O Reino Unido-David Cameron ganhou. Contrariando todas as previsões, ele vai assumir um novo mandato de primeiro-ministro do Reino Unido com mais votos do que os conquistados em 2010. De acordo com as sondagens à boca das urnas, e também dos resultados que neste momento estão a ser apurados, os Conservadores estão muito perto de uma maioria absoluta no Parlamento com 316 deputados. Neste preciso momento já venceram 305 círculos. Relembre-se que bastam 323 lugares (mais 7 do que aqueles que a sondagem à boca das urnas oferece aos Conservadores) para essa maioria ser alcançada, o que é possível com uma (não muito provável) nova coligação com os Liberais Democratas (10 deputados), com o Partido Democrata Unionista (8 deputados) ou mesmo com o UKIP ou partidos regionais, caso estes sejam necessários para estas contas. (Número de deputados segundo a previsão à boca das urnas: Conservadores 316, Trabalhistas 239, Partido Nacional da Escócia 58, Liberais-Democratas 10, UKIP 2, Outros 25) Os grandes derrotados desta eleição são os trabalhistas e os liberais-democratas: Nick Clegg e Ed Miliband devem mesmo renunciar à liderança dos seus partidos nas próximas horas devido aos inúmeros votos que perderam para os conservadores e para o SNP. Por essa ordem de razões, os grandes triunfadores são David Cameron e Nicola Sturgeon, a líder do Partido Nacional da Escócia, que poderá ter limpo o Partido Trabalhista do mapa ao conquistar 58 dos 59 lugares disponíveis nas mesas de voto escocesas. Que vendaval foi este? Dois nacionalismos e uma ideia de voto útil, como atesta Paul Mason do Channel 4. Na Escócia, onde os trabalhistas averbam uma derrota histórica, Nicola Sturgeon galvanizou o eleitorado de forma incrível. Poucos meses depois do referendo, o resultado de ontem volta a colocar, sem margem para dúvidas, a saída da Escócia do Reino Unido em cima da mesa. Mas foi o temor, senão mesmo o terror, de uma aliança entre os trabalhistas e o partido de Nicola Sturgeon que terá provocado o efeito contrário em Inglaterra, onde a deslocação de votos para os conservadores, sobretudo com origem nos liberais-democratas, procurou evitar a subida ao poder de uma aliança entre trabalhistas e separatistas escoceses. Ou uma óbvia e imediata desagregação do Reino Unido. Não vale a pena esquecer que o desemprego no Reino Unido se encontra nos 5% e o PIB cresce a bom ritmo. Apesar das reticências com que se devem encarar as previsões, o nacionalismo escocês e o nacionalismo inglês marcaram decididamente estas eleições. O desejo de um governo estável e em maioria do eleitorado centrista, como aliás previa David Cameron, terá feito o resto, provocando uma transferência maciça de votos, sobretudo dos Liberais Democratas para o Partido Conservador. Esta é também uma vitória do euroceticismo britânico. Seja qual for a coligação que David Cameron vai engendrar, a fragilidade aberta pelo separatismo escocês será uma das armas que Cameron passará a usar em Bruxelas, procurando situações de exceção para o Reino Unido. É também o triunfo do socialceticismo, ou se quisermos, uma enorme facada no Estado Social. Mas para brincar às coligações possíveis (ou mesmo impossíveis), nada como experimentar a aplicação no site do Economist, onde as várias hipóteses podem ser experimentadas. Por cá, António Costa anunciou uma vaga descida do IRS na entrevista à TVI. O Expresso foi fazer as contas e conclui que os impostos sobre os rendimentos serão sensivelmente os mesmos. O que pode ser alterado são os escalões: dos atuais 5 passaremos a ter 6 ou 7, caso o PS ganhe as eleições. Seria voltar a um escalonamento anterior ao anterior “brutal aumento de impostos” de Vítor Gaspar, em que os mais ricos pagariam mais e os contribuintes com menores rendimentos seriam menos tributados. Um exemplo: se hoje a taxa maior incide nos rendimentos a partir de 80 mil euros por ano, essa mesma taxa poderia passar a ser aplicada a quem recebe mais de 75 mil. Por outro lado, seriam aliviados os contribuintes que se encontram nos escalões mais baixos. Não vale a pena relembrar que a campanha eleitoral já começou, mas é preciso saber que ainda não existe uma lei decente que regule a sua cobertura pelos órgãos de comunicação social. Depois do fiasco do projeto PS-PSD-CDS, aguarda-se nova lei, desta feita a cargo do PSD e CDS (Inês de Medeiros ficou out), anunciada “para as próximas semanas” por Luís Montenegro (chefe da bancada parlamentar do PSD) no dia em que foram recebidos os representantes da Plataforma de Media Privados que propuseram um “código de conduta editorial”, que na prática retira poderes à Comissão Nacional de Eleições.
OUTRAS NOTÍCIAS
A TAP entra hoje no seu oitavo dia de greve mas o Governo já grita vitória. A administração tem conseguido uma frequência de voos superior a 70% nestes dias, o que é uma derrota, ou um “tiro no pé”, como disse o ministro da Economia, Pires de Lima, do Sindicato dos Pilotos. O processo de privatização mantém-se, apesar de o secretário de Estado ter garantido não ter reunido ontem com Efromovic, um dos potenciais candidatos. Já hoje, o Público adianta que há uma empresa de capital de risco que pode estar na corrida. Trata-se da Greybull, que em outubro de 2014 comprou a companhia aérea britânica Monarch, para levar por diante uma profunda reestruturação.
“Confio que um acordo estás prestes a ser celebrado nos próximos dia. Ou semanas”, Yannis Varoufakis, ministro das Finanças grego, ontem ao almoço durante uma conferência em Bruxelas
“Não se pode ensinar bem o que não se sabe muito bem”, comunicado do Ministério da Educação e Ciência sobre os resultados negativos obtidos pelos professores na Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades
“O melhor do mundo é Messi e o segundo melhor é o Messi lesionado”, Jorge Valdano, dirigente do Real Madrid, sobre o jogador seu compatriota
"É desagradável que depois de se anunciar um casamento, venha a história de uma traição anterior”, Manuela Ferreira Leite no programa Política Mesmo da TVI sobre os SMS e a coligação PSD-CDS
O QUE ANDO A LER E A OUVIR
Um artigo da Revista do Expresso publicado no sábado sobre a vida nas prisões portuguesas. Como anteontem foi salientado por Daniel Oliveira no Expresso Diário, as penitenciárias ainda são o lugar de todas as arbitrariedades. Como se tivéssemos parado no tempo. Num tempo muito antigo. Os depoimento de Paulo Pedroso, Domingos Abrantes, Carlos Cruz ou de um ex-corretor, entre outros, demonstram que nos cárceres de Portugal a lei que impera é a do “porque sim” e a do “porque não”, apostando tudo na despersonalização dos detidos e nada na sua reintegração. Na próxima Revista do Expresso, nas bancas sábado, há também uma excelente entrevista a Karl Ove Knausgaard, o escritor norueguês que está a mudar a literatura do século XXI. É como se voltássemos a um filme de Ingmar Bergman, mas mais estranho e maravilhoso, ainda que não esteja certo de que seja esta a palavra mais adequada. Inédito mesmo é o livro dos sonhos de Rita Red Shoes. A cantora portuguesa verteu para papel os “Sonhos de uma Rapariga Quase Normal”, a que acrescentou ilustrações e, em exclusivo no Expresso Diário a partir da próxima semana, novas peças musicais. E como são os sonhos da rapariga? “Corei de vergonha, mas senti que não tinha alternativa a subir ao palco e dar uns gritos por cima daquelas guitarras ensurdecedoras. No camarim estava uma senhora com um fato preparado para eu vestir. Era também de monge, mas resolveram juntar-lhe uma barba. Olhei-me a um espelho que estava por ali perdido e senti-me Jesus Cristo. Entrei em palco e encarnei o espírito gótico, fazendo daquele momento uma bela performance. Pisguei-me dali mal pude e saí para a rua na esperança de poder descansar um pouco daquelas andanças. Não tive tempo porque ouvi chamar o meu nome nas colunas: – Urgente, Rita, tem de comparecer na plataforma um.”
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