segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Déficit Comercial com a África Triplica

Brasil-O esforço diplomático do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abrir embaixadas para promover vendas ao continente africano não evitou uma queda nas exportações de produtos manufaturados nos últimos anos.

Desde 2010, o déficit comercial com a África triplicou e chegou a US$ 6 bilhões, com chineses, indianos e europeus ocupando espaço maior nas compras africanas.

Dados compilados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que promove esta segunda-feira (25) um seminário sobre as oportunidades nos 54 países do continente africano, mostram um tombo de 30% nas exportações de bens industrializados para os mercados da África. Além disso, o ritmo de aumento das vendas da China (13,4%), Índia (22,8%), México (11,9%) e União Europeia (9,2%) supera a taxa de 6% do Brasil neste período.

Ou seja, o País perde competitividade e negócios para competidores emergentes e desenvolvidos. Na média mundial, as exportações para o continente cresceram 7,5%.

“Foi muito útil o que Lula fez”, avalia Melissa Cook, directora-gerente da African Sunset Partners, uma consultoria de negócios. “Mas as empresas precisam aparecer, mostrar seus produtos e serviços. É preciso muito trabalho de campo para conhecer o mercado africano. Não se consegue isso a 6.5 mil quilômetros de distância”, disse a executiva.

Bem-visto

Entre 2003 e 2010, o governo brasileiro abriu 18 novas embaixadas e dois postos consulares no continente. Todas elas têm pelo menos um funcionário dedicado à promoção comercial.

Em sua palestra no seminário organizado pela CNI ,Cook ressaltará muitos dos potenciais que as empresas brasileiras poderiam usar mais. O País é bem-visto no continente não apenas pelo maior número de embaixadas, mas também porque as companhias nacionais que já actuam lá costumam contratar e treinar trabalhadores locais, diferentemente de chineses e indianos, por exemplo. Subsecretário do Itamaraty para África e Oriente Médio, o embaixador Paulo Cordeiro reconhece que o Brasil ainda é muito “voltado para o próprio umbigo” e lembra haver uma enorme procura africana por bens e serviços brasileiros.

Com uma média de crescimento acima da mundial, os países africanos têm procurado o Brasil por interesse no modelo de negócios proposto pelo País. Mas sem obter respostas às procuras. “O que não temos é capacidade de alavancagem de crédito para bens e serviços. Somos convidados, mas sem capacidade para operar dentro da procura deles”, disse Cordeiro ao Estado.

Nos últimos anos, depois da criação de um grupo de trabalho sobre a África, o crédito aumentou. Desde 2007, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofereceu US$ 3,2 bilhões em crédito. Mas, explica Cordeiro, a maior parte dos países da região tem dificuldade em oferecer garantias de pagamento.

“A maior parte das nossas exportações é para Angola, porque eles têm uma conta petróleo. Essa é uma questão que precisamos ser criativos para resolver”, afirma.

Setores

O Brasil domina algumas áreas que os africanos tentam desenvolver por conta própria: agroindústria (em especial o sector sucroalcooleiro e frango), cimento, construção civil, máquinas e equipamentos, medicina. Muitos países vêm criando políticas específicas para o crescimento de indústrias domésticas, o que permitiria a empresas brasileiras se apresentarem como sócias, diz Cook.

Sob reserva, um diplomata africano queixa-se do que vê como falta de interesse das companhias brasileiras no mercado africano. “Enquanto isso, chineses e indianos esfregam a mão de contentamento”, afirma. No Itamaraty, não são poucas as queixas de que os brasileiros são “tímidos”.

No entanto, Carlos Abijaodi, director de Desenvolvimento Industrial da CNI, tem um ponto de vista diferente. Diante da falta de competitividade da indústria nacional e da oferta de mercado local, com o consumo doméstico sendo estimulado pelo governo brasileiro nos últimos anos, faltou envergadura para disputar contratos do outro lado do Atlântico Sul. Mas o interesse existe, ressaltou ele: as empreiteiras brasileiras constroem por lá há décadas.

“A África não é um mercado fácil, muitos países não têm estrutura financeira perfeita, exigem cash (dinheiro vivo) para manufaturados”, relatou.

“Existe um potencial muito grande, que não pode perder, não é fácil: é uma coisa de longo prazo, tem de estabelecer o que vai fazer, os investimentos têm de ser cuidadosos. Não temos nada que dê cobertura contra risco político”, disse Abijaodi.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Lider Golpista Nomeado Primeiro-ministro na Tailândia

Tailândia-O líder do golpe de estado de maio na Tailândia foi nomeado primeiro-ministro do país, por um parlamento escolhido a dedo pela junta militar.
 
O general Prayuth Chan-ocha recolheu 191 votos a favor, três abstenções e nenhum voto contra, numa assembleia constituída por uma maioria de militares, entre os quais se encontram os irmãos de Chan-ocha e de outro líder golpista.
 
O voto precede a nomeação de um novo governo interino em setembro que deverá levar a cabo reformas políticas antes das próximas eleições previstas para o final de 2015.
 
Um processo criticado pela comunidade internacional que exige eleições imediatas depois do 12o golpe militar no país, em maio, ter posto fim ao governo de Yingluck Shinawatra, irmã do primeiro-ministro derrubado em 2006 pelo exército.
 
Os golpistas, que deverão assumir vários cargos chave no novo governo, afirmam querer instituir uma “democracia legítima” no país, quando as vozes críticas denunciam uma “purga” aos apoiantes de Shinawatra, eternos rivais dos meios mais tradicionalistas, próximos da monarquia e dos militares.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Financial Times: O Brasil após a Morte de Campos

 
Brasil-Em editorial publicado segunda-feira, o Financial Times analisa as conseqüências da morte de Eduardo Campos para a campanha política eleitoral deste ano. Ao falar sobre a morte do ex-governador de Pernambuco, o jornal britânico relembra outros políticos que morreram em agosto, como Getúlio Vargas, que cometeu suicídio em 1945, e Juscelino Kubitschek, que morreu em um acidente de carro em 1976.
 
O jornal aponta Eduardo Campos como um dos principais candidatos à presidência no Brasil nas eleições de outubro, morto em um acidente de avião na ultima quarta-feira. O Financial destaca que “a morte de Campos não é somente trágica: ela muda a dinâmica de uma, já muito, disputada eleição presidencial, assim como, o destino da segunda maior economia emergente do mundo”.
 
Segundo o jornal, “Campos era altamente conceituado na política brasileira. Ele tinha carisma e sólidas habilidades políticas de governo quando foi governador de Pernambuco”. O Financial destaca ainda que Campos uniu “com sucesso” os negócios, o desenvolvimento econômico, o meio ambiente e o bem-estar social.
 
Muitos teriam visto Campos como um possível futuro presidente, mas não este ano. “Campos estava em um distante terceiro lugar, na corrida eleitoral, mas cultivava de forma entusiástica um perfil nacional para as próximas eleições, em 2018”.
 
Até a morte do ex-governador de Pernambuco, as eleições deste ano foram uma “corrida de dois cavalos”, afirma o editorial do Financial Times. Liderando as pesquisas, a presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, segundo o jornal, “apesar da estagnação da economia, o aumento da inflação e um crescente mal-estar nacional”. Em segundo lugar nas pesquisas, mas, “ganhando terreno”, estaria Aécio Neves, do principal partido de oposição, o “PSDB”.
 
O Financial destaca que Aécio Neves tem sido o preferido dos acionistas: “o mercado de ações sempre salta quando as suas intenções de voto aumentam”. No entanto, a trágica morte de Campos, tornou as eleições em “uma corrida de três”, com a candidatura de sua vice, Marina Silva.
 
Isso porque, Marina Silva, de princípios ambientalistas, já tem um perfil nacional e um grande apelo. Segundo o Financial, “ela só teria se unido a Campos depois que foi incapaz de formar um novo partido a tempo para esta eleição”. Graças a sua candidatura nas eleições de 2010, quando ela ganhou 20% dos votos. “Marina Silva tem níveis de aprovação maiores do que Aécio, que está se candidatando para a presidência pela primeira vez”, agora Aécio tem que planejar sua campanha pensando em dois frontes.
 
Segundo o Financial, Dilma também pode estar ameaçada pela candidatura de Marina. “Embora Marina Silva acredite em medidas favoráveis ao mercado, como a criação de um  banco central independente, Dilma não pode acusá-la de ser uma ‘indiferente neoliberal’, como tem feito com Aécio, porque Marina Silva é um ex-membro do PT”. Além disso, segundo o jornal, a popularidade de Marina Silva acaba com as esperanças de Dilma ganhar as eleições no primeiro turno, com 50% dos votos. Marina poderia levar a melhor no segundo turno se houver a construção de um clima contra a atual presidente.
 
O PSB de Eduardo Campos ainda não endossou formalmente a campanha de Marina Silva, mas a falta de uma alternativa plausível leva o partido a decidir a favor na próxima quarta-feira, quando haverá uma reunião. Marina Silva tem se mantido respeitosamente em silêncio, esperando para declarar suas intenções após o funeral de Campos.  Mas segundo o Financial “é provável que ela esteja disposta a concorrer. Era para ele ter viajado no mesmo avião que Campos e, sendo ela uma evangélica, pode enxergar essa mudança de planos como uma intervenção divina para salvar sua vida de última hora”.
 
Enquanto isso o mercado financeiro ainda não tem pistas sobre como tudo isso influencia a economia brasileira. Segundo o jornal britânico, “desde a morte de Campos o mercado de ações do Brasil oscilou violentamente, mas tem se mantido estável a cada dia”.
 
O artigo do Financial Times conclui que uma coisa é certa: se Marina Silva for candidata, sua bandeira de “renovação política” e a possibilidade de uma terceira via, terão um imenso apelo em um país “insatisfeito com o status quo, como mostram os intensos protestos do ano passado” e que a campanha mais disputada que o Brasil já viu, vai esquentar.

Juros da Dívida de Portugal Perto dos Mínimos de 2005

 
Portugal-Os juros da dívida de Portugal estavam terça-feira a descer em todos os prazos, a dois, cinco e dez anos, na véspera do Tesouro português ir ao mercado para leiloar duas linhas de dívida de curto prazo. No prazo dos 10 anos, o Financial Times diz que Portugal está perto de atingir valores que já não se verificavam desde 2005.
 
Cerca das 9h25, os juros da dívida portuguesa a dois anos caíam para 0,681%, abaixo dos 0,691%% verificados na sessão anterior.
Na maturidade a cinco anos, os juros da dívida portuguesa negociavam-se no mercado secundário a 1,962%, quando na sessão precedente se transacionavam a 1,987%.
 
No prazo dos 10 anos, os juros aliviavam para 3,445%, contra 3,488% observados na sessão da passada segunda-feira, e chegaram mesmo a baixar para os 3,37%. Há oito dias que se verificam descidas, o que mereceu destaque do Financial Times. No jornal britânico escreve-se que os problemas causados pelo Banco Espírito Santo estão a desaparecer e que se a tendência de descida se mantiver, os juros podem atingir mínimos de 2005.
 
O IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública vai efetuar na quarta-feira dois leilões de Bilhetes do Tesouro com maturidades em novembro de 2014 e em agosto de 2015. É a primeira emissão desde que Cristina Casalinho substituiu Moreira Rato na presidência da agência.
 
O montante indicativo global para esta colocação de dívida de curto prazo situa-se entre 750 e 1.000 milhões de euros. A cinco anos, enquanto os juros da dívida soberana da Irlanda aliviavam também em todos os prazos. Dublin terminou oficialmente, a 15 de dezembro passado, o programa de ajustamento solicitado em 2010 à ‘troika’, no valor de 85 mil milhões de euros.
 
Já os juros da dívida de Espanha caíam no mercado secundário a dez anos e subiam a dois e cinco anos, no dia em que o Tesouro espanhol foi ao mercado para leiloar dívida de curto prazo, enquanto na Grécia desciam a cinco e dez anos.
 
O facto de os juros de toda a periferia do euro estarem em níveis pré-crise levam vários analistas consultados pelo FT a questionar se estamos perante uma nova “bolha” — significando uma fase em que o preço da dívida está abaixo do que representam os seus riscos. “Atingimos um preço justo? A tentação é que estamos a ir longe demais”, admite  Oliver Burrows, analista no Rabobank. “Se os investidores quiserem fazer dinheiro em algum momento, especialmente se for num período de menor liquidez, isso pode criar vários problemas”, anota Justin Knight, da UBS, ao mesmo jornal.
 

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

UE Pressiona América Latina para não Ampliar Exportações para a Rússia

UE-A União Europeia sofreu uma indigestão. Bruxelas activou o plano "retórica" para dissuadir os países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Peru e Equador) a ocuparem os mercados que ficaram abertos após a Rússia proibir a importação de frutas, legumes, peixe, leite, carne de porco e laticínios provenientes dos Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Canadá e Noruega. Por meio de declarações veiculadas pelos média, a UE disse que não lhe parecia "leal" que os países latino-americanos se aproveitassem da crise com a Rússia para vender a Vladimir Putin os produtos mencionados.
 
Uma fonte da União Europeia disse ao Financial Times que o organismo europeu vai "falar com os países que, potencialmente, podem suprir essas exportações para recomendar que não se aproveitem injustamente da situação". Como agora não lhe convém, a Europa parece ter descoberto a injustiça que ela mesma promove a todos os níveis das suas relações comerciais com o resto do mundo, começando pelos desestabilizadores subsídios agrícolas, com os quais adultera a equidade dos mercados agrícolas mundiais.
 
As sanções que o Ocidente adotou contra Moscovo após a anexação da Crimeia pela Rússia e o apoio dado aos separatistas do leste da Ucrânia desembocaram numa guerra comercial muito forte entre os blocos. Moscovo respondeu às sanções com o embargo agrícola e imediatamente depois entrou em contacto com os países latino-americanos capazes de substituir os produtos sob embargo.
 
Os russos foram muito rápidos no seu objetivo de contar, a partir de setembro, com a possibilidade de importar frutas, legumes, peixe, leite, carne de porco e outros produtos que eram comprados da UE por um total de 11 mil milhões de euros (segundo fontes da comunidade, 5,2 mil milhões correspondem aos produtos agora vetados). Serguéi Dankvert, diretor do Serviço de Inspeção Agrícola e Pecuária russo, reuniu num primeiro momento com os embaixadores de Brasil, Argentina, Chile, Equador e Uruguai. Depois o "governo de Vladimir Putin" deu um passo muito mais concreto quando decidiu suprimir a proibição sanitária (vigente desde 2011) que pesava sobre 89 empresas de carnes do Brasil e 18 fábricas peruanas de tratamento de peixe. Fora da geografia latino-americana, Turquia e Bielorússia meteram-se na mesma brecha.
Os porta-vozes da UE protestaram contra a presença de "governos por trás" dos produtores privados. O argumento é de uma hipocrisia continental. Os 28 governos da UE estão, de maneira direta ou através de Bruxelas, por trás de todos os grandes contratos que se firmam no mundo.
A União Europeia afirma que contempla iniciar negociações com os países latino-americanos com forte potencial para substituir os produtos europeus. Fontes anónimas da UE declararam a vários jornais que se trata de negociações políticas cujo objetivo consiste em "enquadrar" o maior número possível de países a fim de pressionar a Rússia. O tema, porém, é outro: os europeus temem perder o mercado russo num momento em que o renovado esquema da Guerra Fria produz uma significativa aproximação entre Rússia e América Latina. O momento mais emblemático dessa relação recuperada ocorreu em 2008, quando as forças navais da Rússia e da Venezuela realizaram manobras conjuntas nas Caraíbas. A Rússia vendeu depois à Venezuela material militar numa operação estimada em 3 mil milhões de euros.
 
Exímio jogador de xadrez internacional, o presidente russo deslocou as suas peças no tabuleiro latino-americano com um olhar estratégico. O ministro britânico de Relações Exteriores, Philip Hammond, qualificou Vladimir Putin de "pária" na Europa. Na América Latina, em troca, o chefe de Estado russo foi um actor de peso.
 
Antes de Putin viajar para Cuba em Julho passado, o Parlamento Russo aprovou uma lei mediante a qual perdoou 90% da dívida que Havana tinha com Moscovo (35 mil milhões de euros). Na sua escala na Nicarágua, o presidente russo fez uma promessa: contribuir com a construção de um grande canal interoceânico capaz de competir com o Canal do Panamá.
 
Putin viajou também a Buenos Aires, onde firmou acordos de cooperação energética, e depois ao Brasil para participar em Fortaleza da cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Ali, estes países deram um passo histórico quando anunciaram a criação de um banco fora do circuito ocidental, o Banco de Desenvolvimento. O confronto na Ucrânia e a sua repercussão nas relações entre a Rússia e as potências do Ocidente colocou a América Latina no centro do jogo. A Europa busca agora a melhor maneira de tirar do meio um sócio múltiplo que ameaça as suas prerrogativas comerciais. A União Europeia vende à Rússia 10% da sua produção agrícola. No entanto, frente à ameaça latino-americana, Bruxelas argumenta que não é oportuno tratar com um sócio "pouco confiável" como Moscovo e que seria um erro maior dos países latino-americanos "sacrificarem uma relação económica já extensa por benefícios de curto prazo".
Na viagem que realizou em Julho passado à região, Vladimir Putin disse que a América Latina estava a converter-se "numa parte importante do mundo policêntrico emergente". O Ocidente fará todo o possível para reduzir o policentrismo.
Dupla linguagem, dupla geometria. A União Europeia e os países que a compõem sacam a bíblia dos valores segundo lhes convém. Por exemplo, apesar das múltiplas sanções e ameaças proferidas contra Moscovo pelo Ocidente, a França não renunciou a vender e entregar à Rússia dois navios porta-helicópteros Mistral por um valor de mil milhões de euros. Os malabarismos e advertências da UE não amedrontaram os actores institucionais ou privados. No Brasil, Ricardo Santin, presidente da secção de aves da Associação Brasileira de Proteínas Animais (ABPA) vê claramente uma "oportunidade para aumentar as suas exportações para a Rússia".
 
Entre janeiro e Junho deste ano, o Brasil exportou para a Rússia 563 milhões de dólares em carne bovina. O comércio bilateral entre Brasília e Moscovo representou 3 mil milhões de dólares no mesmo período. O secretário de Política Agrícola brasileira, Seneri Paludo, qualificou de "revolução" as possibilidades abertas pelo embargo russo. Na Argentina, o chefe de gabinete da presidência, Jorge Capitanich, deixou claro que a "Argentina gerará as condições para que o setor privado, com o impulso do Estado, possa aumentar as exportações e satisfazer a procura do mercado russo".
 
Segundo um informe publicado pela Câmara Argentino-Russa, no ano passado o comércio entre ambos os países cresceu 30%: passou de 1,98 mil milhões de dólares em 2012 para 2,627 mil milhões em 2013. Na frente do Pacífico, Chile, Peru e Equador estão na mesma linha. O Chile com o salmão (antes vinha da Noruega), as maçãs, peras e uvas (Polónia, França e Itália), o Equador com as frutas e flores (Holanda) e o Peru com o pescado. A nova Guerra Fria pode dar lugar a uma nova mudança do geocomércio.
 
Para ter uma ideia cifrada das necessidades russas, entre Janeiro e Maio de 2014, a Rússia importou produtos agroalimentares num valor de quase 17 mil milhões de dólares. Os cínicos da Europa clamam agora por um pouco mais de lealdade. Xavier Beulin, presidente da mega-subsidiada Federação Nacional de Sindicatos de Exportações Agrícolas (FNSA), saiu a denunciar o "oportunismo" dos produtores de Brasil e Argentina.
 
Os porta-vozes da UE protestaram, por sua vez, contra a presença de "governos por trás" dos produtores privados. O argumento é de uma hipocrisia continental. Os 28 governos da UE estão, de maneira directa ou através de Bruxelas, por trás de todos os grandes contratos que se firmam no mundo. Os monstruosos subsídios agrícolas e os seus 373 mil milhões de euros distribuídos entre os 13 milhões de agricultores da UE são uma prova mais que evidente. Na viagem que realizou em Julho passado à região, Vladimir Putin disse que a América Latina estava a converter-se "numa parte importante do mundo policêntrico emergente". O Ocidente fará todo o possível para reduzir o policentrismo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

IRONIA E AGRESSÕES CRESCEM NA CRÍTICA ECONÓMICA

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Brasil-O mercado financeiro continua reagir mal à associação de factos que indicam a resistência da presidente Dilma Rousseff em manter-se à frente nas pesquisas de opinião, com chances reais de vencer a disputa em primeiro turno, a projeções sobre a economia feitas pelo próprio mercado financeiro.
Entre o que é a realidade política e o que pode ser uma ficção económica – já há expectativas de analistas, nem sempre identificados, de que até 2018 o Brasil terá PIB baixo e inflação alta, como está na manchete do jornal Folha de S. Paulo desta terça-feira (12), a verdade é que os nervos estão à flor da pele entre banqueiros, consultores e executivos do poderoso ramo financeiro da economia.
Do exterior, o jornal inglês Financial Times voltou a mostrar suas unhas de ironia. Nota na secção sobre países dos Brics classificou como "dança da cordinha" a redução das expectativas de crescimento criadas pelo próprio mercado financeiro para o Brasil. No Boletim Focus publicado na segunda-feira 11, a mediana das projeções de economistas ouvidos pelo Banco Central mostrou redução, pela 11ª semana consecutiva, das expectativas de crescimento para 2014. Elas convergem, agora, para 0,81% de elevação do PIB neste ano.
Divertindo-se a valer com isso, o FT não demonstrou nenhum senso de humor, na mesma nota, ao lembrar seus leitores que "a avaliação do governo" da presidente Dilma Rousseff "subiu no Ibope". O dado indicou que ela não está sofrendo nas pesquisas como seus adversários gostariam que estivesse. O FT, por isso, se mostrou amuado logo depois da fazer sua imagem.
BAIXARIA - Por aqui, a consultoria Rosemberg & Associados, de um dos formuladores do Plano Cruzado – aquele que começou congelando preços, em 1986, e logo depois das eleições para governador terminou com uma chuva de aumentos de tarifas públicas, no governo José Sarney -, Luiz Paulo Rosemberg, partiu para esmurrar o estilo. Entre conceitos vagos e descompromisso com o respeito ao adversário, perpetrou mais uma análise financeira, assinada por quatro economistas, em tudo mal humorada, mal sustentada e francamente resignada.
O relatório da Rosemberg transmitido a clientes da casa, entre os quais os bancos Itaú e Santander, parte de uma análise política assumidamente de oposição.
Dilma está plantada numa sólida diferença para os demais candidatos que, se não é confortável, é "desencorajante", assegura o texto, que passa a lamentar uma regra da eleição, a distribuição do horário eleitoral pela televisão de acordo com regras de proporcionalidade partidária garantidas pelo TSE.
Dilma vai dispor de muito mais tempo que os outros para 'alertar' a classe baixa de que a elite está tentando anular suas conquistas e trazer de volta um passado de dificuldades, reclamam os analistas.
O passo seguinte é um golpe baixo, desferido a partir de conceitos vagos e termos grosseiros
É por isto que, visto de hoje, o cenário mais provável é a continuidade da mediocridade, do descompromisso com a Lógica, do mau humor prepotente do poste que se transformou em porrete contra o senso comum.
Vale perguntar: Lógica de quem, cara pálida? Da banca ou do pato? Senso comum de quem? Dos espertos ou dos trouxas?

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Bruxelas Critica que a América Latina se Aproveite do Veto Russo à Europa

América Latina-A rapidez de vários Governos latino-americanos em se oferecerem como parceiros comerciais da Rússia não caiu nada bem em Bruxelas. A Comissão Europeia transmitirá aos representantes de “um grupo de países” do continente americano seu desacordo com a rápida reação depois das sanções russas aos produtos agrícolas dos EUA, Austrália, Canadá e Noruega, e começará a notificá-los para “reconsiderar” seus contratos em andamento com um parceiro “não fiável” como Moscou, segundo confirmaram fontes ligadas à UE na segunda-feira.
 
Com este movimento, a União Europeia procura chamar a atenção de um movimento que não considera leal, mesmo que seus 28 Estados membro não pretendam turvar suas boas relações diplomáticas e comerciais com países como Brasil ou Argentina.
 
“Podemos entender que produtores e exportadores, empresas privadas em última instância, busquem novas oportunidades. O que não compartilhamos é que haja Governos por trás disso”, afirmaram. Estas mesmas fontes enfatizaram que a UE não se imiscuirá em contratos privados, mas “lamentam” a atitude desse grupo de países e advertem da escassa integridade de Moscou como parceiro comercial. “Sacrificariam uma relação econômica em longo prazo por benefícios em curto prazo”.
 
Dessa atitude, Bruxelas recebeu na mesma segunda-feira outra boa mostra. Neste caso, de Buenos Aires: “A Argentina gerará as condições para que o sector privado, com o impulso do Estado, possa satisfazer a procura do mercado russo”, afirmou o chefe de gabinete do Governo argentino, Jorge Capitanich.
 
Com a assinatura desses acordos comerciais, a Rússia —o quinto maior importador de alimentos do mundo— procura suprir parte das carências que sua ruptura unilateral com a UE e os EUA poderia deixar em seu mercado interno. Apenas em 2013, as compras de alimentos europeus, agora vetadas, somaram 5,252 bilhões de euros (cerca de 16 bilhões de reais).
 
Em Bruxelas já havia caído especialmente mal que os embaixadores de Argentina, Chile, Equador e Uruguai em Moscou tenham se reunido com o maior responsável pelo Serviço de Inspeção Agrícola e Pecuária russo, Serguei Dankvert, poucas horas depois de o Kremlin decretar a proibição das importações.
 
Apesar do mal-estar, o Executivo europeu optará por uma queixa de perfil baixo. Nos próximos dias, representantes diplomáticos europeus transmitirão o protesto aos seus homólogos latino-americanos e, por enquanto, o aviso não ultrapassará o âmbito político. A UE estuda canalizar a mensagem por meio das delegações desses países nas instituições comunitárias ou pelos escritórios de representação da Comissão Europeia nas capitais latino-americanas.
 
O descontentamento europeu com as gestões de vários Governos latino-americanos com Moscou chega em um momento decisivo nas negociações para a assinatura de um tratado de livre comércio entre a EU e o Mercosul —o bloco regional que engloba Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Depois de quase duas décadas de conversações, os países latino-americanos esperam uma proposta europeia e os próximos meses, com a chegada de um novo Colégio de Comissários a Bruxelas, serão fundamentais. Mesmo que o Executivo comunitário prefira não relacionar o mal-estar da UE com o potencial acordo com o Mercosul, vários funcionários europeus contrastavam na segunda-feira sua atitude com a “lealdade manifesta” de países como Austrália, Canadá e Noruega, que fizeram suas as sanções contra a Rússia.
 
Bruxelas lida também com um mal-estar interno, o dos produtores agrícolas. Já está programada uma reunião para abordar o assunto, nesta quinta-feira, mas o comissário de Agricultura, Dacian Ciolos, afirmou na segunda-feira que, por enquanto, serão adotadas “medidas de apoio” aos produtores de pêssego e nectarina, que ao veto russo somam os efeitos de “condições meteorológicas adversas”.