Guiné-Bissau-A exportação de caju na Guiné-Bissau está praticamente suspensa porque o Governo aumentou uma taxa que tinha descido no início do mês, disse à Lusa o vice-presidente da associação de importadores e exportadores.
A 28 de Maio o então ministro das Finanças do Governo de transição da Guiné-Bissau, Abubacar Demba Dahaba, anunciou, em conferência de imprensa, que a taxa de exportação de caju, que era de 50 francos por quilo (0,07 cêntimos), passava para 100 francos (0,015).
A medida agradou à Associação Nacional de Importadores e Exportadores (ANIE-GB), que duas semanas depois disse já haver em Bissau 80 mil toneladas de caju para exportação. O caju é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau e o sustento de milhares de famílias.
Fonte do Ministério das Finanças disse que foi o mesmo ministro (que entretanto saiu) quem revogou a descida da taxa. A ANIE-GB está agora a tentar mostrar que a nova medida torna impossível exportar o caju, disse à Lusa o vice-presidente da associação, Fernando Flamengo.
Os exportadores começaram a comprar caju "numa estrutura de custos que dava para exportar ao preço actual, que é baixíssimo.Compraram e quando os armazéns estão cheios e estão à espera dos barcos sai um novo decreto, a passar outra vez a taxa para 50 francos. Não sei o que faremos com a castanha (de caju), vai ser um problema gravíssimo, mas é impossível exportar", disse Fernando Flamengo.
Até agora, disse, apenas foram exportadas uma dúzia de toneladas, estando o restante caju ou em armazéns em Bissau ou então ainda no campo (50 a 60 mil toneladas), que os exportadores não irão comprar porque não podem vender o que têm.
"Não entendemos isto, é uma confusão muito grande. Está tudo parado, os armazéns estão cheios, a chuva está a chegar e os barcos a não virem", lamentou.
Na quinta-feira realizou-se em Bissau um debate sobre a questão do caju, no qual foi salientada a importância da transformação do caju no país, visto que até agora é vendido na quase totalidade em bruto, para a Índia.
Henriques Mendes, presidente da Agência Nacional do Caju, alertou para a necessidade de renovar cajueiros e disse que a capacidade instalada no país para processamento de caju nem chega a dois por cento da produção total.
"Os anos de ouro do caju na Guiné-Bissau acabaram", disse, justificando com o aumento da produção mundial e quebra na procura.
O responsável acrescentou que construir no país unidades de transformação de caju fica muito caro, o dobro do que custa por exemplo em Moçambique, e há o problema da "estabilidade de mão-de-obra", porque infelizmente os guineenses "não querem trabalhar".
Ainda assim, Nbalia Queita, do Centro de Promoção do Caju, disse à Lusa que esta semana foi exportado para os Estados Unidos um contentor com 15 toneladas de produto transformado, o que não acontecia há mais de 15 anos.
Como as unidades de transformação (torrar e descascar o caju, por exemplo) não têm capacidade, é o Centro que faz "o acabamento de acordo com as exigências do mercado externo", explicou, adiantando que é lá que se faz o processo de embalamento em vácuo.
A certificação foi feita em laboratórios do Senegal, já que a Guiné-Bissau também não tem essa capacidade. Nbalia Queita disse que deverá ser vendido outro contentor para os Estados Unidos e também a Eslovénia e a Rússia vão comprar.
Tudo isso, no entanto, representa uma ínfima parte, tendo em conta que o Governo projetava vender este ano até 180 mil toneladas de caju em bruto.
Queita disse à Lusa que a transformação do caju é "a única via" para a Guiné-Bissau, mas alertou para a necessidade de o Governo a considerar prioritária e não a onerar com impostos.
A União Europeia, em colaboração com a Organização Holandesa de Desenvolvimento, tem apoiado a transformação local do caju e a valorização dos seus derivados em duas regiões do país.
Nessas regiões estão a ser feitos sumos e bolachas de caju. O projeto tem um financiamento de 380 milhões de francos (580 mil euros).