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Bandeira da Guiné - Bissau |
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Bissau - Os 150 dias do Governo de transição da Guiné-Bissau
foram "extremamente difíceis", mas foi possível pagar salários com receitas
conseguidas na capital, disse quarta-feira à Lusa o porta-voz do
executivo, que avisou: sem dinheiro não se fazem eleições.
O Governo de transição, na sequência do golpe de Estado que a 12 de Abril
derrubou o Governo de Carlos Gomes Júnior, foi anunciado a 22 de Maio. Cinco
meses depois, num balanço à Agência Lusa, o porta-voz do executivo, Fernando
Vaz, fala de dificuldades, mas deixou também um rol de críticas ao anterior
Governo.
Dificuldades em conseguir dinheiro para pagar os salários da função pública,
aliadas a uma "conjuntura não favorável na exportação" do principal produto do
país, o caju, à suspensão do acordo de pescas com a União Europeia e a "uma
desaceleração da actividade económica".
"Mesmo assim, conseguimos honrar os compromissos com os salários", salientou,
frisando que as receitas são provenientes apenas de Bissau, "porque as receitas
do resto do país estão pinhoradas com dívidas que Carlos Gomes Júnior deixou na
banca".
Mas as maiores acusações a Carlos Gomes Júnior ainda estavam para vir:
"Encontrámos contratos assinados que são autênticos crimes a este país", disse,
referindo-se aos contratos de exploração de bauxite, na zona sul do país, e de
fosfatos, na zona de Farim, a norte.
"Os governos anteriores viviam numa teia enorme de corrupção e de banditismo
político e de Estado. O que aconteceu foi que guineenses foram capazes de
hipotecar o nosso bauxite, dando 90 por cento aos angolanos e deixando 10
porcento para o país", acusou.
De acordo com o responsável, o contrato assinado com a Bauxite Angola
envolvia um investimento da empresa de três mil milhões de dólares (2,3 mil
milhões de euros) em infra - estruturas do porto de Buba e em caminhos-de-ferro
e na própria mineração.
"No contrato de 25 anos, seis anos depois a Guiné-Bissau
pagava os três mil milhões com a bauxite e ficava 19 anos a receber 10
porcento", disse, acrescentando que o contrato está a ser renegociado com a
empresa angolana e que se não for possível chegar a um acordo "há muita gente
que quer a bauxite", de chineses a canadianos ou norte-americanos.
Em relação aos fosfatos, a Guiné-Bissau só recebia dois porcento,
disse Fernando Vaz, adiantando que também neste caso está a haver
negociações.
Críticas à parte, Fernando Vaz queixou-se da falta de dinheiro e avisou que
sem dinheiro não é possível fazer eleições.
"Não houve nenhuma eleição financiada internamente, foram sempre financiadas
pelos parceiros de cooperação. Neste momento, temos a União Europeia que não nos
reconhece, temos a União Africana que não nos reconhece, temos uma série de
países que não nos reconhece e que estão por fora a exigir que façamos eleições
a tempo e horas. Ninguém disse que vai dar dinheiro a não ser a CEDEAO, mas a
CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) não pode financiar
tudo", disse.
Segundo o ministro, acabaram esta semana os trabalhos de
cartografia do país e é necessário agora lançar o concurso para se fazer o
recenseamento biométrico. "Para isso, é preciso dinheiro, temos os americanos
que nos prometeram e esperamos que nos apoiem para tentar fazer (as eleições)
dentro do ano, mas não havendo condições não podemos fazer milagres e a
comunidade internacional tem de entender isso, não é só pôr-se na posição de
exigir. A realidade é esta e eles conhecem-na e se a quiserem ignorar o problema
é deles", disse.
Sobre a greve dos professores, que decorre há mais de um
mês, Fernando Vaz disse ter sido criada uma comissão chefiada pelo ministro das
Finanças para dialogar com os sindicatos e adiantou que "as negociações estão no
bom caminho", admitindo que as aulas comecem em breve.
Também não correu bem a exportação do caju, visto que permanecem 36 mil
toneladas por vender, reconheceu. Mas, segundo Fernando Vaz, o Governo "recebeu
propostas que estão a ser negociadas".
E sobre o fornecimento de energia o ministro disse acreditar que o
Governo de transição vai conseguir resolver "um problema que o PAIGC (partido no
poder até 12 de Abril) não resolveu em 40 anos". Neste momento, disse, estão
instalados sete megawatts e na semana passada o Governo assinou um contrato para
a construção de uma central de energia solar que chegará, por fases, aos 10
megawatts.
Fernando Vaz garantiu que o Governo tem feito uma gestão de rigor e
que vai continuar a pagar ordenados até ao final do mandato. E diz: "é difícil
de gerir sem nenhuma ajuda externa, tirando a ajuda que a Nigéria deu, de 10
milhões de dólares( 1 USD = 100 Kwanzas), que representam dois meses de
ordenados".