Tragédia no Mediterrâneo-O título é logo um murro matinal mas não há como evitar falar da catástrofe humanitária que desagua rumo a Lampedusa, no sul de Itália. Foi a maior tragédia de sempre no Mediterrâneo: mais 700 mortos a somar aos 4500 dos últimos 15 meses. A União Europeia reuniu-se de emergência e foi lesta a demonstrar o horror face ao naufrágio deste domingo, quando uma embarcação com imigrantes se virou ao largo da costa da Líbia: de “genocídio” a “vala comum”, conta o Observador. Um sobrevivente falou já à imprensa, garantindo que havia 950 pessoas a bordo, incluindo dezenas de crianças. Um navio com bandeira portuguesa foi o primeiro a prestar socorro.
“Não dá para engolir. O Mediterrâneo transformado em cemitério. A vergonha da política europeia”, escreve esta manhã André Macedo no Diário de Notícias. Já no Correio da Manhã, Eduardo Dâmaso diz que estas mortes “são os números da ignomínia europeia, que deixa entregue à sua sorte, ao cinismo do salve-se quem puder, os milhares que fogem da miséria, das mafias do tráfico humano, da guerra e do jiadismo”. Para compreender as razões, a dimensão e como funciona a operação em Itália, cuja redução do orçamento está a levantar grandes críticas, pode rever esta reportagem da Renascença: “A Sul da Sorte”. Já Inês Cardoso lista no JN do que fogem os que migram para a morte : “Os ataques sangrentos do grupo radical Boko Haram, a guerra civil na Síria, o contexto caótico na Somália e na Líbia ou a ditadura de Issayas Afewerki na Eritreia.”
Ainda este fim de semana, o auto-proclamado Estado Islâmico (Daesh) divulgou um vídeo em que alegadamente são degolados 15 homens numa praia e executados outros 15 numa zona de mato – todos seriam cristãos etíopes. O avanço na Líbia está a preocupar autoridades ocidentais, pela riqueza e pelo armamento aí disponíveis. Michael Weiss, um especialista sobre o conflito, diz na CNN que estes ataques são como espetar uma faca no Ocidente, para mostrar que a intervenção na Líbia deixou o caos. Um relatório divulgado pelo Der Spiegel informa que na base do crescimento do Daesh está um antigo espião de elite de Saddam Hussein.
Noutro ponto mais distante do Mediterrâneo está a Grécia, politicamente cada vez mais isolada. Ou separada da União Europeia? Chris Giles, do Financial Times, diz que, paradoxalmente, o Syriza conseguiu unir como nunca as instituições da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI): estão todos frustrados com a posição grega. Em Washington, a posição grega é chamada de “infantil”, diz o jornalista, que titula a sua coluna assim mesmo: “Como lidar com uma criança problemática como a Grécia”. No mesmo jornal, que aliás Alexis Tsipras tem criticado amiúde, Wolfgang Munchau, um economista anti-austeridade, diz estar já convencido de que o incumprimento pela Grécia é inevitável – mas a saída da zona euro não. Confirmando que as negociações vão de mal a pior, Munchau só não sabe sobre quem recairá o incumprimento: se não se paga aos credores internacionais, se não se paga aos funcionários públicos gregos. Mas o economista concorda com o ministro das Finanças Yanis Varoufakis: “a gestão da zona euro da crise económica tem sido catastrófica”. Este fim de semana, Paul Krugman voltou a defender o fim da austeridade na Grécia.
À margem: começa hoje na Grécia o julgamento de 70 membros do partido de extrema direita Aurora Dourada, seis dos quais estão detidos desde que, em 2013 foram implicados na morte de um cantor rap. Os 70 são acusados dirigir e participar em práticas de crime organizado. OUTRAS NOTÍCIAS
“Banco de Portugal impõe mudanças no Montepio e reforça vigilância”. É a manchete do Público, que diz que a dependência do banco em relação à Associação Mutualista gera preocupação, até porque o modelo de negócio é semelhante ao do BES. A auditoria forense realizada a pedido do Banco de Portugal estará pronta a ser divulgada.
PS. Soares animou a malta. Sampaio “não podia faltar”. E António Costa aproveitou a festa dos 42 anos do PS este domingo para ensaiar uma ideia que há repetir até às eleições: que o PS não vai fazer falsas promessas. “Não estamos a esconder nada na manga, nem a fazer de morto”. Esta semana, o PS vai apresentar o seu cenário macroeconómico para os próximos anos.
PSD. Passos já faz promessas, até de amanhãs que cantam: vêm aí um ciclo de prosperidade como Portugal "não teve em muitos anos”, afirmou. Eles são todos iguais? Não, responde no Negócios Helena Garrido, que na sexta entrevistou ambos – Passos e Costa. Em editorial, a diretora do jornal explica que o PS propõe uma política de crescimento do lado da procura (“Mais rendimento disponível e medidas para promover a construção e o turismo” ), enquanto o PSD age do lado da oferta (“forçar a mudar para setores mais competitivos e de maior valor acrescentado (…), via que aumentará a produtividade”). Conclusão: “Sim, PS e PSD são diferentes”.
“Governo quer tirar nas pensões para devolver nos impostos”, é o título da análise do Negócios ao PEC.
Mais de metade dos empregos perdidos com a “troika” não são recuperados, noticia o Económico em manchete. Nos próximos quatro anos serão criados 190 mil empregos; nos últimos quatro foram destruídos 480 mil. O Estado vai pagar, durante seis meses, até 80% do valor do estágio às pequenas e médias empresas que contratem desempregados com mais de 31 anos e que estejam inscritos nos centros de emprego há mais de um ano, explica o DN.Ainda no Económico ficamos a saber que as cotadas do PSI 20 tiveram os lucros mais elevados desde 2010: dois mil milhões de euros em 2014, mais 28% que no ano anterior.
As autoestradas do interior foram as que mais renderam em portagens nos primeiros três meses do ano, noticia o JN. Sobretudo a A23, a A24 e a A25.
A Noruega vai ser o primeiro a país a desligar a rádio em FM. Será em 2017. A rádio passará a ser emitida por sinal digital. FRASES
“É preciso controlar o acesso aos dados do cartão do cidadão”, avisa Filipa Calvão, presidente da Comissão Nacional de Proteção de Dados, em entrevista ao Económico e à Antena 1
“O Bloco de Esquerda nasceu em 1999 adiantado em relação ao seu tempo”, diz Marisa Matias, em entrevista a Pablo Iglesias (ele mesmo, o líder do Podemos)
"Esta é uma greve suicida para os pilotos [da TAP]", Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI.
“Foi a pensar neste Estado (que decide sobre o tabaco, os impostos, a educação ou os benefícios à banca) que inventámos o manguito.” Francisco José Viegas, no Correio da Manhã
O QUE EU ANDO A LER
Futebol. Ontem, foi a “loucura à partida”, mostra o JN. O Porto joga esta semana com o Bayern para a Champions e no fim de semana com o Benfica e vamos ouvir e falar disso todos os dias. O primeiro jogo será decisivo, o segundo provavelmente também.
Por causa da extraordinária exibição que o Porto fez na primeira mão contra os alemães li um artigo no Grantland, um blogue americano desportivo, que recomendo: “Esqueça Suárez: Ave à parte de fora do pé direito de Quaresma”. Para o autor, Quaresma tem tudo errado: uma carreira irregular que parecia acabada antes dos 30, falta de eficiência, um estilo antigo e desadequado, “fundamentalmente tudo o que ele faz é errado – mas a heterodoxia duplica o seu brilhantismo”. E remata: “Ele é tão bom em ser mau que às vezes acaba tudo certo”.
“O futebol é a única religião que não tem ateus”, dizia Eduardo Galeano, que morreu há uma semana e que o El Pais tratava ontem como o “melhor poeta futebolístico”, autor “de los goles orgásmicos más líricos”. O jornalista, escritor, poeta uruguaio foi muito mais do que isso e talvez tenha sido a mortandade das últimas semanas que diluiu o seu obituário nas notícias de outros. “Se caminha, terá violência. Se pensa, terá angústia. Se duvida, terá loucura. Se sente, terá solidão.” Galeano, que quis “lutar por um mundo que seja a casa de todos e não a casa de uns poucos e o inferno da maioria”, desarruma sempre a cabeça com o coração. Por isso volto muitas vezes a ele, ele que defendia o direito de sonhar, ensinava a viver sem medo, e tinha uma glândula “que na verdade é bem rara, que se chama consciência."
Ou como falar de um morto não é falar de morte, mas de vida.
Tenha um dia bom. Cheio de vida!
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