quinta-feira, 9 de agosto de 2012

África Enviará Força Militar Contra Rebeldes do Congo

África-Os Estados da África Central e Oriental concordaram terça-feira última em enviar uma força militar conjunta para subjugar os insurgentes do leste da República Democrática do Congo (antigo Zaire), região rica em minerais mas turbulenta do país centro-africano.

Ao mesmo tempo,terça-feira passada, o presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, começou uma reunião com o presidente de Ruanda, Paul Kagame, na qual os dois discutem a formação da força militar conjunta para combater os rebeldes e os grupos de bandidos que atuam no leste do Congo.

Todas as iniciativas ocorrem logo após a visita da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que fez um apelo pessoal a Ruanda para que corte todo o apoio que fornece aos insurgentes.

"Nós pedimos aos países da região, incluída Ruanda, que trabalhem juntos para cortar todo o apoio aos rebeldes do M23, que eles sejam desarmados e levados à Justiça", disse Hillary, após conversar  com o chanceler da África do Sul em Pretória.

O governo de Kinshasa acusa Ruanda de armar e financiar os insurgentes do M23, que combate tropas regulares do Congo desde Abril no leste congolês. Já o governo de Ruanda acusa seu vizinho de planejar ataque contra rebeldes ruandeses da etnia hutu na mesma região.

O anúncio da terça-feira também se segue à cúpula da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (ICGLR, na sigla em inglês) uma organização política que reúne 11 países da África central e austral. A ministra das Relações Exteriores de Ruanda, Louise Mushikiwabo, disse que a força deverá ser enviada logo após a formação ao leste do Congo, e que seu objetivo é evitar que uma nova e sangrenta guerra se espalhe pela região inteira, como ocorreu no final da década de 1990.

"A força regional será enviada o mais cedo possível, logo após acertarmos os detalhes finais na próxima reunião", disse a chanceler de Ruanda. A próxima reunião ocorrerá em 15 de Agosto.

Na semana passada, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu um "fim imediato a qualquer apoio" que seja concedido ao M23, que nas últimas semanas derrotou as tropas da República Democrática do Congo em várias cidades mineradoras do leste do país. Os rebeldes congoleses do M23 são chefiados pelo general desertor Bosco Ntaganda, que abandonou o governo de Kinshasa em Abril levando centenas de soldados.

Os combates mais recentes que irromperam no leste do Congo podem reviver o conflito pan-regional africano, que durou do final dos 1990 até meados da década passada, deixando mais de 6 milhões de mortos, e também aumentar o contrabando de minerais como estanho, ouro e tântalo, um mineral raro e caro usado para fabricar componentes de microcomputadores.

O Congo é o terceiro maior produtor mundial de tântalo, de acordo com o Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação. O medo é que Bosco Ntaganda use o contrabando de minerais para financiar os rebeldes.

Crise na África se Intensifica

ÁFrica-O grau de vulnerabilidade pelo qual passam os cidadãos de vários países da África se intensificou nos últimos meses, com o quadro de seca e consequente desertificação. Países do Sahel (Chade, Mali, Mauritânia e Níger, Senegal e as regiões do norte do Camarões e Nigéria), do Chifre da África (Somália, Djibuti, Etiópia e Eritréia), o Congo, a Costa do Marfim... passam por uma crise humanitária sem precedentes. Somado a isso, guerras civis - principalmente no Congo e Somália , além de registros de violências sexuais em algumas localidades. A desnutrição crônica é real e tem como principais vítimas as crianças.

O "crescimento na economia" africana registrado nos últimos anos (5,2% em 2011), conforme o Relatório do Desenvolvimento Humano de África 2012: em Direção a um Futuro de Segurança Alimentar, do Programa das Nações Unidas sobre Desenvolvimento (PNUD), simplesmente na prática é destoante com o quadro de miserabilidade.Como justificar que praticamente 900 milhões de pessoas estejam subnutridas?

Ao ler as notícias sobre a situação atual dessas mulheres, homens e crianças e fazer um paralelo com o que se torna chamada de capa em dias seguidos pela mídia a fora, eu me pergunto quando iremos acordar para o sentido do que realmente importa na agenda da "sustentabilidade". O Fundo Clima (acordado em Copenhague em 2009) até agora não saiu do papel. A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP18), em Doha, no Qatar, se aproxima e o que será diferente nas mesas de negociações?

A proposta foi de se destinar o valor de US$ 100 bilhões anuais em financiamento climático até 2020 para facilitar a adaptação de países em desenvolvimento às mudanças climáticas. Até agora não se decidiu de onde serão as fontes. Entre 23 e 25 de Agosto haverá uma rodada prévia a respeito, entretanto, o cenário de decisões ainda é complexo com a crise econômica nos EUA e Europa.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) , da ONU, não dá conta de suprir essa escala cada vez maior de necessidades (emergenciais). Ao mesmo tempo, é alarmante que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos sejam desperdiçadas no mundo (mais da metade do que é produzido). Um estudo da agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) aponta que em países mais pobres ou em desenvolvimento, a maior parte dos alimentos é perdida durante o processo de produção e transporte. Já nos mais ricos, ocorre após a compra pelos consumidores.

Ainda é necessário lembrar do flagelo sobre o Haiti, nas Américas, e a Guerra Civil, na Síria, em que há um número aproximado de três milhões de pessoas que necessitam de ajuda humanitária, nesse contexto, por um período de meses. Tudo isso reflete uma dinâmica de mundo "adoecida". O êxodo de pessoas que tentam escapar das guerras civis, das ditaduras e da fome se alastra pelo mundo. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), os refugiados em 2011 da Somália foram 1,1 milhão, do Sudão (500 mil) e (491 mil) na República Democrática do Congo .

Não há campos de refugiados suficientes (como um paliativo,claro) a todo esse contingente de pessoas...No Quênia, por exemplo, a situação está no extremo há muito tempo...Em 2011, chegaram a se deslocar para lá 566,5 mil pessoas e ao Chade, 366,5 mil.

O ciclo desagregador da desnutrição está associado a quadros epidêmicos, como do cólera. A dificuldade de colheitas cria um mercado especulativo em que o valor dos alimentos básicos encarecem e se soma em muitos países a regimes ditatoriais e a guerras civis.

No Níger, de acordo com a organização humanitária Oxfam, os aumentos chegam à faixa de 50% ao praticado em 2010. Lá estima-se que cerca de 8 milhões de pessoas estão afetadas.

As relações internacionais no campo da cooperação não conseguem suprir o mais básico: além dos gêneros de primeira necessidade, auxiliar na reintegração da condução política transparente e humanitária desses países...da ajuda técnica para as culturas de subsistência, de sistemas de irrigação e de saneamento.

Há ações das mais variadas, mas ainda muito aquém da necessidade real. Aqui no cone Sul, o presidente boliviano, Evo Morales, por exemplo, lançou em junho, a proposta mundial da "quinua" ser uma estratégia contra a fome, tendo em vista, que o grão se aclimata em outras regiões, além dos Andes. O Brasil mantém com a África, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA-África), que deverá ser desenvolvido em médio prazo inicialmente no Níger, em Maluí, Moçambique, no Senegal e na Etiópia.

Algumas ações isoladas em diferentes países não dão conta dessa desestruturação. Em nações, que sofrem menos que as mais vulneráveis (mas que enfrentam graves problemas), como Moçambique, está havendo investimento em psicultura.

Enquanto isso, o homem se vangloria de ir a Marte e não consegue administrar o mais elementar, que é a vida na Terra.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Indignação da Liga dos Direitos Humanos Guineenses

Guiné-Bissau-A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) suspendeu a sua participação no Movimento da Sociedade Civil (MSC) por considerar que alguns dirigentes da organização assumiram um posicionamento de «claro apoio ao golpe de Estado» de 12 de Abril último, na Guiné-Bissau. «À revelia das deliberações adotadas pela Direção do Movimento após a alteração da ordem constitucional, um grupo de dirigentes tem colocado a organização numa situação extremamente comprometedora, chegando ao ponto de promover mediações e encontros com as pessoas implicadas na sublevação militar, inclusive de propor figuras para conselheiros do alegado presidente de transição», justificou o presidente da Liga, citado pela agência Lusa.

Segundo Luís Vaz Martins, depois dos esforços dos membros e dirigentes da LGDH, que chegaram a pôr em risco «a própria vida», a sua organização não pode alhear-se «dos valores da democracia e do Estado de direito democrático». «O comportamento de alguns dirigentes, acrescidos às declarações prestadas pelo porta-voz do Movimento, no passado, e a passividade do presidente [do MSC], representam implícita e objetivamente o reconhecimento das autoridades saídas do golpe numa clara violação dos princípios da democracia interna, fundada na regra da maioria", observou.

O presidente da Liga diz ter feito várias tentativas para chamar a atenção da direção do Movimento, que congrega mais de 100 organizações da sociedade civil guineense, mas acabou por perceber que o posicionamento dos seus principais responsáveis tirou credibilidade interna e externa à organização. Neste contexto, decidiu pedir a suspensão do seu estatuto de membro, até ao próximo congresso do MSC, previsto para Novembro.

Programa de Luta Contra a SIDA Sem Dinheiro na Guiné-Bissau

Guiné-Bissau-Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, João José Monteiro afirmou que há mais de cinco meses que a Guiné-Bissau deixou de receber verbas do Fundo Global das Nações Unidas para o tratamento aos doentes.

"O Fundo Global, embora diga que não, está a fazer economias e depois alega a questão da alteração da ordem constitucional para justificar atrasos incompreensíveis na transferência de verbas que possam ajudar a continuar o trabalho que estamos a fazer", disse José Monteiro.

"A situação é grave. Por exemplo, na área do tratamento há três ou quatro elementos que podemos citar, há quatro/cinco meses que o secretariado não tem conseguido pagar os exames biológicos aos pacientes. Como os tratamentos são pesados, há um grupo de ativistas que acompanham os doentes nos tratamentos, mas há muito tempo que esses ativistas não recebem os seus subsídios", exemplificou.

O coordenador do secretariado nacional de luta contra SIDA na Guiné-Bissau apontou ainda os constrangimentos burocráticos que a instituição que dirige tem sofrido por falta de fundos.

"Aqui no escritório há mais de cinco meses que não recebemos salários. Antigamente tínhamos energia permanente, mas agora não temos energia, não temos Internet e telefone", observou Monteiro, sublinhando que tudo isso afeta a chamada "resposta nacional" no combate à doença.

«População Está Cansada de Ser Enganada

 
O golpe de Estado surgiu no pior momento para a Guiné-Bissau, quando o país «respirava» já uma certa estabilidade política. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, o bispo de Bafatá, Pedro Zilli, considera que o trabalho de recuperação vai ser muito difícil.

Guiné-Bissau-As expectativas do bispo de Bafatá em relação ao futuro da Guiné-Bissau são pouco animadoras. Pedro Zilli considera que o processo de democratização do país sofreu um revés com o assalto dos militares ao poder e teme que a população mergulhe numa fase de desconfiança crónica em relação aos órgãos de soberania. Os mais prejudicados continuam a ser «os pobres, as crianças e as mães desnutridas».

«A nossa esperança é que eles [quem assumiu o governo e a presidência do país] façam aquilo que se propuseram fazer, que é preparar as próximas eleições. Mas não vai ser fácil. A população já está cansada de ser enganada. Além de ser preciso encontrar dinheiro para as eleições, é necessário descobrir pessoas que se candidatem e é urgente reconquistar a população, para que vá votar», disse o bispo à FÁTIMA MISSIONÁRIA, durante uma curta passagem por Portugal.

Depois da destituição do governo guineense, a Igreja Católica juntou a voz aos muçulmanos, evangélicos e representantes da religião tradicional, num comunicado conjunto, onde se apelou «ao bom senso, ao diálogo e à paz». No entanto, há males que dificilmente serão reparados, em consequência da instabilidade política. O setor da educação, por exemplo, foi dos mais afetados. «Este ano letivo ficou muito prejudicado. Foi um ano muito sofrido, porque houve greves, eleições, e depois o golpe de Estado», sublinha Pedro Zilli.


Sem informações concretas sobre as verdadeiras razões do derrube do governo da Guiné-Bissau, o prelado, admite, no entanto, que na origem do golpe possam estar «interesses ocultos». E, dentro desse tipo de interesses, as questões do narcotráfico são sempre uma hipótese em aberto. «É uma pena porque o país já era pobre, já vivia com muitas dificuldades, e isso veio criar ainda mais dificuldades», lamenta.

Admirador confesso da fé do povo guineense e da liberdade religiosa que se cultiva no país, Pedro Zilli deseja agora que os políticos assumam as suas responsabilidades e levem a nação para a frente em modo democrático e que os militares fiquem onde dizem que querem estar: no lugar dos militares. «Como numa boa equipa de futebol, gostava que cada um estivesse na posição em que deve estar, para podermos ganhar o jogo», conclui o prelado.

Pedro Zilli nasceu em São Paulo, no Brasil, há 57 anos. Foi enviado como missionário para a Guiné-Bissau pelo Pontifício Instituto das Missões, em 1985. Em 2001, foi nomeado bispo da diocese de Bafatá, criada no mesmo ano. Desde que chegou à Guiné tem partilhado a sua vida e missão naquele país pobre e instável, onde a Igreja Católica investe nas áreas da Pastoral, Educação, Saúde, Comunicação e Diálogo Inter-Religioso.

Federação Critica Transferências de Cá e Edgar Yé

Federação critica transferências de Cá e Edgar Ié
Guiné-Bissau-O presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), Manuel Nascimento Lopes, teceu  segunda-feira última duras críticas ao agente dos jovens jogadores luso-guineenses Agostinho Cá e Edgar Ié, recentemente transferidos do Sporting para Barcelona B.

Para Nascimento Lopes, o clube onde os dois atletas foram formados a União Desportiva Internacional de Bissau (UDIB) devia receber 750 mil euros à luz das regras fixadas pela FIFA, no âmbito dos direitos de formação.

«A UDIB devia receber 750 mil euros por estes dois atletas, mas, ao que conta, os agentes dos jogadores não entregaram nada ao clube. Isso é um crime contra o futebol. Não podemos admitir que isso continue no nosso futebol», defendeu Manuel Lopes, quando fazia abertura oficial do campeonato do bairro Militar, subúrbios de Bissau.

Segundo Nascimento Lopes, «há empresários, ou agentes, que falam e ganham dinheiro em nome do futebol, sem dar cavaco aos clubes ou aos familiares dos atletas».«Nós vamos lutar contra isso», declarou o presidente da federação de futebol guineense.

Jovens naturais da Guiné-Bissau, mas naturalizados portugueses, Agostinho Cá e Edgar Ié transferiram-se do Sporting para o Barcelona B, no passado mês de Julho, depois de alguns meses de polémica entre o agente de ambos, o clube catalão e o Inter de Milão, de Itália.

Advogado Conta Como Foi Defender Mandela há Quase 50 anos


Africa do Sul-Foi devido ao avanço alemão na Segunda Guerra que, aos 13 anos, George Bizos teve de abandonar a Grécia, onde nasceu, e se refugiar na África do Sul. Lá, ele se tornaria um dos mais importantes advogados de ativistas contrários ao apartheid, o sistema de segregação racial branco extinto em 1994. Um de seus casos foi defender Nelson Mandela no julgamento em que o líder escapou da pena de morte, em 1963.

Conheci Nelson Mandela em 1948, na faculdade de direito. Ele era meu veterano e um ativo opositor do governo que acabara de ser eleito com sua política de apartheid. Já era notável. Era alto, bonito, fazia ótimos discursos. Era também o mais bem vestido.

Mandela queria se tornar o primeiro advogado negro da África do Sul, mas acabou impedido pelo reitor. Foi reprovado numa disciplina e proibido de repetir o exame. Não teve escolha senão tornar-se consultor jurídico. Trabalhamos juntos em vários casos.

Em 1956, Mandela e mais 150 foram presos e acusados de traição. Eu era parte de um time de quatro advogados, e usamos o júri para mostrar ao mundo a verdade: que eles defendiam a igualdade para todas as pessoas do país e que os brancos não tinham nada a temer, já que integrariam a nova sociedade. Cinco anos depois, foram absolvidos.

Mandela foi preso em 1962, ao retornar de uma viagem ao exterior tida como ilegal. Em 1963, ele e outros foram acusado de sabotagem e de outros crimes equivalentes ao de traição, mas mais fáceis de serem provados. E eles, de fato, admitiam seu envolvimento em ataques.

O caso ficou conhecido no mundo todo como Tribunal de Rivonia, e o discurso que Mandela fez, no fim da sessão, foi um dos mais importantes da sua carreira.

Disse: "Durante minha vida, eu me dediquei à luta do povo africano.Lutei contra a dominação branca e contra a dominação negra. Nutri a ideia de uma sociedade democrática e livre na qual todos vivem juntos em harmonia, com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer".

Os detratores espalharam boatos de que um negro jamais poderia ter escrito aquele discurso. Mas eles se esqueciam de que Mandela era um advogado.

Só o que fiz foi dizer, pouco antes de ele discursar: "Nelson, isso pode ser interpretado como se você estivesse buscando o martírio. Por que você não adiciona as palavras 'se preciso for'?".

Nas folhas originais se vê a anotação, à mão, "se preciso for". [Mandela escapou da pena de morte, mas foi condenado à prisão perpétua. Foi libertado em 1990.]

Sempre o visitava na prisão, ainda mais quando entrei para a comissão que escrevia a Constituição sul-africana, porque ele queria dar umas ideias. Ele é um democrata de coração. Não dita, discute. Sempre começa frases com: "O que aconteceria se...". Tivemos a sorte de ter um líder como Mandela. Ele convenceu a maioria a não temer uma grande mudança.

Depois de cumprir seu mandato, Mandela rejeitou a reeleição, torcendo para que outros líderes africanos seguissem seu exemplo, mas isso não aconteceu. Distante da política, criou a Fundação Nelson Mandela, viajou e discursou muito pelo mundo.

Com a velhice, ficou menos ativo. Somos amigos e nos vemos com frequência. Ele está com 94 anos, e sua memória está falhando. Como muitos idosos --inclusive eu--, ele se esquece do que ocorreu há pouco tempo, mas se lembra bem dos anos 50, 60 e 70.

Hoje ele está bem. Mas vira e mexe um amigo recebe um e-mail perguntando se ele morreu. Jornalistas que estão escrevendo o obituário de Mandela pedem que eu fale sobre ele no passado. Não estou preparado para isso. Por acaso dá para imaginar como estaria o mundo se Mandela tivesse sido executado?

Três séculos e meio de injustiça contra a vasta maioria da África do Sul não podem ser curados em anos.

Há ainda pobreza, desemprego e falta de oportunidades, para a decepção de muitos de nós. O desemprego empurra algumas pessoas para o crime, há corrupção. Mas nosso Judiciário é forte, e a maioria dos sul-africanos acredita que sua independência deve ser protegida.