sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Contributos para uma teoria do caos


O mundo está perigoso. Se eu fosse o Chico Buarque optaria por dizer que a coisa está preta. A Simone, a brasileira Bettencourt de Oliveira, talvez optasse por uma mais dolorosa e incomodada versão do "Começar de Novo", enquanto o Fausto não deixaria de confirmar que o barco está de saída e, como vêm aí mouros e turcos, quem nos acode que o barco vai ao fundo? Vamos por partes. Comecemos com uma das grandes dores de cabeça do momento. O vírus Zika está a mobilizar exércitos e a colocar governos e a Organização Mundial de Saúde (OMS) num estado de alerta profundo. Uma dúvida surge: Poderá o "El Niño" estar na origem da explosão do temível vírus Zika? Há cientistas inclinados a aceitar esta hipótese, como reporta num bem documentado trabalho a revista norte-americana Mother Jones. O caso está tomar proporções extremas, ao ponto de as mulheres em El Salvador terem sido aconselhadas a não engravidar.Vera Lúcia Arreigoso dá-nos conta da confirmação de seis casos em Portugal, e a Mafalda Ganhão fala do alerta lançado pela OMS. A situação é mesmo muito grave e a BBC avança já com uma previsão da OMS segundo a qual o vírus pode vir a afetar 4 milhões de pessoas.

A revista Atlantic traz um excelente trabalho construído a partir de uma espécie de manual de como não receber bem ou não dar as boas vindas aos refugiados. Refere-se, é claro, e perdoe-se o adjetivo, à infame decisão da Dinamarca de confiscar os bens de refugiados. Podia acrescentar-lhe a atitude da Suécia de, como sublinha hoje o editorial do Público, instituir um programa de deportações para lidar com as vagas de refugiados. A BBC faz um trabalho sobre esta vontade sueca de deportar 80 mil refugiados. António José Teixeira tinha ontem ontem no Expresso este título: "Tapa-se a vergonha e confisca-se a dignidade", para dizer que "o medo está a condenar a Europa. Medo de si própria, medo do outro, de dar a mão, medo de se afirmar, medo de honrar os valores por que tanto se sacrificou". Estão a ver porque chamei a canção de Fausto à colação? A EU é na verdade um enorme navio. Navega em águas muito agitadas e corre o risco de, para usar uma linguagem do basquetebol, sofrer um grande afundanço.

Veja-se a Grécia. Até já é ameaçada de ser excluída do Espaço Shengen por alegadamente não estar a cumprir as suas obrigações de conter os refugiados. É que, enquanto sopram grandes e verdadeiras tempestades, daquelas para as quais é necessária coragem e determinação, como única forma de enfrentar os fortes (ventos, se quiserem, embora fique implícita a metáfora), a grande, a candente questão da Europa é a preocupação com o défice de um minúsculo país como Portugal. Há uma diferença substancial de estimativas entre o Governo e a Comissão Europeia em relação à variação do valor do défice estrutural em 2016. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental-UTAU também veio sustentar que o exercício orçamental considera medidas extraordinárias e temporárias não conformes com o Código de Conduta para a Implementação do Pacto de Estabilidade e Crescimento e acusa o Governo de melhorar "artificialmente" o esforço orçamental. A Deloit vem dizer que o Orçamento é um documento sem grandes medidas e que assenta na crença. O Governo está a ensaiar uma defesa assente num pressuposto: a inscrição da reversão da austeridade como medida extraordinária, lê-se no Público, está baseada no facto de, quando as medidas foram aplicadas em 2011 e 2012, terem sido apresentadas como sendo temporárias. Assim, o carater temporário dessas medidas devia estar expresso nas contas.

A pressão é enorme e, dizia ontem Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo, vai aumentar, até pelo jogo que será feito no âmbito da União Europeia a partir do que se considera ser a fragilidade inerente ao facto de o Governo ter o apoio do BE e do PCP. Há a expectativa de que a corda rompa, o que nos conduz à pescadinha de rabo na boca. Já se perguntou porque é que os governos parecem incapazes de resolver os problemas concretos das pessoas? Há quem explique esta situação com uma afirmação com a qual qualquer pessoa de bom senso, como diria o futuro ex-presidente da República, estará de acordo. Hoje é possível estar na política sem estar no poder. O verdadeiro poder pertence a quem controla a economia. E quando assim é, aproximamo-nos perigosamente do incontrolável caos na gestão da coisa pública. É uma teoria.
                             
 OUTRAS NOTÍCIAS
Está em curso uma greve convocada pelos sindicatos da Frente Comum, afetos à CGTP. Escolas e hospitais estão a ser os locais mais afetados nesta luta pela reposição imediata das 35 horas semanais de trabalho.

O IVA na restauração está de volta. A partir de 1 de julho regressa a aplicação da taxa de 13%, mas apenas para a comida. As bebidas continuarão a ser taxadas a 23%.

Hoje a partir do final da tarde vai começar a discutir-se o BANIF. O PS vai tomar posição pública e o Ministro das Finanças, Mário Centeno, será ouvido na Comissão de Orçamento e Finanças. Entretanto já se sabe que a Comissão Parlamentar de Inquérito será presidida pelo deputado do PCP António Filipe. Na Comissão estarão parlamentares como Mariana Mortágua, do BE, ou João Galamba, do PS, bem como João Almeida, do CDS. Ainda não se conhecem nomes do PSD.

Um conjunto de militantes do PS de Coimbra vão fazer um acordo com o Ministério Público para evitar a ida a julgamento com a acusação de crimes de falsificação de documentos no preenchimento de fichas na filiação de militantes. Em troca prestarão trabalho comunitário ou pagarão algumas verbas em dinheiro.

A estação de comboios de S. Bento, no Porto, vai acolher um hotel e áreas comerciais e culturais. O objetivo é a ocupação comercial de uma área de perto de 9 000 metros quadrados em plena baixa portuense.

Álvaro Siza está a construir uma torre de alto luxo em plena Manhattan, em Nova Iorque. É um prédio a partir de cujo topo se desfruta de uma paisagem única, equipado com solário, terraços privados, piscina, o último grito em spa e centro de "fitness", espaços para as crianças brincarem e outras mordomias. "Siza Matters", como diz o Architects Newspaper, que nos mostra uma primeira foto do edifício.

Pode a estrela de "Titanic" assumir a pele de um ícone bolchevique? Ver Leonardo di Caprio a encarnar no cinema a figura de Lenine não é algo passível de agradar aos comunistas russos, que já expressaram as suas reservas de forma clara. A polémica está lançada, o ator diz-se entusiasmado com a ideia desenvolvida pelos estúdios russos Lenfilm. O ator acrescentou que de igual modo ficaria deliciado se lhe entregassem o papel de Putin ou de Rasputine.

Blade Runner vai regressar com Harrison Ford, assegura a revista Esquire. Lançada em 1982, a fita teve então modestas receitas de bilheteira. Transformou-se, porém, em filme de culto. Surgem agora notícias de um Blade Runner 2, realizado, já não por Ridley Scott, que sempre colocou muitas reservas quanto a essa hipótese, mas pelo canadiano Denis Villeneuve.

Há sinais de mudança na Lego. Pela primeira vez na sua história, a companhia produtora das peças responsáveis pela consrução de muitos imaginários e incontáveis sonhos, admite criar uma figura que se movimentará em cadeira de rodas. Deverá acontecer no próximo Verão e é uma espécie de primeira e tímida resposta às insistentes críticas relativas à pouca diversidade revelada pela companhia.

NÚMEROS
42,1
Custo em euros do trabalho/hora no setor privado na Dinamarca. Seguem-se a Bélgica (41,1) e Suécia (40,1).

24,6
Custo médio
em euros do trabalho/hora na União Europeia. Imediatamente acima está o Reino Unido (25,1). Imediatamente abaixo está a Espanha (21).

12,7
Custo em euros do trabalho/hora no setor privado em Portugal. O último da lista dos 28 países da UE é a Hungria (7,9).

(Fonte: Institut für Makroökonomie und Konjunkturforschung, Dusseldorf)

FRASES

"As democracias não vivem com medo, vivem com exigência", Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda em entrevista à SIC

"O governo caiu num erro, devia ter sido mais cauteloso, sobretudo nas medidas tomadas ainda antes do Orçamento de Estado", Bagão Félix, ex-ministro das Finanças no DN

"É um sinal perigoso alguém sair da televisão para o Palácio de Belém sem um programa político" Jacinto Lucas Pires, escritor, em entrevista ao Jornal de Negócios

"Suceder a Cavaco Silva na presidência é como casar em segundas núpcias com a Tina Turner. Depois daquele primeiro marido, qualquer um é um príncipe", Ricardo Araújo Pereira, humorista


O QUE ANDO A LER

Já aqui chamei a atenção para Teresa Veiga, em minha opinião uma das grandes contistas portuguesas da atualidade. Falei dela com entusiasmo a propósito de "Gente melancolicamente louca" e regresso para assinalar a minha mais recente leitura, há dias terminada. Trata-se de "Uma aventura secreta do Marquês de Bradomín", Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco.

Ainda nos livros, estou a beneficiar de elevadas doses de boa disposição, graças a um novo regresso ao imortal "Cadernos de Pickwick", de Charles Dickens, o livro que Fernando Pessoa lamentava já ter lido, por não poder voltar a lê-lo pela primeira vez, inserido na imperdível coleção de humor dirigida por Ricardo Araújo Pereira para a Tinta da China. Publicado em fascículos entre 1836 e 1837, constituiu um imediato êxito absoluto, ao ponto de fazerem já parte da lenda os relatos vários de pessoas cuja saúde terá tremelicado com tanto riso provocado pelas corrosivas peripécias vividas pelo clube de pensadores, chamemos-lhe assim, reunidos à volta do Sr. Pickwick. Numa Inglaterra vitoriana, Pickwick e os seus discípulos apresentam abundantes e mordazes críticas às quais ninguém parece escapar.

A pretexto de Dickens, um dos grandes escritores cuja atualidade, importância e qualidade têm vindo a ser redescobertas, iniciemos um percurso por outras pequenas leituras que me têm ocupado os dias, saídas de jornais e revistas de acesso fácil. Basta tocar na respetiva hiperligação. O Guardian publica um trabalho de Claire Tomalin, autora da muito aplaudida biografia "Charles Dickens: a Life". A escritora defende que a proliferação de bancos alimentares, a falta de apoio do Estado aos serviços destinados a crianças, o ataque ao Serviço Nacional de Saúde, a comercialização do ensino nas universidades, fazem de Dickens um autor mais essencial do que nunca, dado serem muitos destes temas aqueles que o escritor defendeu e pelos quais lutou.

A partir desta abordagem estabeleço a ponte com a entrevista à escritora indiana Arundhati Roy, autora do tocante "O Deus das pequenas coisas", publicada no suplemento Babelia do El País. O título diz ao que vem: "O capitalismo fracassará como o comunismo". Prognósticos antes do fim do jogo são arriscados, dada a notável capacidade de regeneração do sistema. A afirmação surge, porém, a propósito do último livro de Roy, "Espectros del capitalismo" na sua edição espanhola. Corajosa, com uma paixão ancorada no seu forte empenhamento cívico, a escritora, diz o jornal, socorre-se de uma infinidade de dados para denunciar "os desmandos dos poderosos contra os mais débeis".

É ainda e segregação, embora a um outro nível, que nos fala a fotógrafa Catherine Talese, filha do grande e inimitável jornalista e escritor Gay Talese, ao recuperar a vivência de Gordon Parks, a primeira fotógrafa negra da revista Life. Em 1956 foi enviada ao Alabama para fotografar o dia a dia de uma família negra num ambiente de profunda segregação. Sessenta anos depois, as fotos (aqui e aqui), algumas delas só recentemente conhecidas através da sua publicação em livro, continuam aí a gritar a dolorosa verdade dos momentos retratados. A história perdida de uma América segregada, com toda a sua emoção, é contada em detalhe pela revista Time.

Termino num outro registo, com a fantástica entrevista a Eduardo Lourenço conduzida pela Luciana Leiderfarb e publicada no Expresso a propósito da disponibilização pelo jornal do livro "Cultura - Tudo o que é preciso saber", do alemão Dietrich Schwanitz, dividido em seis volumes. Ainda não começou a ler? Então não sabe o que perde. Se ler, perceberá que aquele "Tudo" é relativo. Há sempre algo mais que podemos saber. Por isso remeto para um livro grátis, disponível no sítio do jornal El Mundo, intitulado "Obras fundamentales del arte del siglo XX". É, através da reprodução de 47 obras capazes de descrever o século, uma memorável viagem pela produção artística de um tempo feito de grandes mudanças.

E é tudo. Fico-me por aqui, na esperança de que lhe tenha feito bom proveito este café da manhã.

Tenha um bom dia.

 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Mulheres Recebem Menos 24% que os Homens

Em média, no mundo, as mulheres trabalhadoras recebem 24% menos do que os homens e ocupam menos de um quarto das posições de chefia nas empresas.
 
Esta é uma das conclusões do relatório “O Trabalho como Motor do Desenvolvimento Humano” divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) no último mês (pode ler o relatório em inglês aqui).
 
O relatório apresenta também uma nova estimativa sobre a divisão do trabalho entre os homens e as mulheres. Apesar do sexo feminino realizar 52 % de todo o trabalho no mundo, ainda existem desigualdades evidentes na distribuição do trabalho.

 

Situação das mulheres


Embora as mulheres contribuam com 52% do trabalho global, a população masculina domina no trabalho remunerado.  Assim, resta às senhoras uma fatia expressiva dos serviços não pagos, principalmente os domésticos.
 
De acordo com o relatório, as mulheres têm menos probabilidade de ser pagas pelo seu trabalho , sendo que três em cada quatro horas de trabalho não remunerado são realizadas por mulheres. Em contrapartida, os homens exercem duas de cada três horas de trabalho remunerado.
 
Considerando também que são as mulheres que prestam assistência a membros mais vulneráveis da família, o relatório adverte que, com o envelhecimento da população, essa disparidade pode aumentar.

Para reduzir essa desigualdade, as sociedades necessitam de novas políticas, incluindo a melhoria do acesso aos serviços de prestação de cuidados remunerados. Garantir a igualdade de remuneração, assegurar licenças maternidade e paternidade remuneradas e combater o assédio e as normas sociais que excluem tantas mulheres do trabalho remunerado são algumas das mudanças necessárias. Isso permitirá que a sobrecarga do trabalho não remunerado de prestação de assistência fosse partilhada de forma mais ampla, dando às mulheres a possibilidade efectiva de optar, ou não, por integrar o mercado de trabalho”, afirmou Helen Clark, administradora mundial do PNUD.

 

Salários e igualdade profissional só em 2133


Apesar da participação feminina cada vez maior na sociedade, a desigualdade entre sexos persiste em todo o mundo. Dados divulgados pelo Fórum Económico Mundial revelam que a igualdade de géneros só deve ocorrer daqui a mais de 100 anos, por volta de 2133.
 
O Índice Global de Desigualdade de Género de 2015 analisou 145 países e o ranking obtido foi o seguinte: Islândia (1º), Noruega (2º) e Finlândia (3º) a liderar, com a Síria (143º), Paquistão (144º) e Iêmen (145º) nas últimas posições.
 
Fontes: PNUD e  BBC.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Cata-vento Catou os Votos: Marcelo Presidente

Resultado de imagem para marcelo rebelo de sousa
Primeira hora: um forte sismo, de magnitude 6,6 na escala de Richter, foi sentido esta madrugada no Estreito de Gibraltar, entre Marrocos e Espanha. Os únicos dados reportados logo depois são materiais. Notícia na Renascença.

Bom dia República!

Um pouco mais de metade do pouco mais de metade dos eleitores portugueses que votaram elegeu Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente. A tomada de posse será em março e a partir daí o Palácio de Belém terá um inquilino que gosta de ser senhorio. Na nossa democracia, o homem fez mais a Presidência que a Presidência fez o homem – e Marcelo fará diferente de Cavaco porque é diferente de Cavaco. Se Cavaco foi mosca, Marcelo será vespa.

(Se fossemos moscas, saberíamos o que andará Cavaco Silva a dizer às paredes sobre estas eleições. Mas, se fossemos moscas, provavelmente preferiríamos outras inconfidências.)

Com um governo minoritário no poder, que está sob pressão externa e que se sustenta na instabilidade interna de dois partidos na oposição, Marcelo Rebelo de Sousa já pode tirar o fato de Avô Cantigas que usou na campanha e pôr o tabuleiro de xadrez na mesa. A situação política é tão estranha que o candidato do PSD ganhou mas Passos Coelho não; os candidatos do PS perderam, mas António Costa não. Como dizia Pedro Adão e Silva na TSF, assim nasce “um Bloco Central entre palácios”, o de Belém e o de São Bento.

Sim, só houve um vitorioso, mas Marisa Matias teve um resultado ótimo (exceção no descalabro da esquerda), Sampaio da Nóvoa saiu airoso (com a votação que queria para a primeira volta, engando-se ao julgar que ela bastava para chegar à segunda) e Vitorino Silva saiu como o grande dos pequenos (vão continuar a troçar dele?). E sim, Maria de Belém tem um resultado humilhante e Edgar Silva tem uma votação tão fraca que os efeitos no PCP podem levá-lo a opor-se aos aliados de oportunidade, PS e Bloco de Esquerda.

Se António Costa foi habilidoso na construção do seu poder, Marcelo sempre habilidoso foi na destruição do poder dos outros. Que outros? Passos Coelho, que o chamou de cata-vento? Por alguma razão, o antigo primeiro-ministro fez o discurso mais insípido da noite. O texto foi tão curto que dava para um tweet, o vídeo foi tão curto que cabia no Snapchat.

“Sozinho, Marcelo fez história”, escreve Filipe Santos Costa, num texto sobre este caso de estudo “feito com um táxi e uma marmita”. “É a primeira vez que um candidato ganha umas eleições presidenciais sem fazer campanha. Sem cartazes, sem comícios, sem propaganda. Sem nada”, adita escreve Daniel Oliveira. “António Costa já perdeu desde que é líder do PS três eleições”, nota Martim Silva. Mas, com Marcelo em Belém, “o primeiro-ministro suportado pelas esquerdas terá mais liberdade” para se desvincular da geringonça, fraseia Bernardo Ferrão. José Gomes Ferreira deixa quatro perguntas a Marcelo, incluindo esta: “Vai permitir que Portugal volte a bater estrondosamente no muro por não ter escolhido melhor caminho?” E vai Marcelo conquistar os abstencionistas?, questiona Ricardo Costa.

Sortido de reações: “Não abdicarei de seguir o meu estilo e agir de acordo com as minhas convicções” (Marcelo); “o meu projeto acabou aqui” (Sampaio da Nóvoa); “Não vou desistir. Apelo também a que não desistam.” (Marisa Matias); “Pode contar com as minhas ideias” (Vitorino Silva); “os portugueses rejeitaram as candidaturas populistas e que se apresentavam como antissistema” (António Costa); “Só posso desejar muitas felicidades” (Passos Coelho). Mais reações aqui.

Marcelo será um presidente diferente do comentador e diferente do candidato. “Será um sofrimento interpretar os silêncios de um conversador que nasceu para falar”, angustia-se Miguel Esteves Cardoso no Público. Chegou a hora de deixarmos de falar das poucas horas que Marcelo dorme e passarmos a falar das muitas em que está acordado.
 
OUTRAS NOTÍCIAS

A redução da Taxa Social Única paga por trabalhadores com salários até 600 euros mensais só vai afinal aplicar-se a trabalhadores por conta de outrem, revela o Negócios. De fora ficam assim funcionários públicos e trabalhadores por conta própria.

Ainda é o rascunho da proposta, mas o Orçamento do Estado está a ser analisado à lupa. António Costa deu uma entrevista ao Financial Times para garantir que o documento é uma demonstração de responsabilidade orçamental ao mesmo tempo que vira a página da austeridade.

O Ministério da Educação quer reduzir preços dos manuais escolares já em Setembro, noticia o Económico. As negociações com a Associação de Livreiros e Editores já começaram.

Jihadi John esteve em Lisboa em 2011. A notícia foi dada no fim de semana e confirmada pelo Ministério da Administração Interna. O homem de cara tapada filmado pela propaganda do Estado Islâmico a decapitar reféns passou por Portugal um ano antes de viajar para a Síria. O homem que, segundo confirmação do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh), está morto, esteve no nosso país para obter financiamento para a causa jiadista na Síria, asseguraram fontes do nosso jornal.

No domingo, o Daesh publicou um vídeo em que garante mostrar nove dos terroristas envolvidos nos atentados de Paris, que matou 130 pessoas em novembro. Segundo o The Guardian, no vídeo há ameaças ao Reino Unido. Trata-se de um vídeo de propaganda, com muita produção e edição, refere a CNN.

“Vamos enterrá-los”, diz o presidente do Afeganistão, em entrevista à BBC. Ashraf Ghani sublinha que o Daesh “não foi um fenómeno afegão” e que as suas atrocidades “alienaram o povo”. “Os afegãos estão agora motivados pelo espírito de vingança”, prossegue. “Eles confrontaram o povo errado”.

Ontem, um avião da Turkish Airlines que voava entre Houston e Istambul aterrou de emergência no aeroporto irlandês de Shannon devido a ameaça de bomba, informou o The Irish Times.

O Irão vai comprar de 114 aviões Airbus. O negócio é possível depois da entrada em vigor do acordo nuclear, há cerca de uma semana, que levantou sanções internacionais, que impediam o país de comprar novas aeronaves, explica o Negócios. Hassan Rohani, presidente do Irão, visita França esta quarta-feira.

Wolfgang Schäuble considera que a Europa deve considerar juntar-se à Rússia numa ação para estabilizar o Médio Oriente. O ministro das Finanças alemão assina hoje um artigo de opinião no jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, cujo conteúdo o Negócios antecipou.

Filippo Grandi, que substituiu António Guterres como Alto Comissário da ONU, diz que a Europa pode receber mais refugiados.

Nos Estados Unidos, o caminho para as eleições primárias prossegue. Donald Trump, que lidera as sondagens para a nomeação republicana, diz que “podia disparar sobre alguém e não perdia votantes”.

O cómico Beppe Grillo anunciou a saída da política italiana. O “palhaço” fundador do Movimento 5 Estrelas, que em 2013 revolucionou o panorama político italiano ao tornar-se a segunda maior força partidária, diz agora que “a política é uma doença mental”. A história está no El Pais.

Um mês depois das legislativas, a situação política continua bloqueada em Espanha. Depois de Mariano Rajoy ter recusado o convite do Rei para formar Governo, o Ciudadanos anunciou que não votará no líder dos socialistas, Pedro Sánchez. Como resume o Negócios, “tudo é possível e improvável ao mesmo tempo”. O rei Felipe VI “é a chave da governabilidade”, dita o El Mundo. A Comissão Europeia está atenta, diz que o “risco político” pode criar desconfiança e avisa que o próximo governo terá de realizar um forte ajuste orçamental.

40% do investimento direto estrangeiro em Espanha desde 2008 foi realizado através da Holanda e do Luxemburgo, para pagar menos impostos. No El Pais.

As vendas de automóveis estão a subir há dois anos e, segundo a Acap, assim podem continuar em 2016. A previsão é de mais 10%, segundo declarações ao Económico.

A CP Carga passará a ter lucros em 2019, prevê a MSC, que tomou o controlo da empresa na semana passada. Em entrevista ao Negócios, o diretor geral da empresa, Carlos Vasconcelos, garante: “Sob palavra de honra da MSC: não vamos despedir um único trabalhador”.

O dono do grupo "Feira dos Tecidos" é suspeito de ter defraudado o Fisco em 6,1 milhões de euros, revela o Jornal de Notícias. Serafim Martins encontra-se em prisão preventiva e aguarda julgamento.

Os bancos estão a aumentar as comissões da prestação da casa, conta o Negócios. Os aumentos chegam a 18%.

Também no Negócios: o Montepio vai colocar no mercado mais 200 milhões de unidades de participação do fundo que criou para se capitalizar, mas os investidores estão avisado que arriscam a "perda de parte ou da totalidade do montante investido". O aviso efeito depois da pressão da CMVM.

A Perella Weinberg, consultora de investimentos envolvida em diversos processos de fusões & aquisições em Portugal, processou um dos seus antigos colaboradores, Michael Kramer, acusando-o de ter urdido um plano para sair da empresa e fundar uma “boutique financeira” própria e concorrente. A história está no Financial Times.

Mudanças na advocacia. Jorge Brito Pereira, ex-PLMJ, é o novo sócio da Uría, ao lado de Daniel Proença de Carvalho e Duarte Garin. Entrevista a três no Económico.

Desde que a “Lei da Identidade de Género” entrou em vigor, em 2011, quase 300 pessoas mudaram de sexo no registo civil, noticia o Público.


O QUE DIZEM OS NÚMEROS
 
Marcelo ganhou em todos os distritos. Eis os seus resultados, por ordem decrescente:
1. Viseu: 62,57%
2. Vila Real: 62,28%
3. Bragança: 61,91%
4. Leiria: 61,07%
5. Aveiro: 59,42%
6. Braga: 58,96%
7. Guarda: 58,53%
8. Açores: 58,07%
9. Viana do Castelo: 57,03%
10. Madeira: 51,35%
11. Porto: 51,28%
12. Santarém: 51,11%
13. Coimbra: 50,19%
14. Castelo Branco: 50,14%
15. Lisboa: 49,77%
16. Faro: 47,62%
17. Portalegre: 42,88%
18. Évora: 38,61%
19. Setúbal: 37,89%
20. Beja: 31,71%

Resultados globais das eleições presidenciais:
 

1. Marcelo Rebelo de Sousa: 2.403.764 votos, 51,99 %
2. Sampaio da Nóvoa: 1.058.684 votos, 22,9 %
3. Marisa Matias: 468.406 votos, 10,13 %
4. Maria de Belém: 196.095 votos, 4,24 %
5. Edgar Silva: 182.462 votos, 3,95 %
6. Vitorino Silva: 151.933 votos, 3,28 %
7. Paulo de Morais: 99.548 votos, 2,15 %
8. Henrique Neto: 38.744 votos, 0,84 %
9. Jorge Sequeira: 13.701 votos, 0,3 %
10. Cândido Ferreira: 10.514 votos, 0,23 %

Brancos: 58.571, 1,24 %
Nulos: 43.718, 0,93 %
Abstenção: 4.712.164, 49,93%


FRASES

“Marcelo? Só sei que vai ser melhor que Cavaco. E só por isso já vou dormir melhor”, Miguel Sousa Tavares, ontem.

“Podíamos arranjar uma candidata engraçadinha, mas não somos capazes de mudar”. Jerónimo de Sousa, na pior declaração da noite, bem reveladora do mau perder para… Marisa Matias.

“Marcelo ganhou porque a direita ressentida perdeu”, escreve Raul Vaz no Económico.

Marcelo venceu por estar semanalmente na casa das pessoas”, Octávio Ribeiro, no Correio da Manhã.

"A dimensão lúdica (de Marcelo) é o que lhe dá graça, mas coaduna-se pouco com a figura presidencial", António Vitorino, ontem.

“[Marcelo] tem tudo para ser um Presidente da República muito útil ao país. Um Presidente que fiscaliza o governo mas não o quer enfraquecer nem se alimenta dele.André Macedo, no DN.

“António Costa perdeu à direita – e à esquerda”, Miguel Pinheiro, no Observador.


O QUE EU ANDO A LER

Por que razão estão centenas de estudantes de Harvard a estudar filosofia chinesa antiga? A pergunta é feita pela Atlantic, que analisou aquele que é neste momento o terceiro curso mais popular daquela universidade entre os ainda não licenciados. A filosofia chinesa, escreve a revista, é ensinada “como uma maneira de dar aos alunos ideias concretas, contraintuitivas e até revolucionárias, que os ensinam a viver uma vida melhor”. 2.500 anos depois, Confúcio formar americanos entre os 18 e os 19 anos. E como em chinês, o mesmo vocábulo é usado para “mente” e “coração”, o professor Michael Puett garante que as decisões são tomadas pelo coração.

“KL - A História dos Campos de Concentração Nazis”. A sigla reduz a palavra konzentrationslager, o livro expande o conhecimento do que nunca poderá ser esquecido, omitido ou desmentido: as atrocidades do Terceiro Reich e o seu amplo e horroroso sistema de campos de concentração.

As 850 páginas (das quais mais de 200 são de apêndices) podem afastar leitores, mas basta ler as primeiras páginas do prólogo para ficar agarrado, mesmo que elas comecem pelo testemunho da náusea dos soldados das forças aliadas quando, naquele dia de abril de 1945, encontraram dois mil cadáveres dentro de um comboio abandonado.

Sabemos hoje como era a morte nos campos de concentração, mas sabemos menos como neles era a vida. Este livro parte de anos de pesquisa para contar os dias nestes campos das noites, mas também como a sua evolução espelhava as forças no nazismo alemão, regime cuja organização interna é aqui revelada como muito mais caótica e improvisada do que muitos supõe. Não é um livro para ficar feliz. É um livro para saber, para não esquecer – e para não permitir que se repita. (Crítica da New Yorker aqui)

Norte, centro e sul: hoje está de chuva. As temperaturas vão descer entre quatro e seis graus. Há dias assim. E mesmo nos dias assim.
Tenha um dia bom.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O que é couve de Bruxelas?

No domingo há eleições. A manchete dá conta do que, por ora, se sabe quanto ao Orçamento do Estado. Bruxelas impõe-se. Depois de ter defendido um défice de 2,8%, o ministro das Finanças Mário Centeno revelou ontem que a meta aprovada em Conselho de Ministro era afinal de 2,6%.

Uma diferença de 360 milhões de euros que pode ser o resultado da primeira cedência a Bruxelas. De onde vem esse dinheiro, ainda não se sabe.

O que se sabe é que a taxa de crescimento do PIB, também ontem revelada, caiu dos anteriores 2,4% para 2,1%. Além de Bruxelas, também a crítica feroz do Conselho de Finanças Públicas terá conduzido a esta revisão em baixa que, de alguma forma, vai aligeirando as propostas que faziam parte do Programa de Governo.

As exigências de Bruxelas podem levar a uma redução ainda maior do défice estrutural – faltam mais três décimas – o que certamente irá dificultar a vida do Executivo liderado por António Costa no que respeita à coabitação com os partidos de esquerda que lhe garantem a maioria no Parlamento.

João Silvestre explica: são mais 540 milhões de euros que Mário Centeno terá provavelmente de rapar. Nesse sentido, já se sabe que a baixa do IVA da restauração para 13% só acontecerá a partir de julho, o que permite uma poupança de cerca de 175 milhões.

Em sentido contrário, foi ontem adiantado, tanto por Francisco Louçã como por Jorge Coelho, em programas da SIC Notícias, a intenção de serem repostos os complementos de pensão dos reformados do Metro e da Carris.

Do lado do Bloco de Esquerda, PCP e Verdes, tudo tranquilo. Até ver. As negociações entre Governo e parceiros, mediadas por Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, têm decorrido sem sobressaltos. António Costa garante que é possível conciliar Bruxelas com os partidos deste barco de governação.

O Orçamento de Estado de 2016 também está nas primeiras páginas do “Diário Económico” (
“Mário Centeno surpreende ministros com corte no défice”), “Diário de Notícias” (“Costa tenta convencer Bruxelas com défice mais baixo”), “Público” (“Governo corta défice e sobe imposto sobre os combustíveis”), “Jornal de Notícias” (Crédito ao consumo e petróleo vão ser mais taxados”) e “Jornal de Negócios” (“Governo corta défice mas fica aquém das exigências de Bruxelas”).

Mas o que é que o défice tem a ver com as eleições presidenciais de domingo? É a questão que
Ricardo Costa tenta responder, alertando para a instabilidade da economia mundial (China, petróleo) e para as suas consequências por cá.

Mas também se sabe que as crises que hoje atormentam a Europa (refugiados, saída do Reino Unido, luta contra o terrorismo) podem aliviar a pressão do lado europeu.

O Presidente de Portugal terá que gerir nesse contexto. Falou-se disso nesta campanha? Nem por isso. Mas é o que estará em cima da mesa a partir de segunda-feira, caso a eleição do PR se resolva logo à primeira volta.

Um resultado que não é dado por garantido pelas sondagens que, nos últimos dias, têm sido publicadas. É certo que Marcelo vai ganhar no domingo, mas não se sabe se com mais de 50%, pelo menos de acordo com os resultados publicados pelo
“Público”, “Correio da Manhã” e “Diário de Notícias”, em que alcança entre 51,5% e 52%. Margem reduzida (e abaixo dos 55% que lhe são dados pela sondagem do Expresso/SIC) e que não acautela uma abstenção em crescendo capaz de virar tudo do avesso.

O que é cada vez mais certo é que, domingo, Sampaio da Nóvoa fica em segundo lugar. O candidato do “tempo novo” descolou finalmente de Maria de Belém. Enquanto um sobe, o outro vai descendo. Espera-se aliás, dado que o impacto negativo do tema das subvenções vitalícias ainda não estará todo contabilizado, que a diferença entre um e outro seja ainda maior.

A sondagem do “DN” já aponta para um empate entre Belém e Marisa Matias. Atrás ficam Edgar Silva, Henrique Neto e os candidatos ditos populistas, ainda que possam sair coelhos da cartola entre os concorrentes menos votados face ao ordenamento ditado pelas sondagens.

A abstenção que se verificar depois de amanhã será por isso muito relevante. Aquela que era a eleição mais prestigiada pelo povo português, pois nela se verificavam tradicionalmente os menores índices abstencionistas, tem sido fustigada sem dó nos últimos atos eleitorais. Em resumo, é o papel do Chefe de Estado que, cada vez mais, está em causa.
 
 
OUTRAS NOTÍCIAS
Em Espanha, Rajoy diz que aceita formar Governo. Mas não tem apoio parlamentar que chegue para o sustentar. Muitas semanas depois das eleições espanholas ainda não há uma solução à vista. Rivera, do partido Ciudadanos, garantiu que se abstinha mas isso não chega para segurar um Executivo do PP.

Um governo do PSOE liderado por Sánchez,
diz hoje o “El País”, dependeria de forças nacionalistas como o PNV que “condiciona qualquer apoio à defesa do ‘direito a decidir’”. O editorial do diário de Madrid remata “Rajoy não pode, Sánchez não deve”.

O
“El Mundo”, porém, adianta que há dirigentes históricos do PSOE, como Alfonso Guerra, que não descartam a possibilidade dos deputados socialistas se absterem perante um governo do PP permitindo assim a sua aprovação.

Governo apresenta em fevereiro candidatura de Guterres à ONU, lê-se na manchete do
“Público”. A muito propalada candidatura do ex-primeiro-ministro ao mais alto cargo das Nações Unidas terá sido a principal razão do encontro entre António Costa e Passos Coelho no passado dia 15 de janeiro. A diplomacia portuguesa já estará a recolher apoios.

No
“Jornal de Negócios”, pode ler-se “Elétricas ajudam o Fisco a apanhar rendas ilegais”. O diário adianta que essas empresas estão a pedir dados aos clientes em nome das Finanças. Porém não estão previstas quaisquer sanções a quem não prestar essas informações.

Pinto da Costa anuncia recandidatura. Quando a guerra pela sucessão começa a aquecer,
o eterno líder do FC Porto diz que vai mesmo a jogo nas eleições do próximo mês de abril. Em entrevista ao Porto Canal, Pinto da Costa mostrou disponibilidade para aceitar o 14º mandato na presidência do clube, garantindo que está bem de saúde. Vítor Baía, que recentemente criticou a estrutura portista, ainda foi subtilmente visado.

Estado de emergência em Washington, Estados Unidos. Estima-se que a tempestade de neve que hoje irá acontecer será capaz de acumular uma camada com mais de 60 centímetros de altura naquela cidade. O nevão segue depois para norte. Em Nova Iorque, a neve acumulada terá uma altura de mais de trinta centímetros, de acordo com o
“New York Times”.

Mozart e Salieri, afinal, eram amigos. Esqueça o filme “Amadeus” de Milos Forman. Mozart e Salieri chegaram a compor juntos, em 1785, como agora foi recentemente provado. No dia 10 de janeiro, o “Schwäbische Zeitung”, de Praga, deu a conhecer
um exemplar do livreto e da partitura de uma cantata para voz e acompanhamento composta por Mozart e Salieri com versos de Lorenzo da Ponte. A Fundação Mozarteum, em Salzburgo, já certificou a descoberta.

FRASES
“Pode silenciar-se uma pessoa mas não o mundo inteiro”. Martina Litvinenko

“Só não gostava de ter no FC Porto um candidato apoiado pelo Correio da Manhã, isso não gostava”. Pinto da Costa no “Porto Canal”

“Devia ter havido consenso na recondução do governador do Banco de Portugal”. Marcelo Rebelo de Sousa, ao “Diário Económico”

“A dissolução do Parlamento deixaria António Costa de sorriso rasgado”. Diogo Feio, ao jornal “i”

“Os deputados do Ciudadanos estão à disposição para resolver a atual situação do país, para que tenha uma legislatura e um governo que execute as reformas de que Espanha precisa”. Albert Rivera

“Não podemos continuar a permitir que a ganância empresarial das indústrias do carvão, do petróleo e do gás determinem o futuro da humanidade”. Leonardo diCaprio em Davos

O QUE EU ANDO A LER
 
A história de arte portuguesa, como aliás muitas outras questões ligadas ao património, foi durante muitos anos alvo de investigação quase exclusiva por parte de estrangeiros.

Com melhores ou piores intenções foi o que sucedeu com, entre muitos outros, o Conde de Raczynski que por cá esteve desde 1842 em representação diplomática da Prússia. A ele se devem as primeiras recensões de obras de arte, fixadas em livros pioneiros como “Les Arts en Portugal” e “Dictionnaire Historico-Artistique du Portugal”, carregados de imprecisões mas com o mérito de encetarem o que ainda não havia sido feito.

Depois dos estrangeiros, a pintura portuguesa também seria abordada por grandes eruditos que tinham a particularidade de serem oriundos de outros mesteres, como era o caso do enorme Sousa Viterbo ou mesmo de José de Figueiredo, o republicano nacionalista fundador do Museu de Arte Antiga e autor da primeira monografia sobre os Painéis de São Vicente.

A nenhum se pode disputar a categoria de académicos e investigadores de primeira água; mas o selo de verdadeiro pioneiro do estudo do património artístico português só pode ser atribuído a Joaquim de Vasconcelos.

Foi por isso que me atirei à sua biografia não tão recentemente editada (março de 2014), assinada por Sandra Leandro e publicada pela Imprensa Nacional Casa da Moeda.

O livro, não tão pequeno pois tem mais de 560 páginas, leva por título “Joaquim de Vasconcelos; historiador, crítico de arte e museólogo” e é, além de um muito exaustivo retrato do investigador, um excelente retrato da época.

Sobretudo pelas suas virtudes de polemista: ele que era de educação germanófila e que a posteridade havia de menosprezar em favor da sua mulher, Carolina Michaelis.

O gosto pela ópera, a erudição furiosa nas mais variadas áreas e o escárnio a que era remetido pois arrastava o érres e dedicou-se a estudar os músicos portugueses (o que na época, no final do século XIX não era assim tão bem visto) compunham alguns dos traços de uma figura ímpar, hoje considerada fundadora da História de Arte em Portugal.
 
O livro de Sandra Leandro, que só comecei a ler, é exímio logo nas primeiras páginas na descrição desses ambientes e no terror que o casal Vasconcelos instigava em quem, ao seu redor, proferisse alguma banalidade ou pequeno erro de erudição.

São muitos os estudos que iniciou, tendo aliás escrito o primeiro texto, no "Comércio do Porto", sobre o famoso políptico atribuído a Nuno Gonçalves, mas o que é notável é a sua capacidade para tratar de muitas outras áreas para lá da pintura. Foi também diretor do Museu Industrial e Comercial do Porto mas a política não era o seu forte. Ficou sem ele.


Bom fim de semana!
 
 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Dilma Rousseff: Preocupada Com o Pior Quadro Macro-económico e Politico do Brasil

Brasil-A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer traria mais progressos no combate à crise económica, mas o cenário mais provável é que a Presidente consiga terminar o mandato.
 
"O nosso cenário é que Dilma Rousseff consiga aguentar-se até final do mandato, em dezembro de 2018 num estado enfraquecido, com implicações negativas para a perspetiva económica e fiscal do Brasil, considera a unidade de análise económica da revista britânica The Economist.
 
Na análise ao país, a que Cirilo João Vieira teve acesso, os analistas da EIU afirmam que, se a Presidente "fosse destituída, não haveria eleições e um governo interino, liderado por Michel Temer, faria mais progresso em atacar a crise económica brasileira, partindo do princípio de que conseguia garantir apoio suficiente dos partidos da oposição".
 
O Brasil deverá ter sofrido uma recessão de 3,7% este ano devido "à diminuta confiança dos consumidores e empresários motivada pela crescente crise política e económica, pelo aumento da inflação e pelo aperto nas condições financeiras", escreve a EIU, que prevê nova recessão de 2,7% este ano.
 
"Partindo do princípio de que a inflação abranda, abrindo caminho para uma melhoria no ciclo monetário, e que os indicadores financeiros melhoram, isto possibilitará uma recuperação do Produto Interno Bruto em 2017, para uma média acima dos 2% entre 2018 e 2020", acrescentam os analistas.
 
Sobre a inflação, que atingiu o valor mais alto dos últimos 12 anos no ano passado, para 10,67% face aos 6,41% de 2014, a EIU antevê que até ao final da década o valor continue acima da meta do Banco Central.
 
"Devido à alta indexação da economia, incluindo a ligação entre o salário mínimo e o PIB nominal, gargalos institucionais e outras ineficiências económicas, a inflação para os consumidores vai continuar acima da meta central de 4,5% definida pelo Banco Central entre 2016 e 2020", conclui a EIU.

As Declarações de Domingos Simões Pereira Sobre a Votação do Programa do Governo

Resultado de imagem para Domingos Simões Pereira
"Eu estou tranquilo, temos trabalhos a fazer no partido. Os trabalhos estão a acontecer e nós não queremos precipitar rigorosamente nada. Nas últimas eleições legislativas, o PAIGC recebeu 57 mandatos, maioria que deve permitir a tranquilidade para a governação", descreveu Domingos Simões Pereira.
 
O líder do PAIGC abordou ainda as lutas internas no seio do PAIGC para explicar que decorrem as tramitações processuais à luz dos estatutos para sancionar os 15 deputados do partido que votaram abstenção no dia da apreciação do Programa do Governo no Parlamento.
 
"Fomos surpreendidos pelo posicionamento desses deputados porque, apesar de alguma contestação, nunca imaginámos que levassem essa contestação ao parlamento ao ponto de votar contra a indicação do partido", referiu o líder do PAIGC
 
No entender da direcção do PAIGC, esse posicionamento dos 15 parlamentares é contrário à disciplina de voto e às orientações da direcção do partido.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Era só o que Faltava: Kim Jong-Un tem a Bomba de Hidrogénio

Coreia do Norte-A terra tremeu na Coreia do Norte esta madrugada, por volta da 1h30. Segundo os especialistas internacionais registou-se um terremoto artificial, de magnitude 5,1, a norte de Kilju, o local onde a Coreia do Norte tem as suas principais instalações nucleares.

Duas horas depois chegou a confirmação, num anúncio feito a dois dias de mais um aniversário do seu grande líder, em que a televisão oficial de Pyongang afirmou sem margem para dúvidas: “Convertemo-nos num Estado nuclear que tem a Bomba H”.

Convém lembrar que em dezembro, o líder dinástico norte-coreano, Kim Jong-Un, já tinha garantido que a Coreia Do Norte tinha a bomba de Hidrogénio, mas que, na altura, as afirmações não foram levadas muito a sério pelas principais potências internacionais, incluindo os vizinhos e amigos chineses.

Para quem pense que isto tem pouco a ver com o resto do mundo, aconselho estas pequenas contas:

a) Uma bomba de hidrogénio (ou Bomba H) é uma bomba termonuclear incrivelmente superior (até 4000 vezes) à bomba de Hisroshima e a tudo o que já foi usado em qualquer guerra.

b) A Coreia do Norte está a tentar construir uma ogiva que consiga ser colocada no míssil balístico Taepedong-2, que tem um alcance potencial de 6700 km,
atingindo o Alasca, o Canadá ou a Costa Leste dos EUA

O Conselho de Segurança da ONU reúne hoje de emergência, depois de uma chuva de críticas, a começar pelos vizinhos da Coreia do Sul, pelo Japão e pelos EUA. Ao que se sabe, Pequim nem sequer foi informada dos testes que violam todos os tratados internacionais para a não-proliferação de armas nucleares.

Para quem começou o ano com uma escalada diplomática brutal entre as duas maiores potências do Médio Oriente e ainda estava a perceber até onde é que o regime sunita da Arábia Saudita e os xiitas do Irão esticavam a corda, tem aqui uma nova frente para se entreter, com o regime mais fechado e imprevisível do mundo a dois passos de ter uma Bomba H instalada num míssil balístico de longo alcance.

Ao pé disto, as outras notícias ficam muito pequeninas, mas vamos a elas.


OUTRAS NOTÍCIAS

Ontem foi noite de mais uma ronda de debates presidenciais – nunca houve tanta fartura deste género televisivo –, uma vez mais sem K.O. técnicos ou factos de grande relevo, mas ainda assim com algumas frases e momentos a destacar.

No frente a frente entre Edgar Silva e Marcelo, o candidato oficial do PCP disse esta frase que fica no ouvido: “O País não precisa de um Cavaco Silva a cores”. Isto para acusar o candidato que aparece destacado nas sondagens de estar a esconder os seus verdadeiros apoios, no PSD e CDS. É claro que Marcelo repetiu, para desespero de uma parte do seu eleitorado, que não é o candidato da direita…

A jornada televisiva foi intensa, com um Marisa vs. Henrique Neto, o paladino da anticorrupção Paulo Morais a enfrentar Sampaio da Nóvoa, Tino de Rans a dar uma entrevista à RTP e os dois últimos a fazerem um debate a três com Jorge Sequeira…

Digamos que a programação televisiva parecia uma noite de Champions, daquelas em que o comando nunca está quieto e chegamos sempre atrasados aos golos, com a pequena diferença de não haver lances memoráveis a recordar…

Mais inesperadas são as declarações do líder do PSD Algarve ao Cirilo João Vieira , que decidiu convidar José Sócrates para uma conferência no sábado. Luís Gomes, que também é presidente da Câmara de Vila Real de Santo António afirma que sempre teve uma boa relação com o ex-primeiro-ministro e que "é inaceitável prender alguém para depois investigar".

Sábado, já sabe, pode assistir no Algarve a um evento onde Sócrates estará ao lado do autarca para denunciar o estado da Justiça e no cartaz que divulga o evento pode ler-se: “Luís Gomes convida José Sócrates” (!). O PSD reuniu ontem a Comissão Permanente e ainda prepara a resposta, mas vários dos seus membros contactados não disfarçavam o incómodo.

O regresso dos feriados, agora com dois religiosos a regressar (tal como estava acertado com a Santa Sé) a par de dois civis, estão a fazer as delícias online e a provocar enorme discussão. Os textos sobre pontes e maneiras inteligentes (ou espertas) de marcar férias estão a ser muito lidos. Como este: sorria, este é um ano cheio de feriados e pontes.

Os dois cadetes da Escola de Fuzileiros que estiveram desaparecidos 40 horas num exercício de orientação apareceram sãos e salvos.

Ontem, um barco da Transtejo encalhou ao fazer a travessia durante a tarde, mas tudo acabou em bem com os passageiros a serem transferidos em segurança até ao seu destino, depois de umas horas de susto e um grande atraso.

Na frente internacional, grande destaque para as lágrimas de Obama durante o anúncio de medidas para controlar a venda e uso de armas, num processo administrativo que contorna o Congresso dos EUA e que vai agitar a política americana.

O Presidente norte-americano anunciou quatro ações executivas para endurecer o controlo da compra e venda de armas, contornando a oposição do Congresso norte-americano. “Não estamos aqui para discutir o último massacre, mas para tentar evitar o próximo”, afirmou Obama, que se emocionou em imagens que se tornaram rapidamente virais.
 
 Esta manhã o Charlie Hebdo está nas bancas com a edição de aniversário do terrível ataque de há um ano à sua redação. A edição assinala o massacre ocorrido em janeiro de 2015, num atentado que abalou o mundo. “O assassino ainda está à solta”, lê-se na capa, acompanhada da imagem de um deus armado e ensanguentado.

O Vaticano não gostou da caricatura e o jornal oficial Osservatore Romano já criticou a opção do jornal satírico.

Nos jornais económicos, destaque para o facto de o fisco ter retido € 486 milhões em reembolsos de IVA em 2015 (machete do DE) e para o Aeroporto do Montijo estar cada vez a ganhar mais força (título do Negócios)

Os desportivos dão grande destaque à transferência do Suk, que sai do Setúbal para jogar a segunda volta do campeonato no F.C Porto

Isto, em dia jogos da I Liga. O Benfica recebe o Marítimo às 19h, o Sporting vai a Setúbal às 20h15 e à mesma hora o F.C. Porto recebe os vizinhos do Rio Ave.

Além de serem jogos à quarta-feira, coisa pouco habitual em Portugal, anda grande tensão entre treinadores, como pode ser visto nas frases escolhidas para o próximo subcapítulo deste artigo de opinião.

FRASES
Lopetegui? Amanhã posso estar no lugar dele”. Jorge Jesus, ainda na ressaca do Sporting-Porto

Concordo com tudo o que Jorge Jesus disse”. Julen Lopetegui, em reação a Jesus

Pelos vistos há dois treinadores obcecados com o Benfica”. Rui Vitória, em reação em cadeia a Jesus e Lopetegui

Nota: logo à noite esta novela verbal prossegue…


O QUE EU ANDO A LER
Nesta altura devia estar a divulgar alguma aposta editorial de 2016 ou, quanto muito, a dizer o que de melhor nos trouxe 2015. Mas o que acabei de ler foi, na verdade, um dos grandes acontecimentos editoriais de 2014 e que, em bom rigor, já era um acontecimento editorial de 1965…

Confusos? É o que acontece quando o leitor (neste caso, eu) chega atrasado a um livro como Stoner, de John Williams. O que fez deste magnífico romance publicado nos anos 60 um grande acontecimento editorial do séc. XXI foi o seu curioso renascer literário, num acaso que deu ao livro uma segunda vida mais que merecida.

Perdido no esquecimento, foi traduzido para francês por vontade de uma escritora/tradutora e seguiram-se várias reedições noutras línguas. Num processo inesperado, foi escolhido pelos leitores da cadeia de livrarias britânica Waterstones como livro do ano! E então, um livro americano publicado em 1965 fez um estranho comeback até ao país de origem, com enorme sucesso e uma chuva de críticas calorosas, daquelas que ficam bem em qualquer badana ou campanha publicitária. Alguns exemplos:

O melhor romance americano de que nunca ouvimos falar”, para a New Yorker

É uma coisa mais rara do que um grande romance – é o romance perfeito, tão bem contado, tão bem escrito, tão comovente que nos corta a respiração”, segundo o New York Times

Não percebo como é que um romance tão bom passou tanto tempo desprecebido”, na opinião de Ian McEwan

Já vimos que a história que envolve o sucesso do livro é boa. Mas, então, e o livro? Depois das citações acima, não vou gastar muitas palavras. É muito bom, irrepreensivelmente escrito (e muito bem traduzido), enxuto e comovente.

Stoner não é feito de grandes personagens, mas das misérias e glórias do dia a dia de um professor universitário, nascido numa família de lavradores e entregue à literatura numa inesperada paixão universitária, que há de marcar toda a sua vida, entre alguns colegas, poucos amigos, a mulher, a filha, idas e vindas familiares e pouco mais. Com isto, e apenas isto, John Williams escreve um grande livro.

Está na altura de desejar bom dia e de lembrar que vá passando os olhos pelo Cirilo João Vieira. Se o fizer através do Facebook será, a partir de hoje, num literal esfregar de olhos.

É que o Cirilo João Vieira chega hoje aos Instant Articles do Facebook. E o que é isso? Bem, não é um pássaro, não é um avião, mas é a maneira mais rápida de ler os nossos artigos em mobile (ou seja, no telemóvel), caso seja nosso amigo no Facebook. É só fazer like aqui. Depois, é como se dizia nas velhas Páginas Amarelas, é ir pelos seus dedos. Mas em versão rápida… são artigos instantâneos (mas que demoraram algum tempo a serem escritos...).