sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Podemos Concordar em Discordar, ou Nem Por isso?

  
- Pago eu!
- Ora essa, eu é que pago!
- Nem pensar, deixe isso comigo!

Europa em Movimento-Era bom que fosse assim na Europa. Mas não é. A discussão é exatamente a contrária. E, se Tsipras e Varoufakis pareciam poder moderar o seu programa e cair nas graças da Europa, a decisão do BCE e o encontro do último com o ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble fez as esperanças abanarem. Nem em discordar concordaram. No Expresso Diário, Ricardo Costa
explica como o alemão ficou com a razão formal; Pedro Santos Guerreiro, no Expresso Online explica, através da teoria dos jogos, como este é um jogo do cobarde. Para a semana, com a reunião dos ministros das Finanças do Eurogrupo (quarta-feira) e a reunião dos chefes de Governo (no dia seguinte, a primeira de Tsipras, onde de nada lhe vale a retórica que demonstra ter em Atenas ou as manifestações de desagravo na praça Syntagma), o jogo começa a sério.

Mas a Grécia é um dos problemas do mundo. Começamos por aí por um vício de perspetiva. Basta olhar 
o que se passa na Ucrânia e na irresponsabilidade de uma Rússia que a Europa tarda em compreender. Hollande, Merkel e o secretário de Estado americano John Kerry foram ontem a Kiev tentar uma solução de paz. Hoje estão todos em Moscovo para apresentar a mesma proposta. A situação está a deteriorar-se e não se sabe até que ponto Putin pode ceder. Para já, a guerra voltou à Europa. E a Ucrânia, diz o especialista do FT Philip Stephensé só uma parte do vasto plano de jogo do presidente russo.

O que vai pela Síria e pelo chamado 
Estado Islâmico e os desejos de vingança da Jordânia que bombardeou furiosamente várias posições do ISIS, é ainda pior. A lei de talião - olho por olho, dente por dente - não é retórica por aquelas bandas.

Ou saber que nos últimos 10 dias houve 
centenas de crianças libertadas de fábricas na Índia onde trabalhavam em condições desumanas, quase escravas… não tem descrição.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Governo chegou a acordo, no final da noite de ontem para tratar 12 mil doentes com hepatite C em três anos. O tratamento fica abaixo dos 25 mil euros cada, cerca de metade do preço exigido pela farmacêutica no início das negociações, e a notícia faz a primeira página de vários jornais de hoje. Entretanto, no Expresso Diário publicado às 18 horas de ontem, pode saber quem é o homem, com um caso de hepatite C avançado, que pediu a Paulo Macedo no Parlamento que lhe salvasse a vida. Vai ser um dos salvos por este acordo e disse, esta manhã às televisões que pensa nisto como um milagre. Por outro lado, Jorge Coelho, na Quadratura do Círculo, acusou o Governo de andar a reboque da opinião pública.
Andrés Ortega
, um especialista espanhol, ligado ao Governo, acha que a Grécia tem uma dívida para com Espanha. Talvez Passos, que os intérpretes do Syriza em Lisboa (fazendo lembrar um pouco o universo soviético e os seus partidos-satélites) dizem que é dos mais duros, se reveja nesta posição ibérica.

O preço do petróleo é daquelas variáveis boas (ou más, vá-se lá saber) que ninguém previa. A mais recente derrota das previsões económicas é interessante por isso mesmo. E é notícia porque
há 80 anos que os EUA não tinham tantas reservas, diz o Wall Street Journal.

A propósito de petróleo, o escândalo conhecido por ‘petrolão (o maior caso de corrupção no Brasil) levou à demissão da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster. Tem aqui uma 
biografia daquela que foi a empresária mais poderosa da América do Sul e que foi posta a andar pela sua amiga Dilma. A propósito de mulheres, que nem sempre são bons exemplos, recorde-se que o procurador argentino encontrado morto tinha, entre os seus papéis, um mandato de detenção da presidente argentina Cristina Fernandez (Kirchner) por ter encoberto uma ação terrorista iraniana contra um centro judaico, nos anos 90. Nas ruas acusa-se a presidente de crime político.

Quem não souber que o livro ‘Não matem a cotovia” (traduções mais recentes intitularam-se “Por favor, não matem a cotovia”, “Mataram a Cotovia” ou “O Sol é para todos”) de Harper Lee, uma senhora hoje com 88 anos, foi um livro tão importante para os direitos civis dos negros como o foi a “A Cabana do Pai Tomás” para a libertação dos escravos no séc. XIX, desconhece o essencial da literatura norte-americana. “To kill a mockingbird”, no original, venceu o Prémio Pullitzer em 1961. A notícia é que
foi descoberto outro livro da escritora (ela nunca mais escreveu, este é anterior ao sucesso e o seu original estava perdido). Chama-se Go set a watchman e tem a mesma personagem principal – Scout Finch. É lançado a 14 de Julho.

Selfies
contribuem para a piolheira. Pois é põe-se de cabecinha junta com o telemóvel à frente e o piolho aproveita. Eu sei que 92% (estimativa minha) dos jovens já leram esta notícia. Mas ainda assim, aqui a deixo como precaução de uma comichão e outras consequências dispensáveis.

E quanto ganhamos, tendo em conta o salário de Cristiano Ronaldo? Tenho aqui um simulador da BBC que diz que se ganharmos, por exemplo, 5000 euros/mês, o CR7 leva 37 minutos a ganhar tanto como nós numa semana; ou que nós tínhamos de ter começado a trabalhar em 1740 para ganhar o que ele ganha num ano – levamos 275 anos para lá chegar. Experimente, mas não fique invejoso. Afinal ele é um miúdo que fez ontem 30 anos…

FRASES

A Grécia não aceitará mais ordens, sobretudo ordens recebidas por email”, Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego referindo-se à decisão do BCE de não aceitar dívida pública grega. O facto de Tsipras dizer “sobretudo por email” não parece indicar que o BCE e outros organismos tenham de voltar ao fax e menos ainda que tenham de enviar alguém a Atenas para dar ordens… mas fica bem dizer.

O que tem sido a involução das posições do Syriza desde o início da campanha eleitoral até às eleições e das eleições até ao dia de hoje demonstra que temos sido bem avisados em não nos amarrarmos a uma única solução”, António Costa numa entrevista, ontem, ao ‘Público’. A ideia não seria dizer que o PS é um partido involutivo mas por alguma razão Costa evitou a palavra moderação.

"Quantos querem pagar a hipoteca do vizinho?" A pergunta retórica foi de Rick Santelli, um apresentador da cadeia CNBC, em 2009, e agora recuperada pelo NYT para explicar como o perdão da dívida ainda é um assunto explosivo na Europa. Na verdade, quem quer pagar o quê a quem parece ser o ponto crucial.

"Afastei amigas próximas (...) sabia que isso não era bom para mim. Tinha de as consolar, às vezes (...) sei que choravam sem ser à minha beira. Afastei-me disso tudo". Aura Ferreira, in Público.  Aura, 38 anos, venceu um cancro e entende que em parte deve-se à sua convicção e ao seu otimismo. É bom saber que há gente assim.


O QUE EU ANDO A LER

Leio a boa reportagem da ‘Visão’ sobre o enigmático Armando Pereira o sócio português da Altice, de que o Martim  Silva já falou aqui ontem. Mas estou cheio de gripe pelo que uso um remédio fabuloso: ler poesia. Não só nos afasta da realidade ranhosa da nossa condição, como nos permite passar o tempo em associações de ideias fantásticas. O meu poeta gripal é Antonio Machado (1875-1939), um andaluz que deu o nome e as letras ao século de ouro da poesia espanhola. Para um português, apesar das boas traduções existentes, é bom lê-lo no original. É um poeta que fala de coisas banais, triviais (caminante no hay camino, se hace camino al andar – Caminhante não há caminho, faz-se caminho a andar), embora com uma sensível profundidade, tão simples que apenas os sábios a conseguem. Olhem estes versos retirados do poema 'Las Moscas'

"Moscas de todas las horas
de infancia y adolescencia,
de mi juventud dorada;
Desta segunda inocencia
Que da en no creer en nada"

(Ou seja, numa tradução minha e não boa: “Moscas de todas as horas / da infância e adolescência / da minha juventude dourada; / Desta segunda inocência / que resulta em não crer em nada”)

Pois são as moscas que mudam, sabemos isso quando já não acreditamos em nada, ou quase. E, ainda assim, não resistimos a uma boa informação, a uma notícia estrondosa. Lá vamos às seis da tarde ver o Expresso Diário e amanhã a edição semanal. Segunda, cedo, o Expresso Curto volta tirado por Pedro Candeias, o nosso especialista em desporto que dissecará o Sporting-Benfica de domingo, único tema que destrona todos os outros da abertura dos noticiários.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Grécia, Sinais de Fogo


Grécia-Decisões unilaterais ou vontade de negociar? Foi assim que entrámos no fim de semana, sempre a pensar na Grécia, e foi assim que saímos do fim de semana, ainda sem saber o que pensar da Grécia. É verdade que há mais coisas para contar e até houve Super Bowl esta madrugada (já lá vamos), mas as teorias sobre o que se vai passar no braço de ferro entre Atenas e o eixo Berlim-Bruxelas-Frankfurt são mais que muitas. Devemos acreditar no falcão Varoufakis que humilhou o presidente do Eurogrupo ou na pomba Varoufakis que ontem pousou em Paris? E o verdadeiro Tsipras é o que entrou a matar no primeiro Conselho de Ministros ou o que fez uma declaração à Bloomberg para acalmar os mercados e hoje anda em périplo europeu?

Os sinais são muitos e vão encher as nossas agendas até dia 28 de fevereiro, quando – tic tac tic tac – se acaba o prazo do programa de resgate grego, que Atenas não quer prorrogar. Enquanto ameaça por um lado, por outro a Grécia contratou o banco norte-americano Lazard para a assessorar em negociações. Em Bruxelas ninguém percebe muito bem como é que a Grécia vai gerir a negociação, quando, na melhor das hipóteses, em Junho fica sem dinheiro nos cofres e, na pior, os seus bancos vivem um cenário tipo Chipre dentro de poucas semanas. Hoje o El Pais garante que Bruxelas pode mesmo desmantelar oficialmente a troika, se a Grécia quiser negociar de forma construtiva. Aconselho a ir espreitando o Expresso Online ao longo do dia e assentar ideias no Expresso Diário, já com opinião sobre estes dias de brasa.

OUTRAS NOTÍCIAS

As ondas de choque da Grécia não são só financeiras. Em Espanha, o Podemos fez uma prova de força com uma grande manifestação no sábado. No Domingo, o PSOE respondeu na sua convenção. O próximo grande teste são as eleições autonómicas na Andaluzia.

No noticiário internacional, a guerra civil na Ucrânia vai perdendo espaço, mas não por falta de trágicos acontecimentos. Este foi mais um fim de semana de confrontos e vítimas a assinalar.

O Egito libertou um dos jornalistas da Al Jazeera que estava preso há 13 meses no Cairo por alegadamente fazer reportagens favoráveis à Irmandade Muçulmana. Peter Greste é 
aguardado pela família na Austrália.

As milícias do Estado Islâmico decapitaram o segundo refém japonês e atenção vira-se agora para a dramática negociação de um piloto jordano, capturado há algum tempo. A Jordânia está disposta a trocar prisioneiros, 
mas exige provas de que o piloto está vivo.

Por cá, a PGR confirmou que há investigações a correr sobre jiadistas nacionais. O 
comunicado oficial é de ontem, 24 horas depois do Expresso ter revelado que pelo menos dez jiadistas britânicos estiveram refugiados em Lisboa antes de seguirem para a Síria. A nossa investigação está a ser seguida com atenção em Londres – O Times escreveu ontem um artigo em joint venture com o Expresso – e hoje divulgamos a nossa história integral em inglês no Expresso Online.

Os ventos de Angola andam menos ricos nestes dias. Na sexta, o Expresso noticiou as fortes 
restrições de Luanda às importações. Hoje o Público revela que as remessas de Angola já tinham caído 14% em 2014, ainda antes da descida acentuada do preço do petróleo.

Grande notícia na arte mundial: foram 
descobertas duas esculturas de Michelangelo em bronze, um facto extraordinário, já que não se conhecia nenhuma obra do genial escultor nesta liga metálica.

No futebol nacional não há nada de relevante a assinalar. Benfica, Porto e Sporting partem com a mesma distância para uma jornada em que a equipa de Jesus vai a Alvalade. É domingo à noite.

FRASES

"O meu maior receio é transformar-me num político". Yanis Varoufakisministro das Finanças da Grécia
(Se a Grécia sair do euro) os investidores perguntavam de imediato se Portugal era seguro”. Wolfgang Munchau no Financial Times
Não temos nenhuma informação sobre o lançamento do próximo livro”. Comunicado da editora HarperCollins sobre a data de publicação do próximo livro da Guerra dos Tronos, cuja trama será pela primeira vez ultrapassada pelo andamento da série da HBO
Parental advisory. Explicit content”. Frase impressa na t-shirt de Kim Sears, namorada de Andy Murray na final do Open da Austrália, depois dos seus palavrões terem provocado uma enorme polémica na eliminatória anterior

O QUE EU ANDO A LER

Hoje vou aligeirar esta parte. Nunca percebi como é que há gente que chega ao escritório na manhã seguinte ao Super Bowl (é hoje) e sabe tudo sobre futebol americano. Pois bem, pus-me a ler umas coisas e aqui vão meia dúzia de dicas e links úteis para quem quiser humilhar colegas: a) o jogo foi mesmo emocionante e tudo se resolveu na última jogada porque os Seattle Seahwks resolveram fazer um passe em vez de correrem sempre em frente; b) o erro dos Seahwaks deu uma oportunidade de ouro a um jogador pouco conhecido dos New England Patriots de intercetar a bola e ficar famoso; c) apesar desta loucura final, as estatísticas do desporto americano dizem que esta final foi apenas a 12ª mais excitante de sempre; d) ganhou a equipa de Tom Brady, marido de Gisele Bundchen, um dos melhores jogadores de sempre do futebol americano; e) o concerto de Katy Perry tinha pessoas vestidas de tubarões a dançar e deu todo um novo sentido ao kitsh; f) a NBC resolveu disponibilizar a transmissão em streaming e foi arrasada nas redes sociais porque tinha um atraso de 50 segundos em relação à televisão; g) a Budweiser provou que não há nada como fazer anúncios de televisão em que a história gira em torno da amizade de um cachorro e de um cavalo; h) os anúncios do Super Bowl são os mais caros do mundo, cerca de 4 milhões de euros por 30 segundos; i)  os spots são quase todos disponibilizados antes no youtube e no facebook numa espécie de concurso paralelo ao jogo, com dezenas de milhões de visualizações; j) coisas sérias, o melhor anúncio da noite foi da própria Liga de Futebol Americano (NFL), era sobre violência doméstica, crime em que se envolveu um jogador este ano para embaraço da organização. Vale muito a pena ver.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Economist: Moeda angolana vai continuar a desvalorizar-se até 104,2 por Dólar em 2019

Resultado de imagem para Angola
Angola-A Economist Intelligence Unit (EIU) prevê que a moeda nacional angola se continue a desvalorizar até 1 dólar valer 104,2 kwanzas em 2019, mas alerta que uma nova descida nos preços do petróleo pode agravar a situação.
 
De acordo com uma nota enviada aos investidores pela unidade de análise económica da revista britânica The Economist, a que o Cirilo João Vieira teve acesso, os analistas da EIU consideram que "esperam que a moeda perca valor face ao dólar, não só pela tendência da balança corrente (que esperamos entre em défice a partir de 2015), mas também pelo fim dos estímulos à economia por parte da Reserva Federal dos Estados Unidos, o que vai fortalecer o dólar".
 
Assim, concluem, "prevemos que o kwanza se vá depreciar de uma média de 99,1 para 1 dólar, no ano passado, para 104,2 por 1 dólar em 2019".
 
A nota aos investidores alerta, no entanto, que a situação pode agravar-se caso haja problemas na produção de petróleo em Angola, que representa mais de 75% das receitas fiscais e a esmagadora maioria das exportações do país, o que aliás já parece estar a acontecer: na sexta-feira, a taxa oficial do BNA era de 104,42 kwanzas para um dólar.
 
"Qualquer descida abrupta e sustentada nos preços do petróleo e nas receitas fiscais podem levar a uma depreciação súbita e mais agravada, bem como pressões inflacionárias", acrescenta o documento.
 
Para os analistas da EIU, a capacidade do Banco Nacional de Angola (BNA), sob a nova liderança de José Pedro de Morais Júnior, de sustentar a queda do kwanza "vai depender do nível de reservas em moeda estrangeira".
 
Nos últimos dias, as notícias sobre a falta de dólares nos bancos e as dificuldades em aceder à moeda de referência mundial saltaram para as páginas dos jornais, mas no final da semana passada o novo banqueiro central angolano rejeitou que tivessem sido dado ordens expressas aos bancos para limitarem o levantamento de dólares ou os câmbios.
 
Na sexta-feira, depois de ter sido empossado pelo Presidente da República enquanto governador do BNA, o antigo ministro das Finanças salientou que os "fundamentos macroeconómicos" do país "mantêm-se sólidos e sob controlo", mas reconheceu as dificuldades colocadas pela queda dos preços do petróleo nos mercados internacionais, que caíram mais de 50% desde Junho, fazendo também com que se reduzam as divisas que entraram em Angola, o que fez a moeda nacional começar a desvalorizar-se em Novembro.
 
 "É verdade que o momento é particularmente difícil. O que tenho a dizer é que os fundamentos macroeconómicos do nosso país mantêm-se sólidos e sob controlo", mas "é evidente o momento de dificuldade", disse o governador, salientando a necessidade de encontrar "afinar instrumentos" para combater a provável recessão este ano.
 
"É justamente isso que o senhor Presidente da República tem vindo a fazer nas últimas semanas. Estamos todos confiantes e gostaria já de deixar uma recomendação a todos os agentes do sistema financeiro nacional para assumirem as suas responsabilidades e, com serenidade, tentarmos levar a cabo e ultrapassar o mais depressa possível este pequeno momento", declarou.
 
Na semana passada, as vendas de divisas do Banco Nacional de Angola (BNA) aos bancos comerciais desceram para menos de metade, com a taxa de câmbio a renovar máximos de vários meses.
 
De acordo com o relatório semanal sobre a evolução dos mercados monetário e cambial, divulgado na segunda-feira pelo BNA, o banco central vendeu 159 milhões de dólares (137 milhões de euros) em divisas, entre 12 e 16 de Janeiro.
 
Estas vendas à banca comercial angolana foram realizadas a uma taxa média de referência do mercado cambial interbancário de 103,995 kwanzas (87 cêntimos de euro) por cada dólar, que desde Novembro não para de subir.
 
Na semana anterior, as mesmas vendas tinham-se cifrado em 350 milhões de dólares (300 milhões de euros).

Grécia: Quem é o Parceiro de Direita do Governo de Extrema-esquerda?

Grécia-O que têm o Syriza e os Gregos Independentes em comum? Talvez apenas uma política anti-troika. Em tudo o resto parecem defender posições opostas.
 
Os Gregos Independentes (ANEL) são um partido de direita, nacionalista e opositor às medidas impostas pela troika. Na semana passada, o seu líder, Panos Kammenos, defendeu que a dívida grega deve ser auditada e a parte "má" simplesmente considerada impagável, quer os credores gostem ou não. A Europa, acrescentou Kammenos, está a ser governada por "alemães neonazis".
 
Alguns membros do partido são eurocépticos, insistem nos temas da soberania nacional e exigem à Alemanha uma indemnização pela invasão e ocupação da Grécia durante a II Guerra Mundial.
 
O partido foi formado em 2012 por Panos Kammenos, até então deputado da dos conservadores Nova Democracia, mas que acabou por ser expulso do partido por se opor a algumas das suas políticas-chave.
 
Nas eleições de Junho de 2012, os Gregos Independentes conseguiram uma votação melhor do que a alcançada ontem: elegeram 20 deputados.
 
Panos Kammenos nasceu em Atenas em 1965, estudou Economia e Psicologia na Suíça. Chegou a ser vice-ministro de Marina Mercante no governo de Costas Karamanlis (Nova Democracia) entre Janeiro e Outubro de 2009.
 
"Quero dizer, basicamente, que a partir deste momento já há Governo. Os Gregos Independentes vão dar um voto de confiança ao primeiro-ministro Alexis Tsipras", afirmou Kammenos esta manhã, à saída da reunião com Tsipras. "O primeiro-ministro vai falar com o Presidente e o novo Governo deverá ser anunciado em breve. O objectivo para todos os gregos é embarcar num novo dia, uma nova realidade, com plena soberania.
 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Comprar Dívida Soberana é a Jogada Certa no Momento Certo?

Zona do Euro-É um dia histórico para a política monetária na zona euro. Pressionado pelos riscos de deflação e pela demora na retoma económica, o BCE prepara-se para avançar com o ‘quantitative easing'. A instituição liderada por Mario Draghi poderá injectar cerca de um bilião de euros no sistema financeiro nos próximos dois anos.
 
Os mercados têm antecipado o programa com grande expectativa, mas há também quem alerte para os riscos de não funcionar. O Cirilo João Vieira falou com seis economistas portugueses, de vários sectores, que aplaudem a medida, mas não acreditam em milagres.
 
"Não tenho dificuldade em aceitar que se diga que é a medida certa na altura certa", diz Daniel Bessa, director-geral da Cotec e ex-ministro da Economia. No entanto, avisa, é preciso "muita prudência no que se refere à eficácia destas medidas". "Podemos levar a água, leia-se o dinheiro, à boca do cavalo, mas não podemos obriga-lo a beber", sublinha.
 
É que, para estimular a economia real, é preciso que os bancos passem para os agentes económicos o dinheiro que vão receber das vendas ao BCE, algo que está longe de estar garantido. Samuel da Rocha Lopes, professor da Universidade Nova e antigo economista do BCE, diz que esse risco aumenta "se o programa for pequeno e pouco agressivo". Se assim for, frisa, o ‘quantitative easing' "vai apenas funcionar através dos mercados financeiros, sendo apenas uma medida de liquidez como todas as anteriores". Rocha Lopes concorda ainda que "é a medida certa", mas "a altura é tardia".
 
Paula Carvalho, economista do BPI, afirma que ser ou não a medida certa "depende dos montantes que o BCE vier a comprar e da forma como o mercado interpretar". E lembra que, apesar de o programa ter funcionado nos Estados Unidos, isso não é garantia que funcione na Europa, porque os sistemas financeiros são diferentes e "não se pode estabelecer paralelos" entre os dois.
 
Depois, há ainda o problema de o BCE não poder fazer tudo sozinho. A zona euro, os Estados-membros e a outras instituições como a Comissão Europeia têm de fazer a sua parte para superar a crise. É esse o alerta de Nuno de Sousa Pereira, presidente da Porto Business School, que admite que o ‘quantitative easing' "é a única medida de política monetária que ainda por ter algum impacto", mas não terá sucesso sozinha. "É também necessário alterar as expectativas dos agentes quanto à evolução futura da procura e da solidez do projecto europeu". É que "uma Europa sem estratégia para o investimento" e isso "não está nas mãos do BCE".
 
"Precisamos reconstruir o mercado de trabalho, revalorizar o trabalho e criar confiança na economia", concretiza José Reis, economista da Universidade de Coimbra, para quem o programa do BCE não será suficiente "para resolver uma crise de procura" como se vive no euro. Ainda menos se, para satisfazer a Alemanha, Mario Draghi obrigar cada banco central nacional a assumir o risco dos títulos soberanos do respectivo Estado-membro. Nesse caso, garante, "vai ser um balde de água fria".
 
De qualquer forma, nota Francisco Veloso, director da Faculdade de Economia da Católica, no que diz respeito a combater a ameaça de deflação que paira sobre a zona euro - que arrisca agravar a crise de dívida, tornando-a mais difícil que seja paga -, o ‘quantitative easing' "parece mesmo ser uma das únicas medidas potencialmente eficazes no actual contexto".

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

'FT': Colapso da Economia Venezuelana se Deve em Parte à China

Venezuela-O jornal Financial Times  publicou  um artigo onde analisa a crise venezuelana e atribui uma parcela de culpa às relações pouco transparentes com a China. “Toda catástrofe econômica traz um exame de consciência. Quando a Argentina entrou em colapso no final de 2001, O Fundo Monetário Internacional se viu forçado a fazer uma avaliação crítica de seu envolvimento no país. Processos parecidos foram desencadeados no Banco Mundial depois de projetos de desenvolvimento mal sucedidos na África. A implosão da economia venezuelana, que se aproxima, deverá motivar uma introspecção parecida — não no FMI, que esteve ausente desde sua ‘expulsão’ feita pelo presidente Hugo Chávez em 2007, mas na China”, diz a matéria escrita por Ricardo Hausmann, que é diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional na Universidade de Harvard.  
 
Ele prossegue: “É difícil exagerar a magnitude do colapso venezuelano. As pessoas estão fazer filas por horas para comprar comida, lojas estão vazias, e o país está numa profunda recessão. A Venezuela tem a inflação mais acelerada do mundo, enquanto a dívida de seu governo é a mais cara para garantir contra o calote. 
Como chegamos aqui? A Venezuela usou o período de alta dos dólares para quadruplicar sua dívida pública externa, com o objetivo de abastecer um boom do consumo interno. Por volta de 2012, quando o petróleo venezuelano valia em torno de US$ 103, o país estava gastar como se o preço estivesse em US$ 194, produzindo  um déficit fiscal de 17,5% do PIB. Essa é o motivo pelo qual a economia mergulhou numa crise no início de 2014, quando o preço do petróleo ainda era de US$ 100. A queda recente conseguiu piorar uma situação irremediável. Quem deu ao país a corda para se enforcar? Principalmente a China”. 
 
"A China começou a fazer enormes empréstimos à Venezuela em 2007. Desde então, emprestou mais do que US$ 45 bilhões, dos quais cerca de US$ 20 bilhões ainda são pendentes. Depois da visita a Pequim no dia 8 de janeiro, o presidente Nicolás Maduro disse que ganhou mais 'investimento'. 
 
O que torna a China inusitada não é só a soma que está querer emprestar mas a forma como está emprestar. Em primeiro lugar, Pequim escolheu ser obscura: não sabemos nem os termos dos empréstimos nem o uso do dinheiro. A dívida é reembolsada em petróleo, fazendo os detentores de bônus de Wall Street irem para a China. 
 
O público venezuelano tem pouca informação sobre onde o dinheiro está sendo gasto. Ferrovias foram  anunciadas mas abandonadas, fábricas nunca foram além da cerimônia de inauguração. Existem acusações de corrupção: em 2013, oito pessoas na Venezuela foram presas por se apropriarem de US$ 84 milhões do fundo da parceria China-Venezuela. 
 
Em segundo lugar, a dívida nunca foi autorizada pelo parlamento venezuelano devido ao argumento ilusório de que não era dívida, mas “finanças”, porque não deveria ser paga em dólares mas em petróleo. Como consequência, gastar dinheiro nunca fez parte do orçamento nacional,  escapando assim de todas as formas de controle e ignorando regras de partilha das receitas do petróleo, que  transfeririam parte dos rendimentos a governos estaduais e municipais de oposição", escreve Hausmann.  
 
Em terceiro lugar, foi pedido à PDVSA — a companhia nacional de petróleo — para que pague uma dívida de um empréstimo que não fez. Como não conseguiu pagar para forgo o rendimento no petróleo que mandou para a  China, acabou pedindo emprestado o equivalente a dezenas de bilhões de dólares do banco central, potencializando o problema da inflação na Venezuela. 
 
China ignorou as lições que muitos credores oficiais aprenderam da pior maneira. Há razões que explicam por que esses credores delegam ao FMI a taxação macroeconômica de mutuários: emprestar para políticas insustentáveis apenas antecipa o dia da prestação de contas. 
 
Se a China tivesse sido prudente, teria garantido que o dinheiro que forneceu foi investido em projetos que poderiam ser pagos por eles mesmos. Em vez disso, os empréstimos só podem ser reembolsados através de uma futura austeridade. 
 
“Outros bancos oficiais de desenvolvimento aprenderam que pontos políticos ganharam quando empréstimos podem evaporar rapidamente quando é hora de recolher de empréstimos antigos. A China pode ser um novo player em um mundo de financiamento de desenvolvimento internacional, mas tem se comportado, ao menos na Venezuela, como uma versão exagerada do que há de pior do velho financiamento de desenvolvimento”, conclui o artigo do Financial Times.

Portugal Consegue Taxas Mínimas para se Financiar e Antecipa Reembolso ao FMI

Portugal-Depois de ter conseguido angariar 5,5 mil milhões de euros na semana em obrigações a dez e a 30 anos, Portugal voltou ao mercado para emitir dívida de curto prazo. As taxas pedidas pelos investidores bateram mínimos históricos, colocando em evidência os benefícios que Portugal terá para antecipar o reembolso dos empréstimos do FMI.
 
O Estado pagou 0,108% para colocar 300 milhões de euros a seis meses e 0,22% para se financiar em 940 milhões de euros através de Bilhetes do Tesouro a 12 meses. Estes dados juntam-se aos passos significativos que Portugal fez nos mercados de dívida nos últimos tempos. Em 2011 Portugal chegou a pagar mais de 5% em várias operações a seis meses.
 
A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, destacou a importância da emissão a 30 anos feita na semana passada. "Está feita a reconstituição da curva de rendimentos", afirmou. Este factor e as "reservas de liquidez muito significativas" que o Estado detém levaram Maria Luís Albuquerque a revelar, no Parlamento, que "o Governo vai iniciar os procedimentos necessários para o reembolso do empréstimo do FMI".
 
No âmbito do programa de assistência, o FMI emprestou a Portugal 26,9 mil milhões de euros, com uma taxa de 3,7% e uma maturidade média de sete anos. O País segue assim os passos da Irlanda. Em Agosto do ano passado, Dublin propôs antecipar o pagamento de 15 mil milhões dos 25 mil milhões emprestados pelo FMI, a serem pagos num prazo de 18 a 24 meses.
 
"Estas taxas tão baixas são um incentivo ao pagamento antecipado do empréstimo da troika. Faz sentido, como tem sido discutido publicamente, o país financiar-se no mercado a taxas historicamente baixas para amortizar antecipadamente a ajuda externa".