiver estabilidade, haverá um adiamento do investimento e da nossa capacidade de crescer e de criar emprego". Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, à saída de Belém

    Consideramos que indigitar Pedro Passos Coelho será uma perda de tempo”. Catarina Martins, líder do Bloco, no mesmo local

    O senhor Presidente fará como entender. Do nosso ponto de vista há uma solução alternativa e o país não ganha nada em prolongar uma situação de incerteza". António Costa, líder socialista, no mesmíssimo local

    O QUE EU ANDO A LER
  • Peguei ontem à noite de novo em “As Primeiras Coisas”, de Bruno Vieira do Amaral. O primeiro romance do jovem escritor foi editado em 2013 pela Quetzal. Li-o em 2014 depois de ver várias críticas favoráveis a algumas indicações de amigos. Ontem recebeu o Prémio José Saramago, o que provavelmente dará atenção renovada a um livro que bem a merece.

    “As Primeiras Coisas” são, para citar o meu colega José Mário Silva (
    artigo completo aqui), uma “enciclopédia da vida suburbana”, mais precisamente da margem Sul do Tejo, num imaginário Bairro Amélia, que remete para o Bairro do Fundo de Fomento, no Vale da Amoreira, Moita, onde o escritor cresceu.

    Não é propriamente o lugar mais bonito do mundo, nem um sítio onde se respire sucesso, mas é o palco de uma realidade pouco retratada na nossa literatura e o viveiro de um belíssimo rosário de personagens, quase todos vencidos da vida com histórias dignas de contar.

    Bruno Vieira do Amaral surpreende pela escrita e pela naturalidade com que a história segue, numa estrutura rígida, por ordem alfabética, do Adalberto ao Zeca, desfiando personagens e situações de A a Z e construindo um belíssimo livro.

    Uma curta citação para terminar, tirada da letra M, de Machado, na pág. 92, entre Luzinira, a rapariga gaga, e Madalena, a modista:

    À casa da família Machado chegava tudo tarde: o telefone, a televisão a cores, as transmissões e o canal 2 da RTP, que só dava chuva, as encomendas de França – perdidas no posto dos Correios da Baixa da Banheira – e o almoço do menino, a comer a fruta a caminho da escola, a achegar atrasado, a pedir desculpa à professora (…)”.
 

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Constituição de Timor-Leste, da Guiné-Bissau,de Cabo-Verde e de Portugal

Sistemas de Governo-As constituições escritas são hoje um fenómeno vulgar e generalizado mas a própria ideia de "escrever" uma Lei Fundamental é tipicamente moderna e relativamente recente. As mais antigas datam dos finais do século XVIII e nasceram de dois movimentos revolucionários, radicais e violentos, que marcaram dramaticamente o início da idade contemporânea: a Revolução Americana e a Revolução Francesa. A primeira assinalou a libertação das colónias inglesas da América do Norte da opressão do Império Britânico. A segunda assinalou a libertação da França do regime de servidão vigente sob o absolutismo monárquico. As duas constituições cumpriram uma missão nuclear: estabelecer um modelo ideal de ordenação política da sociedade. Embora a liberdade seja a principal motivação quer dos revolucionários americanos quer dos franceses, é a descrição da forma de organização política da sociedade nova que pretendem fundar, a preocupação primordial dos dois textos constitucionais.
 
As liberdades são tratadas em documento solene separado, posterior ou anterior à adopção da Lei Fundamental. A "Carta dos Direitos" iria ser aprovada na América uma década depois, na primeira revisão constitucional. E a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão" foi aprovada pelos "Estados Gerais" logo no início do processo revolucionário francês. Este desfasamento temporal comum às duas revoluções reflete a inspiração de um outro movimento revolucionário, ocorrido um século antes: a Revolução Gloriosa inglesa. Curiosamente, esta iria dar-se por satisfeita com a assinatura e o juramento solene por Guilherme de Orange - o rei que sucedeu, em 1691, ao rei absoluto deposto - de uma "Declaração de Direitos" que, inesperadamente, iria dispensar o Reino Unido da necessidade de adoptar uma constituição escrita, até hoje. O "constitucionalismo" britânico decapitou um monarca absoluto mas contentou-se com o compromisso de respeito da liberdade, certificado pela mão e pela cabeça coroada do novo monarca. Confortado pelo novo conceito de soberania - "The King in Parliament" - o Parlamento Britânico iria encarregar-se, já no princípio do século XVIII, de estabelecer, por lei, as traves-mestras das modernas "democracias representativas". Fora do Reino Unido, até ao século XX, a organização do poder político iria coincidir com a própria ideia de constituição, embora a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão" da Revolução Francesa já conjugue as duas preocupações num preceito lapidar onde proclama o respeito pelos "Direitos Humanos" e a "Separação dos Poderes" como únicos critérios de validade de uma "verdadeira constituição".
 
A matriz original do constitucionalismo contemporâneo encontra-se portanto no sistema de governo estabelecido. A Constituição americana perfilhou um sistema "presidencialista" que se mantém até hoje. O "parlamentarismo mitigado" que de forma equívoca se denomina vulgarmente por "semipresidencialismo", foi acolhido, em termos muito semelhantes, pelas constituições vigentes de Timor-Leste, Guiné-Bissau,Cabo-Verde e Portugal. Todas as constituições do Mundo, aliás, estão sobrecarregadas de fórmulas e conceitos importados de outras constituições. O parlamentarismo e o presidencialismo partilham a mesma preocupação original: impedir a restauração da tirania. Os ingleses entregaram todo o poder ao Parlamento e inventaram um "Cabinet" para governar debaixo da sua permanente vigilância e controlo. Os americanos mantiveram o poder soberano de fazer as leis no Parlamento, à semelhança do antigo colonizador, mas ao contrário dos britânicos, confiaram o Governo a um presidente democraticamente legitimado para um mandato limitado e estreitamente vigiado pelo legislador.
 
É isto o que substancialmente distingue o "parlamentarismo" do "presidencialismo", fórmulas a que se reconduzem as variantes mistas atuais. E por isso nos parece que a recente demissão do Governo da República da Guiné-Bissau por decisão do presidente, fundada na violação de uma suposta "relação de hierarquia e dependência funcional" entre os dois órgãos de soberania, subverte as diferenças essenciais entre os dois modelos e os caminhos diferentes por que visam prevenir o mesmo mal: a restauração da tirania.
    

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

INE Confirma Retoma Moderada, China e Grécia são Focos de Tensão

A economia portuguesa cresceu 1,5% no segundo trimestre face ao período homólogo e 0,4% face ao trimestre anterior, no que é uma estabilização do ritmo. Depois da devastação causada pela recessão de 2009 e pelo resgate entre 2011 e 2014, a economia recupera terreno perdido, embora esteja ainda distante do nível pré-crise. A procura interna - consumo e investimento - puxam pela economia, explica o INE.
 
Na Europa, o ritmo de crescimento abrandou ligeiramente face ao trimestre anterior, com Alemanha, França e Itália - as três maiores economias - a registarem valores abaixo do esperado. A economia da zona euro cresceu 0,3% face ao trimestre anterior e 1,2% em termos homólogos. O ritmo continua a desapontar analistas e decisores políticos - o Banco central Europeu já sinalizou que pode ajustar os estímulos para ajudar a retoma. Uma das excepções está na economia espanhola, maior destino das exportações portuguesas, que cresceu 3,1% no segundo trimestre.
 
A China é uma das fontes de incerteza para as exportações e o crescimento europeu - e continua a marcar o andamento dos mercados. As desvalorizações do iuan esta semana prolongaram esta manhã a tendência de queda nas bolsas europeias e de desvalorizações cambiais em vários países emergentes. A generalidade das praças europeias seguia a perder ao início da tarde, com o Euro Stoxx a deslizar 0,8%. Em contramão seguiu a praça portuguesa, que ganhava 0,49% ao início da tarde, com a Jerónimo Martins a liderar os ganhos (mais de 4%).
 
Em Atenas, a política está a ferro e fogo. Depois de uma longa maratona parlamentar na madrugada passada - que terminou com a aprovação das medidas do terceiro resgate - o primeiro-ministro grego pediu um voto de confiança. Alexis Tsipras tem pelo menos 47 rebeldes na sua bancada parlamentar - incluindo o ex-ministro Varoufakis - e força uma moção de confiança. Se não tiver maioria já sinalizou que irá para eleições antecipadas.

Preparem-se: Vem aí Uma Campanha Violenta

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Cirilo João Vieira(na foto)
 
Notícia-Preparem-se: o que aí vem não é «Uma campanha alegre», como a que Eça de Queirós descreveu, utilizando um humor sarcástico e contundente para criticar a vida social e política do seu tempo. O que se perfila no horizonte não tem um pingo de humor, é sórdido e está cheio de golpes baixos. Como escreve José Pacheco Pereira na edição da Sábado desta semana, «estas eleições tocam em demasiadas coisas vitais para não serem travadas com todas as armas, e algumas são bem feias de se ver».

O campo escolhido não é o terreno aberto nem a arma é o confronto sério de posições. Esta campanha joga-se, em grande parte, nas redes sociais, onde «um pequeníssimo número de pessoas faz uma ‘opinião’ entre anónimos, nomes falsos e empregados de agências de comunicação». Por outras palavras, a tropa de choque que conduz o combate político sujo é constituída por cobardes que a coberto do anonimato insultam, deturpam, ameaçam todos os que de uma ou outra maneira contestam o poder instalado – ou conseguem mesmo clonar telemóveis e computadores, através da cloud, para tentar calar os que resistem.

Nada de novo: em 21 de novembro de 2013,
em entrevista à Visão, Fernando Moreira de Sá, consultor de comunicação, explicava como a utilização das redes sociais tinha sido fundamental para levar Passos Coelho até à liderança do PSD, condicionando Paulo Rangel e mantendo na corrida Aguiar-Branco, porque dava jeito, não sem antes terem desgastado a liderança de Manuela Ferreira Leite. Depois partiram para o ataque ao governo de José Sócrates, utilizando os mesmos métodos e influenciando, através da manipulação das redes sociais, os comentadores nas rádios, nas televisões e os jornais.

Ora Passos chegou há quatro anos ao poder. Se os que o apoiam já sabiam do poder das redes sociais nessa altura, não lhe devem ter perdido o jeito desde então e provavelmente estão mais sofisticados, dominam melhor as técnicas de manipulação e são mais certeiros e eficazes nos alvos a abater. A polémica em torno dos cartazes do PS, para lá do amadorismo e incompetência de quem os produziu, nasceu precisamente nas redes sociais, até chegar aos órgãos de comunicação «sérios». E esta é outra conclusão a retirar: o jornalismo, que cumpre as regras deontológicas da profissão, está cada vez mais refém das redes sociais, que não as cumprem de todo, porque não só não têm de as cumprir como de todo não têm regras. É o vale tudo para destruir os adversários e manter o poder.

É claro que os cartazes da maioria também foram alvo de escrutínio e chegou-se à conclusão que
já estavam na rua quando finalmente chegou a licença que permite a utilização para fins políticos dos figurantes nos cartazes, segundo a Shutterstock, empresa à qual as imagens foram compradas.

Hoje, contudo, a política vai ceder o passo ao desporto-rei. Começa a Liga Portuguesa de Futebol (com um Tondela-Sporting, SporTV, 20.45), que promete ser igualmente das mais disputadas (esperemos que não com a mesma violência que se antevê na luta política) dos últimos anos. Para já, os três grandes têm-se reforçado consideravelmente, o que exige avultados investimentos. Ricardo Costa manifesta a sua perplexidade e
considera que não vai acabar bem. Mas na próxima semana estará em Alvalade para ver o Sporting contra o CSKA.

O facto é que a S&P Capital IQ diz que
os clubes portugueses estão na liga dos últimos quanto à sua saúde financeira. E se a S&P o diz e o Ricardo Costa desconfia, é porque deve ser mesmo verdade. Em qualquer caso, a que se encontra em melhor situação é a SAD do Sporting. Não há dúvidas: Jesus faz milagres!

Mais longe vem as presidenciais. Marcelo Rebelo de Sousa que, como de costume, deve andar divertidíssimo com todo o processo, diz agora ao DN que
já perguntou aos filhos e aos netos o que pensam sobre as presidenciais. Provavelmente, a seguir vai perguntar aos vizinhos, à senhora da praça e ao sapateiro. E continuará sem dizer se se candidata ou não.

Quem anda com o credo na boca é Sampaio da Nóvoa, muito por causa da cada vez mais forte possibilidade de Maria de Belém também se candidatar à Presidência da República. Por isso, a entrevista de António Costa à Visão foi vista como encorajadora. João Serra, antigo chefe da Casa Civil de Jorge Sampaio e apoiante de Nóvoa, afirma que «as declarações do secretário-geral do PS confirmam
as intenções e objetivos da candidatura presidencial de António Sampaio da Nóvoa», «uma candidatura que une em vez de dividir» e que «potencia a dinâmica do campo democrático e não a diminui».

A dois meses das eleições, Governo compromete 404 milhões de despesa até 2019, titula o
Público. Mas desta vez não parece haver razões para críticas. Os destinatários são os estabelecimentos de ensino artístico especializado, a produção do cartão do cidadão e as refeições dos reclusos dos estabelecimentos prisionais, além de outras áreas. É difícil considerar que os bailarinos e os presos votem em massa no Executivo por causa destas medidas.

Os contribuintes, contudo, não podem ficar descansados. A venda do Novo Banco está à porta e as ofertas superam os 3500 milhões de euros mas, com os ajustes, o encaixe para o Fundo de Resolução rondará os 2000 milhões. Como o Estado meteu lá 3900 milhões, os 1900 milhões de diferença ou são pagos pelo sistema bancário ou vão sobrar para os do costume…
O Jornal de Negócios, contudo, diz que já há solução para proteger a banca dos prejuízos do Novo Banco. Estamos todos mais descansados.

Metido em trabalhos e confusões continua José Sócrates, mesmo continuando detido preventivamente há nove meses na cadeia de Évora. Desta vez é a casa que vendeu a um antigo procurador-geral paquistanês por 675 mil euros. Vá lá que o comprador,Makhdoom Ali Khano, 61 anos, veio esclarecer desde logo que «
todas as transações foram feitas entre bancos. Não houve pagamentos em dinheiro vivo».

OUTRAS NOTÍCIAS

Em Cuba, hoje é um dia histórico. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, vai erguer a bandeira do seu país na embaixada dos EUA, que abre ao fim de 50 anos de corte diplomático e de embargo económico à ilha por parte do seu poderoso vizinho. Ontem Fidel Castro fez 89 anos, mas não vai à festa, embora para a dita cuja não tenham sido convidados os dissidentes cubanos para não melindrar o regime castrista.

Em Espanha,
foi capturado o presumível assassino de duas jovens que tinham desaparecido na quinta-feira da semana passada, em Cuenca e cujos cadáveres foram localizados esta quarta-feira. Sergio Morate, o suposto assassino, foi detido em Lugoj, na província de Timis (na Roménia). Foi o sinal do telemóvel que levava que o tramou.

Em Tianjin, na China, o fogo continua na sequência de
duas gigantescas explosões na zona portuária, que causaram pelo menos 50 mortos e 700 feridos, dos quais 60 em estado grave. A explosão foi equivalente à potência de 21 toneladas de TNT.

Entretanto,
a dívida grega subiu para 201% mas pode ser sustentável sem perdão. Bruxelas sugere que os europeus devem conceder mais crédito, mas só se os prazos forem amplamente alargados.

E à hora a que estou a escrever este artigo,
o parlamento grego aprovou ao fim de uma longa maratona o terceiro resgatenas condições acordadas com as instituições internacionais e que permitirão a Atenas receber 86 mil milhões de euros.

Na China, as coisas parecem estar a acalmar. As autoridades chinesas garantiram que
terminou o ajustamento do yuan, após uma desvalorização de quase 5%. As bolsas regressaram aos ganhos.

Mas claro, há consequências. A procura de ouro caiu para um mínimo de seis anos, devido à redução do consumo na China e na Índia, diz o
World Gold Council.

FRASES
«O partido avança de olhos vendados e mãos amarradas, à beira do abismo em direção às rochas afiadas lá em baixo». Tony Blair num dramático apelo aos militantes do Labour, no momento em que o autodenominado socialista Jeremy Cobyrn lidera destacado as sondagens na corrida à direção dos trabalhistas ingleses, no Diário de Notícias

«É preciso unir o país contra o sal e o açúcar», Francisco George, diretor-geral de Saúde, noutro dramático apelo, desta vez dirigido aos portugueses, no Sol

«Se Hillary Clinton não consegue satisfazer o marido, o que pode levá-la a pensar que irá satisfazer a América?», Donald Trump, numa das suas frases de indiscutível bom gosto, com as quais pensa ganhar a corrida republicana à Casa Branca e depois a dita cuja propriamente dita, no Diário Económico.

O QUE ANDO A LER E A OUVIR
 
Foi o grande fotógrafo, meu camarada de profissão e apaixonado pelo xadrez António Pedro Ferreira que me emprestou o livro. E fez muito bem. «Novela de xadrez», de Stephan Zweig, o último livro que escreveu antes de se suicidar em Petrópolis, no Brasil, com 61 anos, é como uma partida de xadrez: apaixonante, intenso, que não se larga até acabar, como o jogo propriamente dito, esse «jogo único de entre todos os jogos inventados pelo homem», «limitado num espaço geométrico fixo contudo ilimitado nas suas combinações». Como medita a personagem central da história de Zweig, «o que atrai no xadrez é unicamente o facto de a sua estratégia se desenvolver de forma diferente em cérebros diferentes, de, nessa guerra mental, as pretas não conhecerem as respetivas manobras das brancas e procurar constantemente adivinhá-las e contrariá-las enquanto, por sua vez, as brancas almejam ultrapassar e estancar as secretas intenções das pretas».

Para quem, como eu, se pode considerar um «xadrólatra», ou seja, alguém que, se não acionasse os travões da sua vontade, passaria horas e dias seguidos a jogar xadrez de forma compulsiva, «Novela de xadrez» é um livro incontornável e altamente recomendável para todos os que amam este que é seguramente o jogo dos jogos.

Outra pessoa que morreu demasiado nova, neste caso aos 27 anos, e que tinha igualmente um enorme, um incomensurável talento, pode ser revista num documentário sobre a sua vida, que ainda anda por aí em circulação. Depois de o ver resolvi ouvir o CD. «Back to Black», de Amy Winehouse, confirma o que o documentário mostra: a cantora era provavelmente a voz mais negra de uma branca desde Janis Joplin, que morreu de oversdose – e a faixa que dá o título ao álbum é uma inesquecível canção, que a fez aliás ganhar vários Grammy (apesar dos Estados Unidos terem proibido a sua entrada naquele país para estar presente na cerimónia e receber as estatuetas ao vivo). Não sabem o que perderam por uma razão que não existe nos Estados Unidos – por lá ninguém consome drogas, claro.
 
Bom fim-de-semana!

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Presidente da República da Guiné-Bissau Demite Governo

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Guiné-Bissau-"É demitido o Governo chefiado por Domingos Simões Pereira", refere-se no único artigo do decreto presidencial.

A decisão foi divulgada pela rádio pública da Guiné-Bissau duas horas e meia depois de o chefe de Estado ter feito um discurso à nação, no qual referiu que uma remodelação governamental não chegava para resolver a crise política no país.

"Mesmo que todos os membros do Governo fossem substituídos", numa remodelação, "a grave crise política que põe em causa o regular funcionamento das instituições não seria provavelmente ultrapassada, na medida em que a questão substantiva é a quebra mútua da relação de confiança com o próprio primeiro-ministro", referiu José Mário Vaz.

Desta forma, José Mário Vaz referiu que é ao PAIGC, que venceu as eleições de 2014, "que pertence o direito de governar, não podendo esse direito ser pessoalizado ou privatizado por um grupo de interesses instalado no seio do partido".

O Presidente da República acusou esse grupo de "ameaçar a paz social" e "ameaçar fazer o país mergulhar num caos e conduzi-lo a uma guerra civil, caso as instituições do Estado não se declinem perante a pessoa do primeiro-ministro".
 
"Se o custo da estabilidade governativa é a corrupção, o nepotismo, o peculato, saibam que considero esse custo demasiado elevado para ser pago", referiu.

Entre outros aspectos da governação, o Presidente questionou o destino de 85 milhões de euros detectados no saldo das operações financeiras do Estado nos últimos 12 meses. "Em que é que foi gasto todo esse saldo", perguntou.

O chefe de Estado lamentou ainda nunca terem sido ouvidas as suas inquietações acerca de questões de "segurança nacional e gestão transparente da coisa pública".

Vaz condenou os excessos de linguagem da última semana por parte do presidente do Parlamento, Cipriano Cassamá, que acusa de ter deturpado uma conversa que ambos mantiveram, numa altura em que estavam em cima da mesa outras opções sem ser a queda do Governo.

O Presidente da República lamentou, igualmente, a imprudência do primeiro-ministro quando, de seguida, acusou o Presidente de querer derrubar o Governo, sem contactar o chefe de Estado.

Estas e outras declarações criaram "uma escalada de excesso de linguagem" e fizeram com que "as condições de normal funcionamento das instituições, já de si difíceis, se tornassem "praticamente impossíveis".

José Mário Vaz disse ainda acreditar que "a comunidade internacional vai continuar ao lado do Estado guineense, das suas instituições e do seu povo, sempre que as decisões de soberania sejam conformes à Constituição".