terça-feira, 26 de junho de 2012

França e a África Ocidental

Havana - A independência de um grupo de nações da África Ocidental produziu-se numa conjuntura histórica que obrigou o colonialismo estabelecido pela França a variar seu sistema de exploração na área.

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), na qual milhares de africanos combateram palmo a palmo ao lado das tropas das potências vitoriosas, ressurgiu com mais vigor o sentimento nacionalista nos homens que regressavam da frente.

As novas ideias se articulariam com as ânsias independentistas prevalecentes nos antigos lutadores anticoloniais desde muito antes do fim do conflito universal, que foram desconhecidas pelas autoridades do França. A liberdade frente à barbárie fascista era só para as metrópoles europeias.

Depois da guerra, todas as potências coloniais, inclusive a França, se negaram a conceder de imediato a independência a suas posses, e muito pelo contrário, se empenharam em reconstruir e reforçar o sistema de opressão e saque das riquezas naturais.

Em muitos países, produziram-se sangrentos massacres da população à menor reivindicação de liberdades políticas ou o fim da escravatura colonial. As metrópoles tratavam de manter os métodos repressivos sem advertir a mudança de época.

O cenário, em geral, se modificaria progressivamente não só nas colônias francesas, senão em toda a ação opressiva europeia, mediante a luta armada ou política, segundo se atuasse com adequado realismo ou se obstinava em sustentar o abusivo sistema.

 
NA MEMORIA 

A presença de cidadãos franceses na África começou com a participação no tráfico de escravos junto a portugueses, ingleses, espanhóis, holandeses e outros, com destino às colônias na América e no Caribe. Este tratamento foi iniciado pelos portugueses, os primeiros europeus a chegarem ao continente no século XV.

O tráfico escravista francês dirigia-se à Guiana, em território sul-americano, e, no Caribe, a Guadalupe, Martinica, San Pierre e Miguelón e notavelmente a Haiti, na ilha Hispaniola, desse último apoderou-se em 1697 e cuja revolução no século XIX marcaria uma meta na libertação do continente.

Nas disputas pelo domínio do continente, Paris obteve o controle de uma parte importante da região ocidental. A implantação do colonialismo começou na segunda metade do século XIX. No final do século, o país europeu tinha consolidado o que denominou África Ocidental Francesa.

Esse império esteve constituído pelo Senegal, Mali, Níger, Guiné, Costa de Marfim, Benin, Togo, Camarões, Congo (Brazzaville), Gabão, Burkina Faso, Mauritânia, Chade e República Centro-africana. O território e a população do conjunto de países excediam em várias vezes aos da metrópole.

França possuía, ademais, posses no Magreb, no norte, no Chifre da África, no leste e no centro e no oceano Indico. Semelhante poderio colonial só rivalizava com o do Reino Unido. Essas duas nações concentravam em seu poder o maior número de colônias no continente.

Na primeira metade do século XX, foi recrudescida a exploração colonial. Todos os protestos foram duramente reprimidos pelas tropas coloniais, se perseguia e se encarcerava seus dirigentes.

CLARINADA NA GUINÉ-CONAKRY

Em 1860, a França estabeleceu seu protetorado na Guiné-Conakry, onde enfrentou a oposição das tribos fulani e malinké. Seria seu presidente Ahmed Sekou Touré -de 1958 até sua morte em 1984-, quem daria a clarinada que conduziria ao desmantelamento do império galo na região.

Touré, um velho lutador pela emancipação, chamou ao povo a votar pela independência em 1958, num referendo que pretendia que se aceitasse a pertença do país a uma Comunidade, a qual agrupava às colônias, encabeçada pela França.

Uma considerável rejeição à Comunidade Francesa foi a resposta popular. O povo votou como pediu Touré e demandou a independência absoluta e imediata do país. A 2 de Outubro de 1958 proclamou-se a República de Guiné-Conakry.

A Comunidade Francesa era uma instituição na qual a política exterior dos países, a defesa, o sistema monetário, a economia e as finanças, e em alguns casos o controle dos órgãos de justiça, educação, transportes e comunicações- estava sob a concorrência da potência colonial.

1960 foi um ano crucial para a região: Chade, Costa de Marfim, Congo (Brazzaville), Benin, Togo, República Centro-Africana, Burkina Faso, entre outras, obtiveram a independência. As que faltaram o fizeram no ano seguinte. Ficaria desmantelado um dos mais colossais sistemas de exploração, estabelecido pela França na África Ocidental, que deixou uma extensa sequela de saques e sofrimentos nos povos da região.