terça-feira, 11 de agosto de 2015

Acordos, Discórdias e Algumas Aldrabices

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Cirilo João Vieira (na FOTO)
 
Notícia-Últimas da madrugada: há acordo com a Grécia; há discórdia em Ferguson; há incêndios em Portugal. Já lá vamos. Antes, roubos.

Quando alguém diz “eles roubaram de mais” está a supor que há um nível aceitável de roubo. A ideia é de Fernando Gabeira, colunista do jornal brasileiro Globo, que escreveu
um magnífico texto a propósito do escândalo Lava Jato. “Gritaram «ladrão» e sacaram os celulares”, ironiza.

Foi através de telemóveis e computadores que muitos dos 1,8 milhões de pessoas de mais de 26 países se ligaram à LibertaGia, o “negócio” liderado pelo português Rui Salvador que é agora acusado de fraude. Segundo a investigação espanhola, e como
contamos, trata-se de um típico esquema piramidal, em que são prometidas elevadas taxas de retorno a quem entre (com dinheiro) no negócio, retorno esse que é pago com novas entradas na pirâmide, que acaba por rebentar. O que é impressionante neste caso é a dimensão e a facilidade com que tanta gente entrou num esquema que tinha para cheirar mal.

Cheirar bem cheirava o BES, pelo menos naquele tempo. Ao contrário do esquema piramidal anterior, no BES havia conhecimento, tradição, reputação, supervisão, regulação. O que não havia era dinheiro do GES para pagar o papel comercial que deixou
um lastro de lesados que neste verão engrossa as suas manifestações com os emigrantes que visitam Portugal e que perderam as suas poupanças.

“Não indemnizar os lesados do GES/BES convém ao governo e ao Banco de Portugal, mas é um erro dramático”, escreve o Nicolau Santos
no Expresso. “Há milhares ou mesmo milhões de emigrantes que vão hesitar cada vez mais em colocar as suas poupanças em bancos portugueses ou mesmo em enviá-las para o país”.

Fraude é fraude, burla é burla, investigação é investigação mas vale a pena pensar nas diferenças entre estes dois casos, o esquema piramidal e a dívida do GES. As diferenças eram à partida enormes. As consequências, talvez não: prejuízos.

Incluindo na venda do Novo Banco, que,
segundo o Diário de Notícias de hoje, está entre ser comprado pelo americanos da Apollo e os chineses da Anbang, uma vez que os também chineses da Fosun têm a proposta mais baixa.

Ah:
o texto de Fernando Gabeira que abre este Curto é sobre a mega manifestação marcada para 16 de agosto contra a corrupção no Brasil, que tem o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula e Dilma, no epicentro: “O PT aprendeu a derrubar, em 1989, precisa agora aprender a cair. A melhor saída é a renúncia de Dilma, a menos traumática. É inacreditável que, num momento agónico, ela ainda pense em governar por três anos”.

OUTRAS NOTÍCIAS
 
Sim, houve acordo para a Grécia durante a madrugada entre Atenas e os credores. O acordo fixa metas orçamentais para os próximos três anos, o que se enquadra nas negociações para o terceiro resgate e melhora as expectativas de desbloquear o pagamento da tranche de 3,2 mil milhões de euros ao BCE, que vence a 20 de agosto. Segundo o “El Pais”, citando o ministro das Finanças grego, falta acertar “dois ou três detalhes”. Foram 23 horas de negociações, explica o The Guardian. O terceiro resgate deverá ascender a 86 mil milhões de euros.

A Grécia é, também, um dos beneficiários do pacote de ajuda de 2,4 mil milhões de euros aprovado por Bruxelas para financiar o impacto da crise migratória, conta o “
El Pais”. Itália e Espanha são os dois países que mais dinheiro receberão.

Por falar em dinheiro: num movimento surpreendente, o banco central da China promoveu a desvalorização de quase 2% da moeda nacional, o yuan, face ao dólar. É a maior desvalorização em duas décadas e,
explica a CNN, visa atacar o arrefecimento da economia chinesa.

Os incêndios continuaram a lavrar durante a noite, em particular
em Mangualde, mas também em São Mamede de Infesta (num armazém). O tema faz manchete de vários jornais. Segundo o Público, os incêndios destruíram nove mil hectares nos últimos dez dias. Mais de um terço deles, explica o DN, começou de noite, o que aponta para suspeitas de fogo posto. Mais de 80% dos fogos são no Norte, escreve o Jornal de Notícias.

Ferguson, nos Estados Unidos, está de novo em alerta máximo, depois das manifestações em memória de Michael Brown terem levado
à detenção de 50 pessoas. A violência levou o presidente da câmara a decretar o estado de emergência, explica o New York Times. O The Guardian conta o sucedido, minuto a minuto.

O que também continua a marcar os jornais são os cartazes do PS, assunto de diversas colunas de opinião do dia. A melhor que li é de Fernando Sobral, no Negócios, no texto “
Don Drapper não vem”: “António Costa tem tempo, mas desgasta-se em batalhas inúteis com a inutilidade das ideias que circulam no seu círculo criativo. O mais grave em toda esta polémica servida num copo de água é que ela parece desvalorizar a ferida maior que não cicatriza neste país: o desemprego.”

O
Público e o Observador foram investigar as relações entre a Câmara de Lisboa, antes presidida por Costa, e Vítor Tito, o criativo dos cartazes polémicos. Foram mais de 800 mil euros em sete anos. Já o Correio da Manhã mostra que o PS contra-ataca e mostra que os cartazes do PSD são feitos com modelos estrangeiros. Como escreve Paulo Ferreira no Facebook, “O país vai de choque em choque. Há cinco anos descobrimos que não se pode viver eternamente a crédito. Agora sabemos que a malta que aparece nos cartazes políticos são figurantes de bancos de imagem ou agências de modelos. Só falta virem dizer que o Pai Natal não existe...”

O i continua a cavalgar a “vaga de fundo” pela
candidatura da Maria de Belém à Presidência da República, escrevendo hoje que o PS está fraturado entre apoiar a ex-presidente do partido e Sampaio da Nóvoa.

Os
três diários desportivos tiveram a mesma ideia e escreveram, todos, a mesma frase como manchete: “Aí está Jimenez”. O avançado mexicano Raúl Jiménez contratado pelo Benfica depois da derrota com o Sporting na Supertaça já chegou a Lisboa. Segundo o Correio da Manhã, Luís Filipe Vieira já falou com a equipa, a quem pediu vitória sobre o Estoril no fim de semana de arranque da Liga.

Cerca de 48 mil pessoas comem todos os dias nas cantinas sociais, escreve o
Jornal de Notícias.

A
dona da Google vai passar a chamar-se Alphabet.

E
a partir de hoje, nos Espaços Cidadão dos CTT, será possível tratar de burocracias relacionadas com o Estado em todo o país.

FRASES
Ao contrário da esmagadora maioria da opinião que se ouve e lê, os cartazes da polémica do PS são as melhores peças de comunicação de António Costa desde que assumiu a liderança do partido. Se não fossem atos falhados. (…) A precariedade dos recibos verdes, o flagelo do desemprego e a farsa travestida de escolha da emigração são uma tentativa (finalmente) clara do PS e limpa de ruído de dizer a verdade sobre o legado de governação”. Miguel Guedes, no JN.

Neste momento, o Benfica não é de Jesus, nem de Vitória: não é de ninguém”. Mariana Cabral, no
Expresso Diário.

Berlim tem de levar a Europa a uma União mais próxima”, Constanze Stelzenmüller, no
Financial Times.

"Perdi muito cedo a ingenuidade porque comecei a ler", J. Rentes de Carvalho, no
DN.

Não se trata de substituir o discutível pelo indiscutível. Pelo contrário. O discutível, sempre o discutível, é que nos há-de guiar”. Rui Tavares, no seu novo livro “Esquerda e Direita”, citado e (amplamente) elogiado hoje por João Miguel Tavares, no
Público.

O QUE EU ANDO A LER
 
A Quetzal acaba de lançar “O Livro dos Seres Imaginários”, de Jorge Luis Borges, uma lista quase enciclopédica de bestas criadas por escritores, filósofos, teólogos – pelos homens. Entre dragões, centauros, fadas, feiticeiras, valquírias ou anjos de Swedenborg (“Duas pessoas que se amaram na Terra formam um único Anjo”) está Bahamut, que foi dado a ver na 496ª d' As Mil e Uma Noites a quem, por tê-lo visto, levou três dias a recuperar o conhecimento: “De hipopótamo ou elefante fizeram-no peixe que se mantém sobre a água sem fundo e sobre o peixe imaginaram um touro e sobre o touro uma montanha feita de rubis e sobre a montanha um anjo e sobre o anjo seis infernos e sobre os infernos a terra e sobre a terra sete céus.”

O
Nicolau Santos já a citou num Curto da semana passada e eu citei-a num prefácio de um livro do Nicolau Santos e do António Costa e Silva, “Fotografias Lentas do Diabo na Cama”. Falo de Ana Hatherly, que na semana passada nos deixou, mas deixando-nos muito. Deixou-nos por exemplo o livro “O Pavão Negro”, onde nos diz: “Amando muito muito ficamos sem palavras”.



Tenha um excelente dia.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A Bomba, o Canal, o Desemprego e o Emigrante Que Faz Anos

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Noticia do Mundo-Exatamente há 70 anos, numa manhã de sol tão bonita como esta que está hoje em Lisboa, um bombardeiro batizado Enola Gay, largava sobre Hiroxima a primeira bomba atómica a ser lançada no mundo. Morreram instantaneamente pelo menos 140 mil pessoas. Três dias depois, uma nova bomba de urânio foi lançada sobre Nagasaki, matando pelo menos mais 80 mil pessoas. Foi o início do fim da II Guerra Mundial e o nascimento de uma nova ordem mundial, que tem vigorado quase intocada até aos dias de hoje. O poder destruidor foi de tal ordem que Shintaro Yokoshi, um sobrevivente, diz no seu arrepiante testemunho publicado hoje no jornal i: «Pensei que tinha caído o Sol».

Mas se no Japão se assinala uma data dramática, no Egito assinala-se a conclusão de mais uma grande obra de engenharia. As cerimónias de inauguração do
novo canal do Suez decorrem hoje, um ano depois de iniciadas as obras. A concretização da nova rota de 72 quilómetros custou 8,5 mil milhões de dólares (cerca de 7,5 mil milhões de euros), sendo considerada essencial para o comércio regional e global. O Egito prevê a duplicação do tráfego e um crescimento de mais de 250% das receitas até 2023, além da criação de um milhão de empregos na sua zona económica.

Estarão presentes vários chefes de Estado, entre os quais François Hollande, mas não consta que estejam presentes portugueses. Contudo, a 17 de novembro de 1869, aquando da inauguração do primeiro canal do Suez, dois jovens portugueses encontravam-se entre os convidados para as grandiosas comemorações. Eram eles o Conde de Resende, com 25 anos, e o seu grande amigo, «ao tempo mais notável pelas suas gravatas que pelas suas obras», Eça de Queiroz, de 23 anos. («O Egipto – Notas de viagem», Edições Livros do Brasil). É uma boa ocasião para recordar o que era o Egito no final do séc. XIX de acordo com o olhar daquele que viria a ser um dos maiores escritores portugueses.

Por cá, o que está
no centro da polémica são os números do desemprego. E há opiniões para todos os gostos, de Passos Coelho, Marco António Costa, Mota Soares e Cecília Meireles, pelo lado da maioria, contrariados pela oposição em peso. Contudo, o Governo recebeu um aliado de peso: o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, que afirmou várias vezes a sua «satisfação» pelos números mais recentes. A propósito, leia o que Paulo Barradas escreve no Expresso on line, a propósito de «O milagre da criação de emprego».
O Diário de Noticias titula que «dois terços dos empregos criados são a prazo». Por sua vez, o Público diz que o «desemprego é mais baixo que há quatro anos mas o emprego também é menor». O ministro da Economia responde no jornal i. Pires de Lima «acusa a oposição de não acreditar na capacidade dos portugueses». E o Jornal de Negócios pergunta: «Desemprego em mínimos de 4 anos e meio ou a maior destruição de emprego dos últimos 50?»

Entretanto,
a chuva de milhões europeus consubstanciados no programa Portugal 2020 já começou a cair: as associações empresariais inauguraram os concursos e já receberam luz verde para 57 milhões de euros, um valor que mesmo assim fica aquém do montante que estava disponível. Têxteis e calçado lideram a lista de apoios.

O vencedor da corrida ao Novo Banco não vai ter só de se preocupar com a instituição, procedendo a um aumento de capital no mínimo de mil milhões de euros. Com efeito, os três candidatos – os chineses da Fosun e Angbang e o fundo norte-americano Apollo – receberam
uma carta dos lesados que investiram em papel comercial do GES, avisando: «Se vos disseram que os clientes do papel comercial não têm o direito a ser reembolsados pelo Novo Banco ou por quem o vier a comprar, não acreditem!"

Na Caixa Económica Montepio Geral, pode ser que os ânimos venham a acalmar, agora que José Félix Morgado foi eleito para
presidente executivo da instituição mutualista, substituindo Tomás Correia, que diz sair «sem pena». Pois… Como dizem os brasileiros: «me engana que eu gosto».

E no twitter, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães,
polemizou com o economista britânico e ex-consultor de Durão Barroso, Philippe Legrain. Maçães postou um artigo do “The Wall Street Journal” que demonstrava “como os países em crise da zona euro deixaram para trás os seus problemas”, afirmando que Portugal cresceu pela primeira vez sem dívida em 40 anos. Uma resposta imediata surgiu, pelo teclado de Philipe Legrain: “Sim, a economia de Portugal está ainda 7,5% mais pequena que há sete anos. É a isso que chama deixar os problemas para trás?”, rematou. Hoje, ao Diário de Notícias, o economista britânico vai mais longe: «o Governo tentou ser mais alemão que os alemães e foi desastroso».

No desporto,
o avançado grego Mitroglou chega hoje. Mas depois de quase um mês a serem relatadas as negociações entre o Sporting e o jogador, eis que ele desembarca na Portela mas … com destino ao Benfica. É a vingança dos encarnados sobre o eterno rival, depois de terem visto Jorge Jesus mudar-se para o outro lado da segunda circular e dos vários reforços que todos os dias enchem as páginas dos jornais desportivos destinados ao Sporting e Futebol Clube do Porto.

Lá fora
Na Grécia, há três temas que ainda separam Atenas das instituições internacionais. São os calendários e a implementação das reformas exigidas pelos credores, os moldes em que decorrerão as privatizações e a recapitalização bancária. Na frente política deverá haver eleições antecipadas no Outono, onde o primeiro-ministro, Alexis Tsipras espera recuperar a maioria no parlamento, que perdeu devido às dissidências no Syriza.

Hoje é uma super quinta-feira no Reino Unido. Há
dados económicos e decisões em catadupa ao meio-dia. O Banco de Inglaterra vai divulgar uma avalancha de dados: as atualizações económicas trimestrais, as atas da última reunião do BoE e a sua decisão sobre as taxas de juro, na já chamada "super quinta-feira".

Já se sabe também que
o pedaço de asa encontrado na ilha de Reunião pertence mesmo ao voo MH370, que desapareceu há 17 meses, com 239 pessoas a bordo. As dúvidas, no entanto, continuam a ser muitas: porque só apareceu este pedaço de asa do Boeing 777 da Malaysia Airlines até agora? Porque nenhum corpo deu à costa? Pode ser, contudo, que o mistério se tenha começado a deslindar.

Por seu turno, o baixo preço do petróleo continua a afetar os países produtores. A Arábia Saudita está a preparar uma emissão de 27 mil milhões de dólares para colmatar as suas combalidas finanças públicas, revela o Financial Times.

Entretanto, a Netflix anunciou que dará licenças parentais sem limite de tempo aos seus funcionários que sejam pais, por defender que isso os deixa menos angustiados com essa questão e que os torna mais disponíveis e felizes para trabalhar na empresa. Há quem, contudo, considere que isso pode ser uma má ideia para outras companhias, como relata o
Washington Post. Também dos Estados Unidos vem uma surpresa: Warren Buffet, o oráculo de Omaha, tem conseguido, ao longo de décadas, bater o desempenho da bolsa norte-americana. Este ano, o 50º à frente da Berkshire Hathaway, não está a consegui-lo. Enquanto o S&P 500 sobe, os títulos da “holding” caem.

E em França
François Hollande melhorou a sua popularidade depois da intervenção que teve para desbloquear a crise grega e das suas propostas para a criação de um núcleo duro da zona euro, integrando os países fundadores e a Espanha. A crise de uns é a sorte de outros.

No Mediterrâneo,
mais uma tragédia, com o afundamento de um barco de pesca ao largo da Líbia, com cerca de 700 pessoas a bordo. Para já há 25 mortos confirmados, mas há centenas de pessoas desaparecidas.

FRASES
 
"Stewart tornou a vida um pouco mais suportável para milhões", Robert Lloyd, no Los Angeles Times, a propósito de Jon Stewart, que conduz esta noite pela última vez o seu conhecidíssimo programa de humor político e social corrosivo Daily Show. Sobre Stewart, disse Barack Obama: "uma grande dádiva para o nosso país", jornal Público

"Os últimos dados disponibilizados pelo INE dizem-nos que os portugueses estão já a pagar do seu bolso 28% das suas despesas de saúde", José Mário Martins, estomatologista e membro da Associação de Medicina de Proximidade, jornal Público

"O Ministério das Finanças tornou-se um ser omnipotente e omnipresente na sociedade, a viver acima da lei, e a cobrança de impostos, taxas e multas passou a constituir o momento de terror das famílias e das empresas à abertura do correio", Henrique Neto, empresário e candidato presidencial, jornal i

"Recusei um encontro com Richard Gere para manter um compromisso com uma rádio", Dulce Pontes, cantora, ao Diário de Notícias. Pois talvez tenha feito mal, Dulce…

"A culpa não é de Edson", Viriato Soromenho-Marques, jornal Diário de Notícias

"Lenny Kravitz. Pénis à mostra em concerto em Estocolmo", título do Diário de Notícias. O cantor rasgou as calças durante uma atuação na Suécia, mostrou mais do que queria e já apelidou o caso de «penisgate»

O QUE ANDO A LER A E A OUVIR
 
Se está de férias e se quer apenas divertir recomendo-lhe vivamente os vários volumes de crónicas de Luís Fernando Veríssimo. Uma fazem sorrir, outras rir até às lágrimas. Recomendo em particular «As mentiras que os homens contam» - desde a infância, passando pelo namoro e seguindo pelo casamento - e «O analista de Bajé», com o seu infalível método de cura designado por «joelhaço», ele que se intitula «freudiano de carteirinha» e que andou a criar uma rececionista «que passou do ponto».

Ontem morreu Ana Hatherly, escritora, poeta, artista plástica, romancista e tradutora. Se não conhece a sua obra vale a pena ler alguns dos seus poemas. Deixo um extrato do poema «Príncipe»:

Príncipe:/ Era de noite quando eu bati à tua porta / e na escuridão da tua casa tu vieste abrir / e não me conheceste. / Era de noite / são mil e umas / as noites em que bato à tua porta / e tu vens abrir / e não me reconheces / porque eu jamais bato à tua porta (…)

E porque há outra pessoa talentosíssima que nos deixou há mais de um ano, e era tão jovem, e tinha ainda tanto para dar, recomendo vivamente que comprem e ouçam o CD onde Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti recriam algumas das melhores canções nacionais mas também algumas internacionais, que passaram a fazer parte do património da Humanidade.

PS – Permitam-me uma nota pessoal para terminar. Hoje faz 29 anos um emigrante português. Foi um dos muitos que partiu há mais de dois anos porque o país, este país, onde nasceu e que ama, o tratava mal, dando-lhe um emprego precário, a recibo verde, de 800 euros, para trabalhar subcontratado para uma multinacional. É um dos muitos que o primeiro-ministro diz que podem voltar. Não vai ser fácil. Casou com uma americana e trabalha numa empresa tecnológica na Califórnia. Ganha três vezes mais o que lhe pagam aqui e não é subcontratado. Formou-se no Instituto Superior Técnico, é engenheiro eletrotécnico, parte da sua formação foi paga pelos contribuintes portugueses. Faz-me muita falta. Parabéns, filho.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

António Simões brilha no HSBC e banca grega no fundo do poço

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Portugal-Portugal ganhou esta manhã mais pontos na série "Portugueses com carreiras de sucesso no estrangeiro". António Simões, que já é o presidente executivo do HSBC para o Reino Unido, passará a partir de 1 de Setembro a liderar a unidade europeia.
 
O HSBC - Hong Kong and Shanghai Banking Corporation, instituição ligada inicialmente à ocupação britânica na China na segunda metade do século XIX - é o terceiro maior banco mundial em termos de gestão de activos. António Simões, que em 2013 foi considerado pelo Financial Times o líder ‘gay' mais influente em Inglaterra, deu meses depois uma entrevista ao Económico em que fala da carreira, da identidade sexual e da atitude dos portugueses no estrangeiro - um texto que agora vale a pena reler.
 
Ainda lá fora, continua a sangria da bolsa grega, com destaque para os bancos que, ao longo da manhã, caíram até ao limite permitido em Atenas: 30%. A desvalorização brutal dos bancos gregos - que enfrentaram nos últimos meses uma queda de cerca de um quinto nos seus depósitos e têm pela frente um aumento do malparado devido à recessão no país - é um dos temas-chave nas negociações do terceiro resgate. A hipótese de um "bail in", responsabilizando detentores de dívida das instituições, é uma hipótese.
 
Os mercados financeiros europeus caíram ao longo da manhã, com o Eurostoxx a perder 0,73% ao início da tarde. As quedas são generalizadas e explicadas pelos analistas citados nas agências financeiras com resultados abaixo das expectativas de algumas grandes empresas - como a BMW - no que já é visto como um contágio do arrefecimento económico na China.
 
Em Portugal, a praça portuguesa segue o comportamento europeu com o PSI20 a perder 0,87% ao início da tarde. Apenas dois títulos (Jerónimo Martins e Teixeira Duarte) evitam a maré vermelha, numa sessão em que as perdas estão a ser lideradas pela operadora Pharol (-3,5%), pelo BCP (-2,75%) e a construtora Mota (-2,4%).
 
O Santander Totta apresentou resultados do primeiro semestre esta manhã: lucro de 103,6 milhões de euros, mais 29% face ao mesmo período em 2014.
 
Na política sectorial, duas novidades: a detenção de um ex-presidente do grupo CP e um relatório abrasivo do Tribunal de Contas sobre a má gestão no hospital Amadora-Sintra que levou ao caos nas urgências no período do Natal de 2014.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Vacina Contra o Ébola Revela-se Cem por Cento Eficaz

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Ébola-Uma vacina experimental contra o vírus do Ébola revelou-se cem por cento eficaz após ser testada em mais de quatro mil pessoas não infectadas mas em contacto directo com doentes na Guiné-Conacri. Os resultados, apesar de preliminares, mostram-se “promissores”, anunciou ontem a Organização Mundial de Saúde (OMS), em Genebra, na Suiça.
 
“Uma vacina eficaz contra o vírus do Ébola encontra-se [agora] disponível a nível global” e indica “um avanço muito promissor”, lê-se no comunicado divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os primeiros resultados publicados na revista científica do Reino Unido,
The Lancet, revelam que a vacina VSV-ZEBOV demonstrou uma eficácia de cem por cento durante os dez dias seguidos em que foi aplicada numa pessoa não contagiada, mas a coabitar com pessoas infectadas, salienta o documento.

O método adoptado para o teste da vacina é designado por “anel da vacinação”, em que as pessoas em contacto com os infectados são imunizadas e criam um anel de protecção que impede a propagação do vírus.
Os ensaios clínicos na Guiné-Conacri iniciaram-se a 23 de Março de 2015 para avaliar a eficácia e a segurança de uma única dose de VSV-ZEBOV e os resultados foram um sucesso. Os investigadores verificaram uma protecção muito grande contra a doença nas pessoas vacinadas imediatamente após o contacto com os doentes.

Com base em novas evidências da segurança da vacina, que não deixou quaisquer sinais de efeitos adversos nos pacientes, os testes vão passar a incluir os adolescentes entre os 13 e os 17 anos. Assim como, possivelmente, as crianças entre os seis e os 12 anos, adiantou a OMS.

“Se os resultados [continuarem] a confirmar-se esta nova vacina poderá ser a cura milagrosa contra o Ébola e contribuir para parar o surto actual e, futuramente, erradicar epidemias deste tipo”, salientou, por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros norueguês,
Borge Brende.

Já Margaret Chan, diretora-geral da organização integrada nas Nações Unidas, descreve a vacina como uma ferramenta “muito importante” para os surtos actuais e futuros.
A epidemia do Ébola na África Ocidental, a mais grave após a identificação do vírus na África Central em 1976, começou em Dezembro de 2013 no sul da Guiné-Conacri, tendo causado 11.279 mortos em 27.748 casos, segundo os dados da OMS.

Quase 30 mil casos
 

Mais de 99 por cento das vítimas concentram-se na Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria, onde o surto da doença desorganizou os sistemas de saúde, devastando as economias e fazendo fugir os investidores.

A vacina VSV-ZEBOV foi desenvolvida pela Agência de Saúde Pública canadiana (PHAC, na sigla inglesa) e a licença foi registada pelos laboratórios norte-americanos Merck e NewLink Genetics Corp. Fazia parte de uma das duas vacinas mais avançadas contra o vírus do Ébola, tendo a outra sido desenvolvida pelo laboratório inglês GSK (GlaxoSmithKline) em parceria com o Instituto Americano de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID na sigla inglesa), e testada na Libéria.

 

terça-feira, 23 de junho de 2015

A Grécia, Um Caracol e Um Bilhete de Amor

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Grécia-“Ó caracol, / Escala o Monte Fuji, / Mas devagar, devagar!”. Abrimos com este famoso poema japonês (haiku), de Issa, pela esperança de cumprir um devir. Estamos a falar da Grécia, claro, porque hoje há notícias diferentes: Atenas e Bruxelas deixaram de estar de costas voltadas.

É difícil chamar boas notícias a (mais) medidas de austeridade mas ao pé do degredo temido com a saída do euro esta é uma resposta. Passos já não acha que isto é “uma brincadeira de crianças” e Lagarde já não pede “adultos na sala”. Agora, há “bases sólidas”.
Quatro dias fizeram assim tanta diferença? Parece que sim.

Jorge Nascimento Rodrigues explica, as famosas “linhas vermelhas” foram ultrapassadas de “uma forma indireta”: Tsipras aumenta contribuições na saúde e na segurança social, corta na defesa e nas reformas antecipadas; a idade de reforma subirá gradualmente até 67 anos em 2025, mantêm-se três escalões no IVA. E assim geram-se receitas adicionais de 2,3 mil milhões de euros face ao plano anterior. O acordo pode abrir a porta à transferência de 1,9 mil milhões mas a Grécia quer que o programa "sustentável" seja acompanhado por um pacote de crescimento, sendo que os problemas futuros do primeiro-ministro podem estar em casa. Até porque os gregos saíram ( outra vez) à rua, depois de retirar mais 1,8 mil milhões de euros dos bancos.

“É uma realidade penosa”,
conclui o Financial Times: “os credores vão apoiar a Grécia aconteça o que acontecer”. E a Europa respira de alívio, nota o El Pais. É que "a paz pode estar ameaçada" se Grécia sair do euro, afirmava ainda esta noite Braga da Cruz na Renascença. Conclusão: “O relógio deixou de dar horas em Atenas”, diz o editorial do Público. “Ainda não há fumo branco – mas há uma cuidadosa gestão de expectativas para evitar o pânico”.

A montanha já não é a de Sísifo, pela qual rolava sempre a pedra antes de atingir o cume. Agora escala-se. Mesmo que seja assim: devagar, devagar.

OUTRAS NOTÍCIAS 
Não é o número de desempregados que é baixo, é o número de inscritos no IEFP – e é o valor do subsídio. Manchete do DN, do JN e do Público: o número de pessoas com subsídio de desemprego é o mais baixo desde 2009. O subsídio chega agora a menos 140 mil desempregados e o valor do subsídio também está a cair: em maio, cada desempregado recebeu, em média, 448 euros, devido à quebra nos salários e aos limites introduzidos à prestação.

Portugal pagou mais 1.830 milhões ao FMI. Em cada dez euros emprestados pelo Fundo no âmbito do programa externo, 
pagámos três.

O escândalo de corrupção no Brasil continua a encher páginas de jornais. A popularidade de Dilma nas sondagens está em queda,
nota o El Pais, citando uma sondagem da Folha de São Paulo, segundo a qual a Presidente tem níveis de rejeição de 65%.

As ações na Bolsa de Xangai tiveram ontem a maior queda num só dia desde 2008. Crescem os receios de que o período de forte crescimento na bolsa chinesa, que dura há um ano, tenha terminado,
noticia o Financial Times.

Desporto: o angolano Álvaro Sobrinho quer ser acionista maioritário da SAD do Leixões,
revela o Jornal de Notícias.

Os ex-dirigentes do Sporting Godinho Lopes, Luís Duque, Nobre Guedes e Carlos Freitas foram absolvidos nos processos de renovação de Izmailov e de contratações de Jéffren e Alberto Rodríguez. O Tribunal da Comarca de Lisboa
declara-se "incompetente" para analisar processo.

(Na minha opinião, é melhor nem falar do novo equipamento do FC Porto.
E na sua?)

Vendas:
a da TAP. A providência cautelar que pretendia travar a privatização foi indeferida pelo tribunal. A privatização da empresa avança.

Vendas: a da Fidelidade e da Luz Saúde (e talvez Novo Banco e outras). O “show” do presidente da Fosun ontem em  vários jornais foi notado e comentado. Em “o governo mais chinês da Europa”, o
Nicolau Santos salientou que, numa viagem de jornalistas portugueses a Xangai, Guo Guangchang elogiou a disponibilidade portuguesa para o investimento chinês. Aqui têm sido recebidos “muito, muito bem, sem qualquer reserva política ou estratégica”, escreve o Nicolau, que com a sua ironia fina e cortante como uma folha de papel recomenda aos leitores que coloquem os filhos nas escolas de mandarim. Já no Jornal de Notícias, Mariana Mortágua escreve: “Que toquem as trompetas e se alegrem as cortes, a estratégia resultou. Portugal entrou no mapa! É a loja dos 300 da Europa”.

A consultora Saer diz que a pressão de Banco de Portugal e do Governo sobre o GES levou à queda do BES. O livro, que resulta de uma encomenda de Ricardo Salgado na preparação da sua defesa, foi
apresentado ontem ao fim do dia em Lisboa. A notícia está no DN.

Outro livro, o de Miguel Relvas,
contém revelações que continuam a fazer notícia. No Negócios: o FMI queria colocar portagens à entrada das cidades.

Os agentes de execução vão poder cobrar dívidas ao Estado, diz
o Negócios em manchete.

Jorge Sampaio é a personalidade masculina escolhida para receber o Prémio Nelson Mandela, atribuído este ano pela primeira vez
pelas Nações Unidas. Helena Ndume, uma oftalmologista da Namíbia, é a laureada feminina.

Quase metade da população do Sudão do Sul, o país mais recente do mundo, está em risco de fome, noticia o New York Times,
num artigo com um título tão sugestivo quanto sinistro:  “Já não há mais país”.

É uma certeza científica: as crianças em condições de pobreza têm o cérebro 6% mais pequeno do que as restantes.
A jornalista Luciana Leiderfarb explica no Expresso . Já viu um padre a dar toques de futebol e a levantar uma bola num “cabrito”, com os calcanhares? O padre António Pereira, primeiro sacerdote a jogar futebol federado em Portugal, faz mais do que isso: é o novo presidente do Fátima e tem um plano para salvar o clube da ruína. 
“Houve acontecimentos inesperados, batalhas sobrenaturais, sacrifícios impiedosos, houve gente a sofrer e a sobreviver, personagens a matar e outras que ninguém queria mortas a morrer”, escreve a jornalista Helena Bento em “ Vergonha! Vergonha! Vergonha!”, sobre a quinta séria da “Guerra dos Tronos”, que acabou há uma semana. A análise a uma cena “que ficou para a história da série”. E das séries.

Taylor Swift pôs a Apple na ordem, explica-nos Pedro Miguel Oliveira,
diretor da Exame Informática. Ou como uma estrela pop pode forçar uma multinacional a mudar de política nos pagamentos a autores de música.

“Quando um colega morre há algo que nos arrepia”. Quem morreu foi David Clifford, repórter fotográfico, ex-editor de fotografia do "Público", amante da imagem. Fotografias publicadas no Expresso
aqui. E no Público aqui. Imagens e um silêncio que em muitos deixa.

FRASES 
Há um equívoco na crise grega: a ideia de que o Syriza só quer acabar com a austeridade. Antes fosse assim. O seu radicalismo e "linhas vermelhas" têm muito mais a ver com o mito da ‘luta de classes’.José Manuel Fernandes, no Observador.

Isabel dos Santos nunca foi empresária. É apenas fiel depositária do pecúlio que resulta do assalto da elite político-militar aos recursos do seu próprio país”. Daniel Oliveira,
no Expresso. 

Não levei em conta que as elites europeias estariam dispostas a impor um sofrimento generalizado, em nome da permanência na união monetária”, escreveu Paul Krugman, aqui
citado no Negócios, revisitando as suas próprias previsões. O Nobel admite que “ sobrestimou o risco de rutura na zona euro”.

O QUE EU ANDO A LER 
Há 13 anos, uma aldeia mudou de geografia. Foi deslocada, para que o local antigo fosse submerso pelas águas do Guadiana e se enchesse a barragem do Alqueva. E agora? Agora “os coelhos morreram e os próprios habitantes da Luz sentem-se uma espécie em vias de extinção”. “ A Aldeia da Luz não mora aqui” é uma excelente reportagem multimédia da Rádio Renascença, de Dina Soares e Joana Bougard. Para ver, ler e ouvir. Na CNN, pode ver um conjunto raro de fotografias a cores da China de Mao.

Foi em “Franny e Zooey” que conheci o poema haiku que dá o título ao Expresso Curto de hoje. A obra (que, na verdade, são duas obras) é de J.D. Salinger, autor do seminal “Catcher in the Rye”, editado em Portugal pela Quetzal sob o título “À Espera no Centeio”. “Franny e Zooey” não é tão genial, lê-se em duas golfadas, é sobre a natureza humana e a pulsão de inexistência de quem se sente vazio. Salinger não é propriamente o autor mais feliz do mundo.

Felizes são as festas e
hoje é noite rija no Porto. Manjerico, alho porro, sardinhas assadas e bailaricos no São João.

Felizes são muitas cartas de amor e hoje o Cirilo João Vieira publicará um bilhete de amor – cheio de erros ortográficos. Erros como este: até amanhã, terá o caro leitor saudades nossas ou saudades de nós? Perceba às 18 horas do que estamos a falar.

Tenha um excelente dia! 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Grécia Escapa. Por Hoje

Grécia-Não é hoje. Quero dizer, não é hoje o Dia D para a Grécia. D, obviamente, de despedida ou de despejo. Ou de desilusão.

A reunião do Eurogrupo com todos os ministros das Finanças que
 tem lugar hoje no Luxemburgo não é o último dia disponível para ser encontrado um acordo que resolva o impasse que durante os últimos meses se tem verificado em torno da brutal dívida grega. Essa linha imaginária, como muitas outras que foram sendo traçada ao longo das últimas semanas é apenas uma linha imaginária, como já havia sido notado na edição de ontem do Expresso. Até porque as verdadeiras decisões serão tomadas ao mais alto nível. E Merkel, ou Tsipras, Juncker ou Draghi, não estarão lá.

O verdadeiro deadline acontecerá quando
a Grécia ficar sem dinheiro. O fim do programa de resgate está marcado para 30 de junho. É essa a data limite para que um acordo possa ser alcançado e, já agora, ratificado pelos parlamentos de vários países. Se nenhuma solução for encontrada até aí, então a Grécia não pagará as tranches de 1,6 mil milhões de dólares que deve ao FMI e que adiou para o final deste mês. O negociador do lado da Grécia, Tsakalotos, já anunciou que o seu país não conseguirá pagar esse montante. E assim sendo não pagará certamente os 3,6 mil milhões de euros que deve ao Banco Central Europeu no dia 20 de Julho.

Só então, a ajuda do BCE aos bancos gregos, através do programa ELA, terá de cessar devido a incumprimento, sendo declarada bancarrota. Por isso vale a pena ler o Financial Times que descreve em pormenor este calvário com o desenho do
calendário da Grécia desde hoje até à hora da verdade. Mas até lá ainda será possível sonhar com o miraculoso acordo que entregará à Grécia mais 7,6 mil milhões de euros. Deve o caro leitor ficar descansado? Nem por isso.

Nem mesmo sabendo que as sondagens mostram que
84% dos gregos pretendem ficar no zona euro, a corrida aos bancos já começou e há quem diga, como o analista Yannis Koutsoumitis, que só no dia de ontem voaram mil milhões. Ou seja, há pressão em todos os lados, e o primeiro-ministro Alexis Tsipras, que hoje estará reunido com Vladimir Putin, continua a incendiar os ânimos. Fala em “pilhagem” e assume a responsabilidade de ser ele a dar “o grande não”.

Varoufakis também
não acredita que alguma coisa se resolva neste Eurogrupo. E Schaüble voltou a garantir que “a bola está do lado da Grécia”. Mais interessante, e inesperado, é o artigo publicado na segunda-feira, em que Olivier Blanchard, do FMI, se mostrou bastante mais pragmático: a solução exige decisões difíceis quer do lado dos credores quer do governo grego. Uns têm que prescindir da dívida e os outros vão ter que aceitar mais medidas de austeridade. Afinal de contas, alguém pediu o dinheiro emprestado e houve outro alguém que o emprestou.

O primeiro-ministro Passos Coelho também se pronunciou e tentou sossegar os portugueses:
“não vamos ser apanhados desprevenidos”.

O dia de ontem começou com a notícia de vários bens arrestados no universo dos administradores do Banco Espírito Santo. Hoje já se sabe que Ricardo Salgado, Morais Pires, José Manuel Espírito Santo e Isabel Almeida viram o seu património ser arrolado de forma preventiva. O mesmo havia sucedido em Maio. Mas desta vez, além de bens imobiliários, como a Quinta em Sobral de Monte Agraço de Morais Pires, foram colocados no rol joias, obras de arte, carros, barcos e outros bens móveis. O Expresso explica tudo e acrescenta que a acção pretende
ressarcir os eventuais lesados na aquisição de obrigações do BES e em papel comercial do Grupo Espírito Santo. Recorde-se que no passado mês de Abril, a família Espírito Santo levou a leilão, na Christie’s de Londres, várias peças de arte que renderam cerca de 1,5 milhões de euros.

O Europeu de Sub-21 começou ontem mas Portugal estreia-se hoje perante a Inglaterra (19h45, RTP1). A equipa treinada por Rui Jorge já não perde há muitos jogos mas tem pela frente outro onze fortíssimo, do qual fazem parte vários jogadores que atuam na Premier League. Depois dos bons sinais deixados no Mundial de Sub-20, esta é a prova dos nove para sabermos se há realmente uma nova geração de ouro
. Ou uma geração de milhões, como diz Mariana Cabral no Expresso. William Carvalho (o jogador mais valioso do torneio), Bernardo Silva, João Cancelo, Rafa, João Mário, Ruben Neves, Carlos Mané e Iuri Medeiros são algumas das estrelas que brilham na nossa seleção.
OUTRAS NOTÍCIAS
Base das Lajes pode acolher espiões norte-americanos. O “Público” noticia em manchete, logo depois do passo atrás dado pela administração Obama quanto à saída da base açoriana, que afinal os americanos podem ficar. O Senado aprovou a possibilidade de ser instalado nas Lajes um Centro Conjunto de Análise de Informações. O projecto ainda carece de aprovação de Obama mas o governo português “manifestou abertura”.

Tiroteio em igreja na Carolina do Sul. Anda fugido o autor dos disparos que esta madrugada  (cerca das 9 da noite, hora local) assassinou nove pessoas  em 
Charleston, na Carolina do Sul numa histórica igreja daquela cidade. O autor, foi dito pela polícia, é um homem, branco. Os mortos eram negros que aquela hora frequentavam o culto de uma congregação baptista.

Relação confirma prisão de Sócrates. Mas só depois de três reuniões e da intervenção do próprio presidente da 3ª secção do Tribunal da Relação de Lisboa. O “Diário de Notícias” adianta ainda, também em manchete, que a decisão foi tomada por maioria mas que já há um juiz, ao contrário do que sucedeu até agora, contra a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro. Duas outras juízas terão feito a diferença na votação final.

As ambições da Uber sofreram ontem um rude golpe quando um tribunal da Califórnia considerou que os motoristas que trabalham com a novel empresa são seus empregados e não meros prestadores de serviços. Outras empresas que assentam a sua oferta nas comunicações por telemóvel como a Lyft (concorrente da Uber) ou a Homejoy (serviços de limpeza) podem também vir a ser prejudicadas por esta
deliberação da Comissão Laboral da Califórnia. A Uber diz que a decisão se reporta a um colaborador específico e não a todos os motoristas. Se assim não for, o contexto fiscal destas novas empresas vê-se profundamente alterado colocando em risco o seu modelo de negócio.

Dinamarca vai às urnas. A primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt, a primeira da história, vai tentar manter o Partido Social Democrata no governo. 
O Guardian explica o que é preciso fazer para conquistar a maioria no Borgen ("o castelo"), nome por que é conhecido o Parlamento dinamarquês.
FRASES
“Se algum candidato me tivesse pedido autorização para usar alguma das minhas canções eu teria dito não”. Neil Young, depois do anúncio da candidatura de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América, durante o qual foi tocado o hino de Neil Young “Rockin’ in the Free World”

“Podes algemar-me mas vais f**** o Chile”. Arturo Vidal, centro-campista da Juventus e da selecção chilena, dirigindo-se a um polícia depois de ter destruído o seu Ferrari num acidente de viação,  terça-feira, em Santiago. Vidal é até agora o melhor goleador do torneio que está a decorrer, precisamente, no Chile

“A ausência de razão e fundamento nas acusações dirigidas a esta instituição e ao grupo mutualista a que pertence exigem a mensagem que lhes dirigimos”. Tomás Correia, presidente do Montepio, numa carta enviada a todos os clientes do banco em que nega qualquer semelhança entre a instituição que lidera e o caso Espírito Santo

“Sampaio da Nóvoa será o pior Presidente da República que um governo pode ter”. Mira Amaral, ao anunciar o seu apoio a Henrique Neto, outro dos candidatos a PR, que segundo ele se “doutorou na escola da vida”
O QUE EU ANDO A VER
A mais recente edição da Taschen, agora distribuída em Portugal pela Livraria Arquivo, que é dedicada com esmero e requinte aos Rolling Stones. E digo que é esmerada pois trata-se, provavelmente, da maior obra alguma vez dedicada ao grupo de Mick Jagger e Keith Rihards, na qual se envolveu o próprio Benedikt Taschen, o número um da editora alemã, e a própria banda. E é requintada porque como é costume nos livros da Taschen, trata-se de uma edição que é sobretudo para ver.

E se este livro tem que se veja! São mais de 500 páginas em grande formato, próximo de um disco de 12 polegadas, pejadas de fotografias que percorrem toda a carreira dos Stones produzidas por alguns dos mais consagrados fotógrafos: David La Chapelle, Mark Seliger, Anton Corbijn, Gered Mankowitz, Annie Leibovitz, Helmut Newton ou David Bailey são apenas alguns dos nomes convocados a “escrever” a mais completa história visual dos Rolling Stones alguma vez publicada.

Também há muito para ler: todas as imagens são acompanhadas por legendas que são muito mais que legendas. Além de fornecerem os devidos créditos, contextualizam aqueles instantes em que, quer se queira quer não, foi sendo desenhada a história do rock’n’roll. O mega-livro ainda inclui, além de uma útil discografia, um prefácio escrito por Bill Clinton.

Já sabíamos que o ex-Presidente dos EUA era fã como foi possível comprovar no verão passado quando, em Lisboa, assistiu ao concerto dos Rolling Stones no Rock in Rio. O que não se suspeitava era que os Rolling Stones, que nos últimos anos têm sido mais do que discretos no que à política respeita, assumissem esta conotação e logo quando se preparam novas eleições. Não vale a pena voltar a dizer-se que eles hoje são uma instituição, e logo daquelas que fazem da antiguidade um posto. Mas é precisamente pelo facto de serem uma instituição (aquela que transporta a bandeira do rock’n’roll), que têm evitado qualquer ligação política. Ao contrário, por exemplo, dos eternamente engajados U2.

Como diria um político português quase tão famoso, “a política deles é o rock” e até poderiam existir razões para pensar o contrário caso as palavras de Clinton não fossem de mera circunstância. A bem ver, o resto, ou o que realmente importa, está nas outras 500 páginas.

Europa Alcançou Nível Histórico de Paz e Islândia é o Melhor País, Mostra Estudo

Europa-A Europa alcançou níveis históricos de paz e as regiões do Oriente Médio e Norte da África são as mais violenta do mundo, segundo o Índice Global de Paz 2015 divulgado hoje (17). Portugal está em 11º lugar.
 
De acordo com o Índice Global de Paz (IGP), elaborado pelo Instituto para Economia e Paz sediado em Sydney (Austrália), a Islândia é o país mais pacífico do mundo, ficando a Síria em último lugar na lista de 162 Estados, que têm 99,6% da população mundial.
 
“Quatro das nove regiões geográficas registraram no ano passado melhoria em termos de paz e as  cinco regiões restantes tornaram-se menos pacíficas.  As  “mudanças mais substanciais” foram observadas no Oriente Médio e Norte de África, diz o relatório.
 
Os indicadores utilizados para elaborar a lista dos países incluem segurança pública, violência policial, taxa de homicídios, justiça social, terrorismo, participação em conflitos, grau de militarização e gastos com armas.
 
Os dez países mais pacíficos do mundo são, depois da Islândia, a Dinamarca, Áustria, Nova Zelândia, Suíça, Finlândia, o Canadá, Japão, a Austrália e a República Tcheca.
 
Portugal aparece a seguir, na 11ª posição, seguido da Irlanda, enquanto a Alemanha surge em 16º e a Espanha em 21º. Os últimos da lista são a Coreia do Sul (153), o Paquistão, a República Democrática do Congo, o Sudão, a Somália, República Centro-Africana, o Sudão do Sul, Afeganistão e Iraque (161), logo atrás da Síria.
 
O IGP indica ainda que a Líbia foi o país que mais desceu na classificação, caiu 13 lugares para a posição 149, enquanto a Guiné-Bissau foi o que mais subiu, 24 posições, aparecendo agora em 120º lugar.
 
Segundo o estudo, no ano passado aumentou significativamente a intensidade dos conflitos armados, tendo-se registrado mais de 180 mil mortos, diante de 49 mil em 2010. Houve ainda mais 9% de mortes (cerca de 20 mil) devido ao terrorismo.
 
A atividade terrorista tem-se propagado desde o Oriente Médio e o  Norte de África para a África Subsaariana, com maior aumento na Nigéria, em Camarões e no Níger, área de atuação do grupo radical islâmico Boko Haram.
 
O relatório assinala ainda que quase 1% da população mundial, cerca de 50 milhões de pessoas, está refugiada ou integra o grupo de deslocados internos, o nível mais alto desde 1945, no final da Segunda Guerra Mundial.
 
O impacto da violência na economia global foi US$ 14,3 bilhões, (12,6 bilhões de euros), o equivalente a 13,4 % do Produto Interno Bruto (PIB) mundial o ano passado, o mesmo das economias combinadas do Brasil, Canadá, da França, Alemanha, Espanha e do Reino Unido, indica o estudo.
 
O valor inclui gastos militares de US$ 3 bilhões (2,6 bilhões de euros); de segurança interna de US$ 1,3 bilhão  (1,1 bilhão de euros), as perdas por crime e violência interpessoal de US$ 2 bilhões (1,7 bilhão de euros); e perdas devido a conflitos de US$ 817 bilhões (724 bilhões de euros).