sexta-feira, 13 de março de 2015

Grécia e Portugal: Natureza e Vida Selvagem

Resultado de imagem para Grécia e Portugal
Grécia e Portugal-Ontem foi conhecida a notícia da morte de um lince, encontrado já cadáver, domingo, na região de Mértola. Era um dos exemplares libertados há menos de um mês naquela região, ao abrigo de um plano de proteção da espécie. O animal havia sido criado em cativeiro, na localidade de Silves, mas não resistiu ao embate com a vida lá fora. Sobreviveu à mãe natureza desde 25 de fevereiro. Menos de um mês, portanto.

Hoje, Alexis Tsipras irá encontrar-se com
Jean Claude Juncker. A Grécia quer discutir a melhor forma “de utilizar os fundos europeus para combater a crise humanitária”. Mas na Europa fala-se em fazer “um ponto da situação”.  Em Bruxelas, nada de novo senão manobras dilatórias: nunca se ouviu Tsipras (ou Varoufakis) prometer ganhar a confiança dos credores de maneira a regressar aos mercados. Nem sequer na implementação das medidas preconizadas no programa de resgate. Mas a troika, que já não é troika agora chama-se “Grupo de Bruxelas”, também não cortará as vazas. Mais 600 milhões para o programa de financiamento dos bancos gregos assim o demonstram. Mas, conseguirá a Grécia resistir ao embate com a vida lá fora?

Isto é, para lá da propaganda. A esse respeito, voltaram a ecoar os protestos quanto às indemnizações do tempo da II Guerra Mundial. Uma espécie de jogo Grécia - Alemanha do Eurogrupo mas com 70 anos de atraso. No
Expresso Diário, Ricardo Costa sublinhou o pendor nacionalista do argumento grego, naturalmente anti-germânico, mas não se pode esquecer que essa pode ser a única forma de uma Grécia falida reclamar a bondade da unidade europeia. O certo é que a tensão regressou ao ponto de há semanas atrás, quando a saída da Grécia estava na ordem do dia. A quem aproveita a situação?

Dê lá para onde der, os gregos parecem divertir-se. Varoufakis superstar voltou a brilhar, desta vez numa produção fotográfica para a revista francesa “Paris Match”. Vinho branco e socialismo no seu apartamento ateniense:
“eu desprezo o sistema do estrelato. É sempre o corolário de um défice democrático e de valores”, disse o ministro das Finanças grego. Há vida na Acrópole.

Em Portugal, adotando uma diretiva da União Europeia, foi ontem aprovado em Conselho de Ministros a possibilidade de ser
constituída uma lista de agressores sexuais condenados na justiça. Apesar de não existir qualquer obrigatoriedade na sua construção, essa base de dados incluirá o nome completo, a morada, a data de nascimento, a filiação, a nacionalidade e os números de identificação civil, passaporte, contribuinte, segurança social e registo criminal da pessoa condenada. A proposta do Ministério Público recuou contudo na possibilidade de todos os pais de menores de 16 anos poderem consultar a listagem. Além das polícias, magistrados e Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGSP) os pais só poderão aceder aos dados depois de autorizados pela polícia e após comprovarem suspeitas concretas.

Os condenados por abusos sexuais a menores permanecerão, caso a pena seja inferior a um ano de prisão, durante cinco anos na lista. Caso a condenação seja superior a dez anos, esse período de tempo pode ir até vinte anos. A Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, já havia demonstrado o seu desagrado por esta legislação em entrevista ao Expresso: "Só admito a possibilidade de as polícias terem acesso à identificação, e em casos de especial gravidade ou de reincidência".

OUTRAS NOTÍCIAS
Putin não é visto em público desde 5 de março. O Presidente da Rússia, 62 anos, cancelou recentemente uma visita ao Cazaquistão, levantando suspeitas sobre o seu estado de saúde. Depois de ter debelado com agilidade a crise criada a partir do assassínio do oposicionista Boris Nemtsov, Putin apareceu em público com Matteo Renzi, o primeiro-ministro de Itália, para nunca mais ser visto. O Kremlin tem utilizado fotografias antigas, como no passado dia 8, para demonstrar que tudo vai bem. As imagens, contudo, haviam sido captadas dias antes.

A nova administração da RTP irá anunciar hoje a sua equipa directores, depois de já terem sido destituídos dos seus cargos todos os anteriores. Gonçalo Reis e Nuno Artur Silva apresentarão
o novo organograma ao Conselho Geral Independente ainda esta manhã, bem como os nomes que irão dirigir as várias áreas. Porém, estes só terão de ser validados pela ERC. A direção de informação da RTP, depois de conhecidas várias recusas, ainda é o fruto mais apetecido.

A Fórmula 1 recomeça este fim de semana com o Grande Prémio d Austrália. Nas
sessões de treinos já realizadas, Nico Rosberg foi o mais rápido, seguido do seu colega da Mercedes Lewis Hamilton e da estrela em ascensão Valtteri Botti. Sebastian Vettel, quatro vezes campeão do mundo, fez o quarto melhor tempo até agora. Este ano, a novidade do circo é outra: na grelha de partida estará Max Verstappen, o mais novo piloto de sempre. O belga, filho do também piloto Jos Verstappen, irá estrear-se aos 17 anos na scuderia Toro Rosso.

A prestigiada editora alemã Taschen volta a ter representação em Portugal. Depois de um hiato de quase dois anos,
a Livraria Arquivo, de Leiria, voltará a disponibilizar o catálogo daquela livreira alemã. O anúncio foi feito ontem em Lisboa, no Mini Bar do Teatro de São Luiz, com a apresentação do livro “Modern Cuisine at Home” por parte do chef José Avillez e de Paulina Mata. Na forja estão já livros sobre os Rolling Stones, telescópio Hubble, os calendários Pirelli, David Bowie e Mario Testino. Será igualmente relançado o volume “Genesis”, do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, nas véspera da abertura da sua exposição em Lisboa, na Cordoaria Nacional, a 8 de abril.

FRASES
Eles dormem bem pois sabem que não copiaram ninguém” - Howard King, advogado de Pharrell Williams e Robin Thicke

Cuidamos mais dos nossos smartphones do que de nós próprios”- Arianna Huffington

Assumi-me como gay aos 11 anos…”, Sam Smith

O QUE EU ANDO A LER
Chegou às livrarias uma biografia de António Ferro que, assumindo pretender desmascarar o propagandista de Salazar não deixa de ser uma brilhante revisão da sua obra. Sobretudo por tornar tão nítida a importância de um na construção da imagem do outro. Como na melhor propaganda, aqui também há tese, antítese e síntese. Ainda que “António Ferro: O Inventor do Salazarismo” (Orlando Raimundo, 2015, 392 páginas, Dom Quixote) não seja generoso sobre a vida pessoal do biografado, apesar das inúmeras insinuações, torna claro que Salazar estaria provavelmente nos antípodas de Ferro. O fascismo de Ferro, inspirado em Gabriele D’Annunzio, pouco estaria relacionado com o provincianismo de Salazar. E o seu futurismo, mesmo que adolescente, não era devoto do Deus, Pátria e Família. Mas é esta contradição entre ambos que daria origem a uma gigantesca campanha que tudo abocanhou: do teatro à televisão, das artes ao entretenimento, do folclore à gastronomia, das escolas aos transportes, do comércio aos grandes eventos. Ferro, que participou na revista Orpheu com Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, entrevistou Jean Cocteau e trouxe a Portugal T.S. Elliot e Luigi Pirandello, chamou Almada Negreiros, Bernardo Marques, Leitão de Barros e Cotinelli Telmo e muitos outros (até Vieira da Silva participou em concursos de montras no Chiado) para (re)inventar a imagem de um Portugal que afinal nunca existiu. Morreu só, longe da família e do ditador.

quinta-feira, 5 de março de 2015

UTAO Estima que Défice Tenha Ficado em 3,7% no ano Passado

Resultado de imagem para maria albuquerque
Portugal-O Governo terá conseguido cumprir a meta do défice em contabilidade nacional que traçou para 2014. Os técnicos do Parlamento estimam que o défice ajustado de operações extraordinárias terá ficado em 3,7% do PIB, igual à meta traçada pelo Executivo e bem abaixo dos 5,1% registados um ano antes.
 
Os cálculos fazem parte da análise da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) às contas públicas de Janeiro, enviada aos deputados, a que o Económico teve acesso. Os técnicos da Assembleia estimam que o défice das Administrações Públicas em contabilidade nacional tenha ficado em 4,7% do PIB, abaixo dos 4,9% observados em 2013 e uma décima inferior à meta traçada pelo Governo.
 
No entanto, se corrigido de medidas extraordinárias, o défice fica em 3,7% do PIB. Este é o ponto de partida para o défice deste ano. A diferença face aos 4,7% (em contabilidade nacional registados em 2014) resulta principalmente do financiamento e assunção de dívida da Carris e da STCP, realizado no segundo trimestre do ano, e que vale 0,7% do PIB.
 
O défice em contabilidade nacional - que mede os compromissos assumidos, a perspectiva que interessa a Bruxelas - será reportado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) ao Eurostat no final de Março.
 
A estimativa da UTAO é a de um défice a variar entre 4,5% e 4,9% - ponto central de 4,7% -, o que sem medidas extraordinárias atira para um intervalo entre 3,5% e 3,9% (ponto médio de 3,7%).
 
Na nota da UTAO, os técnicos do Parlamento enunciam ainda os riscos em torno das estimativas. O resultado em contabilidade nacional das contas das empresas públicas ainda não está disponível, o que pode agravar o défice, admitem os técnicos. Por outro lado, parte da receita fiscal arrecadada em Fevereiro - e que pertence ao exercício de 2014 - pode ajudar a baixar o défice.

terça-feira, 3 de março de 2015

Uma Dívida e um Recorte de Jornal: "Tudo isto é Lamentável!"

Portugal-Se o ano político arranca assim, não é difícil imaginar como vai ser até às eleições de setembro/outubro. A guerra está declarada e as armas não vão baixar.

Nos últimos dias, a direita andava empolgada. António Costa meteu o pé na argola com a sua “chinesice”, o caso do perdão ao Benfica permitia fazer extrapolações para o que seria o socialista como PM, as sondagens mostravam um avanço da coligação e Passos Coelho já animava as hostes ao garantir que se ia bater por uma 
maioria absoluta. Seria tudo perfeito, não fosse o caso, grave, da falta de pagamentos de Passos à Segurança Social entre 1999 e 2004 denunciado pelo Público. A direita tremeu. E continua a tremer.

Na verdade as 
explicações dadas pelo PM de viva voz não vieram ajudar. Lançaram ainda mais confusão. A oposição agarrou-se com unhas e dentes ao “lapso” (como lhe chamou Marco António Costa) do líder do PSD. O PS veio dizer que não aceita as justificações, acusou o PM de “evasão contributiva” e levantou várias questões:

- O desconhecimento da lei não pode ser razão para o seu incumprimento.

- Nenhum português acredita que alguém que tenha sido deputado não soubesse que ao recebimento de uma remuneração corresponde uma obrigação de pagamento à Segurança Social.

- Se Passos não foi notificado é porque não estava inscrito na Segurança Social como trabalhador independente.

Os socialistas exigem que todos os dados da segurança social de Passos cheguem ao Parlamento e vai pedir que a
Comissão Parlamentar de Trabalho e Segurança Social envie uma carta ao PM a solicitar “todos os esclarecimentos.”

No contra-ataque, Carlos Sá Carneiro, um assessor de Passos Coelho, recuperando uma história antiga, 
publicou no seu Facebook um recorte do extinto Tal&Qual que noticiava que o líder do PS não pagou a contribuição autárquica, na altura em que era ministro da Justiça (1999-2002). O mesmo recorte foi partilhado pelo deputado do PSD, Carlos Abreu Amorim que escreveu: “Tudo isto é lamentável! Não é assim que se deve fazer política! Contudo, a velha máxima que ensina: 'quem tem telhados de vidro deve ser prudente a atirar pedras' tem aqui plena aplicação”.

resposta de António Costa não se fez esperar. Ainda durante a noite, o líder do PS enviou um desmentido à notícia agora ressuscitada pelos homens de Passos: "Dirigentes do PSD reeditaram hoje uma 'notícia' do extinto semanário Tal & Qual, publicada no ano 2000 (ou 2001). O desmentido que então fiz mantém plena atualidade: não devo nem devi qualquer quantia relativa à sisa ou à contribuição autárquica."

O Público escreve esta manhã que a 
Segurança Social só contou divída de Passos posterior a 2002. Se quisesse pagar toda a dívida prescrita, Passos Coelho teria pago 5016 euros e não 2880. SS não explica porque é que não contabilizou os valores do período 1999-2002. E o Jornal de Negócios explica que as regras que Passos Coelho ignorava existem desde 1982. "Os descontos para a SS de trabalhadores independentes, são obrigatórios desde 1982. As circunstâncias do fim da isenção deveriam ter sido declaradas pelo PM em 1999." O jornal escreve ainda que ao contrário do que acontece no Fisco, as dívidas à Segurança Social só morrem se o devedor expressamente invocar a sua prescrição. Primeiro-ministro manteve-se como devedor à Segurança Social até este mês.

Entretanto, o Bastonário dos técnicos oficiais de contas (ex-deputado do PS) considerou que Passos Coelho beneficiou de tratamento diferenciado no caso das dívidas à Segurança Social e afirma que as declarações públicas do chefe de Governo sobre este assunto são "um desastre político". "O senhor primeiro-ministro, como máximo responsável da gestão do pais, dizer que desconhecia a lei é muito grave. Se desconhece esta lei, de certeza que desconhece outras leis, e isso deixa os contribuintes em situações muito complicadas."

Sobre esta polémica sugiro a opinião de Henrique Monteiro
“A Segurança Social de Passos é diferente da minha.”

Noutra frente, igualmente relevante, destaque para a resposta de Isabel dos Santos à OPA dos espanhóis do CaixaBank ao BPI. E que resposta. A empresária quer a fusão entre o BPI e o BCP, o que criaria um superbanco, o maior privado em Portugal, com uma quota de cerca de 30% do marcado português e uma capitalização bolsista de 6,5 mil milhões de euros. Nesta notícia, dada em primeira mão, pelo Expresso, da Elisabete Tavares e do João Vieira Pereira, percebem-se os objetivos da angolana e em que pé estão as conversas. Os espanhóis avisam que "o jogo ainda agora começou"A CMVM já pediu esclarecimentos è empresária. Aguardam-se respostas.

OUTRAS NOTÍCIAS
 
O tema Grécia continua a dar polémica. Agora foi com o ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos, que avançou com detalhes sobre um terceiro resgate a Atenas e que em cima da mesa estaria um montante entre "30 mil milhões e 50 mil milhões". Falou demais? Logo se verá. Para já o que se sabe é que o Eurogrupo não gostou e desmentiu o ministro.

Em entrevista à Reuters na Casa Branca, Barack Obama exigiu que o 
Irão se comprometa a parar durante pelo menos dez anos a sua actividade nuclear. Mas o Presidente norte-americano reconhece que que será difícil chegar a acordo. Isto numa altura em que sobe de tom a polémica sobre o discurso que o primeiro-ministro de Israel fará hoje no Congresso norte-americano a convite dos repúblicanos e sem pré-aviso à Administração Obama.

No El País destaque para a conferência de Mark Zuckerberg, em Barcelona (na Mobile World Capital). “Filas de hora e meia para entrar na sala e finalmente apareceu o criador do Facebook, com as suas calças e ganga e t-shirt característica,”. Zukerberg trazia no discurso o seu internet.org, um projeto que pretende ligar os dois terços do mundo que não têm acesso à Internet. “ A nossa prioridade é encontrar novas formas de impulso à Indústria para que liguem as pessoas e não os aparelhos. O que é preciso é conectar as pessoas”, disse. Mas nem tudo foi pacífico, junto às portas da conferência, três mulheres protestavam contra o machismo na rede. Fica o título do El Mundo"Peitos ao ar contra o 'machismo' no Facebook".

A fortuna de Zuckerberg também é notícia. O homem do Facebook aparece no ranking da revista Forbes em 16º lugar. Uma lista que, pelo segundo ano consecutivo, põe Bill Gates como o mais rico do Mundo. O fundador da Microsoft bate uma vez mais o mexicano Carlos Slim. A fortuna de Gates vale agora 79,2 mil milhões de dólares. Por cá, Américo Amorim, Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos ocupam o pódio nacional mas desceram centenas de posições face aos resultados de 2014 (as suas fortunas encolheram 2,1 mil milhões de euros). Ainda assim continuam a integrar o clube de 1826 multimilionários.
 
A Quartz conta-nos que a Pepsi e a Coca-Cola vão fechar fábricas na Rússia. Para a Pepsi a notícia é pior já que o país de Putin é, depois dos EUA, o segundo maior mercado para a companhia. Os dois encerramentos vão deixar cerca de 500 trabalhadores no desemprego. 
FRASES
 
"Não existe da minha parte nenhuma intenção de não cumprir com essas obrigações, estava convencido que elas eram, nessa época, de opção e que, portanto, eu não tinha esses anos de carreira contributiva". Passos Coelho sobre a polémica falta de pagamentos à Segurança Social.

"Toda a conceção que o primeiro-ministro revelou sobre tudo o que são obrigações perante a segurança social e que se pode extrapolar para as obrigações fiscais é altamente preocupante e perplexizante", Miguel Sousa Tavares, na SIC e 
sobre o mesmo assunto.

“Estamos numa fase em que tudo é possível. Aquilo que eu sinto é um grande privilégio e sinto-me satisfeito porque reconheço em mim capacidade para desempenhar quaisquer outras funções no futebol, mas ainda ninguém falou comigo sobre isso”, Pedro Proença que não fecha a porta à Liga, à Federação, à UEFA ou à FIFA.

O QUE ANDO A LER
 
Deixem-me voltar ao fim de semana porque foi de homenagem a Boris Nemtsov, numa altura em que continua por esclarecer o assassinato do líder da oposição, e antigo vice-primeiro-ministro de Yeltsin, abatido a tiro a poucos metros do Kremlin (vídeo). Nemstov preparava-se para apresentar um relatório sobre a presença de soldados russos no leste da Ucrânia.

A The Economist dedica-lhe
este interessante artigo: “Mártir Liberal” (Liberal Martyr). Começa assim: “’Nemtsov é um traidor da Nação! Executem o traidor!’ escreveu um comentador numa petição que corria na internet para lhe retirar o mandato de dirigente local na cidade de Yaroslavl. No seu Facebook, Nemstov não demorou a responder:’ Não percebo uma coisa. Estão a recolher assinaturas para correrem comigo (to strip me of my mandate) ou para me executarem’”

A resposta veio na noite de sexta-feira. Quatro balas disparadas de um carro, junto ao Kremlin, num dos pontos mais vigiados da cidade de Moscovo, o que também nos diz muito sobre como está a Rússia. O autor do artigo questiona: “com tanta segurança, é estranho que os assassinos tenham escolhido precisamente aquele local, a não ser que tivessem alguma razão para acreditarem que facilmente escapariam. Os homicidas nem sequer taparam as caras. E nada fizeram à mulher que seguia com Nemstov.”

Na primeira reação, Serguei Lavrov, o MNE russo, diz que o aproveitamento político do assassinato do líder da oposição é uma “blasfémia”. Mas
aqui e também aqui se explica como o Kremlin beneficia com esta morte: “Não há nenhuma dúvida que Nemstov ganharia a Putin num frente-a-frente. Sem surpresa, esse tipo de debates nunca aconteceram”. Num outro olhar, a New Yorker, num excelente texto de Masha Lipmann sobre o assassinato de Nemtsov, diz que se trata do “crime mais puramente politico na Rússia de Putin.”

Sobre o mesmo assunto leia ainda esta entrevista de Nemstov, à Newsweek, onde o opositor de Putin acusava o presidente russo de usar propaganda nazi para manipular o povo. A revista escreve que “o assassinato é provavelmente o resultado de uma caça às bruxas levada a cabo pelos media russos e líderes do Kremlin. Na manifestação em homenagem às vítimas de Maidan (
a BBC conta-lhe a história não revelada de um massacre), há duas semanas, milícias pró-Putin, que vestiam uniformes paramilitares, avisaram que recorreriam ao sangue para eliminar quaisquer protestos antigovernamentais. Começaram com Nemstov”.
“Opositores de Kremlin assassinados” é bastante revelador. De 2003 até agora, jornalistas, advogados, políticos, antigos espiões, ativistas e homens de negócios foram, na maioria, abatidos a tiro. Há um caso de envenenamento e outro de privação de cuidados de saúde na prisão. Impressionante.

Chegados aqui, deixo-vos
“O fim das ilusões” da jornalista do Público, Teresa de Sousa, que enquadra o sucedido nas tensas relações entre a Rússia e a Europa. De um lado “a Rússia antiocidental e nacionalista” e do outro “os aliados europeus sabem que a ameaça russa não vai desaparecer. Uma democracia a funcionar bem é tudo aquilo que Putin não quer na sua zona de influência”

segunda-feira, 2 de março de 2015

Dívidas Prescritas Podem Ser Pagas?


Portugal-A polémica que envolve o primeiro-ministro pelo não pagamento, durante cinco anos, de contribuições à Segurança Social, levanta uma questão: é possível pagar dívidas prescritas? A dúvida foi ontem lançada por Marcelo Rebelo de Sousa na TVI.
 
Para o advogado Pedro Furtado Martins, a resposta é positiva. "As contribuições prescritas podem ser pagas", diz o especialista da CS Associados. Não é uma acção comum, mas Passos Coelho não é o primeiro a pagar uma dívida que já prescreveu.
 
Mas este não é um "procedimento standard" ou automático, indica Paulo Pedroso, ministro do Trabalho e da Solidariedade entre 1999 e 2002, altura em que, de acordo com o jornal Público, Passos Coelho criou dívida à Segurança Social. Qual é então "o procedimento seguido?", questiona.

Para Paulo Pedroso está em causa uma situação de "evasão contributiva", recordando que a troca de informação entre Fisco e Segurança Social só começou em 2004, permitindo apanhar um conjunto de situações irregulares.
 
Passos Coelho garantiu esta segunda-feira que "não tinha consciência dessa obrigação" e acrescentou nunca ter sido notificado pelos serviços, embora tenha admitido que a dívida já foi paga. O que também levanta outras questões: por que é que Passos Coelho nunca foi notificado? "Foi lapso dos serviços" ou erro do contribuinte?, questiona Paulo Pedroso. Além disso, falta ainda saber por que é que a dívida do primeiro-ministro nunca foi "participada para execução contributiva", conclui o antigo ministro socialista.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Grécia Continua Dentro e Sócrates Também

Resultado de imagem para grécia
Grécia-De um lado o juiz Carlos Alexandre. Do outro o ministro das finanças alemão Wolfgang Schäuble. Haverá alguma coisa que os aproxime? Há. O quê? O dia 24 de fevereiro de 2015. Porquê? Porque neste dia foram tomadas decisões que afetam o futuro próximo de Sócrates e da Grécia. O ex-primeiro-ministro ficou a saber que continua em Évora. E a Grécia que se mantém no Euro. Agora a pergunta é para ambos: até quando?

No caso da Grécia,
o editor de Economia da BBC escreve que Varoufakis, com as suas propostas, compra estabilidade económica e financeira mas arrisca, na frente interna, agitação política. Aliás o título deste artigo diz muito sobre a nova posição grega: “Syriza dumps Marx for Blair. “Dumps” significa deitar fora.

Nas muitas leituras que estão a ser feitas sobre as medidas gregas há uma palavra comum: recuo. Sobretudo quando se comparam com as promessas do programa de Tsipras. Para perceber melhor o plano apresentado é obrigatório consultar esta análise comentada do coordenador de Economia do Expresso, João Silvestre.

Para já Atenas consegue tempo para respirar. Mas a troika (agora diz-se as instituições internacionais), pela voz do FMI e do BCE, avisa que terá de haver
mais concessões. A discussão sobre a saída da Grécia da zona Euro continua na agenda. O ex homem forte do BCE, Jean-Claude Trichet, lembra que o “Grexit” será tão perigoso agora como o era no auge da crise das dívidas.

Passemos para a prisão preventiva de Sócrates. Carlos Alexandre manteve a medida de coação mais grave para o ex-primeiro-ministro e para o empresário Carlos Santos Silva. Mas o motorista João Perna deixou a prisão domiciliária.

O jornal I escreve que o juiz “está confiante de que a Relação vai manter Sócrates na prisão”. E que há um “silêncio ruidoso” no PS que não quis comentar o prolongamento da medida de coação.

No Público pode ler-se que
“novos factos poderão colocar em causa recurso de Sócrates na Relação”. Com os documentos apreendidos na casa do ex-PM em Lisboa, após as primeiras visitas dos investigadores, os desembargadores poderão considerar que o teor do recurso pode estar ultrapassado.

Joana Marques Vidal, Procuradora Geral da República,
nesta entrevista à RR e ao Público, admite que magistrados com contactos mais próximos com alguns jornalistas possam ter cometido alguns deslizes que conduziram a violações do segredo de justiça. Na mesma entrevista, a PGR diz ainda que o “Ministério Público atua de acordo com a lei. Não há timings políticos”


OUTRAS NOTÍCIAS

Processos disciplinares para quem andou a espreitar o IRS de Passos Coelho. O Negócios escreve que a Autoridade Tributária já instaurou 27 processos a funcionários das Finanças que acederam ao cadastro fiscal do PM. Mas o sindicato antecipa que os casos possam chegar a uma centena.

Quase dois meses depois dos ataques em Paris, o
Charlie Hebdo, o semanário satírico francês, regressa hoje aos quiosques.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos denunciou que o DAESH (o autodenominado Estado Islâmico)
raptou pelo menos 90 cristãos na Síria. Mas ativistas sírios já falam em pelo menos 150. Entretanto a polícia britânica acredita que já estão na Síria as três raparigas inglesas que fugiram para se juntar à organização terrorista. As autoridades avançam que as jovens entraram pela Turquia há quatro ou cinco dias.

Do Reino Unido chega também a notícia do
envio de militares britânicos para a Ucrânia para aconselhamento e treino das tropas locais. No mesmo dia em que Cameron avisou para as consequências desastrosas para toda a Europa se a UE não conseguir fazer frente ao presidente Russo. O PM britânico já fala em excluir a Rússia do sistema de transações bancárias SWIFT.

Alô Dilma! Depois da bronca das escutas dos americanos à ‘Presidenta’, os brasileiros decidiram desenvolver um telefone encriptado que não permitirá que registos de chamadas, mensagens ou dados armazenados fiquem desprotegidos. A história é contada pela
Bloomberg. Por falar em telemóveis, saiba que a Apple vai lançar (com a versão 8.3) o assistente de voz SIRI em português, no final do ano… mas num português do Brasil.

O assassino do
“Sniper Americano” foi condenado a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. O antigo fuzileiro Eddie Roth foi considerado culpado pelos homicídios do atirador Chris Kyle e de Chad Littlefield em fevereiro de 2013

Num registo mais descontraído, deixe-me ainda voltar aos Óscares e às ‘mãozinhas’ de John Travolta. Este bem podia ser o título deste
artigo sobre a importância das distâncias. Tudo por causa das carícias a Idina Menzel e dos amassos a Scarlet Johansson durante a gala e que estão a dar muito falatório nas redes. A BBC questiona o estilo “touchy-feely” de Travolta e lembra outros casos em que houve proximidade a mais: numa cimeira do G8 Merkel não gostou quando George W Bush lhe tentou fazer uma massagem nas costas. Ou mais recentemente quando o vice-presidente do EUA, Joe Biden, agarrou a secretária da Defesa, tocando-lhe nos ombros ao mesmo tempo que lhe falava ao ouvido. Escândalos? Só mesmo na América!

FRASES

“Acho que o Governo português foi imprudente. A fotografia não foi a melhor, talvez fosse melhor termos seguido o exemplo da Irlanda”, António Vitorino, na SIC Notícias, sobre a atuação do Governo português na crise grega.

“A malta acha que o Syriza é simpático e por isso não gosta que se maltrate o Syriza. Penso que o primeiro-ministro [Passos Coelho] a certa altura percebeu isso. Agora pergunte se lá estivesse o António Costa o que é que ele faria?”. Pedro Santana Lopes,
na SIC Notícias, sobre o mesmo assunto.

"Numa união a 28 não é possível prometer um resultado que depende de negociações com várias instituições, múltiplos governos, de orientações diversas".António Costa, líder do PS, na conferência da
Economist.

"TAP privada vai ser uma companhia bem melhor", Michael O’Leary, CEO da Ryanair, ao
Jornal de Negócios.

O QUE ANDO A LER

A presença do Daesh (o autodenominado Estado Islâmico) na Líbia levanta sérias questões à Europa. O país ganhou uma importância estratégica para os radicais. E por várias razões: “o caos, a abundância de armas e recursos naturais, mas sobretudo a sua posição no mapa”.

Neste site,
Jihad&Terrorism Treat Monitor, podem ler-se duas cartas publicadas online de Abu Irhim Al-Libi, um apoiante dos jihadistas, que descreve as vantagens da ocupação de território líbio. No primeiro texto Al-Libi lembra que o país faz fronteira com o Egipto e a Tunísia e, mais importante, sublinha que é uma porta de entrada estratégica para a Europa ("Libya: The Strategic Gateway For The Islamic State"): “é fácil para muitos ilegais chegarem ao sul da Europa e, com um cuidadoso planeamento, é possível tornar esses países (do sul da Europa) num ‘inferno’” escreve o apoiante.

Num segundo texto, com o título “A cruzada francesa na Líbia”, Al-Libi prevê que em breve os franceses vão lançar uma intervenção militar para proteger os seus interesses e para controlar os movimentos dos mujahideens. O artigo termina com uma ameaça: “Os muhahideens vão esperar-vos. O deserto no sul da Líbia vai tornar-se num cemitério para os vossos soldados” (Libya's southern desert will become a "graveyard for your [France's] soldiers and their body parts…")

Deixem-me ainda aconselhar-vos
este artigo, “What ISIS really wants” (de leitura mais demorada) da The Atlantic. Neste trabalho, Graeme Wood, o autor, fala de uma organização que continua a ser mal entendida pelo Ocidente e que não deve ser vista como um grupo de psicopatas. Wood diz que se trata de um grupo com crenças bem estruturadas e que entre elas está o apocalipse. O “End of Days” é aliás descrito como uma peça central para perceber o que os move, mas também para os conseguir parar.

Para concluir, um epílogo. Ou melhor um
“Épilogue”. Trata-se do disco de Samuel Lercher Trio (da Sintoma Records) com temas originais e arranjos de grandes clássicos do Jazz.

O som de
Samuel Lercher (que para ser totalmente transparente é meu cunhado) é sem dúvida um ótimo suplemento para arrancar o dia.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Grécia: Óscar Para Melhor Argumento Original ou Para Efeitos Especiais?

Resultado de imagem para grécia
Grécia-A noite dos Óscares conta-se depressa: este foi o ano de Birdman, do mexicano Alejandro González Iñárritu: melhor filme, melhor realizador, melhor argumento original e melhor fotografia. Birdman é tudo menos um filme óbvio, muito menos um produto típico de Holywood, mas a Academia rendeu-se. Pode ler aqui um excelente relato da noite (“Agora é fazer piadas sobre os quatro pássaros na mão”), feito pela malta mais nova, que agarrou a noite com o mesmo fervor com que saem à noite: só largaram a pista quando já não havia música a tocar. Para quem prefira o jornalismo mais clássico tem aqui a lista completa das estatuetas. A noite não foi das melhores da história, mas teve os seus momentos. Tem aqui um ótimo resumo desses momentos que fazem estas noites incontornáveis (“Oito momentos entre o estranho e o memorável”).

Não houve grande surpresas: Julianne Moore foi a melhor atriz, com Still Alice, o britânico Eddie Redmayne o melhor ator, em A Teoria de Tudo, J.K. Simmons o melhor ator secundário, por Whiplash e Patricia Arquette a melhor atriz secundária, com Boyhood, uma experiência absolutamente inovadora. Mas há um ponto importante a assinalar: o cinema independente está a tomar conta dos Óscares, deixando os grandes estúdios de fora. Desde 2009 que só um “melhor filme do ano” é que saiu de um grande estúdio: Argo. De resto, Estado de Guerra (2009), O Discurso do Rei (2010), O Artista (2011), 12 Anos Escravo (2013) e agora Birdman, são todos produções independentes. As melhores ideias, as mais arriscadas ou inovadoras já não moram em Hollywood.

Ideias não faltaram ao Syriza antes das eleições. Nas últimas semanas isso tem sido menos óbvio. E hoje é o momento da verdade: vamos poder perceber em detalhe quais são as medidas que o governo grego apresenta como garantia da extensão de um empréstimo da troika, perdão, das instituições (troika já não se usa). Depois das enormes dúvidas do fim de semana, hoje chega o tira teimas: Atenas merece o melhor argumento original ou só o de efeitos especiais? E atenção que já há sinais de divisão dentro do Syriza.

OUTRAS NOTÍCIAS


José Sócrates vem hoje a Lisboa para ser ouvido sobre as queixas de violação de segredo de Justiça. É a primeira vez que o ex-primeiro-ministro sai da prisão de Évora e isto poucos dias depois de se saber que o seu ex-patrão, Lalanda e Castro, também já é arguído no caso.

O célebre caso das secretas, que o Expresso investigou e divulgou em 2011, continua a fazer estragos. Agora é o ex-super espião Silva Carvalho a assuir na sua defesa que era normal aceder a listas de contactos telefónicos, apesar de isso ser absolutamente ilegal. O DN faz manchete com a história e deputados e constitucionalistas estão alarmados.

A Pordata faz hoje cinco anos e
merece ser visitada. Esta base de dados do Portugal contemporâneo mudou a nossa forma de olhar para as estatísticas e pô-las ao alcance de todos.

Quem não vê as coisas andar para a frente são os lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo, que se reuniram domingo em Leiria e prometem não desistir de reclamar uma solução que lhes permita reaver o dinheiro aplicado aos balcões do BES, numa guerra em que CMVM e Banco de Portugal não se entendem.

O escândalo Swiss Leaks não para e agora atingiu em cheio o líder do HSBC que, curiosamente, deve apresentar hoje as suas contas anuais. Vai ser um mau dia para Suart Gulliver, que vai ter dificuldade em explicar às autoridades, aos acionistas e aos clientes  porque
escondeu 5 milhões de libras num offshore do Panamá.

O dia de António Horta Osório vai correr bem melhor. O banqueiro português, que lidera o Lloyds, vai poder distribuir dividendos pela primeira vez em seis anos, para alívio dos acionistas e dos contribuintes britânicos que ajudaram a salvar o banco. Horta Hosório vai
receber ações no valor de 7 milhões de libras (sim, leu bem) por ter dado a volta ao banco.

Na Venezuela, as contas são outras, com o regime a prender os principais dirigentes da oposição, sem qualquer acusação formada. Depois da incrível detenção do presidente da Câmara de Cascais
só uma líder do movimento que enfrenta Nicólas Maduro é que continua em liberdade. Até quando?


FRASES

A ideia de que existe aqui um grupo de países na Europa que quer que a Grécia passe mal é um absurdo”. Pedro Passos Coelho a desmentir que Portugal tenha dificultado a vida a Atenas

"No fundo Portas é um mini-Varoufakis. É um sabidão". Marcelo Rebelo de Sousa no seu comentário semanal na TVI em que defendeu que, em matéria de comunicação, o governo “
não acerta uma

 “São coisas minhas, que ninguém sabe”. Nani, a explicar
porque chorou depois de marcar o melhor golo da jornada


O QUE EU ANDO A LER
 
Em tempos de absoluta intolerância religiosa, vale a pena regressar ao princípio. Os Versículos Satânicos não são o princípio – essa coisa de matar ou mandar matar por algo que se escreveu, filmou, pintou, etc é muito mais antiga – mas são “um” princípio do que agora (re)vivemos. Os Versículos de Salman Rushdie são de 1988 (estão muito bem traduzidos na Dom Quixote), um livro arriscado e difícil, em que o escritor – já então famoso com o Booker Prize dos Filhos da Meia Noite – entra pelo Islão adentro num enredo fabuloso com atores indianos a caírem a pique de um avião que explode sobre Londres e um profeta (Maomé, aqui Mahound) a ouvir o Demónio em vez de Deus e a vacilar no politeísmo e na idolatria.
 
O ayatollah Khomeini não gostou e lançou uma fatwa sobre Rushdie e quem o traduzisse ou publicasse. E isso levou-me agora a Joseph Anton, a biografia dos anos de fuga do escritor, que foi capa do Expresso em setembro de 2012. Joseph (de Conrad) Anton (de Tchékov) foi o nome que o escritor escolheu quando a polícia o passou à clandestinidade. Tudo começa no dia dos namorados de 1989, quando Rushdie se preparava para ir ao funeral de um dos seus melhores amigos, o escritor Bruce Chatwin, onde, numa cena de filme, Rushdie e a mulher (quase ex, porque o casamento se estava a despedaçar) se sentam ao lado de Martin Amis, com Paul Theroux na fila atrás. E é ali, na missa ortodoxa do maravilhoso viajante Chatwin, que o melhor dos escritores de viagem, Theroux, dispara: “Creio bem que para a semana vamos estar aqui por ti, Salman”. Enganou-se, Rushdie acabaria por fazer o funeral a Anton sem nunca ceder na escrita e fazer esta duríssima biografia da clandestinidade.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Grécia: Entre a Espada e a Espada

Grécia-Nas últimas semanas o mundo tem estado em constante sobressalto entre a Grécia e a Ucrânia.
 
Hoje é apenas mais um dia decisivo para o futuro da Grécia. Responsáveis dos 19 membros da Zona Euro reúnem-se em Bruxelas para avaliar o pedido de prolongamento do programa de ajuda de 172 mil milhões de euros. O documento com as condições da Grécia será entregue e avaliado esta manhã. Se for considerado um avanço pode existir uma nova reunião dos ministros das Finanças na sexta-feira. Será desta que há fumo branco?

Na guerra de palavras a Grécia diz que não é um prolongamento do atual programa mas apenas do financiamento. Os países do Euro dizem que é a mesma coisa. Pelo caminho a Grécia parece cada vez mais encurralada na sua própria armadilha.

O BCE prolongou a linha de emergência de liquidez aos bancos gregos em mais 3,3 mil milhões, por 15 dias. Mas o banco central grego queria 10 mil milhões. Um sinal de que a situação dos bancos gregos está cada vez mais difícil. A JP Morgan estima que os bancos estejam a perder cerca de 2 mil milhões de euros por semana em depósitos.

Esta parece se a grande questão neste momento: com as previsões económicas em queda (
Fitch cortou, outra vez, perspetivas de crescimento para 1,5%) já começam as especulações em quanto tempo vai a Grécia ficar sem dinheiro?

E ontem os EUA vieram fazer pressão para que houvesse um acordo. O secretário de Tesouro norte americano avisou o ministro das Finanças grego que a Grécia (e também a Europa segundo Varoufakis) tinha muito a perder sem um entendimento.

Entretanto Alexis Tsipras triunfou onde o seu antecessor tinha falhado e conseguiu eleger um novo presidente grego. Prokopis Pavlopoulos, ex-ministro num governo do partido Nova Democracia, começa a sua presidência envolto em
polémica ao ser acusado de ter arranjado emprego na administração pública para milhares de amigos e simpatizantes do seu partido entre 2004 e 2009.

OUTRAS NOTÍCIAS
Cessar-fogo? Que cessar fogo? Na Ucrânia o dia ficou marcado pela retirada das tropas ucranianas da cidade de Debaltseve. Num claro desrespeito pelo cessar-fogo, acordado a partir de sábado, as tropas russas terão tomado a cidade. Os relatos mostram como uma cidade praticamente desconhecida é hoje mais um símbolo de toda uma guerra. Leia aqui ou aqui as histórias da retirada e porque é tão importante e estratégica esta cidade ucraniana.

Na Suíça as autoridades parecem finalmente ter acordado para o caso HSBC. Dez dias depois de tornadas públicas várias listas de pessoas que usavam a sucursal do banco inglês na Suíça para esconder dinheiro e fugir aos impostos, o procurador suíço realizou buscas nos escritórios com base em
suspeitas de que estaria envolvido em operações de lavagem de dinheiro. Esta terá sido a primeira vez que uma investigação deste tipo foi tornada pública. Mesmo as buscas a bancos são algo muito raro naquele país.

Por cá, Portugal voltou aos mercados para uma nova colocação de dívida onde
novos recordes foram batidos. Algo que terá contribuído também para os elogios de Schäuble a Portugal.

Ainda na senda das boas notícias, ficámos a saber que a conta do gás deverá ficar mais pequena a partir de julho. Jorge Moreira da Silva, ministro do Ambiente, foi ao parlamento dizer que vai obrigar a Galp a devolver 150 milhões de euros em três anos, referentes a ganhos obtidos por aquela empresa entre os anos de 2008 e 2014. Essa devolução irá acabar por ter
um efeito de descida da fatura do gás entre 3% a 5%,

Sobre a Oferta pública do CaixaBank ao BPI, Edgar Ferreira (família Violas), e um dos principais acionistas do BPI,
afirmou em declarações ao Expresso que ainda não sabe se vai vender : "Sim, nos negócios o preço é sempre essencial. Mas sempre estivemos alinhados com um projeto de caráter português. Há fatores emocionais que terão influência. Teremos de aguardar". Uma OPA que aguarda também uma tomada de posição de Isabel do Santos. A empresária angolana, para já, não quer comentar.

Os hospitais vão ter de decidir o tratamento dos doentes com hepatite C em 5 dias. A notícia, que faz manchete do 
Público, dá conta que esta regra faz parte da estratégia de eliminação da doença em Portugal.

Ainda na saúde, o DN destaca uma nova demissão de um director clínico, desta vez em Santa Maria. Oliveira e Silva 
estará de saída apenas três meses depois de ocupar o lugar. Já são tantas as demissões em hospitais que se arriscam a deixar de ser notícia. Por exemplo, no Amadora Sintra os médicos ficam em média 12 meses no cargo.

Nas jornadas europeias comecemos pelo pior que o futebol tem. Um vídeo, que mostra apoiantes do Chelsea a entoarem cânticos com comentários racistas e a impedirem um homem negro de entrar no metro de Paris, volta a
manchar o desporto rei. Os responsáveis do clube já condenaram o sucedido e prometem agir contra os envolvidos.

O Porto empatou na Suíça num jogo onde só havia um português, o treinador do Basileia, Paulo Sousa. A 
crónica do jogo de Pedro Marta Candeias explica tudo.

Quem voltou aos golos foi Ronaldo, na vitória do Real Madrid por dois golos frente ao Schalke. Ronaldo que não marcava, imagine-se, há três jogos, conta já com 290 golos em 280 jogos com a camisa do clube espanhol.

Olhemos agora para algumas excentricidades. Shane Smith, um dos fundadores e líder do grupo Vice Media, é conhecido pelo seu gosto por festas. Agora é de novo notícia por gastar 300 mil dólares numa única refeição que ofereceu a mais de 30 empregados e parceiros de negócio no Casino Bellagio em Las Vegas. 
A refeição, que contou com garrafas de vinho com um preço de 15 mil dólares cada, aconteceu depois de Shane ter ganho perto de 1 milhão de dólares a jogar no casino. A história foi revelada pela Bloomberg.

 
FRASES
 
"Pecámos contra a dignidade dos cidadãos na Grécia, Portugal e muitas vezes na Irlanda também", Jean-Claude Juncker.

"Portugal é a melhor prova", Wolfgang Schäuble sobre os efeitos positivos dos programas de ajustamento.

"Não estamos em guerra com o Islão, estamos em guerra com as pessoas que perverteram o Islão", Barack Obama.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS?

Uma olhadela à síntese económica de conjuntura divulgada
ontem pelo INE e ficamos a saber que o indicador de atividade económica subiu quando comparado com o ano anterior (2,8%). Para a subida só contribuíram positivamente a indústria (pouco) e o turismo (muito).
Olhemos por isso para a
atividade dos estabelecimentos hoteleiros em Portugal:
16,092 milhões de hóspedes em 2014 (quase mais 2 milhões do que em 2013)

46,148 milhões de dormidas (quase mais 5 milhões do que em 2013)


Ranking por dormidas em Portugal

1-Algarve (16,4 milhões)
2-Lisboa (11,5milhões)
3-Madeira (6,3 milhões)
4-Norte (5,4 milhões)
Ranking por proveitos totais1-Algarve 694 milhões de euros
2-Lisboa 678 milhões de euros
3-Madeira 297 milhões de euros
4-Norte 250 milhões de euros

O QUE EU ANDO A LER?

Macropolis. Uma página com notícias e análise política, económica e social sobre a Grécia. Este sítio na internet foi lançado em 2013 para contribuir com a imagem o mais correta possível, fiável e independente sobre a situação grega. Um manancial de informação sobre como funciona um país por vez demasiado difícil de compreender.

Alguma da informação está só disponível para assinantes mas vale a pena se procura uma fronte credível sobre a atualidade grega.
A não perder.

Deixo-vos com um gráfico que explica
onde foi utilizado o dinheiro emprestado à Grécia pelo troika, ou como se diz agora “TIFKATT” The Institutions Formally Known As The Troika!